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quarta-feira, 13 de julho de 2016

Praga da lavadeira


A historia da praga!!!

Você acredita em praga de lavadeira? O União de Rondonópolis foi perseguido por esta história há muito tempo. O time nunca tinha sido campeão em 37 anos de história. Tem 10 vice-campeonatos. E muita gente acreditava que a principal responsável era uma lavadeira.
Lenda?

Há 37 anos, uma lavadeira contratada pelo União era a responsável por lavar o uniforme dos jogadores. Mas o clube nunca teria recompensado a profissional. Até que um dia ela teria cansado de esperar pelo dinheiro e se revoltou. Ela teria dito que se não recebesse o pagamento, iria rogar uma praga.

De acordo com o jornalista Nelson Severino, o União tinha combinado uma determinada quantia. “Quando ela ia procurar os diretores, davam um dinheirinho para ela e iam enrolando. Uma história comum no futebol, né? Mas ela teria dito que o União nunca ia ser campeão do Estado. Podia ser até de outra coisa, mas do Estado, não”, disse.

Era o início de uma longa maldição. No Mato-grossense de 2008, na última tentativa, o time chegou a final com a melhor campanha, tinha o artilheiro do campeonato e a vantagem de dois empates para ficar com o título. Mas foi derrotado pelo Mixto, dentro de casa. Diante de quase 17 mil torcedores.

O roupeiro e massagista Américo conta como a lavadeira sofria. “Vinham encardidas aquelas meias. Tinha que lavar aquilo na mão, é sofrido. Ainda não paga ela, rogou praga mesmo”, afirmou.
Tentativas de acabar com a maldição

O União já tinha feito de tudo para acabar com a maldição. Convocou uma ajuda religiosa para abençoar o clube e contratou até uma nova lavadeira. “Você pode dever bar, açougue, mercado, farmácia, mas lavadeira pelo amor de Deus não”, ironizou Américo.

Ninguém descobriu o feitiço capaz de quebrar a maldição. E nem se quisesse daria para acertar as contas com a lavadeira, que já morreu. “A história da lavadeira é verdade e todos temem porque agora não tem como pagar. Ninguém nem sabe onde ela está enterrada. Como vai acabar com essa maldição?”, questiona o jornalista Nelson Severino. 


















quinta-feira, 7 de julho de 2016

Resgate da memória da bola

Estamos lançando este blog – folcloredofutebolmt.blogspot.com.br – com um único objetivo: recuperar o folclore do futebol de Mato Grosso, principalmente de um passado que já vai muito longe, como a fase do amadorismo, e que a ferrugem do tempo está apagando sem deixar vestígios. É claro que muita coisa da era romântica do futebol já se perdeu, como constatamos durante os quase 10 anos que levamos para escrever o livro “Folclore do futebol de Mato Grosso”. Foi um trabalho que exigiu muita paciência e cansativas e demoradas checagens de narrativas, pois muitos personagens que fizeram parte dos primórdios de uma história que começou efetivamente há quase um século, com os primeiros jogos de futebol em Cuiabá sendo disputados em 1913, já partiram para outra vida e quem continua resistindo ao tempo, guarda vagas lembranças em suas memórias, em virtude do envelhecimento dos seus neurônios.

Esperamos, sinceramente, que este blog sirva de canal de comunicação entre este blogueiro e os personagens – jogadores, diretores, árbitros, torcedores, etc. – que ajudaram a construir o passado divertido da bola. Um passado brilhante, marcado por sacanagens, armações, safadezas, que enriquecem o folclore do esporte e que se manteve vivo como nos velhos tempos, mesmo com o advento do futebol profissional em Mato Grosso em 1967. Temos convicção de que com a publicação do livro “Folclore do futebol de Mato Grosso” muita gente que não acreditou no nosso projeto de resgatar esta parte da memória do futebol amador e profissional do Estado vai se dispor a contar “causos” que conhecem, contribuindo para enriquecer e perpetuar o folclore do futebol. Enquanto cuidamos do lançamento do nosso livro, nos próximos dias, se Deus quiser, vamos alimentando este espaço diariamente com narrativas que estão na nossa obra...

Um ano do lançamento do livro "Folclore do Futebol de Mato Grosso"




Foi um sucesso o lançamento do livro "Folclore do Futebol de Mato Grosso"









Lançamento do livro Folclore do futebol de Mato Grosso

Foi um sucesso o lançamento do livro Folclore do futebol de Mato Grosso, escrito pelo jornalista Nelson Severino, que em 248 páginas da obra, reproduz 120 histórias, da forma como lhe foram contadas pelos seus personagens (jogadores, dirigentes, juízes, bandeirinhas, torcedores, etc.) –que ao longo de mais de sete décadas – as primeiras bolas chegaram em Cuiabá em 1905, mas as primeiras partidas só foram disputadas em 1913 – que viveram a fase romântica do futebol amador e do profissional, implantado no Estado em 1967. O evento teve lugar na Agecopa, que bancou a impressão da primeira edição do livro e que foi representada pelo diretor de Infra-estrutura Carlos Brito de Lima e o assessor de Imprensa Eduardo Ricci, que destacaram a importância da obra, cujo principal objetivo é resgatar uma parte da cultura de Mato Grosso que está sendo consumida pela ferrugem do tempo. Além de muitos amigos e familiares do jornalista prestigiaram o lançamento do livro os ex-jogadores Fulepa, Glauco Marcelo e Nelson Vasques, os jornalistas Sérgio Neves (Folha do Estado), Mário Hashimoto (Revista Sina) e Oliveira Júnior (A Gazeta), que edita junto com Davi Cézar a revista Espoint e outros. (Veja o vídeo produzido pela Agecopa) sobre o lançamento do livro.

