Nos velhos tempos do futebol
de Mato Grosso, na fase do amadorismo e até mesmo no profissionalismo,
introduzido no estado indiviso em 1967, não existia essa moleza da Federação
Mato-grossense de Desportos e depois de Futebol, mandar para os estádios onde
vão ser realizados jogos, um monte de bolas, como acontece hoje, para
felicidade de gandulas que não precisam mais estar correndo o tempo todo durante
os 90 minutos, dentro dos alambrados, para substituir as que saem de campo.
Não tinha colher de chá com
a federação: clube que não levasse sua bola nos campos corria o risco de ser
multado e até perder os pontos da partida, se fosse jogo oficial. Antes de
começar o jogo, o juiz examinava as duas bolas para avaliar a que estava em melhor
condição para ser usada, enquanto a outra ficava na reserva para qualquer
eventualidade...
Essa exigência da FDF-FMF
provocou um caso muito engraçado no limiar da década de 1960: Palmeirinhas e
Mixto iam disputar jogo muito importante no domingo, no campo do Arsenal, pelo
Campeonato Amador. No sábado, o Palmeirinhas ficou sabendo que o adversário
tinha levado na sexta-feira à noite sua bola a um terreiro de macumba e o pai
de santo que tinha feito um “trabalho da pesada” para facilitar a sua vitória.
Antes do início do jogo, o
árbitro examinou as duas bolas e para desespero dos palmeirenses escolheu a do
Mixto. Superstição ou não, o Mixto virou o primeiro tempo vencendo pelo placar
de 3x0. No segundo tempo, o fanático torcedor palmeirense José Dias de Oliveira
passou a correr atrás da bola, onde quer ela saísse, para pegá-la. Depois de
muito tempo conseguiu pegar a bola e a estraçalhou a canivetadas. O restante do
jogo foi disputado com a bola do Palmeirinhas, mas não adiantou nada: o Mixto
ganhou de goleada...
Em 1980, o Humaitá, de
Cáceres, não andava bem das pernas financeiramente. Sem dinheiro para comprar
bolas novas em todos os jogos, o time cacerense pegava as bolas que usava nos
treinamentos durante a semana, dava uma arrumada caprichada nelas, incluindo
uma pintura e as levava para os estádios onde ia jogar,como se fossem novinhas
em folha...
Nesse trabalho de
recuperação das bolas para enganar juízes e a federação, o clube contava com a
colaboração do atacante Capeta, que estudou muitos a nos no Colégio Salesiano
São Gonçalo na década de 1970 e aprendeu em uma das muitas oficinas mantidas pela
escola, a confeccionar bolas de futebol, que eram usadas pelos padres que
atuavam nas missões salesianas no Parque Indígena do Xingu em Mato Grosso para
catequizar índios...