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domingo, 25 de agosto de 2019

Humaitá reformava e repintava bolas usadas para enganar a FMF e adversários...


Nos velhos tempos do futebol de Mato Grosso, na fase do amadorismo e até mesmo no profissionalismo, introduzido no estado indiviso em 1967, não existia essa moleza da Federação Mato-grossense de Desportos e depois de Futebol, mandar para os estádios onde vão ser realizados jogos, um monte de bolas, como acontece hoje, para felicidade de gandulas que não precisam mais estar correndo o tempo todo durante os 90 minutos, dentro dos alambrados, para substituir as que saem de campo.

Não tinha colher de chá com a federação: clube que não levasse sua bola nos campos corria o risco de ser multado e até perder os pontos da partida, se fosse jogo oficial. Antes de começar o jogo, o juiz examinava as duas bolas para avaliar a que estava em melhor condição para ser usada, enquanto a outra ficava na reserva para qualquer eventualidade...

Essa exigência da FDF-FMF provocou um caso muito engraçado no limiar da década de 1960: Palmeirinhas e Mixto iam disputar jogo muito importante no domingo, no campo do Arsenal, pelo Campeonato Amador. No sábado, o Palmeirinhas ficou sabendo que o adversário tinha levado na sexta-feira à noite sua bola a um terreiro de macumba e o pai de santo que tinha feito um “trabalho da pesada” para facilitar a sua vitória.

Antes do início do jogo, o árbitro examinou as duas bolas e para desespero dos palmeirenses escolheu a do Mixto. Superstição ou não, o Mixto virou o primeiro tempo vencendo pelo placar de 3x0. No segundo tempo, o fanático torcedor palmeirense José Dias de Oliveira passou a correr atrás da bola, onde quer ela saísse, para pegá-la. Depois de muito tempo conseguiu pegar a bola e a estraçalhou a canivetadas. O restante do jogo foi disputado com a bola do Palmeirinhas, mas não adiantou nada: o Mixto ganhou de goleada...

Em 1980, o Humaitá, de Cáceres, não andava bem das pernas financeiramente. Sem dinheiro para comprar bolas novas em todos os jogos, o time cacerense pegava as bolas que usava nos treinamentos durante a semana, dava uma arrumada caprichada nelas, incluindo uma pintura e as levava para os estádios onde ia jogar,como se fossem novinhas em folha...

Nesse trabalho de recuperação das bolas para enganar juízes e a federação, o clube contava com a colaboração do atacante Capeta, que estudou muitos a nos no Colégio Salesiano São Gonçalo na década de 1970 e aprendeu em uma das muitas oficinas mantidas pela escola, a confeccionar bolas de futebol, que eram usadas pelos padres que atuavam nas missões salesianas no Parque Indígena do Xingu em Mato Grosso para catequizar índios...            

domingo, 18 de agosto de 2019

Briga fora de campo entre árbitro e torcedor do Sorriso passou para a história do futebol de MT

Passou para o folclore do futebol de Mato Grosso e da sua própria história, uma violenta briga na antiga estação rodoviária de Sorriso entre o árbitro Mário Martins Rodrigues, que era mais conhecido como Xuxa, e um torcedor do Sorriso Esporte Clube, um poderoso empresário do município e cujo nome não vem ao caso.

Martins Rodrigues não se recorda do ano da histórica briga, mas crê, com base na idade de sua primeira filha, que foi em entre 1995 e 1998, três anos depois da fundação do SEC, que, aliás, não naquela época não teve uma vida muita longa no futebol profissional de Mato Grosso, apesar de ter sido campeão estadual em 1992 e 1993. Decorridas mais de três décadas, até hoje a pancadaria entre os dois é lembrada pelos torcedores da velha guarda.

No dia histórico, o Sorriso recebeu no Estádio Egídio José Preima, o União, de Rondonópolis, pelo Campeonato Estadual da Federação Mato-grossense de Futebol. O jogo terminou empatado pela contagem mínima, sem nenhum problema para o árbitro Mário Martins Rodrigues e seus dois auxiliares, Luís Ribeiro e Elói Natalino.

Mas quando o pessoal da FMF estava se reunindo do lado de fora do estádio – os dois bandeirinhas, o financeiro José de Almeida, o delegado (representante da entidade) Armindo Curimbatá, além de Xuxa, claro – apareceu em um carrão da Chevrolet o torcedor que, sem nenhum motivo, começou a xingar e  a esculhambar o árbitro.

