Pesquisar este blog

sábado, 27 de outubro de 2018

Uma provocação fez surgir o Luverdense, um papa-títulos do futebol mato-grossense

 Agrishow Cerrado de 2003 em Rondonópolis: empresários e fazendeiros traçavam um caprichado churrasco no estande do Grupo Girassol, a convite do seu dono, Gilberto Goellner. Entre os participantes da roda e que nunca fazia uma desfeita ao anfitrião – o grande evento anual do campo em Rondonópolis foi de 2002 a 2006 – o prefeito e empresário de Lucas do Rio Verde, Otaviano Pivetta, e seus dois amigos e produtores rurais no município: Helmute Lawisch e Egídio Vuaden.

Conversa vai, conversa vem, lá pelas tantas, quando alguém fez uma comparação sobre os dois importantes municípios, um empresário rural de Rondonópolis – Pivetta acha que foi Roberto Poleto e não Blairo Maggi, como se comenta até hoje – fez uma observação que não agradou os luverdenses: “Lá em Lucas do Rio Verde não tem nem time de futebol!...”

Pivetta entendeu a brincadeira como uma provocação. E foi curto e grosso: “Aproveitem que acabou!...” – deixando claro que o União, tradicional clube de Rondonópolis, passaria a ter mais um duro adversário pela frente no futebol de Mato  Grosso...”

A decisão de se fundar um clube de futebol profissional em Lucas do Rio Verde foi tomada na viagem de volta. E coube a Helmute Lawisch, por indicação de Pivetta, saem direito à recusa, levar o projeto adiante. Helmute convocou uma reunião com o empresariado do município e com os principais produtores rurais para explicar que Lucas do Rio Verde precisava levar seu nome além das divisas do Estado e o futebol era o caminho mais curto para se alcançar esse objetivo.

Com o nome de Luverdense Esporte Clube, a agremiação foi fundada no dia 24 de janeiro de 2004. Com o dinheiro que jorrava da classe empresarial e da soja, do milho (duas safras) e do algodão, o Luverdense montou um time poderoso e já em 2004 ganhou a Copa Governador de Mato Grosso, repetindo a façanha em 2007 e 2011.

Percebendo que o Luverdense não estava para brincadeira, o presidente da Federação Mato-grossense de Futebol, Carlos Orione, foi a Lucas do Rio Verde, almoçou com Pivetta e Lawisch e decidiu que o clube já disputaria em 2004 o Campeonato  Mato-grossense de Futebol da 1ª Divisão.

Mas para disputar o certame estadual, o estádio municipal de Lucas do Rio Verde, que era simplesmente um campo de futebol, precisava de alguma infra-estrutura. Pivetta fez a sua parte: investiu cerca de R$ 250 mil de recursos do município, transformando completamente o hoje Estádio Passo das Emas, cuja capacidade de público foi elevada para 10 mil pessoas.

Por exigência da Confederação Brasileira de Futebol, o Passo das Emas passou outras reformas em 2017, quando o Luverdense disputou pela primeira vez a Série B do Campeonato Brasileiro, repetindo o feito em 2018, mas caindo para a Série C. Com a ampliação, o estádio municipal aumentou sua capacidade de público para 19 mil espectadores.

Nessa curta existência, o Luverdense ostenta um tri-campeonato da Copa Mato Grosso (2004, 2007 e 2011), um tri estadual (2009, 2012 e 2016), foi campeão invicto da Copa Verde (2017). Foi também campeão da Copa Pantanal, em 2011, torneio que contou com a participação do Cuiabá, Internacional-RS e Cruzeiro-MG.

Eleito o primeiro presidente do Luverdense, Helmute Lawisch vem sendo reconduzido ao cargo em todas as eleições nesses 14 anos de vida do clube. Em 2014, depois da morte de Carlos Orione, ele assumiu a presidência da FMF por um período de cerca de oito meses, passando o cargo no Luverdense ao seu vice, Jaime Binfeld.