Roubo de penosas e comilança

Sexta-feira Santa de 1971. Um grupo de jogadores do Operário que moravam na “república” do clube, na Avenida Couto Magalhães, que naquela época não era toda asfaltada, decidiu roubar umas galinhas para comemorar o Sábado da Aleluia. Do grupo faziam parte Bife, Jorge Cruz, Joel Diamantino, Gaguinho, Dirceu Batista e Odenir, o Upa Neguinho, além de "Chega Junto", zelador da “república” e irmão do jogador operariano Sabará.
Já passava da meia noite, quando o grupo saiu do alojamento, com a certeza de que seria uma moleza banquetear com penosas dos outros, como era tradição antigamente. Tinham razões os jogadores para pensar assim. É que bem defronte a “república” morava uma família que criava muitas galinhas e era ali, conforme haviam decidido antes, que iam deitar e rolar...
Nem bem puseram os pés na rua para sair em busca das galinhas, todos trajando uniforme de treino do Operário, ouviram a voz do dono do galinheiro. "Aqui, não, seus malandros! Minhas galinhas estão trancadas e bem protegidas. Vamos andando!..." – ordenou o vizinho, como se tivesse adivinhado o pensamento dos jogadores.
Ninguém sabia onde, ali por perto, existia outro galinheiro. Os jogadores decidiram, então, roubar um porco para a ceia da Aleluia. Mas no primeiro chiqueiro que entraram, uma desagradável surpresa: o dono certamente havia também escondido seus animais e ainda por cima Odenir caiu dentro da pocilga, ficando com um mau cheiro desgraçado de bosta de porco.
A decisão do grupo de só voltar para a “república” com as galinhas ou pelo menos um porco era irreversível. Já tinham até combinado com dona Neta, uma senhora que sempre foi a segunda mãe dos jogadores que viviam no alojamento, a festa do Sábado da Aleluia...
Na caminhada sem destino pela Couto Magalhães, lá pelas tantas um ouvido mais acurado escutou um barulho de motor. E identificou do que se tratava: era um velho e único jipe que a Polícia Civil de Várzea Grande utilizava para fazer rondas noturnas por ali. E sempre ocupado por dois policiais chatos que só eles...
Para evitar uma eventual encrenca com os policiais, os jogadores decidiram rapidinho formar grupos de dois em dois e continuaram a caminhada, fazendo aquele exercício em que a pessoa bate palmas sobre a cabeça, com os braços bem levantados, e com a ponta dos dedos toca a clavícula.
Não deu outra: os policiais foram chegando e interrogando o grupo sobre a presença deles, àquela hora, já na parte sem asfalto da avenida, fazendo aqueles movimentos sincronizados.
– Ora, estamos treinando – respondeu alguém.
– Mas a esta hora? – questionou um dos policiais.
– É que o jogo de domingo vai ser muito difícil, é preciso a gente treinar muito para ficar em boa forma física...– justificou outro.
Os chatos policiais não acreditaram muito na história, mas foram embora... 
A madrugada avançava quando os jogadores, depois de bater muita perna e bem sucedidas invasões a galinheiros da área de abrangência da “república”, chegaram na casa de dona Neta. Com 12 galinhas dentro de um saco de carregar material esportivo do Operário e das quais apenas uma delas morta de tanto "Chega Junto" apertar seu pescoço para a penosa não gritar quando estava sendo roubada...
Porta aberta com um sorriso de recepção de mãe Neta, foi todo mundo ajudar a preparar as penosas: matar, ferver água para arrancar as penas, tirar as tripas, trinchar, etc.. E aí foram três dias de comilança de galinha com arroz, ao molho, assada, à passarinho...

(Esta história faz parte do livro Folclore do Futebol de Mato Grosso)



Nelson Severino
Jornalista e escritor

Prezado Senhor
Parabenizo veterano jornalista e professor pelo lançamento do livro “Folclore do futebol de Mato Grosso”, ocorrido no dia 27/05, às 19h30, na sede da AGECOPA, nesta capital.
Este livro contribuirá notavelmente para a valorização da história do futebol mato-grossense contada por aqueles personagens que fizeram e o vivenciaram.
Fraternalmente,
Leonardo Pio da Silva Campos,
Presidente da Caixa de Assistência dos Advogados de Mato Grosso.

Estimado Nelson,
Foi com enorme alegria que, ao visitar a Livraria Janina, no Shopping Pantanal, no último domingo, vi exposto na vitrine principal o seu livro “Folclore do futebol de MT”. Comprei e estou lendo... e gostando muito.
Parabéns pela concretização do seu sonho. 
Já estou ansioso, esperando a publicação do segundo volume!
Um abraço,
Reinhard Ramminger



