Mão-de-Onça nem via a bola entrar... (A Gazeta) |
Verdão completamente lotado
para o jogo entre Dom Bosco e Ceará pelo Campeonato Brasileiro da 1ª Divisão. O
Sol muito quente fazia aumentar a temperatura no estádio com tanta gente junta.
Enfim, um calor infernal.
Naquela fase de ouro do
futebol de Mato Grosso, nas décadas de 70 e 80, a torcida achava esquisito alguns
jogadores correrem os 90 minutos feito uns loucos debaixo de um Sol abrasador. Torcedores mais ladinos suspeitavam que debaixo daquele angu tinha caroço,
mas...
E tinham razão. Sem ter a
mínima noção dos riscos a que estavam se expondo, muitos jogadores tomavam por
conta própria medicamentos que supostamente aumentavam suas energias. Muitas
vezes no próprio vestiário, antes de entrar em campo.
Mas tinha também jogadores
que não aceitavam de jeito nenhum serem dopados. Ou pelo menos pensavam...
O Dom Bosco, por exemplo,
teve em seu Departamento Médico um profissional, o popular doutor Guto, já
falecido, que não concordava com a prática muito usual dos times de dopar os jogadores para tirar o máximo proveito de suas energias em campo.
Ao invés de aplicar drogas
nas laranjas geladinhas que eram consumidas em grande quantidade pelos
jogadores no intervalo das partidas, ele determinava ao massagista que
injetasse nelas caldo de cana, que em sua opinião tinha um resultado muito mais
positivo...
Claro que o massagista
cumpria rigorosamente sua ordem, mas como essa parte do seu trabalho era
confidencial, junto com a deliciosa garapa ele socava os energéticos mais
usados como doping e geralmente recomendados por treinadores ou diretores...
Naquele jogo aconteceram
algumas coisas estranhas, lembra até hoje o diretor dombosquino Álvaro
Scolfaro. Uma delas: o eficiente lateral direito Tuca não conseguia correr atrás do
ponteiro esquerdo Tiquinho, que marcou, no primeiro tempo, todos os gols da
vitória do Ceará sobre o Dom Bosco por 5x0.
Outra: o goleirão Mão-de-Onça
parece que nem via bola estufar as suas redes, para desespero de seus
companheiros e do treinador Orlando Peçanha, clássico zagueiro que fez sucesso
no Vasco da Gama e na Seleção Brasileira.
Intervalo do jogo no Verdão.
O diretor do Departamento de Árbitros da FMF, Joaquim Ramalho dos Santos entrou
no vestiário do Dom Bosco, cumprimentou a todos e se dirigiu ao bebedouro do
vestiário para tomar água. Mas a água estava quente e suja...
Ramalho virou-se e viu uma
caixa de isopor cheia de laranjas, descascadinhas e geladinhas. Passou a mão em
uma e mesmo advertido que as laranjas eram exclusivamente para os jogadores,
chupou a que pegou e até fez um comentário: “Que laranja deliciosa, está com
gosto de caldo de cana!...”
Fim de intervalo, os times
voltaram para o campo e Ramalho também para o seu lugar. Decorridos uns 20
minutos do 2º tempo e o diretor do Departamento de Árbitros mostrava-se agitado
e indócil.
A certa altura do jogo,
quando o árbitro marcou uma falta contra o Dom Bosco e com a qual ele não
concordou, Ramalho gritou a todo pulmão: “Juiz ladrão, toma vergonha na
cara...!”
Rapidamente, foi levado para
o vestiário, onde ficou até se acalmar. E ao que se sabe, nunca mais Ramalho
chupou laranjas de vestiário de jogadores de futebol...
(Republicado por falhas no registro de acessos).