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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Depois do jogo do Dom Bosco no Maracanã, Churica ia trazer água, mas trouxe areia para a vovó sentir o sabor do mar...

O time do Dom Bosco: que jogou no Maracanã; da esquerda 
  para a direita, em pé, Scolfaro (técnico) Tyresoles 
(massagista), Miro, Luiz Carlos, Clóvis, Saborosa, Ramão,
Darci Piquira, Edu Levy (médico) e Fioravante Fortunato
  (supervisor); agachados, Joilton, Vladimir, Damasceno,
 Pereira e Abreu. (Foto Marcos Lopes)  
Alguns jogadores do Dom Bosco, que estava realizando um rápido “tour” pelo Rio de Janeiro, depois do empate contra o São Cristóvão na preliminar do amistoso Brasil 1 x Áustria 0, na fase final de preparação da seleção canarinho para disputar o Campeonato Mundial de 1970 no México, estranharam quando na paradinha na praia de Copacabana o lateral direito Churica tirou de sua bolsa uma garrafinha de tampa de rolha e a encheu com água do mar...
De volta ao ônibus, o meia armador Franklin, bom de bola que só ele, intelectual, estudante de Direito, e um tremendo gozador, perguntou a Churica porque ele estava levando a garrafinha daquela água imprópria para consumo humano. E Churica explicou, educadamente, que estava atendendo a um pedido de sua avó, que vivia em Cuiabá, e queria sentir o sabor da água salgada do mar... 

Franklin não perdeu a deixa e tascou: “A água do mar não é salgada, Churica! Salgada é a areia...” 

Churica não vacilou: desceu do ônibus, esvaziou a garrafinha e a encheu de areia...

Ninguém teve coragem de contestar Franklin, com medo de sua língua ferina, claro...

O rápido “tour” pelo Rio de Janeiro, em ônibus fretado, foi um prêmio que o clube decidiu dar aos jogadores em reconhecimento à brilhante atuação que o azulão tinha tido contra o São Cristóvão na tarde daquele histórico dia 29/4/1970 – foi a primeira vez que um time de Mato Grosso pisou no Maracanã – no empate de 1x1. Tanto é que além dos protestos dos torcedores contra a arbitragem a favor do time carioca, a própria imprensa carioca admitiu que o Dom Bosco havia sido escandalosamente roubado...

Decorridos mais de 47 anos da exibição do Dom Bosco no Maracanã, até hoje muita gente não entende como um clube sem expressão no futebol brasileiro conseguiu o extraordinário feito de jogar no grande estádio carioca, justamente numa preliminar da Seleção Brasileira. Mas a façanha dombosquina tem uma explicação, sim...

Afilhado de batismo do presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), João Havelange, o presidente da Federação Mato-grossense de Desportos (FMD), Agripino Bonilha Filho, não perdia uma oportunidade para dar um toque no poderoso padrinho sobre o seu sonho de ver um dia um time de Mato Grosso, jogando no Maracanã. Em sua gestão, naturalmente... – entre 1969 e 1976.

Com a oficialização do amistoso do Brasil com a seleção austríaca, um dia Havelange falou do sonho de Bonilha Filho com Mozart Di Giórgio, diretor de Relações Internacionais, e Abílio D’Almeida, superintendente, respectivamente, da CBD. Com aprovação dos dois, o três pesos pesados da CBD decidiram na hora que um clube de Mato Grosso jogaria na preliminar do amistoso internacional e até escolheram seu adversário: o São Cristóvão, do qual D’Almeida chegou a ser presidente... 

Claro que o fato de Bonilha Filho ser afilhado de Havelange pesou e muito na aprovação da preliminar, pois Giórgio e D’Almeida nem sabiam que existia em Mato Grosso um clube de futebol chamado Dom Bosco. Coube a Bonilha indicar o representante de Mato Grosso para enfrentar o São Cristóvão. E ele escolheu o Dom Bosco, que estava em boa fase.

No Rio de Janeiro, a delegação do Dom Bosco não ficou alojada em hotel e sim no 3º andar do Maracanã, onde os jogadores inclusive faziam suas refeições. Como a delegação tinha que cumprir rigorosamente os horários fixados pela administração do estádio para acesso às suas dependências, os jogadores não dispunham de muito tempo para conhecer a “Cidade Maravilhosa”, o que puderam fazer na segunda-feira, depois do jogo no domingo.

