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segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Mão-de-Onça torrou muito dinheiro de prêmio por título em forno de fogão...

Mão-de-Onça torrou mesmo o dinheiro do prêmio (Foto Arquivo Google)
Com apoio da Confederação Brasileira de Futebol, que inclusive pagou os troféus da competição, um grupo de empresários endinheirados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná decidiu promover um torneio de futebol em 1984, com a participação de seleções sub 20 dos três estados e mais as do México, Paraguai e Equador.

O objetivo do grupo com a promoção era mostrar para a torcida e a crônica esportiva dos grandes centros, jovens talentos que estavam despontando para o futebol e poderiam formar uma pré-seleção da categoria.  Alguns daqueles ricaços já tinha se tornado empresários de grandes promessas do futebol dos três estados, investindo pesado no lucrativo mercado da bola...

Além do apoio da CBF, o grupo de empresários conseguiu também uma autorização da entidade para inscrever entre os jogadores de Mato Grosso o veterano Mão-de-Onça, que estava encerrando a carreira. O lendário goleiro revelou-se no futebol sul-mato-grossense e depois fez sucesso no Dom Bosco e no Operário Várzea-grandense, merecendo, como ninguém, a homenagem.

A seleção de Mato Grosso foi a campeã do torneio, derrotando o Paraguai, em Assunção pela contagem mínima – no primeiro jogo decisivo, em Campo Grande, vitória mato-grossense por 3x1. O gol que decidiu o título foi assinalado por Cocada, irmão do atacante Muller, que jogou no São Paulo FC, e depois virou pastor evangélico.

Empolgados com a conquista do título e com o sucesso da competição, os organizadores pagaram um prêmio generoso aos jogadores Cr$ 14 milhões de cruzeiros (a moeda da época) para cada um. “Era muito dinheiro, uma fortuna...” – lembra Luizinho, que estava jogando fora de Mato Grosso, mas em 86 e 87 defendeu o Operário Várzea-grandense e jogou ainda no Uirapuru.

Um prêmio daqueles merecia uma comemoração especial e foi o que aconteceu. Como a delegação campeã só chegaria a Cuiabá no domingo à noite, em um voo comercial, depois de uma escala em Campo Grande para desembarque dos sul-mato-grossenses e de onde alguns boleiros rumaram para os estados em que atuavam (Cocada, Lima, Nestor e Pedrinho) ficou combinado que os jogadores iam jantar pacu assado na casa de Mão-de-Onça, no bairro Dom Aquino, e só retornar às suas origens na segunda-feira.

Outra combinação acertada pelo grupo (Guará, J. Alves, Xandi, Djalma, Luizinho, Gérson Lopes e Egnaldo): depois do jantar, os jogadores, com Mão-de-Onça como cicerone,.iam conhecer ou rever alguns pontos turísticos da cidade. Mesmo altas horas da noite, com a demora do caprichado jantar feito pela esposa de Mão-de-Onça ser servido...

Na realidade, não iam conhecer pontos turísticos coisa nenhuma: a turma estava louca para sair depois do rega bofe para torrar o gordo prêmio na boate 9 de Julho e na famosa ZBM do Ribeirão da Ponte. Na presença da mulher de Mão-de-Onça ninguém falou sobre o valor da gratificação para não complicar a vida do animado anfitrião...

É que Mão-de-Onça, muito espertamente, deu Cr$ 7 milhões para sua esposa, dizendo que aquele era o valor da premiação de cada jogador e escondeu Cr$ 7 milhões para ir farrear com os amigos Afinal, ele também era filho de Deus e tinha o direito de comemorar a conquista de um título importante, como também a homenagem que lhe prestaram, com aval da já então já CBF.

Conversa vai, conversa vem naquela animação, diante da perspectiva de uma noitada promissora pela frente, a certa altura Mão-de-Onça quis saber da esposa sobre o peixe e foi informado que estava demorando a sair, porque ela tinha decidido usar o fogão velho, já abandonado na lavanderia da casa, para não estragar o novo e moderno fogão comprado recentemente...