Prezado Nelson.! 
Dia 08 de Junho, data de meu aniversário fui presenteado com sua bela obra" Folclore do Futebol de Mato Grosso", que verdadeiramente ultrapassou as minhas expectativas pelo rico conteúdo dos acontecimentos futebolísticos narrados, levando o leitor a se deliciar com as lembranças de um passado glorioso e hilário em todas as fases da história do futebol de Mato Grosso.
A parte, com as narrativas de Pedro Lima, pude recordar do grande Wilsinho, crack inconteste do temido Pantera do Leste, que poderia jogar em qualquer time do Brasil. Em 1965 o Mixto foi buscá-lo por empréstimo em Alto Araguaia-MT para um jogo com o Flamengo do Rio aqui no Dutrinha, onde fizemos a dupla de ataque.
Parabéns mais uma vez, e siga em frente que a 1ª amostra tenho certeza já foi aprovada.
Um grande abraço
do amigo
Lito.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Exu frangueiro

O jogo que o União ia disputar com o Dom Bosco pelo Campeonato Mato-grossense de Futebol de 1978 era quase de vida ou morte. Durante a semana da ansiosamente esperada peleja, alguém teve a idéia de os jogadores irem a um centro espírita de Rondonópolis pedir proteção e ajuda às forças do além para o time sair de campo vitorioso... 
Logo a sugestão se espalhou entre o plantel. Ficou combinado, então, que mesmo os que não acreditavam em espiritismo ou macumba, teriam que comparecer à sessão de descarrego para não quebrar a corrente. O União tinha jogadores como Ruiter, Gílson Lira, Ernani, Mário Sérgio, Pindu, Zé Cachorro. Só craques mesmo. Mas uma forcinha extra ajudaria muito... 
De comum acordo, os jogadores escolheram um centro de umbanda que trabalhava com mesa branca até por volta das 21 horas, com os guias incorporando divindades do bem para aconselhar quem os procurava, receitar medicamentos e tratamentos, dar passes, resolver problemas conjugais, etc..
A partir daquele horário, alguns guias do terreiro recebiam caboclos da pesada, como exus e tranca ruas. Na sexta-feira, conforme tinha sido combinado, lá se foram os jogadores para o centro espírita.
Assim que chegaram ao terreiro, o goleiro Almeida procurou se informar quais eram os guias que recebiam exus. Apresentado a um deles, Almeida foi direto ao assunto: precisava de uma proteção especial para não sofrer gols contra o Dom Bosco,
Quando exu baixou no terreiro, Almeida, sem rodeios, fez-lhe o pedido. O orixá concordou em ajudar Almeida a fechar o gol, mas impôs uma condição: antes de começar o jogo, queria uma dose caprichada de marafo, que na linguagem da macumba quer dizer cachaça.
Chegada a hora do jogo, Almeida pegou um vidro com cachaça, embrulhou numa pequena toalha e entrou em campo confiante como nunca na vitória. Afinal, fazia dois anos e meio que o União não perdia no Luthero Lopes. 
Escolhido o campo, Almeida foi para o gol que ia defender, fez suas mandingas – como chutar os postes, dar pulinhos no centro da meta tocando as mãos no travessão, sempre rezando, bater os pés três vezes cada, se benzendo. Para completar, despejou a pinga nos dois postes, para exu...
O jogo estava muito difícil para os dois lados. Boas oportunidades os dois times criavam, mas nada de sair gols. Os jogadores do União até que não se preocupavam muito com os ataques do Dom Bosco, pois, afinal, exu estava no gol dando uma força e tanto para Almeida...
Finalzinho do primeiro tempo e o juiz marca uma falta perto da grande área contra o União. Bargas, que era o terror dos goleiros em chutes de bola parada, mesmo de longa distância, prepara-se para cobrança.
Almeida vai para o canto esquerdo, orienta a formação da compacta barreira do lado direito, deixando um pequeno espaço para Bargas tentar o chute no corredor em que o arqueiro estava. Impossível a bola passar por ali... ainda mais com a presença de exu no gol.
Quando Bargas bateu na bola, Gílson Lira, que sempre ficava de frente para quem ia cobrar a falta, se tinha que ficar na barreira, não teve dúvidas: era gol. No chute perfeito de Bargas, a bola fez uma curva e entrou exatamente no ângulo oposto ao do lado que Almeida guarnecia...
– Porra, pega a bola exu, essa não dá pra mim!... – gritou desesperado Almeida, enquanto a bola estufava a rede do União...
O estádio de Rondonópolis transformou-se então em palco de duas cenas inusitadas simultâneas: enquanto os jogadores do Dom Bosco festejavam com euforia o gol de Bargas, os do União morriam de rir com o grito de Almeida. Os torcedores e muito menos diretores do União não entendiam nada do que estava acontecendo. 
Terminado o primeiro tempo, os jogadores do União já entraram no vestiário levando esporros do presidente Lamartine da Nóbrega e do treinador Genésio do Carmo. Esclarecido o motivo de tanta risada por causa de um gol do time adversário, o União voltou para o 2° tempo e acabou vencendo o jogo por 2x1.
Apesar da vitória, o goleiro Almeida passou muito tempo xingando exu de tudo quanto é nome por ter sido enganado pela divindade do candomblé...