Surpreendido, Mário Martins revidou as ofensas. Sem papas na língua, Martins Rodrigues, que naquele tempo não era ainda evangélico, ofendeu inclusive a moral e a honra do grandalhão torcedor que estava à sua frente. Até porque  Xuxa não era de levar desaforo para casa, mesmo em circunstâncias adversas, como naquela ocasião. Com ele, não tinha aquela história de que “em terra alheia, touro berra como vaca...”

A troca de ofensas entre os dois não teve maiores consequências e o grupo da FMF foi para a estação rodoviária para pegar o ônibus a fim de retornar a Cuiabá. Para comprar a passagem, o viajante tinha que passar por um pequeno e estreito corredor para chegar aos guichês. Quando o juiz chegou ao final do corredor, quem estava à frente de Xuxa? Simplesmente, o grandalhão torcedor sorrisense.

Com um enorme facão numa das mãos, o torcedor gritou: “Agora, Xuxa, você vai repetir tudo o que me disse lá na porta do estádio!...”
Sem alternativa para se defender naquela difícil situação, Xuxa partiu para o ataque, tentando tomar o facão do torcedor do Sorriso. Trocando socos e pontapés, saíram daquela área e rolaram pelo chão da rodoviária.

Mesmo tendo levado nas costas dois golpes com a lâmina do facão e cujas marcas são visíveis até hoje, Xuxa pegou um mocho e desferiu algumas pancadas na cabeça do adversário e a muito custo conseguiu subjugá-lo. Durante a longa e violenta briga entre os dois, seus companheiros de FMF deram no pé rapidinho, deixando Xuxa sozinho...

A velha estação rodoviária da cidade – a atual foi inaugurada em 1997– não tinha meio termo: ou era um lamaçal no tempo das chuvas, ou uma poeirenta área, por onde os ônibus que saíam e chegavam ao local, circulavam. Apenas uma pequena área dos guichês das empresas era cimentada. Como os dois passaram um tempão rolando sobre o cascalho cheio de poeira, quando a briga terminou, Xuxa e o torcedor pareciam mais dois mendigos...       
Completamente dominado no chão e sem a mínima chance de reverter a posição, o sorrisense desistiu de continuar brigando. Levantou-se, sacudiu a poeira e foi embora, deixando para trás as chaves do seu carrão, a carteira com documentos, um boné e o facão, que Xuxa colocou tudo na sua mochila e entregou na segunda-feira na FMF.

Dias depois, um dirigente do Sorriso esteve na entidade para pegar os objetos e devolver ao torcedor do seu clube. E pegou tudo, menos o facão, que Xuxa, que chegou a ser cotado para se tornar árbitro da Federação Internacional de Futebol Associado – Fifa em Mato Grosso, guardou como recordação do seus 17 anos como juiz de futebol – de 1988 a 2005 – e da maior briga de sua vida...      

Depois que abandonou o apito, Xuxa tornou-se evangélico e tem tentado entrar em contato com o torcedor de Sorriso para pedir-lhe desculpas e até mesmo perdão pela histórica briga. Mas nem com a intervenção de um jornalista de Cuiabá e de um radialista de Sorriso, Xuxa  conseguiu falar por telefone com o desafeto. Mas vai continuar tentando, pois como diz a sabedoria popular “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura...”                                  
   


sábado, 10 de agosto de 2019

Fuscão que Mosca recebeu como luvas foi confiscado pela Justiça para pagar dívida do Palmeirinhas

Jogador mais caro do futebol de Mato Grosso na época, Mosca decidiu aceitar uma irrecusável proposta do presidente do Palmeirinhas, o argentino Juan Rolon, para disputar o Campeonato Mato-grossense de Futebol de 1984 pelo alviverde do Porto. A notícia da decisão de Mosca foi recebida com euforia pelos palmeirenses e muita preocupação por torcedores de outros clubes, pois ele não era apenas o jogador mais valorizado de Mato Grosso, mas também uma das principais “estrelas” do futebol mato-grossense.

Definidos os detalhes da transferência, à última hora surgiu um problema: o Palmeiras não tinha dinheiro para pagar as luvas exigidas por Mosca para assinar contrato. Mas, esperto – na realidade, muito mais enrolado..., – Juan Rolon encontrou rapidinho uma saída para a questão: o Palmeiras daria a Mosca um fuscão, já bem usado, mas funcionando perfeitamente, como as luvas acertadas...