O chefe da delegação dombosquina, Giórgio Fava, recorda até hoje a preleção que o farmacêutico e supervisor do azulão, Fioravante Fortunato, fez ainda no alojamento, antes das instruções finais do técnico Álvaro Scolfaro ao time, falando sobre a responsabilidade da equipe numa preliminar de um jogo tão importante – o Brasil ganhou da Áustria, com um gol de Rivelino, de falta.

Lembrou Fortunato que o Dom Bosco era uma gotinha d’água na imensidão do oceano e por isso pediu o empenho de todos para o Dom Bosco fazer bonito e honrar o futebol mato-grossense. O pedido de Fortunato foi atendido além dos limites que a torcida dombosquina poderia esperar, com uma exibição de gala, mas o juiz não deixou o azulão ganhar ... 




quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Presepada de Lino Miranda


“Enquanto eu tiver mãos para segurar caneta e folhas de cheque para assinar, compro qualquer jogador para o Mixto...” – costu­mava dizer Lino Miranda, inclusive em reuniões de clubes na FMF, dando gar­galhadas. E comprava mesmo. Aliás, tanto comprava como vendia. Era cada rolo!
Na sua longa passagem pelo Mixto, como presidente e diretor do Departamento de Futebol Profissional, Lino Miranda aprontou cada presepa­da! Tanto é que em Maringá, no norte do Paraná, ele era chamado pelos tor­cedores do Grêmio Esportivo Maringá de “Frente Fria”. Por um simples moti­vo: quando Lino Miranda aparecia na cidade para fazer algum negócio com o GEM, a torcida já sabia que, de um jeito ou de outro, o clube maringaense ia entrar numa gelada.
Recorda Roberto de Jesus César, ex-jogador de futebol, treinador in­clusive do próprio Mixto, comentarista esportivo e muito amigo de Lino Mi­randa, que teve um período em que o dirigente alvinegro era chamado, até pelos jogadores, de Doutor Mentira. Por quê? Simplesmente porque Lino Mi­randa vendia jogadores do clube e não entregava; comprava dos outros e não pagava...
É muito conhecida uma história envolvendo Lino Miranda, a CBF, o Americano, de Campos-RJ e o zagueiro Orlando Fumaça, cujo passe o dirigen­te mixtense comprou com um cheque com assinatura falsificada, colocando na fogueira o nome de uma pessoa muito ligada ao futebol em Mato Grosso. O rolo virou processo e foi parar na CBF, mas acabou bem, como sempre, com vantagem para o Mixto: após alguns meses no alvinegro, Orlando Fumaça foi negociado com o Vasco da Gama-RJ por um dinheirão.
Tempos depois da armação, Lino Miranda foi à CBF cuidar de ques­tões relacionadas ao Mixto e aproveitou para conversar com Giulite Coutinho para explicar em detalhes a tumultuada transferência de Orlando Fumaça para o alvinegro, a fim de justificar que a pessoa cuja assinatura no cheque tinha sido falsificada não teve nenhuma culpa na lambança que ele havia aprontado pra cima do Americano.
Segundo uma versão alardeada por Lino Miranda no seu retorno a Cuiabá, ele deu a seguinte explicação ao mandachuva da CBF para ter aplicado o golpe no Americano: o time do Mixto que estava disputando o Campeonato Mato-grossense de 1988 tinha um bom ataque, mas a defesa estava feia que dava dó. Levava gols de tudo quanto era jeito.
E Lino Miranda tinha um motivo até humano para comprar Orlan­do Fumaça para arrumar a defesa. Seu filho, ainda menino, era torcedor tão fanático do Mixto que quando o alvinegro perdia o garoto ficava doente, não ia à escola, só tirava notas baixas e até se tornava rebelde em casa e na rua. Nem psicólogo tinha dado jeito na louca paixão do menino pelo Mixto.
– Foi num momento de fraqueza, porém pensando no bem do meu filho que eu fiz aquilo, presidente, o senhor há de entender a aflição de um pai... – arrematou Lino Miranda.
– Pois, olhe, Lino, eu enfrento o mesmo drama. Tenho um menino  que é louco pelo Botafogo... logo pra quem ele foi torcer! É padecer demais ver o meu garoto sofrendo daquele jeito...
Quase chorando um no ombro do outro num fraternal abraço de pais sofredores por causa do futebol, os dois se despediram...
Detalhe: Lino Miranda nunca teve filho homem...
Bonachão, sempre bem-humorado, às vezes Lino Miranda não pou­pava nem pessoas da sua estrita confiança. Certa vez, ele precisou ir a Goiás para acertar a vinda de alguns jogadores do futebol goiano para o Mixto e levou consigo o técnico Hélio Machado e o radialista Antero Paes de Barros. A viagem, por terra, foi feita no carro do treinador.
Antes da partida, Lino Miranda simulou tomar um comprimido e entregou um para Antero e outro para Machado, recomendando: “É pra gente relaxar e viajar mais tranquilo. Peguei com meu irmão...”
O irmão a que Lino Miranda se referia era o médico Emílson Miran­da, que naquela época tinha um hospital – o São Paulo – na Morada do Sol.
Na primeira parada do trio para fazer um lanche, nem o suco que Machado e Antero pediram desceu. Imagine o lanche, então...
Chegou a hora do almoço. Lino Miranda comeu um engasga gato qualquer e seus companheiros de viagem nem pediram nada porque sabiam que a comida ia ficar entalada na garganta. E não queriam correr risco de en­gasgar e passar vergonha num restaurante...
Exceto o fato de Machado e Antero terem perdido alguns quilos, pois não conseguiam comer nada, tanto na ida como na volta, nem na curta permanência em Goiânia, a viagem transcorreu normalmente. E Lino, como sempre, foi bem-sucedido na sua empreitada de conseguir os reforços que o Mixto pretendia...
Algum tempo depois, Machado e Antero descobriram que os com­primidos que Lino Miranda havia lhes dado não era um relaxante coisa ne­nhuma e sim um poderoso inibidor de apetite...

