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domingo, 30 de junho de 2019

Um jogo tranquilo no Zeca Costa, mas com um grande tumulto – até com prisão – depois com o árbitro Armindo Sete Bundas

Em 1984 ou 1985, o árbitro Ari Euclides Pereira foi indicado pelo Departamento de Árbitros da FMF para apitar no Estádio Zeca Costa, em Barra do Garças, o jogo entre Barra do Garças e o Mixto pelo Campeonato  Mato-grossense da 1ª Divisão. Para atuar como bandeirinhas, o DA  da FMF escalou Armindo Sete Bundas e José Guasques, enquanto como árbitro reserva foi designado Ismar Gomes, que sempre arrumava encrenca, às vezes da grossa, pelos estádios por onde passava...

Nesse jogo, porém, tudo transcorreu dentro da mais absoluta calmaria. Ari Euclides não se recorda quem foi o vencedor do jogo, mas acha que deve ter sido o time da casa, porque a torcida barragarcense, fugindo à normalidade, não criou qualquer problema para a arbitragem. Muito menos os jogadores dos dois times. Até parecia um jogo de com fraternização e não do Campeonato Estadual.

Encerrado o jogo, o pessoal da Federação Mato-grossense de Futebol que trabalhou naquele dia – os juízes, o delegado (representante da entidade) e o financeiro – foi tranquilamente para a Estação Rodoviária, esperar o ônibus para retornar a Cuiabá.  O ônibus chegou, os passageiros, incluindo naturalmente o pessoal da FMF,  embarcaram, iniciando a viagem de volta para casa.

Naqueles velhos tempos, na saída de Barra do Garças para Cuiabá existia uma parada de ônibus, onde muita gente preferia esperar o  busão, para não ter que ir até perto da ponte sobre o Rio Araguaia para embarcar.    

Na parada do coletivo, entrou no ônibus um passageiro, exibindo na cintura uma peixeira daquelas e que se sentou na poltrona onde estava Armindo Sete Bundas. Ao reconhecer entre os viajores o pessoal da FMF, o torcedor partiu logo para a provocação. “Esse pessoal da Federação tem mais é que apanhar e morrer para deixar de roubar a gente aqui no futebol...” – dizia em altos brados. E toma palavrões...

Armindo Sete Bundas, que era policial civil, não teve dúvidas: pegou o seu revólver e deu voz de prisão ao torcedor. Estabeleceu-se um tumulto no busão, com muitos passageiros assustados, sem saber o que estava acontecendo, com o rolo que estava acontecendo dentro do ônibus. Chamada por Armindo Sete Bundas, a Polícia Militar chegou rapidinho a parada de ônibus e levou o passageiro embora.

Naquela noite, o ônibus do horário continuou a viagem para Cuiabá com um passageiro a menos...

– O Armindo Sete Bundas era meio estourado, mas gente muito boa ... – afirma o ex-árbitro Wilson Eraldo da Silva, que conviveu algum tempo com ele, apitando principalmente futebol de salão.

A origem do apelido de Armindo, já falecido, ninguém nunca ficou sabendo, até porque não lhe perguntavam, certamente com medo do seu inseparável trabuco...

Armindo detestava tanto o apelido que em muitas ocasiões chegava a interromper jogos de futebol e de futebol de salão, que apitava também muito bem, para se aproximar de arquibancadas de estádios ou de ginásios de esportes na tentativa de identificar quem o estava chamando de Sete Bundas...

Geralmente, eram amigos seus, pois só os seus mais chegados sabiam da raiva que Armindo tinha do apelido e que o provocavam só para vê-lo perder as estribeiras . “Lá fora eu pego vocês...” – reagia Armindo Sete Bundas.

Mas era só ameaça mesmo!...
 

sábado, 22 de junho de 2019

Catolicismo e macumba de pai de santo-treinador não deram certo no Humaitá...


Técnico de futebol e ao mesmo tempo respeitado pai de santo, Beto Mendonça chegou ao Humaitá, de Cáceres, em 1980, disposto a recuperar o moral do representante da cidade nas competições oficiais da então Federação Mato-gossense de Desportos, pois apesar do apoio dos cacerenses – a média de público no Estádio Geraldão era de 20 mil torcedores por jogo – o time não ia bem dentro de campo. E claro que a torcida chiava e com razão: se prestigiava tanto o clube, era justo exigir vitórias.

Beto teve um grande mérito na sua passagem pelo Humaitá: conseguiu classificar o time para as finais do campeonato estadual daquele ano. Mas não foi por causa do futebol que equipe jogava, e, sim, por renda, graças à sua fiel torcida. Participaram do quadrangular final, além do Humaitá, Mixto, Dom Bosco e Operário Várzea-grandense. O campeão daquele ano foi o Dom Bosco.