Mão-de-Onça levou um choque ao lembrar-se que havia escondido os Cr$ 7 milhões reservados para a farra em um cantinho do forno do fogão velho e correu para pegar o dinheiro, que já estava até esfarelando-se de tão torrado...

Sobrou para todo mundo, pois com Mão-de-Onça sem os seus Cr$ 7 milhões escondidos para a farra, seus convidados para o jantar  decidiram bancar as despesas do companheiro na noitada. E que noitada, com tanto dinheiro para gastar! Claro que Mão-de-Onça gastou sem parcimônia!. Afinal, o dinheiro não era dele...   

Ao que se sabe, a esposa de Mão-de-Onça nunca ficou sabendo da história da dinheirama torrada no velho fogão da família...  

         

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Salgadinhos, muitos chopinhos... e uma goleada histórica do Mixto sobre o Humaitá: 14x0

Os refletores do Verdão foram a causa da goleada
 histórica doMixto; os chopinhos, não! (Foto João Vieira)  
Em julho deste ano vai completar 37 anos que a torcida (1170 pagantes e renda de Cr$ 76 mil) que estava no extinto Verdão naquela noite de 9/7/1980 teve a oportunidade de assistir a maior goleada registrada até hoje no principal Campeonato Mato-grossense de Futebol: Mixto 14 x Humaitá 0.

Foi isso mesmo: Mixto 14 x Humaitá, de Cáceres, 0, com o atacante Elmo, chegando perto de igualar o recorde de Pelé, que marcou 8 gols na vitória do Santos sobre o Botafogo, de Ribeirão Preto, por 11x0, pelo Campeonato Paulista de 1964.

Horas antes do jogo, a delegação do Humaitá foi conhecer a Companhia Cervejaria Cuiabana, que o saudoso jornalista e empresário Archimedes Pereira Lima inaugurou em Cuiabá em 1967 para produzir duas conceituadas marcas de cerveja e chope. A visita a indústria havia sido previamente agendada por cacerenses que distribuíam os produtos da CCC naquela cidade e região e parceiros do Humaitá.

A visita a indústria que ficava na Estrada do Moinho nas proximidades da hoje rotatória do Jardim Universitário e do Recanto dos Pássaros transcorreu em um clima festivo. Claro que numa ocasião como aquela, não podia faltar salgadinhos e chope rolando à vontade. Alguns jogadores mais sedentos, parece até que esqueceram que tinham que jogar futebol à noite e afundaram o pé pra valer no chopinho.

Na hora do jogo foi aquele desastre: uns viam duas bolas no campo, outros não viam nem uma... e o. Mixto só balançando as redes do Humaitá na maior moleza! Os jogadores cacerenses que mais pegaram na bola no Verdão foram os arqueiros Jony e depois Itamar... para devolvê-las para o centro do campo após mais um gol e os atacantes humaitaenses para dar nova saída. Foram 14 saídas...

Só para recordar: os gols foram marcados por Elmo (7), Hideraldo, Gilmar, Toninho Campos, Ademar, Tostão, Arildo e Medina, contra. O juiz da goleada histórica foi Dulcindo Cunha e os times jogam assim formados: MIXTO – Mauro; Gilmar, Tucho, Fabinho e Remo; Arildo, Ademar e Tostão: Toninho Campos (Osvaldo), Elmo e Hideraldo (Udelson). HUMAITÁ – Jony (Itamar); Aguilar, Medina, Rui e Manoel; Lemes, Gomes e André; Chiquinho, Ivo e Simão. 

Encerrada a partida, os jogadores do Humaitá justificaram a péssima atuação coletiva e apresentaram uma boa desculpa para a fragorosa goleada: eles não estavam acostumados a jogar à noite, porque o estádio Geraldão, de Cáceres, naquele distante 1980, não tinha iluminação, e todo mundo ficou atrapalhado com os reflexos dos refletores do Verdão. Claro que chopinhos não tinham influenciado em nada...