Quanto ao União, que de forma indireta deu origem à criação do Luverdense, tem apenas um título estadual, conquistado em 2010, apesar de sua idade (45 anos) – foi fundado em 6/6/1973. A promessa feita por Pivetta de que o União passaria a ter mais um adversário difícil no futebol mato-grossense, por causa de uma provocação, está sendo cumprida à risca...        

sábado, 20 de outubro de 2018

Árbitro-policial dava tiros de dentro do carro só para assustar os dorminhocos...



Cipó: 20 anos trabalhando com meninos e
 adolescentes 
O juiz Serafim Medeiros, que integrou o Departamento de Árbitros da FMF, na década de 1990 – atividade que conciliava com a de policial civil -- cultivava um hábito que quem viajava com ele para trabalhar no interior detestava: apontar o cano de seu revólver para fora do carro e fazer seguidos disparos só para assustar os dorminhocos. Enquanto os mais assustados só faltavam pular dos carros em que viajavam, pensando que estavam no meio de um tiroteio, Medeiros quase morria de rir...   

Também dessa época, José Roberto Feitosa Soares, o Cipó, afirma que seus companheiros de viagem ficavam putos da vida com Medeiros, mas não com raiva dele por causa da mania dos tiros e dos sustos. “Naquele tempo tudo era farra, diversão e brincadeira. Para complicar a vida dos companheiros, nas viagens o pessoal da FMF chegava a passar, às escondidas, batom nas cuecas dos casados para vê-los metidos em encrencas da grossa em casa. Era só para sacanear mesmo!...” – afirma Cipó.

Outra brincadeira comum naqueles bons tempos do futebol romântico entre o pessoal da FMF – juízes, bandeirinhas, delegados da entidade, tesoureiros – era colocar gatos das cidades onde trabalhavam dentro das bolsas dos companheiros. Quando as viagens eram feitas em ônibus de linha, de vez em quando um gato escapava das bolsas e provocava tumultos entre os passageiros...

Na sua militância no Departamento de Árbitros – entre 1988/1999 – Cipó passou por muitas situações engraçadas. Uma delas: em 1998 ele atuava como bandeirinha de Gílson Rodrigues no jogo entre Barra do Garças e Operário Várzea-grandense no Estádio Zeca Costa. A certa altura do jogo, Rodrigues expulsou de campo Jackson, do clube barragarcense. Mas antes de sair de campo, Jackson se aproximou do juiz e rasgou sua camisa.

Já sentado na arquibancada, Jackson decidiu se vingar de Cipó que nada teve a ver com a sua expulsão. Ele saltou o alambrado, aproximou-se sorrateiramente de Cipó e de repente pulou com os dois pés nas costas do bandeirinha. Mesmo surpreendido, Cipó reagiu e deu uma certeira bordoada nas costas do seu agressor com a sua bandeirinha.

Claro que Jackson sentiu a pancada. E como sentiu! Até porque o objeto em que a sua bandeirinha especial estava pregada, não era de madeira ou plástico, mas de ferro puro. Sim, de ferro puro e que Cipó sempre preparou em sua casa para impor respeito à boleirada, quando estava bandeirando. E como impunha!...

Por causa dos dois episódios em um só jogo – a expulsão e a agressão a Cipó e que lhe custou uma dolorida pancada no lombo – Jackson foi punido com uma suspensão de 120 dias. Mas nunca mais quis saber de conversa com Cipó, quando ele estava com um apito na boca ou uma bandeirinha nas mãos...

Desde 2005, o orientador social Cipó vem executando, através de sua escolinha de futebol Associação Cristo Rei, criada há mais de duas décadas,  um programa de cunho social, trabalhando com 70 meninos e adolescentes,  na Cohab Jaime Campos, em Várzea Grande. O trabalho de Cipó é  desenvolvido no principal campo de futebol do bairro, o “Sílvio Manoel Gomes”, de onde ladrões já levaram tudo dos vestiários, até as mangueiras que eram utilizadas para molhar a grama.