(Esta história faz parte do livro Folclore do Futebol de Mato Grosso)

Moção de Congratulação a jornalista

A Assembleia Legislativa de Mato Grosso aprovou no ano passado uma Moção de Congratulação ao jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino pela publicação do livro Casos de todos os tempos – Folclore do futebol de Mato Grosso, que lançado em maio de 2011, já vendeu mais de 500 exemplares. A proposição da homenagem ao autor do livro e que está empenhado num projeto para resgatar a memória do futebol mato-grossense, através do seu rico e hilário folclore,foi apresentada em plenário pelo pelo deputado Mauro Savi, 2° Secretário da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa.
Segue o texto da Moção de Congratulação, encaminhada ao jornalista pelo presidente do Parlamento Estadual, deputado José Riva

Com fulcro no artigo 183, IX, do Regimento Interno desta Casa de Leis, requeiro à Mesa, ouvido o Soberano Plenário, que seja registrado nos anais da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso e encaminhado ao jornalista NELSON ANTONIO SEVERINO, MOÇÃO DE CONGRATULAÇÃO , vazada nos seguintes termos:
“A ASEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO, por seus membros, mediante requerimento do Deputado Mauro Savi, expressa sua congratulação ao escritor NELSON ANTONIO SEVERINO, pela publicação do livro “Casos de todos os tempos – FOLCLORE DO FUTEBOL DE MATO GROSSO “, prefaciado pelo ínclito cidadão Pedro Rodrigues de Lima”.
Ao concluir uma obra literária desta natureza o jornalista Nelson Antonio Severino preenche lacuna existente na identificação de importantes personagens mato-grossenses que atuaram no futebol deste Estado, resgatando a história desse esporte, que segundo Pedro Lima é a alegria do povo. Com esta obra Nelson Severino insere o nosso Estado na memória do futebol brasileiro.
Trata-se de um trabalho literário que muito engrandece a história esportiva do nosso Estado, uma vez que a sociedade passa por momentos de extrema transformação neste mundo globalizado , não permitindo o registro de fatos e atos dos grandes homens que muito fizeram pelo nosso esporte, buscando preencher uma enorme lacuna que havia na memória do nosso futebol.
O homenageado é jornalista tendo trabalhado em Mato Grosso como correspondente de importantes jornais como Jornal do Brasil, o Globo, atuando também em nossa Capital no Jornal do Dia, Correio de Mato Grosso e Diário de Cuiabá, havendo lançado a Revista RDM.
As homenagens e o reconhecimento desta Augusta Casa de Leis ao cidadão NELSON ANTONIO SEVERINO por este grande momento de sua vida, pois o livro “Casos de todos os tempos – FOLCLORE DO FUTEBOL DE MATO GROSSO” resgata a rica memória da nossa cultura esportiva com muita fidelidade , porém explorando o seu lado folclórico, com os fatos ocorridos nos campos de futebol, estádios ou nas cidades do nosso Estado. 
Parabéns NELSON ANTONIO SEVERINO, hoje você passa a fazer parte da história de Mato Grosso com a responsabilidade de zelar pelas informações repassadas, pois isto muito nos orgulha.
Plenário das Deliberações “Deputado Renê Barbour”, agosto de 2011.
Deputado Mauro Savi.

O pé-de-valsa operariano e a bichona

Para inaugurar seu bonito estádio municipal, no distante dezembro de 1983, a prefeitura de Vilhena, em Rondônia, convidou o Operário para enfrentar a seleção amadora da cidade, reforçada de alguns craques de outros municípios.

 A delegação operariana deixou Várzea Grande no sábado bem cedo em ônibus especial, levando uns poucos profissionais – Deco, Odenir, Dito Siqueira, Bife, Ivanildo, Laércio, Mão de Onça – juvenis e juniores e até alguns torcedores, como convidados do clube.

De Cuiabá a Vilhena são 750 quilômetros, naquela época sem asfalto, o que aumentava o desgaste físico de quem viajava um trecho desses de uma só pancada. Mas a turma chegou inteirinha a Vilhena, apesar de muito cansada.

Como aniversariante daquele domingo, a bonita Vilhena, a segunda principal cidade de Rondônia, estava engalanada. A torcida lotou o estádio, confiante numa bonita vitória no amistoso para cobrir de glórias a semana de festas da sede do município.

Iniciado o jogo, Bife começou a mandar bolas para as redes da seleção. Fez 4 gols no primeiro tempo, com Deco completando o placar de 5x0 da 1ª fase.

Com o fim do 1° tempo, os jogadores foram para o vestiário. Enquanto descansavam, Malaquias, que estava como técnico do Operário, comunicou a Bife que ele não voltaria para o campo na 2ª etapa.

Malaquias atendia a um pedido dos dirigentes da seleção que temiam que com Bife em campo fatalmente o selecionado sofreria uma derrota ainda mais humilhante. Bife não voltou, a seleção deu uma melhorada, mas só fez um gol. O Operário, nem um mais.

Depois do jogo, um irmão do massagista Geraldo e que tinha um grande posto de combustíveis em Vilhena, pediu a Bife a camisa com a qual ele tinha jogado, como recordação.

Bife entrou de sola: "Não posso dar, porque desinteira o jogo de camisas e vou ter que dar outro completo para o Operário..."
– E quanto custa o jogo de camisas? – perguntou o irmão de Geraldo.
– Acho que com uns 200 “contos” dá para comprar – chutou alto Bife.
O torcedor não teve dúvidas: foi ao caixa do posto, pegou o dinheiro e entregou a Bife. Negócio fechado na hora.

A noite, a delegação tricolor foi jantar no principal clube social da cidade, onde se realizava a festa de aniversário de Vilhena.

Logo que a delegação chegou a festa, Bife percebeu que a cerveja ia ser por conta de quem pedisse... de cortesia só a comida! Antes da cerveja ser aberta na mesa, ficha do pagamento na mão do garçom. 