No dia de pegar o carro, que estava no nome do eterno presidente do Palmeirinhas, Délio de Oliveira, recentemente falecido, assim como também Juan Rolon, Mosca, que residia nas imediações do Big Lar, em Várzea Grande, convidou o massagista e amigo Geraldo Malaquias, do Clube Esportivo Operário Várzea-grandense, e que morava na “república” tricolor, na Avenida Couto Magalhães, para ir com ele.

O carro estava em uma oficina mecânica lá pelas bandas do Centro Político Administrativo. Mas antes tiveram que passar pela Assembleia Legislativa, na pracinha do Centro Geodésico da América do Sul, e onde Délio de Oliveira trabalhava, para pegar as chaves do sonhado fuscão de Mosca...

Tudo corria às mil maravilhas. Os dois pegaram o carro e se mandaram de volta para Várzea Grande. Mas quando a dupla estacionou o fuscão defronte a residência do jogador uma surpresa desagradável: assim que Mosca pôs os pés no chão, um oficial de Justiça apresentou-lhe um mandado de busca e apreensão e levou o fuscão embora para ser leiloado para pagar uma velha e bem alta dívida do Palmeirinhas...

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

TJD da FMF reconhece falha, reabre sessão e condena a penas rigorosas clubes que já havia absolvido...


Auditório da Federação Mato-grossense de Futebol lotado na noite de 6/3/2018 para mais uma sessão do Tribunal de Justiça Desportiva da entidade. O motivo de tanta gente – diretores de clubes, jogadores, jornalistas, radialistas,  advogados, torcedores, curiosos...  – nas dependências da FMF: o julgamento de vários processos, especialmente de três envolvendo Dom Bosco, Sociedade Ação Futebol e Poconé, denunciados ao órgão disciplinar por terem escalado atletas no Campeonato Estadual da 1ª Divisão e cujos nomes não haviam sido publicados no Boletim Informativo Diário (BID) da Confederação Brasileira de Futebol.

Era plenamente justificado o interesse da numerosa plateia da plateia presente à sessão do TJD, já que dependendo dos resultados dos julgamentos, o Campeonato Estadual sofreria profunda alteração, pois o Dom Bosco perderia 16 pontos, o  Ação 12 e o Poconé, 30. Quer dizer: nem um deles teria condições de recuperar os pontos perdidos e seriam rebaixados irremediavelmente para a 2ª Divisão.

O primeiro processo da pauta de julgamentos da noite histórica para o futebol mato-grossense foi o que envolvia o Dom Bosco e cujo resultado poderia servir de fundamento para a decisão dos juízes do TJD nos outros dois da noite. O advogado do Dom Bosco, Geandre Bucair, fez uma defesa oral brilhante do clube, conseguindo a absolvição do azulão. Como se tratava de processos emblemáticos, consequentemente Ação e Poconé também foram absolvidos.

A vitória dos três clubes no TJD foi comemorada festivamente no próprio local do julgamento. Teve gente que até comemorou nas ruas a vitória do seu clube, tomando umas e outras, com a proclamação do resultado pelo órgão de justiça desportiva da FMF. Mas a alegria durou pouco...

Depois que todo mundo tinha ido embora, um dos auditores do TJD descobriu que havia ocorrido uma falha do órgão no julgamento do processo contra o Dom Bosco... a sessão foi reaberta e os três clubes foram condenados, sem direito à defesa, a perda dos pontos, conforme a denúncia que havia chegado ao órgão de justiça desportiva. Logo a notícia sobre a nova decisão vazou em um site e se espalhou rapidinho. E o sonho da vitória no “tapetão” virou pesadelo...

É evidente que Dom Bosco, Ação e Poconé recorreram contra a esdrúxula decisão do TJD. Diante da reação dos três clubes, o tribunal anunciou que convocaria uma sessão extraordinária do seu Pleno para julgar de novo os processos. Mas 2019 já avança celeremente para o fim e decorrido mais de um ano da decisão, que pelo ineditismo já passou também para o rico folclore do futebol mato-grossense, o TJD não reuniu o Pleno para dar a decisão final ao rumoroso processo...

Parece que esse “erro” do TJD é mais um caso do futebol mato-grossense que vai dar em nada. Mesmo com a perda dos pontos, o Dom Bosco, que seria rebaixado junto com o Ação e o Poconé para a 2ª Divisão, continua na divisão de honra do futebol estadual, enquanto os outros dois times desistiram de disputar o certame de 2019. E o Cuiabá e o Sinop já foram proclamados, campeão e vice, respectivamente, da temporada passada, faz muito tempo...