Às vésperas de jogos no domingo, nas sextas-feiras à noite, Beto Mendonça reunia a rapaziada que ia jogar e os reservas – a participação era obrigatória – no terreiro da chácara onde a equipe ficava concentrada para uma demorada sessão de descarrego. Durante o trabalho do pai de santo rolava de tudo a que a macumba tinha direito: sacrifício de galinha preta e eventualmente de bode preto, pólvora, velas pretas e vermelhas, cachaça e charutos para agradar os espíritos das trevas que Beto Mendonça incorporava...

Nessa época, o presidente do Humaitá era Renato Vital Garcia, que se tornou muito admirado em Cáceres por ser uma pessoa de um coração que não tinha tamanho. Muito religioso e de uma simplicidade sem limites, Vital Garcia estava sempre pronto para atender as pessoas que o procuravam com algum problema para resolver. Sua bondade se estendia também aos profissionais do Humaitá.

Sua religiosidade, Vital Garcia levou também para o futebol.  Nos domingos de jogos, se por qualquer razão a boleirada não podia ir à missa da manhã para rezar, o presidente levava um padre até a concentração para benzer a rapaziada, pedindo proteção aos céus para ninguém se machucar e também uma ajudazinha para o time a conquistar resultados positivos dentro de campo. Mas nem a fé de Vital Garcia e nem a macumba de Beto Mendonça estavam conseguindo dar uma forcinha ao Humaitá.

Um dia, Beto Mendonça foi conversar com Vital Garcia sobre o que pensava respeito da falta de vitórias do time. E foi direto ao assunto: o treinador-pai de santo achava que não adiantava nada ele fazer suas mandingas, “fechando o corpo” dos seus jogadores contra bruxarias de seus adversários, se orações do padre, ao abençoar a boleirada, eliminava suas feitiçarias. Os dois não chegaram a um acordo e o Humaitá continuou com suas campanhas marcadas por altos e baixos dentro de campo...

Recorda o atacante Capeta que o treinador-pai de santo não dava moleza aos seus pupilos às vésperas de jogos. Quando o time estava concentrado, ele ia pessoalmente todas as noite que precediam os jogos a chácara para checar se realmente pessoal tinha se recolhido até as 22 horas como ele exigia.

Todos os jogadores cumpriam suas ordens, menos o zagueiro Zé Carlos, recém saído da escolinha de futebol do Flamengo, do Rio de Janeiro, e que era chegadinho numa boemia. Tanto que nunca aparecia na concentração antes das 2 horas da madrugada. Certa noite de sábado, Beto Mendonça chegou à concentração para constatar se os jogadores já haviam se recolhido aos seus quartos.

Ao caminhar em direção ao quarto onde ficava Zé Carlos, foi barrado pelo  também carioca Ivonil, considerado pelos companheiros como um grande “mala”, porque sabia de tudo o que acontecia no Humaitá. “O Zé Carlos está dormindo e não quer ser incomodado de jeito nenhum...” – justificou Ivonil. E não ia ser mesmo, pois o que estava em sua cama, cuidadosamente coberto com lençóis até o travesseiro, era um mourão de cerca...
          
                               

sábado, 15 de junho de 2019

Ubirajara abandonou o gol do Mixto para correr atrás do massagista do Goiás para pegar a santa de sua devoção...

O numeroso público presente ao Estádio Serra Dourada, em Goiás, não entendeu nada – mas divertiu-se muito, gritando e dando gostosas gargalhadas... – quando o goleiro Ubirajara, do Mixto, abandonou sua meta e saiu correndo atrás do massagista do Goiás, ainda no primeiro tempo do jogo que os dois disputavam pelo Campeonato Nacional de 1978. Como os jogadores não sabiam o que estava acontecendo dentro do campo, o mixtense Ruiter simulou uma contusão e se jogou no chão, obrigando o juiz a paralisar a partida para forçar Ubirajara voltar para o gol...

Aí foi esclarecida aquela confusão causada pelo mixtense e o goiano. Devoto fervoroso de Nossa Senhora Aparecida, antes de cada jogo Ubirajara fazia uma prece silenciosa no vestiário e entrava em campo com a imagem da santa enrolada numa toalhinha, daquelas que todos os goleiros usam para secar as mãos ou enxugar o suor do rosto no decorrer da partida, e a colocava devidamente protegida pelas redes no fundo de sua meta, para garantir as bênçãos divinas.