Combinaram, então, Bife, Jorge Macedo, Caruso e Laércio de se sentarem na mesma mesa e de cada um pagar três cervejas. Dos duzentão que havia recebido pela camisa, Bife reservou 50 para farrear e escondeu os outros Cr$ 150,00.

Um pouco distante deles, sentaram-se vários jogadores, juntos com João Muleta, um fanático torcedor operariano que tinha ido a Vilhena como convidado do clube.

Fim do jantar, começou o bailão. Não demorou, um jogador operariano, cujo nome não vem ao caso, agarrou uma bela loura e mandou ver. A cada música, aumentava a intimidade entre o romântico par, já dançando de rosto coladinho.

Não demorou e da animada mesa comandada por João Muleta não ficou ninguém: a numerosa turma havia dado um calote de duas caixas de cerveja no garçom e vazado. O garçom chegou à mesa em que estavam Bife, Laércio, Caruso e Jorge Macedo e perguntou se os caloteiros eram jogadores do Operário. A resposta foi um não coletivo.

A noite avançava, o baile cada vez mais animado e o casal formado pelo jogador operariano e a loira fazendo um sucessão entre os dançarinos. 

Lá pelas tantas, um garçom dá a dica para o pessoal da mesa de Bife: "Aquela loira que está dançando com o companheiro de vocês é uma tremenda bichona..."

– Vou ficar até o fim para ver no que vai dar – disse Bife, apoiado pelos companheiros de mesa.

Quando o baile ia chegando ao fim, Bife encostou disfarçadamente no companheiro de clube, no meio do salão, e lhe confidenciou: "Essa loira é uma bichona!..." 

O jogador pé-de-valsa operariano só acreditou quando, à saída do clube, deu uma pegada na parte de baixo da companheira de dança e sentiu o volume da mala da bailarina... parece até que a "louraça" ia viajar, tal o tamanho da malona!

Aí o boleiro ficou furioso e queria porque queria dar umas porradas na bichona. Foi um trabalhão segurar o pé-de-valsa, enquanto o travesti caía no mundo num pique digno de campeão mundial de 100 metros rasos.

Bife, Caruso, Jorge Macedo e Laércio que presenciaram a cena no fim de noite quase morreram de tanto rir..