As atividades no período matinal, com a participação de cerca de 35 garotos (dos seis aos 13 anos), começam às 7h30 e se estendem até as 11h30, com um rápido intervalo para um lanche. No período da tarde, o trabalho, com igual número de participantes (dos seis aos 16 anos), vai das 13h30 até as 17h30, também com direito a um lanche. Para ajudar no lanche da garotada, Cipó recebe mensalmente da prefeitura de VG R$ 1.000,00.

O objetivo de Cipó não é revelar jogadores, mas, sim, ocupar o tempo dos garotos com atividades sadias e atraentes, como práticas esportivas, como o futebol. Além da preparação física, recreação, “rachas”, a garotada recebe instruções sobre regras de futebol e de comportamento dentro e fora de campo. “A nossa preocupação é formar pessoas íntegras para que sejam bem-sucedidos na vida” – afirma Cipó.

Mas se alguém se destacar na escolinha, Cipó pode indicar e até levar as revelações para o Paraná Clube, de Curitiba, de quem é uma espécie de “olheiro” em Mato Grosso. Ou para a empresa Futtalents (Futebol e Talento) também de Curitiba. A Futtalents acaba de nomear Cipó seu representante para Mato Grosso e a região.

 – Mas mandar “aranhas” (jogadores pernas de pau) para eles é tempo perdido – diz Cipó, que além de trabalhar com a garotada de sua escolinha, tem uma academia desportiva de futebol na Cohab Cristo Rei, criada desde que ele se afastou de sua empresa de construção civil por causa de sua idade. Cipó está com 64 anos e nem pensa em parar de mexer com o futebol de sua escolinha.  "Essa escolinha é a minha vida..."  – garante Cipó.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Duplo calote de Juan Rolon nos jogadores do Palmeirinhas após vitória sobre o União...


O Palmeiras jogava com o União, no ainda acanhado Estádio Engº. Luthero Lopes, em Rondonópolis, pelo Campeonato Mato-grossense de Futebol da 1ª Divisão de 1984 ou 1985. Com o incentivo de sua torcida, o União saiu na frente no placar. Mas aos poucos o alviverde do Porto foi se impondo em campo e acabou virando o resultado para 3x1, a seu favor, para decepção dos torcedores colorados.

Eufórico com o triunfo na casa do adversário, o então presidente do Palmeiras, Juan Rolon, entrou no vestiário para dar duas boas notícias aos jogadores: o “bicho” pela vitória seria pago no dia seguinte, às 18 horas, no Dutrinha. E mais: o clube ia comemorar a vitória com uma churrascada na casa do treinador de goleiros Washington, no bairro Coophamil. Os jogadores podiam levar esposas, namoradas, filhos, convidados...

Alguns jogadores ponderaram que o local escolhido para o churrasco não era o ideal, porque os jogadores não possuíam carro. Mas Rolon resolveu o problema de transporte na hora: naquele horário, um ônibus especial estaria no Dutrinha para conduzir a boleirada para o Coophamil e depois levá-los de volta para suas casas...

Antes das 18 horas alguns jogadores começaram a chegar ao Dutrinha para receber o prêmio pela vitória e esperar à hora de cair na gandaia. Entre os palmeirenses, inclusive jogadores do Mixto, seus convidados. Alguns chegavam com violões, cavaquinhos, pandeiros, etc. A churrascada comemorativa dos 3x1 ia ser mesmo uma festa de arromba...

Recorda um palmeirense, que alguns jogadores do alviverde e seus convidados mais animados disfarçadamente sacavam dos bolsos umas pitadinhas de sal e colocavam na língua para  a cerveja descer melhor, ficar mais saborosa...

Deram 18 horas, 18h30 e nada do tal do tal ônibus chegar ao Dutrinha. Também não aparecia, e muito menos dava notícias, Juan Rolon. A boleirada começou a ficar meio cabreira. Quem estava comendo sal, tratou de saciar a sede com água, porque cerveja que era bom...

