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sábado, 27 de abril de 2019

Avião que levou delegação do Mixto estava com sono e teve que dormir em Porto Velho...


Em 1964, o Mixto foi realizar uma série de 4 amistosos em Porto Velho, capital de Rondônia, que ainda era o território federal do Guaporé, e transformado em estado em dezembro de 1981, com o nome atual. Foram 4 jogos em uma semana. A viagem de ida foi feita num velho e lento DC-3 da Viação Aérea São Paulo – Vasp, já extinta, mas que era a “bam-bam” da época no mercado aéreo.

A míni-excursão foi um sucesso do ponto de vista técnico, com o Mixto vencendo os 4 jogos: goleou o Moto Clube, na estreia por 7x1, em seguida derrotou o Flamengo pela contagem mínima, aplicou uma goleada por 5x2 no Ferroviário e encerrou a campanha o superando Ipiranga, campeão de Porto Velho, pelo placar de 2x0.

Encerrado o último jogo, um grupo de dirigentes dos quatro clubes derrotados pelo alvinegro, procurou a chefia da delegação do Mixto para propor a realização de um novo amistoso do clube cuiabano contra uma seleção formada pelos 4 times. Os portovelhenses ofereciam uma quota financeira 4 vezes maior do que a que o Mixto tinha recebido, mas o chefe da delegação, Ranulpho Paes de Barros, fez de conta que não tinha ouvido a proposta...

Apesar de 90% da numerosa delegação mixtense nunca ter pisado em um avião, a viagem transcorreu sem problemas. Antes da decolagem da aeronave, alguns jogadores não conseguiam dissimular o nervosismo, mas aos poucos foram se descontraindo e se acostumando com o que consideravam uma aventura, até porque não tinham mesmo outras opções no ar...

Para facilitar a vida dos mato-grossenses, o adversário do Mixto arrumou um hotel que ficava nas imediações do aeroporto para alojar a delegação alvinegra. Enquanto o pessoal se movimentava, ocupando as acomodações reservadas ao alvinegro, alguém da delegação mixtense perguntou se era mesmo naquele hotel que iam ficar...

Aí o ponteiro direito Catarino, irmão do já falecido professor de Educação Física Natanael Henrique de Moraes, o Nato, que se tornou uma figura muito popular em Mato Grosso, pela sua dedicação ao esporte, caiu na besteira de perguntar, inocentemente, se o avião que havia conduzido a delegação mixtense também ia pernoitar em Porto Velho...

Deu azar. No grupinho a quem Catarino, um jogador muito sério, fez a pergunta, estava o super gago e gozador Pelezinho, que não tem nada a ver com o Pelezinho, que anos mais tarde fez muito sucesso no futebol mato-grossense e morreu em um acidente de carro em Cuiabá, quando defendia o Internacional, de Porto Alegre, não perdeu deixa e lascou: “O aaaviiiiãoãoão esesestátátátá comcomcom muuuuiiiitototo sooooononononono e vaivaivai dordordormirmirmirmir aaaaquiquiquiqui tamtamtamtambémbémbém...”

Foram só gargalhadas. Que se prolongaram durante toda a míniexcursão do Mixto para desespero do sério Catarino. Por qualquer coisinha que acontecia, sempre havia alguém para lembrar a gozação de Pelezinho em cima do sisudo Catarino, que não via a hora da delegação mixtense retornar a Cuiabá para os jogadores esquecerem do folclórico episódio do avião sonolento...                                   

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Rubens dos Santos exigiu que Upa Neguinho escrevesse uma longa frase 100 vezes para aprender a cruzar bolas para a área...


Velocista por natureza – quando serviu o Exército em Cuiabá, participou de muitas competições oficiais, correndo os 100 metros rasos, 200 metros e revezamento 4x100 – o ponteiro esquerdo Odenir, que depois virou o Upa Neguinho, chegou ao Clube Esportivo Operário Várzea-grandense com um grave defeito que incomodava o eterno e lendário dirigente tricolor Rubens dos Santos: ele não sabia cruzar a bola para a área.

Uma tarde, ao final de um coletivo no campo do bairro Ipase, onde fica hoje o estádio de beisebol da Associação Cultural Nipo-Brasileira de Cuiabá e Várzea Grande, Rubens dos Santos chamou Upa Neguinho para uma conversa em particular.  Upa Neguinho pensou que era mais uma multa que o clube ia lhe aplicar, porque com Rubens dos Santos não tinha arrego: por qualquer coisinha os jogadores eram multados para reduzir a folha de pagamentos...