Zé Traçaia, um ídolo de todas as torcidas

Arquibancada do Colégio Estadual lotada pela torcida ávida para ver o primeiro coletivo da seleção de Mato Grosso de 1954 sob o comando de um técnico profissional – Jarbas Batista, que tinha sido jogador do Clube de Regatas Flamengo – e depois virou treinador. Era um acontecimento marcante para o futebol de Mato Grosso.
De repente, aparece Jarbas olhando para a torcida e perguntando se alguém poderia colaborar com a seleção, completando um dos times, porque um dos jogadores convocados não tinha chegado ao campo ainda...
– Zé Traçaia, Zé Traçaia, Zé Traçaia – foi o grito uníssono da torcida presente ao estádio.
Zé Traçaia desce da arquibancada e daí a pouco, para delírio da grande torcida, surge no campo trajando um calção, uma camisa e um par de chuteiras de tamanhos descomunais para o seu físico de menino de 16 anos.
Decididamente, aquele foi o pior dia da vida de jogador de bola do lateral esquerdo Airton Vaca Braba. Temido por ser um jogador extremamente violento, Aírton apelou para cotovelada, pontapé, carrinho, tesoura, voadora, etc., para conseguir parar Zé Traçaia, mas não tinha jeito. O habilidoso atacante estava numa tarde inspiradíssima e fazia o diabo em campo...
A certa altura do treino, Jarbas aproximou-se do lateral esquerdo e lhe fez um pedido: “Pare de bater desse jeito no menino, seu Aírton, porque o senhor pode acabar com a carreira do garoto...”
Resultado do seu show de bola: no dia seguinte, bem cedinho, a Comissão Técnica da seleção – Jarbas Batista, Ranulpho Paes de Barros, o médico Aquino – estava na casa da família Traçaia, pedindo autorização para Zé Traçaia ser convocado. Ser convocado já na condição de titular absoluto do selecionado...
Foi num campinho do Larguinho, que ficava entre a atual Rua Antonio João (antiga Rua dos Porcos) e a Avenida Prainha, quase no cruzamento com a Isaac Póvoas, que Zé Traçaia, o primeiro jogador de Mato Grosso a ir para o exterior, deu os primeiros passos no futebol.
O pai de Zé Traçaia, Chico Traçaia, tinha uma pensão que levava o nome da família nas imediações do Larguinho, onde a meninada entre 8 e 12 anos que morava ali por perto se reunia todos os dias para bater uma bolinha. O campinho nem traves tinha, mas bastavam 4 pedras formando dois gols para a garotada partir para monumentais rachas...
Hoje com quase 80 anos, Névio Lotufo, que era o último a ser escolhido, mas tinha lugar garantido num dos dois times, lembra que Zé Traçaia era mesmo muito bom de bola. Ao contrário de Névio Lotufo, Zé Traçaia era o primeiro a ser escolhido, no par ou ímpar, na hora da formação das equipes de peladeiros.
Havia um forte motivo para Névio Lotufo nunca ficar de fora dos rachas, mesmo que fosse para catar no gol: como sua família tinha boa condição financeira, ele se dava ao luxo de ter uma bola de capotão, um privilégio na época e que era um sonho de todos os meninos. E se não fosse escolhido, Névio metia a bola debaixo do braço e ia embora...
Admite Névio Lotufo que não se deu bem com o futebol, embora tenha jogado em alguns clubes daqui entre eles o Americano e o Flamenguinho. Mas quando foi para Lins-SP, estudar no Instituto Americano, Lotufo acabou fazendo sucesso como jogador de basquete e de voleibol e também como ciclista.
As boas atuações de Zé Traçaia na seleção de 1954 despertaram a atenção dos clubes de Mato Grosso. Ele acabou ingressando no Atlético Mato-grossense, porém pouco tempo depois seu passe foi vendido para o Botafogo, do Rio de Janeiro. Antes de ingressar no Botafogo, que à época tinha craques como Nilton Santos, Didi, Garrincha, Zagalo, campeões mundiais de 1958 na Suécia, Zé Traçaia tentou ingressar no Flamengo, no entanto nem chegou a treinar no rubronegro.
Apesar da carreira promissora, Zé Traçaia ficou pouco tempo no clube carioca, que vendeu seu passe para o Sport Club Recife. Amigos de Zé Traçaia dizem até hoje que a saída de Zé Traçaia do Botafogo teria sido uma imposição de alguns monstros sagrados do clube da Estrela Solitária. Motivo: nos coletivos do alvinegro, Zé Traçaia transformava a vida do seu marcador, o grande ídolo Nilton Santos, em um verdadeiro inferno...
Amigo da família de Zé Traçaia, Romeu Roberto Memeu, que depois virou jornalista e comentarista esportivo, e em cuja casa, em uma pequena chácara, existia um campinho de futebol batizado com o nome de Botafogo, destaca que o atacante foi também o primeiro jogador de Mato Grosso a vestir o uniforme da Seleção Brasileira. de Futebol.
Acontece que antes de se tornar a grande potência financeira da atualidade, quando a CBD recebia um convite para se apresentar no exterior, a entidade escolhia um clube que estivesse atravessando grande fase para representá-la. Usando o uniforme oficial da entidade, claro...
Foi numa dessas ocasiões, que o Sport Club Recife, o time de Zé Traçaia, foi indicado pela CBD para representar o Brasil em um amistoso contra a seleção da Áustria, em Viena. E Zé Traçaia teve uma atuação tão brilhante que pouco tempo depois foi contratado pelo Rapid, de Viena, um dos principais clubes austríacos.
Recorda também Memeu, ex-atleta do Mixto e um dos grandes colaboradores deste livro, que Zé Traçaia não foi o único a dar show de bola no campinho do Botafogo. Por lá passaram também e exibiram sua arte com a bola craques como Gerê, César Boi, Baicerê, Poxoréu, Ico e Édson Cabeça de Boi, que jogou no Flamengo e no Canto do Rio, ambos do Rio de Janeiro.
Memeu não chegou a jogar com Zé Traçaia, mas lembra que além de craque de bola, ele era também bamba no violão. E sempre que podia convidava o mestre do violão, João Jesus, o João Feijão, compadre de Memeu, para participar de suas tocadas na Rua 7 de Setembro.
Antigos amigos do jogador garantem que Zé Traçaia estava com a corda toda na Áustria, fazendo muito sucesso no futebol e com as mulheres, por causa de sua cor. Um dia, o clube que Zé Traçaia defendia foi jogar na Alemanha. A certa altura da partida, Zé Traçaia foi derrubado e bateu um dos joelhos na cabeça de um jogador alemão. Uma jogada absolutamente normal.
No entanto, um torcedor alemão que estava próximo do local do campo onde ocorreu a jogada não pensou duas vezes: meteu o cabo do seu guarda-chuva na cabeça de Zé Traçaia, que ao se levantar, meio desequilibrado, acertou um murro na cabeça do agressor...
Estava armada uma grande confusão, com os torcedores tentando pegar Zé Traçaia, que foi imediatamente levado para o vestiário, de onde saiu disfarçado para um porto fluvial e colocado como passageiro clandestino em um cargueiro para retornar à Áustria.
Depois do rolo na Alemanha, Zé Traçaia ficou pouco tempo na Áustria. Aborrecido e com saudades dos familiares e amigos, Zé Traçaia vivia deprimido, condição que acabou comprometendo seriamente sua carreira que até então tinha sido brilhante.
De volta ao Brasil, Zé Traçaia foi parar de novo no Sport Club Recife. Mas a vida na boemia não apenas acabou com a carreira de Zé Traçaia, como foi a causa de sua morte prematura.