Já passava bem das 19 horas quando Juan Rolon finalmente apareceu no Dutrinha. Mas ao invés de estar ao volante do seu imponente carrão Diplomata no qual desfilava pelas ruas de Cuiabá e Várzea Grande, o presidente estava em um fusquinha sujo e derrubado. Aliás, teve muita gente nem viu Rolon chegar, pois já havia picado a mula, convencida de que havia entrado numa fria...

O presidente palmeirense desceu do carro, chamou o técnico Admir Moreira para uma rápida conversa em particular, em seguida saiu de fininho, entrou no fusquinha e caiu fora, deixando para o seu treinador a ingrata tarefa de dizer aos jogadores e seus convidados que o churrasco estava emergencialmente cancelado. A festa de arromba ficou para o dia de “São Nunca” e quanto ao pagamento do “bicho” pela vitória contra o União, os jogadores continuam esperando até hoje...
                      

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Uma declaração de Helmute acabou com a lenda sobre Pivetta como implacável goleador...

Otaviano Pivetta: fim de uma lenda como jogador.

Ninguém sabe -- nem o próprio Pivetta – como chegou ao estande do Grupo Girassol, na área da Agrishow Cerrado, realizada de 2002 a 2006 em Rondonópolis, a lenda de que ele, na sua juventude, tinha sido um grande jogador de futebol profissional, com uma passagem brilhante pelo Gaúcho, de Passo Fundo-RS. Mais do que bom de bola – dizia-se  Pivetta era um implacável goleador, um terror dos goleiros...

Quatro vezes prefeito de Lucas do Rio Verde – 1997/2000, 2000/2004, 2005/2008, 2013-2016 – Otaviano Pivetta comparecia religiosamente todos os anos a Agrishow Cerrado para conhecer suas novidades. E nunca deixou de dar uma passada no estande do Grupo Girassol, onde sempre era recebido, com seus acompanhantes, com um caprichado churrasco, pelo dono da empresa, Gilberto Goellner.

Oriundos do Rio Grande do Sul – Pivetta é de Caiçara e Goellner de Não-Me-Toque – os dois se tornaram bem sucedidos empresários do agronegócio em Mato Grosso. E se enveredaram também pela política. Goellner foi senador, como suplente de Jonas Pinheiro, morto em 2008, e saiu de cena ao final do mandato. Mas Pivetta continua na ativa política e acaba de ser eleito neste 2018, vice governador do Estado na chapa de Mauro Mendes.

Pivetta, que desde criança ganhou o apelido de Gordo Pivetta, descobriu numa dessas visitas ao Grupo Girassol que era do estande de Goellner que se espalhava a sua fama de goleador do Sport Clube Gaúcho, fundado em 12/5/1918 e cuja maior façanha no futebol gaúcho até hoje foi ganhar os campeonatos da 2ª divisão de 1966, 1977 e 1984. E era como Gordo Pivetta que ele se transformara no terror dos adversários.

Em princípio, Pivetta chegou a pensar em desfazer o equívoco. Mas o pessoal do estande falava com tanto entusiasmo de suas virtudes técnicas como boleiro do Gaúcho, que ele decidiu deixar pra lá. O mais empolgado nas apresentações que fazia de Pivetta no estande ou então nas suas andanças pela área da Agrishow Cerrado era justamente Goellner. Na realidade, no íntimo até que Pivetta estava gostando – como ele mesmo admite – dos momentos de glória que desfrutava no grande evento do agronegócio em Rondonópolis, passando-se por um grande craque de bola...

Mas um dia – sempre tem um dia... – justamente no estande do Grupo Girassol, quando um grupo comentava as proezas do goleador do clube passo-fundense, apareceu na roda Helmute Lawisch, produtor rural de Lucas de Rio Verde, que sempre acompanhava Pivetta na Agrishow Cerrado e que não conhecia a história do amigo-goleador que corria pelo interior do parque de exposições.

Lawisch foi curto e grosso: “Isso é conversa fiada... o Pivetta nunca jogou futebol e se jogou deve ter sido um perna de pau daqueles...” – afirmou com convicção, para espanto dos presentes.

– Nesse dia, o Helmute acabou para sempre com a minha lenda – reclama Pivetta, dando gargalhadas...