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terça-feira, 24 de julho de 2018

Para escapar da fúria da torcida, União Juara pagou por jantar que não consumiu...



Empolgado pela boa campanha que vinha realizando no Campeonato Mato-grossense da 2ª Divisão de 1991, o União Esporte Clube Juara, pioneiro no futebol profissional no município do mesmo nome, no Médio Norte, foi enfrentar a Associação  Atlética Alta Floresta, no Estádio Maestrão.

Embora o futebol seja um esporte marcado pela rivalidade que às vezes chega às raias da insensatez, não passava pela cabeça de ninguém que aquele o jogo acabaria se transformando numa verdadeira batalha campal dentro e fora do gramado, com muitas jogadas violentas por parte dos defensores altaflorestenses  e ameaças da torcida de pegar os juarenses.

Tanto é que depois da partida, que terminou empatada pela contagem mínima, a delegação do UECJ, que subiu naquele ano para a 1ª Divisão do ano seguinte, teve que sair do estádio sob a proteção da Polícia Militar.

A fúria dos torcedores com o empate que classificou Juara, era tamanha contra os juarenses que a delegação visitante não pôde nem jantar em Alta Floresta, embora com a refeição já paga  adiantadamente. A delegação só saciou a fome quando chegou a Colíder, onde fez a refeição antes de retornar a Juara.

Se o clima tenso predominou no decorrer do jogo, a situação piorou ainda mais nos minutos finais, quando torcedores passaram a jogar pedaços de paus dentro de campo para intimidar os jogadores visitantes.

A atitude dos torcedores locais passou a ser interpretada como  uma maneira de amedrontar os jogadores visitantes, que temiam ser vítimas de agressões físicas, já que verbais eram inúmeras e constantes.

Da raiva da torcida altaflorestense não escapou nem o pessoal da crônica esportiva que fazia cobertura do jogo. O radialista Aparício Cardozo, que transmitia a partida pela Rádio Tucunaré, de Juara, viveu momentos de pânico quando grupos de torcedores começaram a sacudir em sincronia a cabine de madeira de onde ele narrava o jogo no Maestrão, na tentativa de derrubá-la, amedrontando a equipe esportiva da emissora.

Depois de muito bate-boca, empurrões e ameaças de agressões, finalmente a delegação juarense saiu do estádio. Mas foi por pouco, porque torcedores foram flagrados por dirigentes do UECJ tentando esvaziar e furar os pneus do ônibus da delegação. Os juarenses só se acalmaram depois que o ônibus deixou a MT-419, que liga a BR-163 com Alta Floresta, e rumou para Colíder...

O ex-prefeito de Juara e então vereador Priminho Riva acompanhou a delegação do UECJ – fundado em 10/10/1980 – nesse jogo histórico do clube e inclusive trabalhou como repórter da Rádio Tucunaré, auxiliando o narrador Aparicio Cardozo. Foi ele quem bancou o almoço em Alta Floresta no domingo e pagou antecipadamente o jantar para garantir que o pessoal não voltasse para Juara de barriga vazia.

No início da semana, Priminho Riva ligou para a dona do restaurante onde a delegação jantaria no domingo à noite na tentativa de ser ressarcido do prejuízo, pois pagou pelas refeições que não foram servidas e nem consumidas.

Mas a dona do restaurante ponderou que inclusive já havia gasto o dinheiro que recebera adiantadamente para preparar o jantar para as 36 pessoas que integravam a delegação juarense.  “A comida foi toda  jogada fora. Eu fiz a minha parte, se vocês não comeram, o problema não é meu...” –  argumentou a mulher cheia de razão.

Priminho Riva concordou e nunca mais tocou no assunto com ela...    


sexta-feira, 13 de julho de 2018

Uma viagem tumultuada em ônibus de linha do Palmeirinhas para jogar em Barra do Garças


O Palmeiras ia jogar com o Barra do Garças Futebol Clube, no Estádio Zeca Costa, pelo Campeonato Mato-grossense de 1985 ou 1986, ninguém sabe com certeza. O que aparentemente seria um evento esportivo comum, tinha um significado especial: a data do jogo coincidia com a do aniversário de Barra do Garças – fundada no dia 13/6/1924 – e foi incluído nas festividades da cidade para fechar com chave de ouro a programação. De preferência com uma vitória, para completar a festa...

A saída da delegação do velho clube do Porto foi marcada para a antiga sede da extinta Prosol, no bairro Dom Aquino, um dia antes do jogo. A moçada palmeirense  estava animada, primeiro porque ia participar das festas do povo barragarcense e segundo pelo fato de que o técnico Admir Moreira poderia contar com seus principais jogadores, entre eles Gérson, Zequinha, Baiano, Éder Taques, Gaguinho, Carlinhos...