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Governo não paga digitalização e empresa confisca documentação da FMF



Um mistério envolve a extinta Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo de 2014 (Secopa) e a Federação Mato-grossense de Futebol, com o confisco de parte da documentação da entidade máter do futebol de Mato Grosso. Sim, uma parte, porque a memória da FMF, do período de sua fundação em 1942, até 1980, simplesmente deixou de existir, pois a papelada oficial – súmulas, atas de reuniões, assembleias da entidade, registros em cartórios, etc. – foi vendida para indústrias de reciclagem de papel da Grande Cuiabá e transformada em drogas e cachaça...

A história que se conhece sobre esse mistério que envolve o futebol mato-grossense é bem complicada. Bem antes da realização de uma etapa da Copa do Mundo de 2014 em Cuiabá, a Secopa procurou a Federação Mato-grossense de Futebol, com uma proposta interessante: mandar digitalizar toda a documentação da entidade para preservar e eternizar a memória do futebol estadual. Ou pelo menos do que havia restado do seu acervo até a mudança da entidade para sua atual sede, no Dutrinha.

Ao que consta, o trabalho foi feito bonitinho, com a contratação de uma empresa especializada em digitalização. Mas como o governo de Silval Barbosa extinguiu a Secopa e não pagou a digitalizadora, e nem o de Pedro Taques, a empresa confiscou os arquivos e não devolveu a documentação à entidade. E está tentando, infrutiferamente, receber a prestação de serviço do governo atual, mas na Secretaria de Cidades, que ficou com o rescaldo da Secopa, ninguém sabe de nada sobre nada...

Quem poderia esclarecer ou desfazer esse mistério seria o secretário extraordinário da Secopa, Maurício Guimarães, que está sendo processado pela Justiça do Estado por improbidade administrativa na sua gestão à frente da extinta secretaria extraordinária. Mas na Secretaria de Estado de Fazenda, onde Guimarães é servidor concursado, ninguém pode passar telefone ou endereço do servidor... só o e-mail, que, pelo jeito, raramente é acessado pelo ex-secretário da Secopa.

Na Sefaz, a única coisa que se consegue descobrir sobre Guimarães é que ele “trabalha” em casa --  sem obrigação de comparecer ao emprego -- numa tal de gerência técnica (Getec) ligada a veículos. Quando usa telefone para eventuais contatos, Guimarães utiliza um celular cujo número não é identificado pelo aparelho chamado e nem pode ser rastreado.

Sabe-se também que pela FMF assinaram o convênio com a Secopa para a digitalização dos documentos o falecido presidente Carlos Orione e o ex-diretor de Desenvolvimento da entidade, Ademir Moreira. Mas Moreira foge de falar sobre o assunto como o diabo foge da cruz, Orione está morto e o atual presidente da FMF, João Carlos Oliveira Santos, não sabe de nada...   



Sem suborno, Vila Nova pegava seus adversários mais fortes na bola pela barriga...

O time de 1951 do Vila Nova:  Senésio, Zé Sales, Lulu, Painha, André, Branco e a rainha Marcelina Leite da Silva (em pé) Tum, Lili, Persídio Tarsilio e Pombito (agachados)
Desde que a rivalidade começou a se manifestar no futebol de Mato Grosso, no princípio no amadorismo e depois no profissionalismo – o primeiro jogo no estado indiviso foi disputado dia 15 de novembro de 1913, com o Cuiabá Futebol Clube derrotando o Internacional Futebol Clube por 3x0, gols de Leovegildo, Alcindo e Vieira – dirigentes mais espertos sempre buscaram um jeitinho para garantir a vitória de seus times em simples amistosos ou competições oficiais – garantem pessoas insuspeitas.

Pagar juízes e bandeirinhas para marcar pênaltis contra adversários, validar gols escandalosamente ilegais, assinalar impedimentos inexistentes “molhar” a mão de atletas de clubes rivais para que não dessem as caras no campo em dias de jogos importantes... faziam parte dos tratos, sem nada assinado, claro, entre as pessoas que se envolviam nas patifarias.

