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quinta-feira, 21 de março de 2019

Operarianos bebiam e escondiam garrafas vazias de cerveja embaixo da mesa até Rubens dos Santos entrar no carteado...

Nos tempos do Mato Grosso indiviso e cuja separação foi consumada em 1979, no governo do engenheiro civil José Garcia Neto, quando os times da Grande Cuiabá iam disputar jogos oficiais na região sul e que com a divisão do estado virou Mato Grosso do Sul, aproveitavam para enfrentar todos os adversários, como se fosse uma mínima excursão, para não ficarem expondo seus jogadores a cansativas aventuras pela esburacada ou lamacenta BR-163, pois nem sempre viagens eram de avião.

Numa dessas viagens, o Clube Esportivo Operário Várzea-grandense disputou três partidas. O primeiro jogo foi contra o Douradense, de Dourados, e vencido pelo tricolor. Logo depois, o clube várzea-grandense viajou para Campo Grande para jogar contra o Operário e em seguida contra a Sociedade Esportiva Industriária (SEI). O tricolor repetiu a boa exibição contra o Douradense e venceu também o Operário. Só faltava a SEI – e vencer!... – para coroar a mini temporada...

No hotel onde o Operário ficou hospedado em Campo Grande, as ordens, partidas de Rubens dos Santos, o chefe da delegação, eram severas: ninguém podia sair da concentração. Bebida alcoólica, então, nem em pensamento... pelo menos é o que Rubens dos Santos acreditava.

Na véspera do jogo com a SEI, um grupo de operarianos, entre os quais Paulinho, Malaquias, Bife, Justino e Tucho, decidiram matar o tempo, jogando baralho. O carteado seguia animado, quando de repente apareceu, onde o grupo se divertia, o temido Rubens dos Santos, que era louco por um joguinho de baralho. Tanto é que o radialista Ivo de Almeida só o chamava de Rubens Baralhocat.

O presidente elogiou a turma pela iniciativa de passar o tempo com um joguinho de cartas e mesmo sem ser convidado tratou logo de ajeitar uma cadeira para participar da jogatina. Os jogadores olharam uns para os outros, desconfiados, pois sabiam que vinha encrenca da grossa para o lado deles...

Rubens dos Santos percebeu a reação dos jogadores e perguntou o que estava acontecendo. Malaquias antecipou-se aos companheiros e respondeu: “Não está acontecendo nada seu Rubens. Vamos jogar!...”

Logo que se sentou, Rubens dos Santos resolveu dar uma esticada nas pernas e aí aconteceu a desgraça que todos temiam: foram garrafas vazias de cerveja que rolaram para tudo quanto é lado debaixo da mesa, onde estavam sendo escondidas depois de consumidas. E não eram poucas, não!...

– Ah, é, né? Bebendo, né!... – disse Rubens dos Santos, ao mesmo tempo em que anunciava que todos da rodinha de carteado estavam multados...

Bife tentou livrar a cara de todo mundo, dizendo: “Mas, seu Rubens, só vamos ter jogo amanhã!...”

– Não me interessa... – retrucou o presidente tricolor, com cara de poucos amigos.   

A SEI também não resistiu ao futebol brilhante do Operário e perdeu o jogo por 1x0.

Com a vitória, Rubens dos Santos reconsiderou a decisão de multar o grupinho do carteado, mas deixou claro que da próxima vez não ia ter perdão...

quinta-feira, 14 de março de 2019

Jogadores do Palmeirinhas inventaram esfarrapadas desculpas para tomar cerveja no Dutrinha e facilitar a classificação do Barra do Garças


    

Com o Dutrinha lotado, principalmente por torcedores dos bairros do Porto e Dom Aquino, fortes redutos do alviverde, o Palmeirinhas ia jogar com o Barra do Garças FC, pelo Campeonato Mato-grossense de Futebol de 1984 ou 1985. Um jogo de vida ou morte para o time do interior, pois, se vencesse, garantiria uma vaga para a semifinal do quarteto que ia decidir o título da disputada  temporada oficial da FMF.

Na hora determinada, os jogadores do Palmeirinhas foram chegando ao estádio e se dirigindo para o acanhado vestiário do clube. Quando o técnico alviverde Pereira entrou no vestiário, já com o time na cabeça, para distribuir as  camisas, notou que quatro ou cinco jogadores da equipe que ia entrar em campo e cujos nomes não vem ao caso, não haviam chegado ainda ao estádio.  Esperou um pouco mais e nada!...

– Cadê o fulano?

– Amanheceu com uma terrível dor de cabeça e não vai poder jogar alguém respondeu...

– E o beltrano?

– Está no velório de um tio... – responderam.

– E o sicrano, alguém tem notícia dele?

– Foi ficar com a mãe no hospital onde ela está internada, muito doente!...

