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Wilson Eraldo da Silva |
Nos seis anos em que
trabalhou como juiz da Federação Mato-grossense de Futebol -- de 1987 a 1992 –
e ainda hoje mexendo com arbitragem na Secretaria de Estado de Esportes e Lazer
(Sedel) dos Jogos Estudantis de Mato Grosso, Wilson Eraldo da Silva tem muitas
histórias para contar. Principalmente do período de militância na FMF, com seguidas
andanças pelo interior. Eram tempos difíceis, mas muito divertidos também...
Lembra Wilson Eraldo que o
pessoal que era escalado pela FMF para trabalhar em jogos aos domingos em Juara
– 709 km de Cuiabá – o juiz, os dois bandeirinhas, chamados hoje de
assistentes, o delegado (representante) da entidade e o financeiro saía na
sexta-feira, porque se o ônibus de linha quebrasse, a equipe corria o risco de
ter que esperar o do dia seguinte para completar o percurso. Com as condições
precárias das estradas de chão, as viagens para aquela região do Médio Norte eram
verdadeiras aventuras...
Como aconteceu uma vez uma
vez com o Dom Bosco, que saiu de Cuiabá no sábado pela manhã para jogar em
Juara no dia seguinte, com arbitragem de Wilson Eraldo. O sol já ia alto no
domingo e nada do azulão dar as caras na cidade. A diretoria do time da casa já
estava preocupada, quando apareceu um viajante com um recado para os juarenses:
a delegação dombosquina estava na beira da rodovia dava acesso a Juara
esperando socorro para terminar de chegar.
O socorro que o Dom Bosco
precisava: cinco pneus em boas condições de tráfego, porque os cinco já
substituídos durante a viagem não tinham a mínima condição de continuar rodando. Arrumaram um
caminhão de serraria para carregar toras de árvores e despacharam para socorrer
o azulão...
Terminada a troca, lá se
foram os jogadores em meio aos cinco pneus para Juara, pois o pequeno bagageiro
do ônibus já estava lotado com o material esportivo do clube e a malas e mochilas
da delegação.
Nesse dia, os dombosquinos
tiveram que correr 90 minutos com fome, porque o jogo tinha que começar mais
cedo e seria uma temeridade a moçada almoçar, fora do horário normal, e logo
depois o time entrar em campo para jogar bola...
Desse histórico jogo do Dom
Bosco, Wilson Eraldo lembra que o azulão venceu por 3x0, na maior moleza. E a
turma do clube dombosquino saiu de campo feliz da vida, não apenas com o
resultado favorável, mas também porque a moçada não ia ter problema para retornar
a Cuiabá, pois um diretor alviceleste havia conseguido com o presidente da FMF,
o falecido Carlos Orione, antes da viagem, um empréstimo pessoal de R$
700,00, que garantiu o jantar antes da volta e o tanque cheio do velho
ônibus...
Em outro jogo que foi apitar
em Juara, antes do jantar no próprio hotel onde o trio de arbitragem estava hospedados,
Wilson Eraldo pediu que os seus dois auxiliares – Elói Natalino do Nascimento e
Miguel Arruda, este já falecido – se comportassem com a máxima discrição
possível, para não serem reconhecidos. O anonimato era uma questão de prudência
para segurança deles – justificou o árbitro.
Mas na hora que foi temperar
sua salada, Wilson Eraldo notou que os saleiros da mesa estavam entupidos, por
causa da umidade. Ele se serviu e não perdeu a oportunidade para, com a
cumplicidade de Elói Natalino, sacanear Miguel Arruda: afrouxou a tampa do
saleiro e ficou só observando o que ia acontecer. Quando Miguel colocou a
salada no prato e virou o recipiente com o tempero, encheu o prato de sal.
Wilson e Natalino caíram na risada...
Miguel foi trocar de prato,
claro, e Wilson Eraldo advertiu-o: “O restaurante vai te cobrar duas
refeições...”