Em muitos casos, a roubalheira a favor de um time era tão descarada.que de vez em quando torcedores invadiam campos de subúrbios e estádios para bater em juízes e bandeirinhas. Alguns dirigentes chegavam a cortar cédulas de dinheiro ao meio e só entregava a outra parte do dinheiro se o acordo fosse cumprido. Por isso muitos bandeirinhas entraram na bordoada sem saber porque estavam apanhando...  

Um veterano árbitro de futebol que atuou longo tempo no futebol profissional de Mato Grosso, confessa que ganhou muito dinheiro, mas muito dinheiro mesmo, principalmente nos clássicos envolvendo Mixto, Dom Bosco e Clube Esportivo Operário Várzea-grandense. É que na época de ouro do futebol profissional no estado, dirigentes desses clubes faziam altas apostas nos jogos e quem lhe pagava mais garantia a bolada do suborno...

O suborno no submundo da bola alcançou um patamar tão alto no futebol mato-grossense que o Clube Esportivo Dom Bosco, o mais antigo do futebol mato-grossense, chegou a ter em sua direção, por muito tempo, um dirigente cuja função era única e exclusivamente “comprar” juízes e bandeirinhas para assegurar antecipadamente resultados que interessavam ao seu clube. Sua “árdua” missão na diretoria se estendia também a outros clubes, se o placar positivo ou negativo de um determinado jogo beneficiasse o Dom Bosco...

Na luta por um título ou uma vitória importante, valia tudo, inclusive “macumbaria” da pesada ou outras estratégias que não despertavam qualquer tipo de suspeita dos adversários. Nesse particular, destacou-se na Baixada Cuiabana o Vila Nova Futebol Clube, de Bom Sucesso, que de 1951, quando foi fundado, até o início da década de 70, ainda com a abundância de peixes no Rio Cuiabá, pegava os adversários de maior nível técnico pela barriga...

Isso mesmo: por trás da aparente gentileza de convidar seus adversários mais fortes a chegar mais cedo à comunidade rural para almoçar e desfrutar das delícias da sua culinária,  principalmente pratos à base de peixes, escondia-se o propósito de fazer de fazer seus jogadores se empanturrar de comida, seguida de deliciosas sobremesas que fatalmente iriam influenciar na produção em campo dos boleiros na hora do vamos ver...

Ficou na história e no folclore de Bom Sucesso um jogo amistoso que o Vila Nova disputou, há muitos anos, contra o São Borja Esporte Clube, do Ribeirão do Lipa, e integrado por jogadores consagrados como Totó, Índio, Caboclo, Renato, Celso, Chico, Tô, Colino e Rubens. O jogo fez parte de uma grande festa da comunidade de pescadores: teve até bailão no sábado à noite e missa no domingo. Uma vitória contra o poderoso São Borja seria a coroação da festa...

A delegação do Ribeirão do Lipa desceu da carroceria do velho caminhão às 11 horas e em seguida foi recepcionada com uma farta mesa de chá com bolo de arroz e outros tentadores quitutes.  Cansados da longa viagem, a negadinha mandou brasa sem parcimônia, enchendo o pandulho de tudo que a farta mesa oferecia, incluindo, evidentemente, deliciosos refrescos e sucos de frutos regionais.

Por volta do meio dia, após generosas rodadas de uma cachacinha amiga de alambique os jogadores partiram para o almoço. Além de arroz, feijão, mandioca, salada, muito peixe de todo jeito: frito, assado, cozido, pirão, mojica de pintado.  Foi aquela comilança! Em seguida ao saboroso almoço, esperava os jogadores visitantes uma alentada mesa com sobremesas daquelas, incluindo variadas rapaduras e melado de cana, danados para dar sede em que os consome. A rapaziada atacou firme...