Pereira percebeu que naquele angu tinha caroço do grande e não perguntou mais nada. E tratou de mandar para o campo o melhor que pôde fazer, improvisando jogadores que nem vinham atuando, em diversas posições...

Para surpresa geral da torcida, o Palmeirinhas foi envolvendo o Barra do Garças e inclusive abriu o placar.

Curiosamente, logo depois do início do jogo os titulares que não entraram em campo, pelos mais diversos motivos, passaram a ser identificados entre os torcedores nas arquibancadas, tomando cervejas uma atrás da outra...

Foi aí que o treinador Pereira, e muitos torcedores do alviverde, caíram na real! O pessoal devia estar tomando cervejas com dinheiro do Barra do Garças, evidentemente... 

Com o time improvisado à última hora, o Palmeirinhas foi sendo dominado e o adversário virou o placar para 2x1 ou 3x1, garantindo a classificação para  semifinal do campeonato – recorda um veterano participante do jogo e cujo nome também não vem ao caso...

segunda-feira, 4 de março de 2019

Jogadores do Comercial arrancavam guanxuma, picão, carrapicho, pé-de-galinha para receberem dinheiro da prefeitura...


Nazinho, o primeiro agachado da esquerda para
 a direita. O Comercial de 1978
Fundado em 3/5/1967, na primeira administração do empresário Manoel Gomes de Arruda, o Neco Falcão (1967-1970) – que voltou a ser prefeito de Poconé entre 1973 e 1977 – e que virou nome do estádio da cidade, o Comercial Esporte Clube teve algum destaque no futebol profissional de Mato Grosso durante um curto período de três ou quatro anos, entre 1972 e 1975.

Um dos poucos remanescentes do extinto Comercial e ainda em atividade, o veterano Nazinho lembra que foi na administração do prefeito Arlindo de Morais que o futebol profissional de Poconé conseguiu se destacar no cenário estadual, com a participação do clube nos campeonatos oficiais da FMF no limiar da década de 1970. E onde entra a política na vida do velho Comercial?

Foi uma manobra política: sem poder investir recursos do município no futebol, o prefeito Morais contratava jogadores profissionais e os colocava para trabalhar nos campos de futebol da cidade, em atividades como arrancar guanxuma, carrapicho, picão, pé-de-galinha, caruru e outras pragas daninhas. A justificativa para pagamento dos profissionais da bola pela prestação de serviços que qualquer pessoa poderia executar é que o futebol amador da cidade era muito forte e precisava de bons campos...

Hoje com 66 anos de idade, Nazinho sempre esteve ligado ao futebol da cidade. Há muitos anos, seu pai, J. Costa comprou um terreno em uma área verde da cidade e que virou um campo de futebol, onde ao longo dos anos muitos craques consagrados como Bife, Fidélis, Ruiter, Nelson Vasques, César Tucano, Bicaral, Veludo, Saldanha e tantos outros exibiram sua arte, participando de monumentais “peladas” nos finais de semana.


É nesse campo, que Nazinho e sua mulher, Morena, mantém faz muito tempo uma escolinha de futebol que funcionando em dois períodos, as terças-feiras, e quintas e sábados, chega a receber nesses dias da semana até 100 meninos, dos quatro aos 18 anos de idade. Embora pessoas simples, o casal Nazinho-Morena trabalha muito o lado psicológico das crianças e jovens da escolinha e se orgulham que vários meninos que passaram pelas suas mãos viraram médicos, advogados, dentistas e outros profissionais liberais. A escolinha faz parte do programa municipal “Bom de bola, melhor na escola”, criado no início da década de 1970.

O pai de Nazinho, J. Costa, foi, há muitos anos, jogador do Valoroso FC, um dos pioneiros do futebol de Poconé, junto com o Destemido. Faz muito tempo, o Valoroso foi jogar com o Cacerense em Cáceres e sofreu uma goleada de perder o rumo. Aproveitando a viagem, o time passou por Cuiabá para jogar com o Mixto. Do jeito que saíram de campo em Cáceres, os jogadores seguiram para Cuiabá para não correrem o risco de tirar as camisas e perderem a posição no time. Naqueles velhos tempos, os times eram de 11 camisas mesmo!...

Recorda Nazinho que antes de enfrentar o Mixto, os jogadores do Valoroso tiveram um dia de folga. E foram passear pelo centro de Cuiabá. Muitos jogadores não conheciam manequins e alguns deles foram flagrados estendendo as mãos para cumprimentá-los e até tentando puxar conversa com as estátuas, inclusive perguntando sobre preços das mercadorias expostas nas vitrines.

Quanto ao jogo com o Mixto, o Valoroso levou outra tunda daquelas e só não perdeu o caminho de volta porque o motorista do velho caminhão GMC, contratado para conduzir a delegação na rápida excursão, conhecia muito bem a estrada entre Cuiabá e Poconé...