Depois de jantar, Miguel foi
palitar os dentes e novamente acabou sendo vítima de peraltice da dupla. Ao virar o
vidrinho de cabeça para baixo, foi aquele esparramo de palitinhos sobre a mesa,
pois a tampa do recipiente também havia sido afrouxada. E aí não tiveram como
esconder mais quem eram eles, pois muita gente que estava jantando nas
imediações dos três percebeu a mancada e começou a dar gargalhadas...
Considerado um árbitro
“durão”, Wilson Eraldo afirma que tem boas recordações dos tempos que apitava e
trabalhava como assistente no interior, pois sempre foi tratado com respeito e
consideração pelos clubes. Em Juara, por exemplo, os dirigentes do União Esporte
Clube Juara sempre providenciavam condução para levar o pessoal da FMF para o
estádio que se chamava Zé Paraná, em homenagem a José Pedro Dias, fundador da
cidade e colonizador do município.
Mas quando isso não
acontecia, o pessoal da FMF ia e voltava a pé para o estádio, cobrindo uma
distância de cerca de quatro quilômetros nos dois trajetos. Wilson Eraldo explica
porque a turma preferia a caminhada: se uma passagem de ônibus de Cuiabá a
Juara custava R$ 100,00, os taxistas cobravam R$ 80,00 para fazer o trajeto
hotel-estádio e vice-versa...
No decorrer de sua carreira
como juiz de futebol, Wilson Eraldo testemunhou muitas cenas hilariantes que
passaram para a história do futebol mato-grossense. Como uma que aconteceu no
Verdão em um clássico entre Mixto e Operário, pelo Campeonato Mato-grossense,
na década de 1980.
O jogo transcorria
normalmente, quando aos 40 minutos do 1º tempo, o zagueiro mixtense Miro deu um
“carrinho” por trás em um atacante do tricolor várzea-grandense. Lance digno de
expulsão. O juiz Gílson Rodrigues marcou a falta e meteu a mão no bolso para
puxar o cartão vermelho, mas não achou nada. Chamou, então, o arbitro reserva, cujo
nome ele não se lembra, que não estava também com os cartões amarelo e
vermelho. Gilson recorreu então aos dois auxiliares José Roberto (Cipó) Feitosa
Soares e Salim Gonçalves, que tinham esquecido em casa seus cartões...
Só lhe restou uma saída:
interromper o jogo, que terminou empatado por 0x0, e correr até o vestiário dos
árbitros para pegar o cartão para punir Miro. Mas demorou tanto para achar os
cartões que deveriam estar no seu bolso e também e nos dos seus três
auxiliares, que Gílson Rodrigues, meio sem graça, mostrou apenas cartão amarelo
para Miro...
Outra hilária história que
Wilson Eraldo testemunhou: a delegação de juízes de futebol da Sedel chegou a
Alta Floresta, no norte do Estado, para apitar a modalidade dos Jogos
Estudantis de Mato Grosso. Uma viagem cansativa de mais de 800 quilômetros pela
BR-163 e pela MT-419, bem esburacadas nos velhos tempos...
Logo na chegada da delegação ao local onde o pessoal ia
ficar alojado havia um recado da FMF – naqueles velhos tempos não existia ainda
celular – na portaria do hotel: o juiz
Mário Martins Rodrigues, o Xuxa, devia pegar o primeiro ônibus e voltar para
Cuiabá, pois havia sido escalado pela CBF para atuar como assistente no final
de semana no Maracanã, no Rio de Janeiro, no jogo entre Botafogo e São Paulo
pelo Campeonato Brasileiro da Série A. O juiz foi Antonio Pereira da Silva, de
Goiás, e o São Paulo ganhou o jogo por 3x1.
Claro que Xuxa chiou. Mas
seu companheiro de profissão, Ewller dos Reis Brás, o Pirata, um gozador de
marca maior, deu-lhe a maior “força”: “O máximo que pode acontecer, Xuxa, é seu
avião cair no pantanal de Mato Grosso ou de Mato Grosso do Sul e você acabar
sendo comido por jacarés ou por uma onça pintada...” Pirata já subiu para o andar superior faz muito
tempo... – lamentam seus amigos.