Leônidas, um mito da bola

Mixto e Palmeiras jogavam no Dutrinha pelo Campeonato Cuiabano de 1954. O jogo avançava e ninguém estava entendendo por que o centroavante mixtense Leônidas, que chutava muito bem com os dois pés e era também um exímio cabeceador, não saía do meio de campo, só enrolando. Chutar para o gol que era bom nadinha de nada!
A certa altura do jogo, a defesa alviverde bateu cabeça quase no meio campo num ataque do Mixto e não restava outra alternativa para Leônidas: desmarcado e com a bola dominada, ele tinha que partir para o gol do adversário...
Leônidas avançou e quando chegou na entrada da área, deu uma freada, levantou a cabeça como se estivesse escolhendo o canto onde ia mandar a bola, e meio atrapalhado gritou para Fulepa: “Sai em mim, desgraçado, eu não posso marcar o gol... eu estou comprado...”
– Não posso, eu também estou!...” – respondeu Fulepa, outra lenda do futebol de Mato Grosso e hoje um bem-sucedido sitiante em Santo Antonio de Leverger, onde vive com a esposa Estevina Pereira da Silva Leite. O casamento já dura 50 anos e resultou em muitos filhos, netos, bisnetos...
Quem acompanhou de perto a curta passagem de Leônidas pelo futebol mato-grossense, como foi o caso do radialista Eugênio de Carvalho e do desportista e político Lenine de Campos Póvoas, do advogado Pedro Lima, não tem dúvidas em afirmar que o jogador foi o mais virtuoso centroavante que já pisou os campos de terra e de grama do futebol cuiabano.
O lendário Fulepa, que enfrentou Leônidas muitas vezes, lembra que além de muito habilidoso com a bola nos pés, o atacante era especialista em marcar gols de cabeça, usando a bunda para deslocar com uma gingada imperceptível o goleiro que subisse com ele e colocar a bola onde quisesse.
– Era na pura malandragem que ele fazia isso. Os goleiros reclamavam com os juízes que o Leônidas tinha cometido falta, mas eles nunca marcavam, porque não percebiam mesmo a sacanagem dele – recorda Fulepa, cujo nome é Fernando F. Leite. O estranho apelido surgiu quando ele ainda era menino na cidade de Três Lagoas-MS, onde nasceu. No linguajar dos moradores de sua acidade natal, o termo fulepa identifica pessoa que gosta de confusão, rolo, encrenca, características que sempre se enquadraram no perfil de Fulepa dentro do campo.
Sobre o episódio do suborno envolvendo Leônidas e Fulepa, afirma o ex-goleiro, cujo primeiro time em Cuiabá foi o Fluminense, do Terceiro, bairro destruído em 1974 pela enchente do Rio Cuiabá, que foram os torcedores que inventaram essa história. Essa e tantas outras muito conhecidas dos torcedores. Fulepa garante que nunca ligou para essas intrigas.
– Quem fala essas coisas de mim é porque não conhece a minha vida, a minha educação. Como filho de milico, fui criado dentro da caserna, onde fazia inclusive minhas tarefas escolares, e tive uma formação militar rigorosa – defende-se Fulepa.
Outro que não tem dúvida que Leônidas era um virtuoso com uma bola nos pés ou nas mãos – além de futebol, ele era um extraordinário jogador de basquete e de vôlei – é Pedro Lima, do Araguaia Esporte Clube. “O Leônidas era um gênio, capaz de numa fração de segundos imaginar e executar uma jogada que deixava os adversários perdidos” – afirma Pedro Lima.
Ele se lembra de um jogo que viu do Mixto, quando Leônidas fez uma jogada que deixou até os torcedores de boca aberta. Num cruzamento para a área de ataque do Mixto, Leônidas subiu no último andar para cabecear a bola para o gol. Mas, de repente, desistiu da jogada e deixou a bola bater no seu peito e com um leve toque colocou-a nos pés de um companheiro que fez um golaço. “O Leônidas era o Pelé daqueles tempos, um jogador simplesmente fabuloso...” – compara o até hoje diretor do AEC.
Revelado na década de 40, pelo Mixto, não demorou muito para a fama de Leônidas chegar aos grandes centros esportivos, como Rio de Janeiro e São Paulo. Naqueles tempos, muita gente saía de Cuiabá para cursar faculdades em outros estados e muitos estudantes, principalmente torcedores de clubes cariocas, procuravam seus técnicos para falar maravilhas de Leônidas.
Zezé Moreira, treinador do Botafogo, já tinha ouvido muitas pessoas falar das proezas de Leônidas com a bola, mas ficava calado, meio na dúvida sobre suas decantadas virtudes na arte de jogar futebol.
Um dia, o Botafogo contratou um ponteiro direito bom de bola chamado Maiolino. Com a convivência diária, Zezé Moreira descobriu que Maiolino era de Cuiabá e quis saber a verdade sobre Leônidas.
Depois da última conversa entre os dois, Zezé Moreira ligou para o presidente do Botafogo, Carlito Rocha, que morava em Niterói, e deu a ordem: “Venda esse encrenqueiro do Heleno de Freitas para o Boca Juniors que nós estamos contratando um centroavante de Mato Grosso muito melhor do que ele...”
Poucos dias depois, Leônidas já estava em General Severiano treinando no Botafogo e fazendo sucesso. A torcida alvinegra estava empolgada com a contratação do jogador que ia substituir o genial mas genioso Heleno de Freitas, então o grande ídolo do futebol brasileiro.
A estreia de Leônidas seria contra o América, em um domingo. A torcida do Botafogo não via a hora do time entrar em campo para mostrar sua nova estrela que ia substituir Heleno de Freitas...
Mas dois dias antes do jogo, Leônidas encontrou-se nas ruas do Rio de Janeiro com um alto dirigente do Mixto. Conversa vai, conversa vem, o dirigente lhe disse: “Domingo tem Mixto e Dom Bosco lá em Cuiabá, vai embora, rapaz...”
Após o contato na rua com o diretor mixtense, Leônidas foi procurar um centroavante de nome Zezinho, que estava sendo testado pelo Botafogo, para saber o que ele achava de sua volta para Cuiabá. De olho na vaga que ia se abrir no alvinegro com a venda já consumada de Heleno de Freitas para o Boca Juniors e o retorno de Leônidas para Cuiabá, Zezinho não vacilou: “Que é que você está esperando, rapaz? Cai fora, amigo!” – aliás, mui amigo...
Leônidas não teve dúvidas: foi para o aeroporto do Galeão e pegou o primeiro avião que decolou com destino a Cuiabá. Dizem amigos de Leônidas, cujo nome era Benedito Severo Gonçalves, que o jogador não suportou mesmo foi a saudade da culinária cuiabana – ventrecha de pacu, mojica de pintado, bolo de arroz, pão de queijo ... – e veio embora sem dar satisfação a ninguém.
Na realidade, porém – dizem também – Leônidas, que era muito chegado a boemia, não resistiu mesmo foi a saudade da vida inteiramente livre que levava em Cuiabá como jogador de futebol amador. No Botafogo, como profissional, não ia poder continuar vivendo na gandaia...
Tempos depois de sua volta a Cuiabá, um dia Pedro Lima foi assistir um jogo do Mixto e levou consigo Jamelim, um motorista do Expresso Cuiabano, que era também diretor do Uberlândia, de Minas Gerais. Jamelim ficou tão empolgado com o futebol de Leônidas que no outro dia, depois de um contato com a diretoria do time, colocou o jogador num avião de carreira e o mandou para o seu clube.
A estreia de Leônidas no seu novo time foi em um amistoso contra o Vasco da Gama, que na década de 50 tinha uma superequipe chamada de “Expresso”, integrado por craques como Barbosa, Danilo, Friaça, Ademir Menezes, Jair da Rosa Pinto e outros. O Vasco da Gama ganhou o jogo por 4x2. O goleiro vascaino passou o tempo todo gritando com a defesa para marcar Leônidas, mas não adiantou: ele fez os dois gols do seu time.
O jogo seguinte do Uberlândia foi contra o Atlético Mineiro. O clube do Triângulo Mineiro ganhou o amistoso de 3x0, todos os gols de Leônidas. O Atlético foi embora no dia seguinte, levando Leônidas em sua delegação. Naqueles tempos, o futebol ainda era bem amador e o jogador ia para onde bem entendesse...
A carreira de Leônidas no “Galo Carijó”, no entanto, foi curta: o centroavante sofreu uma lesão no menisco de um dos joelhos e ficou um tempão longe da bola. A contusão abalou profundamente o estado emocional de Leônidas, que nunca mais foi o mesmo. Para complicar sua situação, Leônidas passou a levar uma vida desregrada, o que provocou o encerramento precoce da sua fulgurante carreira.