Estava quase na hora da boleirada ir para o campo, já apinhado de gente, para ver o esperado jogo. Antes da partida dos visitantes para o campo, um dirigente do Vila Nova avisou os jogadores que no lugar onde iriam trocar de roupa havia um tambor com água fresquinha só para eles, para ninguém passar sede...

Com tanta comida no bucho e tomando água sem parar para saciar a sede, os jogadores do São Borja não viam a cor da bola. E o Vila Nova só estufando as redes do adversário para delírio da torcida. Antes do jogo atingir meia hora, o Vila Nova já vencia por 5x0...        

Um dos mais antigos times de futebol da Baixada Cuiabana, o Vila Nova Futebol Clube continua sendo o maior orgulho da sua quase bicentenária população. Sim, quase bicentenária, pois o mais antigo distrito várzea-grandense, criado pela lei nº 123 de 23/9/1948, começou a ser povoado em 1823, muito antes de Várzea Grande ser elevada a categoria de cidade, em 1911. 

O Vila Nova, que completou 65 anos em 2016, teve sua origem numa briga entre diretores e jogadores do Soberano Futebol Clube, que, aliás, não contava lá com muita simpatia dos moradores da comunidade rural, que depois virou uma promissora colônia de pescadores. Com a dissensão no Soberano, alguns moradores aproveitaram os jogadores que tinham deixado o time e fundaram o  clube que representa até hoje Bom Sucesso no futebol.

Ao longo de sua brilhante existência, o Vila Nova tem honrado a velha comunidade ribeirinha, com vitórias memoráveis e a conquista de muitos títulos, taças e troféus, inclusive da Liga Independente de Futebol de Várzea Grande. Pena que as cíclicas enchentes de 1974 e de 1994 que devastaram Bom Sucesso tenham levado de roldão grande parte do rico acervo do Vila Nova, com sua história mais antiga ficando apenas na memória de seus moradores.

Logo depois da fundação, diretores do Vila Nova foram procurar o esportista Ponciano Gonçalves da Silva para pedir uma área de terras para construir o campo de futebol do novo clube. Pedido aceito, com a doação de um terreno perto da comunidade, começou o trabalho envolvendo toda a população para o sonho virar realidade.

O cerrado alto da área escolhida para o campo foi posto abaixo sob a força bruta do machado e da foice. Até crianças participaram do mutirão coletivo na reta final do projeto, ajudando a remover coivaras para preparação da terra para o plantio da grama.

O primeiro presidente do Vila Nova foi Gil João da Silva, que mesmo sem eleições formais foi sendo aclamado e ficou no cargo por nada menos do que 15 anos. Depois de Gil da Silva, a população escolheu para a presidência Joaquim Leite da Rosa, o Vovô Painha, que foi de tudo no clube, inclusive jogador. Hoje, aos 86 anos, Painha ainda trabalha na roça e cuida do tempero da cozinha da peixaria que leva o seu nome e uma das principais de Bom Sucesso.

Durante a presidência de Vovô Painha e que durou seis anos, só jogava no Vila Nova quem vivia na comunidade. O objetivo do clube era incentivar a garotada a jogar bola. Mas, na realidade, existia outro objetivo, sim: de vez em quando jogadores do mais alto nível do clube deixavam de comparecer a importantes jogos do Vila Nova e... constatava-se depois que haviam recebido uma graninha do adversário. Com os “pratas da casa” isso não aconteceria jamais, pois inclusive eram obrigados a pagar para jogar...

Apesar das muitas dificuldades financeiras que enfrentavam – naqueles tempos era comum jogar bola de pés no chão – o Vila Nova revelou muitos jogadores: Capitão, Persídio, Pombito, Belmiro, Didi, Cenésio, Ataíde, André, Zé Sales. Alguns chegaram a profissional: Miroca e  Nilton Capitão  (Mixto),  Ademir (Operário-VG) e Orlando (Palmeirinhas, do Porto).