Como zeloso dirigente do Mixto, Lino Miranda queria fazer econo­mia para o clube. E conseguiu, mesmo que às custas da fome de dois apaixo­nados mixtenses...

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Jogadores do Comercial dormiram uniformizados em uma Delegacia de Polícia depois de tumulto no Dutrinha

O Dutrinha sempre foi palco de muitas brigas
Dom Bosco e Comercial, de Campo Grande (hoje capital de Mato Grosso do  Sul), iam disputar mais um jogo oficial em 1967. Dutrinha lotado, como sempre acontecia nos confrontos entre os dois tradicionais rivais do norte e do sul do gigantesco Mato Grosso ainda indiviso.

Apesar da importância da partida e da rivalidade entre Dom Bosco e Comercial, policiamento no estádio só o do Batalhão de Caçadores (16º BC), formado à última hora, com soldados à paisana, “pegos a laço”, que tinham ido ao Dutrinha para ver o jogo e não para trabalhar...

Mas quem teria coragem de desafiar a ordem do coronel do Exército Hélio de Jesus da Fonseca, presidente da então Federação Mato-grossense de Desportos, e não integrar o pelotão que estava sendo formado no estádio para dar segurança ao espetáculo?

Até porque, se não bastasse à ordem do oficial de alta patente, quem ia apitar o jogo era o sargento, também do Exército, Osmar Marques, que precisava mesmo de proteção naqueles tempos de muita pancadaria nos campos de futebol de Mato Grosso...

Jogo muito pegado, disputado com muita empolgação pelos dois times. Lá pelas tantas, o zagueiro Aderbal, do Comercial, deu uma entrada mais violenta em um jogador do Dom Bosco e o sargento-juiz não teve dúvidas: expulsou o indisciplinado de campo...

Aderbal não se conformou com a decisão do juiz, aproximou-se dele e deu um violento soco no nariz de Osmar Marques, provocando a fratura do nasal do árbitro e, consequentemente, abundante sangramento. Começou então uma pancadaria generalizada entre os jogadores e os reservas dos dois clubes.

A patrulha do Exército entrou em campo para proteger o árbitro e depois de muito custo conseguiu contornar a situação. Mas os defensores do Comercial queriam continuar o tumulto, criando uma confusão atrás da outra. Socos, chutes, empurrões, xingamentos, corriam por todos os lados dentro do campo...



sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Cancelada a confraternização da velha guarda do futebol cuiabano

A velha guarda fica de novo  sem a festa 
 Mais uma vez, a Confraternização dos Ex-Atletas, Dirigentes e Comunicadores do Futebol Cuiabano, tradicionalmente realizada há mais de uma década no dia 15 de novembro, vai passar de novo em branco este ano, a exemplo do que aconteceu em 2016. Motivo: o principal organizador da confraternização da velha guarda do futebol cuiabano, Totó de Arruda, ex-jogador e ex-presidente do Dom Bosco, teve que ser submetido às pressas a uma cirurgia cardíaca em São Paulo e vai ter que ficar em repouso durante três meses.