Como sabia dessa crença de Ubirajara, o massagista do Goiás aproveitou um rápido descuido do goleiro, pegou, disfarçadamente, a imagem e se mandou, correndo, em direção ao local, onde estavam os reservas do clube goiano O objetivo do massagista era desestabilizar emocionalmente o goleiro do Mixto para facilitar a entrada da bola nos chutes que o Goiás desse contra sua meta...

Mas Ubirajara, que bobo não tinha nada, desconfiou do massagista quando deu falta de sua santinha protetora e partiu pra cima dele. O goleiro mixtense não considerou nem a possibilidade do seu time levar um gol enquanto ele corria atrás do gatuno de sua padroeira, deixando sua meta escancarada. Demorou um pouco, porém Ubirajara conseguiu alcançar o massagista, deu um salto aos seus pés, derrubou-o e pegou a sua protetora.

Apesar da confusão que tanto divertiu a torcida, o jogo teve continuidade normalmente, com a volta de Ubirajara para o gol e a consequente “recuperação” de Ruiter, que não tinha se machucado coisa nenhuma. O jogo terminou empatado pela contagem mínima, com Ruiter marcando o gol do Mixto na cobrança de uma falta com barreira nas imediações da grande área do Goiás...

Aquele jogo, realizado há 40 anos, representou um marco importante para a imprensa esportiva de Mato Grosso por ter sido uma das primeiras transmissões que a Centro América fez ao vivo de uma partida de futebol, ensejando aos torcedores do estado acompanhar, mesmo a grande distância, as jogadas de craques como Ruiter, Bife, Nelson Vasques, Luís Augusto e tantos outros. A tv não conseguiu, porém, registrar a hilariante cena da perseguição de Ubirajara ao massagista do Goiás. O locutor da TVCA naquele jogo foi Macedo Filho e o comentarista, improvisado, Márcio de Arruda.       
       
    
  
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segunda-feira, 10 de junho de 2019

Dentadura de zagueiro escondida em filtro d’água quase provocou confusão no Humaitá...



Já fazia um tempão que os jogadores do Humaitá, de Cáceres, vinham tirando o maior sarro do companheiro de clube, o grandalhão Godero, que havia sido contratado para a disputa do Campeonato Mato-grossense de 1980. No divertido mundo do futebol dos velhos tempos, quando a maioria da boleirada jogava para se divertir, sem ligar muito para o dinheiro, qualquer coisinha que acontecia no Humaitá, era motivo de gozações, insinuações e piadinhas contra Godero.

Carioca de Petrópolis, o zagueirão, com 1,79 m de altura, a princípio levava tudo na esportiva, mas com o passar dos dias, e à medida que as brincadeiras – algumas de evidente mau gosto e até ofensivas foram ganhando novas conotações – Godero foi ficando puto da vida...

O motivo da gozação contra Godero: na hora das duas principais refeições do dia na “república” do Humaitá – almoço e jantar – o zagueiro tirava uma das dentaduras, colocava em um copo à sua frente e mandava ver na boia. Depois, como manda as boas regras da higiene bucal, ele escovava os dentes e recolocava a dentadura na boca...

Um dia, após uma das refeições, Godero foi pegar a dentadura e só encontrou o copo vazio. Ele procurou se lembrar se a tinha esquecido em algum lugar, mas não havia dúvida: ela estava mesmo dentro do copo onde era deixada. Alguns jogadores, solidários com Godero, procuraram ajudá-lo na busca da dentadura.

O refeitório, onde havia poucos móveis e um filtro, uma espécie de pote de barro e que era abastecido diariamente para a moçada tomar água à vontade, foi revirado de cabeça para baixo, porém nada da dentadura aparecer. Começava naquele dia o inferno de Godero, com as gozações que não tinham mais fim contra o zagueirão.   

Passados alguns dias, o ponteiro direito Jota Alves, que depois do Humaitá jogou no Clube Esportivo Operário Várzea-grandense, encostou-se em Godero e confidenciou-lhe: “Eu sei onde está sua dentadura”. E emendou: “Ali, dentro do filtro...”

Aí foi a vez de Godero devolver todas as gozações e brincadeiras de que havia sido vítima, principalmente porque estava banguela. “Viu só! Todos vocês tomaram água da minha dentadura...” e se divertia quando alguém fazia cara de nojo ou sofria ânsias como se fosse vomitar, por ter tomado da água do filtro onde a dentadura ficou um tempão escondida...

Godero até que tentou, mas nunca descobriu quem foi o engraçadinho que escondeu sua dentadura naquele lugar insuspeito...