Da brilhante trajetória do Vila Nova os moradores de Bom Sucesso só guardam uma bronca feia: o mini estádio da comunidade, construído em 1997, deveria levar o nome de Ponciano Gonçalves da Silva, que doou a área de terras à população. Mas o ex-presidente da Associação dos Moradores de Bom Sucesso, Fracinei Jesus de Souza, deu ao mini estádio o nome de seu avô, Cândido Jordão Magalhães, que nunca teve nada a ver com a comunidade...

sábado, 14 de janeiro de 2017

“Dá uma rezinha...”

              A velha guarda do Dom Bosco certamente guarda boas lembran­ças de Bil, um implacável “matador” que passou pelo azulão em 1991, quando o time, sob o comando de Hélio Machado, ganhou o único título do Campeonato Mato-grossense de Futebol.
            O gordinho Bil, no entanto, não participou da reta final do certame, porque ele era chegadinho numas biritas e a diretoria do clube achou por bem dispensá-lo antes que o centroavante arrastas­se companheiros dombosquinos para o vício...
Jogador cujo passe pertencia ao Goiás, antes de vir para o Dom Bosco Bil jogou um bom tempo no América, do México, e adorava esnobar sua posição financeira. De vez em quando, Bil ia comprar um simples pé de alface e fazia questão de pagar com dólar só para ver a cara de espanto do quitandeiro...
Extrovertido, Bil era do tipo que se saía muito bem das situações mais difíceis. Dentro ou fora de campo. Com ele não tinha moleza também: jogando ou treinando, o jogador era de uma dedicação fora do comum.
Certa vez, Bil perdeu a hora de levantar e para não chegar atrasado a um treino matinal do Dom Bosco no Dutrinha teve que pegar um táxi. Quando chegou ao estádio, Bil viu no taxímetro do carro que o valor da corrida era supe­rior ao dinheiro que ele tinha no bolso...
Sem rodeios, Bil disse ao taxista com a maior cara de pau: “O senhor pode dar uma rezinha até a rua Major Gama porque meu dinheiro dá para pagar a corrida só até lá!...”
Quando Bil estava no Goiás, seu time foi jogar em Itumbiara. No al­viverde goiano os destaques eram Bil e Radar, ambos atacantes. Radar chegou a fazer grande sucesso jogando pelo Flamengo, do Rio de Janeiro, além de ter atuado também no exterior.
Terminado o jogo em Itumbiara, Bil e Radar pegaram seus respectivos carrões e voltaram para Goiânia. Com um carro com motor mais potente, Radar tomou a dianteira de Bil e foi embora.
A certa altura, Bil foi parado pela Polícia Rodoviária Federal numa rodovia goiana. Bil já desceu do carro impondo banca: “Eu sou o Bil, do Goiás...”
– Não interessa quem o senhor é. O senhor estava correndo a 120 qui­lômetros por hora e está multado... – reagiu o policial rodoviário, já preenchen­do o formulário da multa.
– E quem foi que me entregou? – inquiriu Bil.
– Foi o radar, moço... – disse o policial rodoviário, evidentemente se referindo àquele aparelhinho utilizado nas rodovias para flagrar motoristas que gostam de afundar o pé no acelerador sem saber que estão sendo vigiados à dis­tância pela jeringoncinha.
– Filho da puta, fazer isso comigo depois das duas bolas açucaradas que lhe passei pra ele marcar dois gols... – foi a reação de Bil.

(Reproduzido do livro Casos de todos os tempos  Folclore do futebol de Mato Grosso). 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Escolhas erradas...