Osso pela janelinha do avião...

Muito animado, lá se foi o selecionado de futebol de Mato Grosso enfrentar o Acre, em Rio Branco, pelo Campeonato Brasileiro de Seleções de 1952. Uma seleção fortíssima, integrada por jogadores do nível técnico de Dito Nascimento, Uir, Totó Traçaia, Leônidas, Batista, Jaquinha, Vidal, Dionísio e tantos outros...
Até Manaus, a viagem no DC-3 da Varig transcorreu muito tranquila. Mas assim que o avião decolou da capital do Amazonas para continuidade da viagem aérea com destino a Rio Branco, o comandante da aeronave fez uma revelação que deixou muita gente com medo: o avião ia passar por uma área de grande turbulência no encontro das águas de dois grandes rios da Amazônia.
Alguns jogadores pensaram, a princípio, que o comandante estava brincando. Mas chegaram à conclusão que o homem estava falando sério, quando ele passou a mão num tubinho semelhante ao aspersório que os padres usam para aspergir água benta nos fiéis nas missas e ritos católicos e começou a benzer os passageiros e a tripulação. Podia ser uma brincadeirinha para descontrair os passageiros, entretanto de muito mau gosto...
Felizmente, não aconteceu nada até o desembarque da delegação em Rio Branco. Mas que muita gente voou com o coração nas mãos, voou. Principalmente depois que o comandante advertiu que de vez em quando caía um avião naquela área de turbulência. E teve gente que até apelou para orações quando num trecho da rota a aeronave começou a perder altura e balançar.
O jogo com a seleção do Acre foi uma verdadeira guerra dentro de campo. O tempo normal da partida terminou empatado em 1x1. Veio então a prorrogação, cujo placar não saiu do 0x0.
Aí os acreanos inventaram que com o resultado da prorrogação estavam classificados para a fase seguinte da competição. Foi uma confusão e tanto no centro do gramado, com os jogadores acreanos inclusive ameaçando deixar o campo, pois para eles o jogo tinha acabado.
Nisso, o chefe da delegação e técnico da seleção mato-grossense, Ranulpho Paes de Barros, foi até o vestiário e voltou com um enorme livro sobre legislação esportiva. Depois de muito bate-boca, Ranulpho convenceu os acreanos a disputar o mata-mata para definir qual seleção continuaria na competição. E Mato Grosso se classificou, marcando o gol de ouro.
Recorda Totó Traçaia que o jogo no Acre serviu para desmascarar o atacante Leônidas, que vivia dizendo para alguns jogadores que ele era o mais esclarecido, o mais sabido, o mais viajado do futebol de Mato Grosso...
Durante o almoço a bordo, na rota Amazonas-Acre o sabichão Leônidas foi pego tentando jogar pela janelinha do avião o osso de uma coxa de galinha!. Ah!, a partir desse hilariante episódio no avião, foi gozação que não acabava mais em cima de Leônidas...