Carlinhos era o filho mais jovem do presidente palmeirense Délio de Oliveira e despontava como uma grande promessa do futebol mato-grossense. Mas, apesar do incentivo e do apoio do pai, Carlinhos não teve a mesma sorte do irmão William, que foi ainda garoto para o Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, e fez muito sucesso no futebol carioca, jogando também pelo Flamengo.

Estava tudo pronto para a viagem de cerca de 500 quilômetros pela já asfaltada BR-070 entre Cuiabá e Barra do Garças, porém um imprevisto mudou o que estava planejado. Em cima da hora prevista para embarque da delegação alviverde, a empresa contratada para transportar a delegação informou a Délio de Oliveira que o ônibus disponibilizado para a viagem havia sofrido uma avaria mecânica e ela não poderia cumprir o compromisso...

O presidente palmeirense não perdeu tempo: correu para o Terminal Rodoviário de Cuiabá e comprou mais de 20 passagens para a delegação  pegar um ônibus que já estava saindo para Barra do Garças. Mas não dava tempo para o pessoal sair do Dom Aquino e chegar à rodoviária para embarcar...

A solução foi amontoar todos os membros da delegação com suas respectivas bagagens em uma caminhonete e tocar a toda velocidade para a Avenida Fernando Correia da Costa, onde em uma parada de coletivos nas imediações da Trêscinco, o ônibus de linha estacionou rapidamente para o embarque da delegação palmeirense.

E o que seria uma viagem tranquila em um veículo especial, com direito a travesseiros, água gelada e cafezinho, acabou sendo feita em um “pé duro”, como eram chamados os ônibus de linha que trafegavam pela BR-070, que liga Cuiabá a Barra do Garças, antes da rodovia ser asfaltada no governo de Júlio Campos, entre 1983/1986.

A desastrada viagem do Palmeirinhas para Barra do Garças teve um  ingrediente a mais: quando a delegação alviverde passou pela reserva indígena Sangradouro, em Primavera do Leste (230 quilômetros de Cuiabá), um numeroso grupo de índios xavantes invadiu o ônibus, assustando os passageiros e sem querer saber se havia ou não bancos disponíveis para se sentarem. E não havia...

Da cansativa e desconfortável viagem dos palmeirenses, restou um consolo: apesar de todas as dificuldades que a delegação enfrentou para chegar a Barra do Garças, o alviverde fez uma boa exibição no Zeca Costa e venceu o jogo pela contagem mínima, estragando a festa dos barragarcenses. O gol foi marcado no primeiro tempo por Baiano – recorda o hoje técnico de futebol Éder Taques, um dos participantes da aventura palmeirense, como jogador...     

terça-feira, 3 de julho de 2018

Um gol de Pastoril e um chute em um equipamento de rádio acabaram com o sonho de dois locutores


O Barra do Garças Futebol Clube ia disputar um jogo importante pelo Campeonato Mato-grossense de 1979 no Estádio Zeca Costa contra o ainda poderoso Mixto, que tinha em suas fileiras craques consagrados como Ernani, Miro, Remo, Rômulo, Fabinho, Arildo, Marcinho e Pastoril. E a Rádio Aruanã, de Barra do Garças, a pioneira do Vale do Araguaia, decidiu transmitir a partida.

Dizem que a ideia partiu dos locutores Paulo Emílio e Jota Fonseca, este já falecido, que pretendiam fazer um teste sobre a reação do mercado publicitário da cidade, cuja economia vivia uma fase muito promissora, com a implantação de vários projetos de colonização e agropecuários no município. Se fosse positiva, poderia abrir as portas para outras transmissões, com a venda de quotas de publicidade para garantir o faturamento da emissora e dos dois, claro...

Como à época a Rádio Aruanã nem Departamento de Esportes tinha, os dois foram encarregados da transmissão do jogo, com Jota Fonseca ficando com a narração, uma experiência nova em sua carreira no rádio, e Paulo Emílio encarregado de fazer os comentários. A exemplo do companheiro, que nunca tinha narrado um jogo de futebol, Paulo Emílio não entendia bulhufas de futebol.

Na falta de cabines no então acanhado Zeca Costa, os dois montaram a parafernália de equipamentos no campo, do lado de dentro do alambrado. Apesar da improvisação, a transmissão prosseguia normalmente, com Paulo Emílio e Jota Fonseca empolgados com o jogo e com o placar favorável ao time da casa,  pela contagem mínima.

Mas no 2º tempo, Jota Fonseca, visivelmente irritado com Pastoril, que estava acabando com o jogo, não se conteve quando o meia armador mixtense empatou o jogo e desferiu um violento pontapé e um dos equipamentos da transmissão, mandando-o longe. Acabou ali, no gol de Pastoril, o projeto da Aruanã e dos seus dois locutores...