Nos 10 anos em que o Araguaia Esporte Clube imperou soberano no futebol do leste mato-grossense, principalmente no período de 1957 a 1964, diretores do clube e lideranças políticas do município faziam de tudo para o alviverde só contratar jogador com boa formação escolar, edu­cado, politizado, que tivesse uma profissão ou gostasse de trabalhar, etc., para evitar que pessoas desqualificadas passassem a viver entre a ordeira população altoaraguaiense.
Por isso, quando ficavam sabendo que seria designado alguém do Judiciário, da Polícia Civil, da Polícia Militar, do fisco estadual, para Alto Ara­guaia, particularmente as famílias Hugueney e Lima mexiam os pauzinhos para que os escolhidos fossem pessoas de alto nível em todos os aspectos. E de preferência bamba na bola. Não se tratava de preconceito, mas a pacata popu­lação altoaraguaiense não queria saber de boêmios, pinguços, frequentadores de ZBMs, em seu meio. Mesmo que fossem craques de futebol...
Entretanto, mesmo com todo esse cuidado, de vez em quando o “Pantera do Leste” contratava boleiros que davam muita dor de cabeça aos dirigentes. E quando aparecia em Alto Araguaia, sem mais nem menos, joga­dores bons de bola se oferecendo para defender o alviverde, a diretoria já sabia: era tranqueira da grande na certa...
Certa vez o AEC foi buscar em Tupaciguara-MG um centro-médio chamado Coringa. O rapaz era um craque de mão cheia. No entanto, o que ele tinha de virtudes na arte de lidar com a bola, tinha também de aversão ao tra­balho. Tanto é que de vez em quando Coringa comentava com companheiros de clube: “Este neguinho aqui não nasceu para trabalhar...”
Pedro Lima não sabia que Coringa não queria nada com a dureza. E algum tempo depois de sua chegada a Alto Araguaia, o dirigente alviverde disse a Coringa que ia arranjar um emprego para ele trabalhar, como os outros jogadores do “Pantera do Leste”.
– O dia que o Pedrão falar de novo de emprego comigo vou pegar o ônibus lá em Santa Rita do Araguaia para ele não me alcançar... – comentou Coringa com alguns companheiros assim que o dirigente do “Pantera do Les­te” virou as costas...
Em outra ocasião apareceu na cidade, como quem não queria nada, um jogador chamado Ezequiel. Treinou no AEC, abafou e ficou. Como de­monstrou ser gente boa – lembra Pedro Lima – o clube montou uma lavande­ria e tinturaria para Ezequiel trabalhar e ir ganhando a vida, conciliando sua atividade profissional com a bola.
Tempos depois, o AEC veio disputar um jogo em Cuiabá. Titular absoluto da equipe, Ezequiel saiu do hotel para dar uma voltinha e sumiu. Só reapareceu quase na hora do time ir para o campo. Estava completamente embriagado, mas impecavelmente vestido com um terno de linho 120... que o juiz de Direito João Antonio Neto havia deixado na sua tinturaria para lavar e passar. Ezequiel assistiu ao jogo das arquibancadas como se fosse uma grande autoridade...
Entre os aventureiros que passaram por Alto Araguaia nos áureos tempos do “Pantera do Leste”, Pedro Lima lembra especialmente de dois: o volante e armador Manaus e o zagueiro Meia-Noite. Natural de Tupaciguara, em Minas Gerais, Meia-Noite era lavrador e foi descoberto por Pedro Lima em Ituiutaba, no mesmo estado. Manaus, como o nome indica, devia ser natural da capital do estado do Amazonas. Ambos ficaram só uns dois meses no AEC. Bons de bola, anoiteceram e não amanheceram em Alto Araguaia...
Mas o maior dos malas entre os tantos que Alto Araguaia conheceu durante o longo reinado do AEC foi mesmo Sarará, que, entre outras façanhas, inclusive se fazia passar por Sarará, aquele craque de bola que tinha tido uma passagem brilhante pelo São Paulo FC na década de 50.
Sarará tinha apitado um amistoso do AEC contra o Palmeiras em Mineiros, em Goiás. Como teve boa atuação, o que era um fato raro, porque os juízes sempre beneficiavam o time da casa, Sarará caiu nas graças de Pedro Lima. E já foi com a delegação do “Pantera do Leste” para Alto Araguaia. Mas no dia seguinte, Sarará disse que não podia ficar, porque sua mala de roupa tinha ficado em um hotel em Jataí.