O local da confraternização já estava definido – seria de novo na Associação Atlética Banco do Brasil – o churrasqueiro contratado, os convites impressos para ser distribuídos. Mas aí Totó teve que fazer um risco cirúrgico para ser operado de uma hérnia inguinal e os exames revelaram que ele estava com três artérias praticamente entupidas e tinha que ser submetido urgentemente a uma cirurgia para desobstruí-las. O procedimento cirúrgico já foi feito com sucesso, ficando a remoção da hérnia inguinal para depois da sua completa recuperação.

A confraternização do futebol da velha guarda cuiabana vinha sendo realizada sucessivamente há mais de dez anos, até que em 2011, o então vice-governador Chico Daltro, empolgado com o sucesso da festa, decidiu que o governo estadual passaria a bancar o evento. E bancou mesmo, mas apenas durante dois anos, descaracterizando a festa do futebol, pois inclusive passou a homenagear, à custa do dinheiro público, pessoas que nada tinham a ver com os esportes mato-grossenses.

   

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Ameaçado por se recusar a participar de congá, Ruiter acabou como herói...

Ilustração do Google
-- Você vai cortar a nossa corrente, Ruiter! E se a gente não ganhar, vamos jogar a torcida contra você. Vamos, sim!...

Essa ameaça passou a ser feita pelos jogadores mixtenses, quando ficaram sabendo que Ruiter não iria participar de um “trabalho de descarrego” lá pelas bandas da Salgadeira, recorrendo à ajuda de forças do além para garantir um resultado positivo dentro do campo naquele final de semana.

O jogo era contra o Operário Várzea-grandense pelo Campeonato Estadual de 1971 e apesar de o Mixto contar com um time poderoso, integrado por craques do nível técnico de Ruiter, Wilson, Arnô, Valtinho, Rômulo, Remo, Darci Piquira, Felinto e Felizardo (recentemente falecido), o treinador Roberto França  não queria correr riscos de sofrer uma derrota.

Para França, que estava se aventurando na carreira de treinador de futebol, depois de uma rápida passagem pelo Palmeirinhas, a vitória sobre o Operário seria muito significativa. Por isso, ele não vacilou em levar a rapaziada para um trabalho especial de macumbaria. 

Lito, que jogou muitos anos no Mixto, lembra que nos velhos tempos do futebol da fase amadorista e mesmo com o advento do profissionalismo, havia uma verdadeira guerra entre pais-de-santo dos terreiros e tendas que se espalhavam por Cuiabá e Várzea Grande, principalmente nas noites de sextas-feiras, quando espíritos, inclusive das trevas, baixavam nos centros de macumba para atender pedidos dos congueiros para interferirem em resultados nos jogos de futebol.

Dom Bosco, Mixto, Palmeirinhas, Operário, União, de Rondonópolis, disputavam, muita
s vezes a peso de ouro, os serviços dos principais macumbeiros da região, conforme registros de domínio público. Dependendo dos exus e outras divindades que baixavam nos centros de umbanda, os clubes tinham que investir pesado em cachaças e charutos de alta qualidade para atender as exigências das divindades...

O Operário, por exemplo, gastava muito dinheiro com as sucessivas vindas a Cuiabá do pai-de-santo Carrapato para realizar “trabalhos” em favor do tricolor. O eterno dirigente operariano Rubens dos Santos não economizava dinheiro para trazer Carrapato de Corumbá para "proteger" seu clube nos jogos mais importantes.

Com o passar dos anos, essa tradição de clubes de futebol de todos os níveis recorrerem aos terreiros para pedir ajuda de espíritos para conseguirem resultados positivos foi desaparecendo. Contribuiu para isso a crise econômica que chegou também em cheio aos terreiros de macumba, conforme se pode constatar nos “despachos” que ainda são feitos nas noites de sextas-feiras em algumas encruzilhadas da periferia da Grande Cuiabá...

Segundo alguns jogadores do Mixto que participaram do “despacho” nas imediações da famosa Salgadeira, realizado numa sexta-feira à noite, muitos deles tiveram sérios problemas estomacais depois do “trabalho” e andaram perto de nem poder entrar em campo no grande clássico...

O esperado clássico foi disputado no Dutrinha, como sempre, lotado. O Mixto ganhou o jogo pela contagem mínima, gol de Ruiter, que de ameaçado e até xingado pelos companheiros por se negar a participar do “descarrego”, virou o grande herói do triunfo alvinegro...