Sem delongas, Rubens dos Santos ditou uma frase que Upa Neguinho teria que escrever 100 vezes em um caderno para ser apresentado depois ao presidente tricolor, que na realidade era quem dava a palavra final sobre a escalação do time: “Devo ir à linha de fundo, levantar a cabeça e cruzar a bola para trás...” A ordem não especificava se o cruzamento da bola seria rasteiro ou na base do “chuveirinho”...

Antes do coletivo começar, Upa Neguinho pediu para o meia armador Joel Diamantino “caprichar” nos lançamentos de bola para a ponta esquerda do time titular para ele fazer os cruzamentos para trás, como Rubens dos Santos queria. Joel Diamantino cumpriu a sua palavra e lançou muitas bolas para Upa Neguinho durante todo o coletivo, comandado por Batista Jaudy...

Encerrado o treino, Rubens dos Santos foi conversar com Upa Neguinho. “Você já terminou de escrever cem vezes a frase como eu lhe mandei?” – perguntou o presidente operariano.

– Na verdade, seu Rubens, ao invés de escrever a frase no caderno, eu estou cumprindo sua ordem na prática. Hoje mesmo, antes de o treino começar eu fiz no mínimo uns trinta lançamentos para a área, correndo até a linha de fundo e cruzando a bola para trás. Se o senhor duvida da minha palavra, pode perguntar para o Joel Diamantino...  justificou o jogador.    

Pura cascata. Na verdade, além dos cruzamentos que executou durante o coletivo, Upa Neguinho só fez uns quatro ou cinco lançamentos para a área, como Rubens dos Santos exigia. E como o presidente do CEOV nunca mais tocou no assunto, Upa Neguinho jamais escreveu uma palavra da frase ditada pelo dirigente operariano... 
    
                

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Faz 40 anos que um tumultuado “Clássico dos milhões” acabou na Polícia...


Neste 2019 faz 40 anos que Clube Esportivo Operário Várzea-grandense e Mixto disputaram mais um “Clássico dos milhões” e que passou para a história do futebol de Mato Grosso. Era um jogo normal do Campeonato Estadual de 1979, mas que por causa da rivalidade que sempre existiu entre os dois velhos adversários, foi transformado numa verdadeira guerra, como se fosse uma decisão de título. Como sempre, com a participação de suas fanáticas torcidas...

Para apitar o jogo, a FMF escalou o árbitro Armando Camarinha, que depois de se revelar no futebol paraense veio para Mato Grosso em 1977, trazido pelas mãos do juiz Orlando Antunes de Oliveira. Camarinha atuou em Mato Grosso durante 15 anos e depois dessa longa experiência bateu asas e foi mostrar sua categoria como árbitro de futebol em grandes centros do país, apitando jogos de campeonatos estaduais e do Campeonato Brasileiro pelo País afora.

Apesar da rivalidade, o “Clássico dos milhões” transcorria normalmente com o Operário ganhando por 1x0, até que Ruiter, uma das estrelas do tricolor várzea-grandense, resolveu tumultuar a partida. Mas se deu mal, porque Armando Camarinha, que não tinha medo de cara feia e muito menos ligava para a fama de quem entrava em campo para jogar futebol, não vacilou e mandou o ídolo operariano para os chuveiros.

Era o que Ruiter queria para fazer o circo pegar fogo. Conversa vai, conversa vem, muito bate boca, empurrões de parte a parte. Percebendo que a situação poderia se complicar mais ainda, Upa Neguinho, de forma muito educada, pegou Ruiter pelo braço e pediu para ele sair de campo. Afinal, o Operário estava ganhando o jogo e poderia manter o resultado, conquistando uma importante vitória.

Ruiter ouviu as ponderações de Upa Neguinho e ia saindo do campo, como era tradição, com o Verdão lotado. Mas por causa de sua calvície precoce, Ruiter não gostava de ser chamado de “velho”. O lateral direito do Mixto, Luiz Carlos Beleza, sabia disso e não perdeu a oportunidade para provocar Ruiter, gritando para todo mundo ouvir: “Sai logo, velho, deixa a gente jogar...!”

Pra que, xômano, o bicho pegou pra valer! Ruiter partiu furiosamente para cima de Beleza. Bem perto de Ruiter e Beleza, Upa Neguinho tentou acalmar os ânimos, ficando no meio dos dois. De costas para Beleza, o ponteiro esquerdo operariano não viu quando o mixtense desferiu um violento soco em Ruiter, que se abaixou, e Upa Neguinho recebeu em cheio o murro no olho direito.

Upa Neguinho colocou uma das mãos sobre o olho direito e quando a tirou, percebeu que não estava enxergando nada. Furioso, Upa Neguinho correu atrás de Beleza e deu-lhe um potente soco no rosto. Com a pancada, o zagueiro do Mixto desabou e ficou estendido no gramado, completamente inerte. Upa Neguinho pensou que o tinha matado, mas Beleza estava apenas desmaiado...

Aí começou uma briga com a participação de quase todos os jogadores, com o tumulto provocado inicialmente por Upa Neguinho, Beleza e Ruiter virando caso de Polícia, e que para variar, deu em nada. Com o passar do tempo, a briga envolvendo Upa Neguinho, Luiz Carlos Beleza e Ruiter foi esquecida e ninguém teve qualquer problema com a Justiça. Resultado da confusão daquele  clássico: além de Ruiter, Upa Neguinho também foi expulso de campo e ainda multado em 30% do seu salário...

Lembra Upa Neguinho, que passado quatro décadas, se fosse feita uma reprise daquele jogo, ao invés da denominação antiga, a partida poderia vir a ser o “Clássico dos finados”, com as mortes de Geraldo Malaquias, Rômulo, Bife, Felizardo, Pelezinho e Justino. O juiz do clássico, Armando Camarinha, também já subiu para o andar superior...
        



segunda-feira, 1 de abril de 2019

Rolon enrolou muita gente com a história dos reforços do Atlético para o Palmeirinhas...

Quando foi presidente do Palmeirinhas, do Porto, em 1984, o argentino Juan Rolon, deixou a fiel torcida alviverde ouriçada: divulgou na imprensa de Cuiabá com grande estardalhaço que seu clube havia contratado quatro reforços de alto nível, junto ao Atlético, para disputar o Campeonato Mato-grossense de Futebol daquele ano. Para aguçar ainda mais a curiosidade dos torcedores e da crônica esportiva, Rolon não revelou o nome completo do Atlético de onde vinham os novos jogadores: se do Atlético Mineiro, do Atlético Paranaense ou do Atlético Goianense...

O primeiro jogador a se apresentar ao novo clube foi Beirinha, que chegou ao Dutrinha, onde o Palmeirinhas realizava um treino, carregando uma surrada mala daquelas antigas de papelão, geralmente usada por mascates turcos para vender suas bugigangas pelo interior do Brasil. “Ih!... Isso aí não deve jogar bola, porra nenhuma!...” – comentaram entre si dois jovens jogadores palmeirenses que estavam no Dutrinha morrendo de curiosidade para conhecer os novos companheiros.

Depois de Beirinha, apresentaram-se ao novo clube Inhola, Boaventura e Elcides. Do quarteto aguardado com grande expectativa pelos torcedores e a crônica esportiva, apenas Boaventura mostrou que era mesmo bom de bola. Tanto é que depois de passar pelo Palmeirinhas, ele fez sucesso entre outros clubes mato-grossenses. Quanto aos outros três, não passavam de pernas de paus travestidos de jogadores de futebol.

Com o passar dos dias e a convivência com os novos companheiros, os jogadores do Palmeirinhas conseguiram desvendar o mistério da origem dos quatro reforços: eles vieram mesmo do Atlético... mas de Diamantino (208 km de Cuiabá, em linha reta, no Médio Norte) um time amador sem qualquer expressão do futebol mato-grossense. No futebol profissional, a cidade só teve uma equipe, o Esporte Clube Diamantino, que chegou a disputar o Campeonato Mato-grossense de 1999, sob o comando técnico de Mosca...

Desvendaram também os palmeirenses como Rolon “descobriu” Beirinha, Boaventura, Inhola e Elcides para o futebol: ele era garimpeiro de diamante em Diamantino e tentou transformar os boleiros amadores em craques de futebol para “faturar” uma graninha por fora de sua atividade no ramo da mineração. O Palmeirinhas, no entanto, desistiu de burilar os “diamantes” que Rolon havia descoberto em Diamantino, porque seria tempo perdido...