Esse problema era de menos: o diretor Pedro Lima pegou um dos aviões de sua frota de cinco táxis aéreos e se mandou para Jataí com Sarará para buscar suas roupas. Jogo rápido. Pedro Lima ficou no campo de pouso e decolagem de Jataí e Sarará foi ao hotel buscar seus pertences. Pouco depois Sarará estava de volta com uma notícia desagradável: um viajante tinha levado sua mala embora...
O pessoal do AEC andava desconfiado que Sarará não era o Sarará do São Paulo FC coisa nenhuma. Por isso, Pedro Lima designou o ex-jogador do “Pantera do Leste” Lhamber Saad Resende, que tinha um tio que era diretor do tricolor paulista, para descobrir a verdade.
Lhamber partiu para cumprir a missão. Passados alguns dias, Lham­ber estava de volta, garantindo que o Sarará que estava em Alto Araguaia era mesmo o Sarará do São Paulo FC, conforme garantiu seu tio.
– Meu tio até me reconheceu e quando me viu, disse-me: “Porra, Saad, o que você está fazendo por aqui?...” – repetia Lhamber, prestando contas da sua missão em defesa do “Pantera do Leste”.
Mas descobriu-se muito cedo que Sarará não era o Sarará verdadeiro coisa alguma. E a história do encontro do ex-jogador do AEC com o tio do São Paulo FC não passava de um blefe de Lhamber, que era muito vaidoso e não ia perder uma boa oportunidade para aparecer.
O sumiço da mala e o caradurismo de Sarará, que fez Pedro Lima voar duas horas por nada, viraram gozação na cidade. A partir daí, quando alguém duvidava de alguma coisa ou do cumprimento de uma promessa, prin­cipalmente de políticos, saía com ironia: “Ah, está na mala do Sarará!...”, “Vai chegar na mala do Sarará!...”
Como aconteceu durante uma visita que o então governador do Es­tado, Fernando Correa da Costa, fez a Alto Araguaia. Sem conhecer a história da mala do Sarará, o governador prometeu que levaria para o município uma agência do Banco do Brasil, garantindo num comício em praça pública que para a pessoa pegar dinheiro no banco bastava mostrar as mãos calejadas. Foi aquela gozação dos moradores de Alto Araguaia.
– Esse banco vai chegar aqui na mala do Sarará... – diziam os mora­dores altoaraguaienses, certos de que a promessa do governador não passava de uma grande cascata.
Sarará ficou um bom tempo em Alto Araguaia. Com a ajuda de Pe­dro Lima, ele montou um quiosque num terreno da prefeitura no centro da cidade para vender espetinho com mandioca e refrigerantes. E se deu muito bem. Alguns anos depois, Pedro Lima passou por Andradina-SP e foi almoçar na principal churrascaria da cidade, cujo dono era Sarará, que nem lhe cobrou a refeição...
Ferrinho foi outra “fera” danada que passou pelo AEC. Um dia, Fer­rinho apresentou a Pedro Lima uma carta da mãe dele, pedindo que ele viajasse para Uberlândia, onde ela morava, pois precisava falar com o filho com urgência.
A carta estava muito bem escrita, mas com um começo cheio de for­malidades que não são comuns em tratamento familiar. Do tipo “Prezado filho Augusto Ferro da Silva”, que era seu nome completo. E mais: a carta dizia que Ferrinho devia viajar pela então Real Aerovias, que cobria todo o interior, no dia tal, horário tal, etc...
Naquele final de semana, o AEC tinha um jogo importante e coube a Pedro Lima dirigir o apronto final da equipe, como sempre, colocando o ataque do time titular para treinar contra a defesa.
O treinador foi distribuindo as camisas dos times titular e aspirante. Quando chegou a vez de completar o ataque titular, Pedro Lima disse com a voz calma: “A número 11 vai para a mãe do Ferrinho...”
Nem bem Pedro Lima completou a frase, o atacante Wagner, que tinha jogado no juvenil do Santos FC e tinha o 2° grau completo, deu um pulo lá longe, gesticulando e gritando: “Eu não tenho nada com isso, foi ele que mandou eu escrever a carta...”


(Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso).