Pesquisar este blog

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

No jogo do Operário com o Palmeiras em São Paulo, torcedor explodiu contra Dirceu Batista

Dirceu Batista (Arquivo Pulula)
O Clube Esportivo Operário Várzea-grandense enfrentava o Palmeiras, no antigo Estádio Palestra Itália, pelo Campeonato Brasileiro de 1982. Integrado por jogadores do nível técnico de Luiz Pereira, Aragonês, João Marcos e tantos outros craques consagrados, o alviverde impunha seu ritmo de jogo como bem entendia.

Nem bem a bola rolou no campo, um torcedor postado atrás da área onde ficava o banco de reservas do clube várzea-grandense, começou a gritar: “Põe o 13...”, “Põe o 13...”

O 13 a quem o torcedor se referia era o número da camisa do “coringa” Dirceu Batista, que fazia de tudo para não dar ouvidos às provocações, porém não tinha jeito: o cara não parava de gritar.

E o Palmeiras só balançando as redes do tricolor: em mais ou menos 17 minutos de jogo, o time mato-grossense já havia levado três gols, o que foi deixando o torcedor cada vez mais irritado. E furioso.

A certa altura do jogo, Dirceu Batista decidiu encarar o torcedor que estava pegando tanto no seu pé, sem um motivo aparente. Dirceu Batista foi virando a cabeça bem devagar, de forma quase imperceptível, e quando o olhar dos dois se cruzaram, o torcedor explodiu:

“Você deve ser ruim de bola pra caralho para ser reserva de um time tão ruim como esse aí...”

E toma impropérios e xingamentos contra Dirceu Batista. Certamente, o desbocado era torcedor de outro clube e havia comparecido ao Palestra Itália na esperança de ver uma derrota do Palmeiras...   

Dirceu Batista não abriu a boca. Levantou-se e caminhou debaixo de um temporal daqueles de tirar pica-pau do oco do pau para o vestiário, de onde nem voltou para o banco de reservas, porque em seguida, o juiz encerrou o jogo por causa da violenta chuva que desabava sobre o estádio. Mas o Operário ainda fez seu golzinho de honra...  

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Suplemento vitamínico do Dom Bosco fazia todo o time ejacular em pleno jogo...

Leal, ex-técnico do Dom Bosco (Arq. 3º Tempo)
Há muitos anos passou pelo Dom Bosco o treinador João Leal Neto, ou simplesmente o Leal, que havia tido uma passagem brilhante pelo São Paulo FC, como médio volante, e decidiu se aventurar pela profissão de técnico de futebol depois que encerrou a carreira de boleiro.

Depois de comandar o azulão em alguns jogos sob o calorão de Cuiabá, Leal chegou a conclusão que estava faltando um suplemento vitamínico para os jogadores melhorarem a performance dentro de campo e o time deslanchar, o que estava demorando acontecer...

Foi aí que Leal lembrou-se que quando jogava, era comum a boleirada receber uma vitamina injetável chamada “Doca”. Discutida a questão com alguns diretores, coube ao “faz tudo” no Dom Bosco Álvaro Scolfaro sair atrás do milagroso suplemento vitamínico para resolver o problema da falta de vitórias do clube.

Encontrada a tal “Doca”, foi comprado um estoque razoável do produto. Diante da curiosidade do farmacêutico pela compra feita pelo Dom Bosco, Scolfaro explicou-lhe a finalidade das injeções, e ele, sorridente, esclareceu que aquele produto era para uso exclusivo em relações sexuais...

Apesar da advertência do farmacêutico, como a utilização da ”Doca” era comum nos grandes centros esportivos do Brasil, o Dom Bosco foi em frente e aplicou a droga injetável na boleirada.no dia do primeiro jogo, em um domingo. Não aconteceu nada, embora os jogadores tenham corrido um pouco mais, pois cientes da aplicação do suplemento vitamínico, muita gente deu uma “maneirada” no sábado à noite...

No domingo seguinte, foi feita nova aplicação da “Doca” e nada do time deslanchar, como esperava o treinador Leal, com base nas experiências que havia tido como jogador, inclusive no São Paulo FC, clube que defendeu durante muitos anos...

Veio o terceiro domingo e com ele a reação dos boleiros que pediram a Scolfaro que o clube não aplicasse mais neles antes do jogo a tal de “Doca”...

-- Mas por que? – quis saber Scolfaro.

A resposta veio em coro: quando eles entravam em campo e começavam a correr, sentiam que estavam ejaculando...


A aplicação da “Doca” foi suspensa imediatamente...   

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Mixtenses foram para a rodoviária a pé para não apanhar da torcida do União

Mixto, grande paixão de dona Pepe. (Arquivo Mixto)
Caminhando apressadamente, na realidade, quase correndo... – foi assim que um pequeno grupo de torcedores do Mixto Esporte Clube, conseguiu cobrir com rapidez a distância que separava o Estádio Luthero Lopes da antiga Estação Rodoviária de Rondonópolis para fugir da fúria da torcida do União que queria se vingar da derrota que o alvinegro cuiabano havia infligido ao clube rondonopolitano em seus próprios domínios, pelo Campeonato Mato-grossense de 1975.

-- Ainda bem que o estádio ficava próximo da rodoviária, senão a gente estava lascado... – recorda Nelson Tomás, naquela época um menino e que depois virou o Nelsinho’s, cabeleireiro dos mixtenses e em atividade até hoje – ele teve que se submeter recentemente a um rigoroso tratamento médico e só volta a trabalhar em fevereiro próximo.

Nem bem os mixtenses chegaram a Estação Rodoviária, apareceram no local alguns policiais militares para dar-lhes proteção na eventualidade da torcida do União descobrir que um grupo de alvinegros já estava deixando a cidade. Os PMs só deixaram a rodoviária depois que o ônibus que conduzia os torcedores cuiabanos partiu rapidamente,com toda segurança.

-- Por sorte nossa, naquela época, poucas pessoas possuíam carro e retornamos tranqüilos, sem riscos de torcedores nos abordarem no meio do caminho. Mas que foi um sufoco, foi!... – recorda outro fanático adepto mixtense que participou da aventura.

Embora a torcida mixtense presente ao Luthero Lopes fosse relativamente numerosa, provavelmente o que mais irritou a massa do União foi o barulho feito pelo pequeno grupo de torcedores que se reunia quase que diariamente defronte a gráfica e dona Pepe,na Rua 7 de Setembro, quase defronte a Igreja Senhor dos Passos, para buscar meios de viajar quando o Mixto jogava fora de Cuiabá.

Entre o grupo de jovens, figuravam Pelezinho -- que nada tem a ver com o lendário Pelezinho, do gol olímpico em Mazaropi -- e filho adotivo de dona Pepe e Talharim. Como torcedora fanática e fundadora do Mixto, ela até que gostaria que os dois virassem jogadores do clube do seu coração, mas qual o quê!..

Nesse dia da grande confusão em Rondonópolis, o grupinho, com dona Pepe à frente, chegou à cidade às 11 horas, com a turma varada de fome.  Dona Pepe não vacilou: pagou um lanche caprichado para a rapaziada numa lanchonete da rodoviária para que os meninos tivessem ânimo e pulmão para gritar “Mixtão”, “Mixtão”, “Mixtão”, durante todo o jogo...

A velha guarda do Mixto até hoje não chega a um acordo sobre qual das duas torcedoras símbolos do clube  -- dona Pepe e Nhá Barbina --  era mais fanática pelo alvinegro. Havia, porém, uma grande diferença entre as duas: dona Pepe era mais diplomática,e\comedida, enquanto Nhá Barbina não se importava de armar um barraco em qualquer lugar, quando se tratava de torcer ou defender o seu Mixto.

Como aconteceu no estádio de São Januário no jogo de volta entre Vaso da Gama e Mixto pelo Campeonato Nacional de 1976. Quando um grupo de torcedores cruzmaltinos tentou agredir uns poucos mixtenses que tinham ido ao Rio de Janeiro assistir ao jogo, Nhá  Barbina sacou o seu inseparável 38 cano curto e ameaçou: “Soco bala em quem der o primeiro passo na nossa direção!....” Ninguém se atreveu....      
    . .

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Depois do jogo do Dom Bosco no Maracanã, Churica ia trazer água, mas trouxe areia para a vovó sentir o sabor do mar...

O time do Dom Bosco: que jogou no Maracanã; da esquerda 
  para a direita, em pé, Scolfaro (técnico) Tyresoles 
(massagista), Miro, Luiz Carlos, Clóvis, Saborosa, Ramão,
Darci Piquira, Edu Levy (médico) e Fioravante Fortunato
  (supervisor); agachados, Joilton, Vladimir, Damasceno,
 Pereira e Abreu. (Foto Marcos Lopes)  
Alguns jogadores do Dom Bosco, que estava realizando um rápido “tour” pelo Rio de Janeiro, depois do empate contra o São Cristóvão na preliminar do amistoso Brasil 1 x Áustria 0, na fase final de preparação da seleção canarinho para disputar o Campeonato Mundial de 1970 no México, estranharam quando na paradinha na praia de Copacabana o lateral direito Churica tirou de sua bolsa uma garrafinha de tampa de rolha e a encheu com água do mar...
De volta ao ônibus, o meia armador Franklin, bom de bola que só ele, intelectual, estudante de Direito, e um tremendo gozador, perguntou a Churica porque ele estava levando a garrafinha daquela água imprópria para consumo humano. E Churica explicou, educadamente, que estava atendendo a um pedido de sua avó, que vivia em Cuiabá, e queria sentir o sabor da água salgada do mar... 

Franklin não perdeu a deixa e tascou: “A água do mar não é salgada, Churica! Salgada é a areia...” 

Churica não vacilou: desceu do ônibus, esvaziou a garrafinha e a encheu de areia...

Ninguém teve coragem de contestar Franklin, com medo de sua língua ferina, claro...

O rápido “tour” pelo Rio de Janeiro, em ônibus fretado, foi um prêmio que o clube decidiu dar aos jogadores em reconhecimento à brilhante atuação que o azulão tinha tido contra o São Cristóvão na tarde daquele histórico dia 29/4/1970 – foi a primeira vez que um time de Mato Grosso pisou no Maracanã – no empate de 1x1. Tanto é que além dos protestos dos torcedores contra a arbitragem a favor do time carioca, a própria imprensa carioca admitiu que o Dom Bosco havia sido escandalosamente roubado...

Decorridos mais de 47 anos da exibição do Dom Bosco no Maracanã, até hoje muita gente não entende como um clube sem expressão no futebol brasileiro conseguiu o extraordinário feito de jogar no grande estádio carioca, justamente numa preliminar da Seleção Brasileira. Mas a façanha dombosquina tem uma explicação, sim...

Afilhado de batismo do presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), João Havelange, o presidente da Federação Mato-grossense de Desportos (FMD), Agripino Bonilha Filho, não perdia uma oportunidade para dar um toque no poderoso padrinho sobre o seu sonho de ver um dia um time de Mato Grosso, jogando no Maracanã. Em sua gestão, naturalmente... – entre 1969 e 1976.

Com a oficialização do amistoso do Brasil com a seleção austríaca, um dia Havelange falou do sonho de Bonilha Filho com Mozart Di Giórgio, diretor de Relações Internacionais, e Abílio D’Almeida, superintendente, respectivamente, da CBD. Com aprovação dos dois, o três pesos pesados da CBD decidiram na hora que um clube de Mato Grosso jogaria na preliminar do amistoso internacional e até escolheram seu adversário: o São Cristóvão, do qual D’Almeida chegou a ser presidente... 

Claro que o fato de Bonilha Filho ser afilhado de Havelange pesou e muito na aprovação da preliminar, pois Giórgio e D’Almeida nem sabiam que existia em Mato Grosso um clube de futebol chamado Dom Bosco. Coube a Bonilha indicar o representante de Mato Grosso para enfrentar o São Cristóvão. E ele escolheu o Dom Bosco, que estava em boa fase.

No Rio de Janeiro, a delegação do Dom Bosco não ficou alojada em hotel e sim no 3º andar do Maracanã, onde os jogadores inclusive faziam suas refeições. Como a delegação tinha que cumprir rigorosamente os horários fixados pela administração do estádio para acesso às suas dependências, os jogadores não dispunham de muito tempo para conhecer a “Cidade Maravilhosa”, o que puderam fazer na segunda-feira, depois do jogo no domingo.

O chefe da delegação dombosquina, Giórgio Fava, recorda até hoje a preleção que o farmacêutico e supervisor do azulão, Fioravante Fortunato, fez ainda no alojamento, antes das instruções finais do técnico Álvaro Scolfaro ao time, falando sobre a responsabilidade da equipe numa preliminar de um jogo tão importante – o Brasil ganhou da Áustria, com um gol de Rivelino, de falta.

Lembrou Fortunato que o Dom Bosco era uma gotinha d’água na imensidão do oceano e por isso pediu o empenho de todos para o Dom Bosco fazer bonito e honrar o futebol mato-grossense. O pedido de Fortunato foi atendido além dos limites que a torcida dombosquina poderia esperar, com uma exibição de gala, mas o juiz não deixou o azulão ganhar ... 




quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Presepada de Lino Miranda


“Enquanto eu tiver mãos para segurar caneta e folhas de cheque para assinar, compro qualquer jogador para o Mixto...” – costu­mava dizer Lino Miranda, inclusive em reuniões de clubes na FMF, dando gar­galhadas. E comprava mesmo. Aliás, tanto comprava como vendia. Era cada rolo!
Na sua longa passagem pelo Mixto, como presidente e diretor do Departamento de Futebol Profissional, Lino Miranda aprontou cada presepa­da! Tanto é que em Maringá, no norte do Paraná, ele era chamado pelos tor­cedores do Grêmio Esportivo Maringá de “Frente Fria”. Por um simples moti­vo: quando Lino Miranda aparecia na cidade para fazer algum negócio com o GEM, a torcida já sabia que, de um jeito ou de outro, o clube maringaense ia entrar numa gelada.
Recorda Roberto de Jesus César, ex-jogador de futebol, treinador in­clusive do próprio Mixto, comentarista esportivo e muito amigo de Lino Mi­randa, que teve um período em que o dirigente alvinegro era chamado, até pelos jogadores, de Doutor Mentira. Por quê? Simplesmente porque Lino Mi­randa vendia jogadores do clube e não entregava; comprava dos outros e não pagava...
É muito conhecida uma história envolvendo Lino Miranda, a CBF, o Americano, de Campos-RJ e o zagueiro Orlando Fumaça, cujo passe o dirigen­te mixtense comprou com um cheque com assinatura falsificada, colocando na fogueira o nome de uma pessoa muito ligada ao futebol em Mato Grosso. O rolo virou processo e foi parar na CBF, mas acabou bem, como sempre, com vantagem para o Mixto: após alguns meses no alvinegro, Orlando Fumaça foi negociado com o Vasco da Gama-RJ por um dinheirão.
Tempos depois da armação, Lino Miranda foi à CBF cuidar de ques­tões relacionadas ao Mixto e aproveitou para conversar com Giulite Coutinho para explicar em detalhes a tumultuada transferência de Orlando Fumaça para o alvinegro, a fim de justificar que a pessoa cuja assinatura no cheque tinha sido falsificada não teve nenhuma culpa na lambança que ele havia aprontado pra cima do Americano.
Segundo uma versão alardeada por Lino Miranda no seu retorno a Cuiabá, ele deu a seguinte explicação ao mandachuva da CBF para ter aplicado o golpe no Americano: o time do Mixto que estava disputando o Campeonato Mato-grossense de 1988 tinha um bom ataque, mas a defesa estava feia que dava dó. Levava gols de tudo quanto era jeito.
E Lino Miranda tinha um motivo até humano para comprar Orlan­do Fumaça para arrumar a defesa. Seu filho, ainda menino, era torcedor tão fanático do Mixto que quando o alvinegro perdia o garoto ficava doente, não ia à escola, só tirava notas baixas e até se tornava rebelde em casa e na rua. Nem psicólogo tinha dado jeito na louca paixão do menino pelo Mixto.
– Foi num momento de fraqueza, porém pensando no bem do meu filho que eu fiz aquilo, presidente, o senhor há de entender a aflição de um pai... – arrematou Lino Miranda.
– Pois, olhe, Lino, eu enfrento o mesmo drama. Tenho um menino  que é louco pelo Botafogo... logo pra quem ele foi torcer! É padecer demais ver o meu garoto sofrendo daquele jeito...
Quase chorando um no ombro do outro num fraternal abraço de pais sofredores por causa do futebol, os dois se despediram...
Detalhe: Lino Miranda nunca teve filho homem...
Bonachão, sempre bem-humorado, às vezes Lino Miranda não pou­pava nem pessoas da sua estrita confiança. Certa vez, ele precisou ir a Goiás para acertar a vinda de alguns jogadores do futebol goiano para o Mixto e levou consigo o técnico Hélio Machado e o radialista Antero Paes de Barros. A viagem, por terra, foi feita no carro do treinador.
Antes da partida, Lino Miranda simulou tomar um comprimido e entregou um para Antero e outro para Machado, recomendando: “É pra gente relaxar e viajar mais tranquilo. Peguei com meu irmão...”
O irmão a que Lino Miranda se referia era o médico Emílson Miran­da, que naquela época tinha um hospital – o São Paulo – na Morada do Sol.
Na primeira parada do trio para fazer um lanche, nem o suco que Machado e Antero pediram desceu. Imagine o lanche, então...
Chegou a hora do almoço. Lino Miranda comeu um engasga gato qualquer e seus companheiros de viagem nem pediram nada porque sabiam que a comida ia ficar entalada na garganta. E não queriam correr risco de en­gasgar e passar vergonha num restaurante...
Exceto o fato de Machado e Antero terem perdido alguns quilos, pois não conseguiam comer nada, tanto na ida como na volta, nem na curta permanência em Goiânia, a viagem transcorreu normalmente. E Lino, como sempre, foi bem-sucedido na sua empreitada de conseguir os reforços que o Mixto pretendia...
Algum tempo depois, Machado e Antero descobriram que os com­primidos que Lino Miranda havia lhes dado não era um relaxante coisa ne­nhuma e sim um poderoso inibidor de apetite...

Como zeloso dirigente do Mixto, Lino Miranda queria fazer econo­mia para o clube. E conseguiu, mesmo que às custas da fome de dois apaixo­nados mixtenses...

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Jogadores do Comercial dormiram uniformizados em uma Delegacia de Polícia depois de tumulto no Dutrinha

O Dutrinha sempre foi palco de muitas brigas
Dom Bosco e Comercial, de Campo Grande (hoje capital de Mato Grosso do  Sul), iam disputar mais um jogo oficial em 1967. Dutrinha lotado, como sempre acontecia nos confrontos entre os dois tradicionais rivais do norte e do sul do gigantesco Mato Grosso ainda indiviso.

Apesar da importância da partida e da rivalidade entre Dom Bosco e Comercial, policiamento no estádio só o do Batalhão de Caçadores (16º BC), formado à última hora, com soldados à paisana, “pegos a laço”, que tinham ido ao Dutrinha para ver o jogo e não para trabalhar...

Mas quem teria coragem de desafiar a ordem do coronel do Exército Hélio de Jesus da Fonseca, presidente da então Federação Mato-grossense de Desportos, e não integrar o pelotão que estava sendo formado no estádio para dar segurança ao espetáculo?

Até porque, se não bastasse à ordem do oficial de alta patente, quem ia apitar o jogo era o sargento, também do Exército, Osmar Marques, que precisava mesmo de proteção naqueles tempos de muita pancadaria nos campos de futebol de Mato Grosso...

Jogo muito pegado, disputado com muita empolgação pelos dois times. Lá pelas tantas, o zagueiro Aderbal, do Comercial, deu uma entrada mais violenta em um jogador do Dom Bosco e o sargento-juiz não teve dúvidas: expulsou o indisciplinado de campo...

Aderbal não se conformou com a decisão do juiz, aproximou-se dele e deu um violento soco no nariz de Osmar Marques, provocando a fratura do nasal do árbitro e, consequentemente, abundante sangramento. Começou então uma pancadaria generalizada entre os jogadores e os reservas dos dois clubes.

A patrulha do Exército entrou em campo para proteger o árbitro e depois de muito custo conseguiu contornar a situação. Mas os defensores do Comercial queriam continuar o tumulto, criando uma confusão atrás da outra. Socos, chutes, empurrões, xingamentos, corriam por todos os lados dentro do campo...



sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Cancelada a confraternização da velha guarda do futebol cuiabano

A velha guarda fica de novo  sem a festa 
 Mais uma vez, a Confraternização dos Ex-Atletas, Dirigentes e Comunicadores do Futebol Cuiabano, tradicionalmente realizada há mais de uma década no dia 15 de novembro, vai passar de novo em branco este ano, a exemplo do que aconteceu em 2016. Motivo: o principal organizador da confraternização da velha guarda do futebol cuiabano, Totó de Arruda, ex-jogador e ex-presidente do Dom Bosco, teve que ser submetido às pressas a uma cirurgia cardíaca em São Paulo e vai ter que ficar em repouso durante três meses.

O local da confraternização já estava definido – seria de novo na Associação Atlética Banco do Brasil – o churrasqueiro contratado, os convites impressos para ser distribuídos. Mas aí Totó teve que fazer um risco cirúrgico para ser operado de uma hérnia inguinal e os exames revelaram que ele estava com três artérias praticamente entupidas e tinha que ser submetido urgentemente a uma cirurgia para desobstruí-las. O procedimento cirúrgico já foi feito com sucesso, ficando a remoção da hérnia inguinal para depois da sua completa recuperação.

A confraternização do futebol da velha guarda cuiabana vinha sendo realizada sucessivamente há mais de dez anos, até que em 2011, o então vice-governador Chico Daltro, empolgado com o sucesso da festa, decidiu que o governo estadual passaria a bancar o evento. E bancou mesmo, mas apenas durante dois anos, descaracterizando a festa do futebol, pois inclusive passou a homenagear, à custa do dinheiro público, pessoas que nada tinham a ver com os esportes mato-grossenses.

   

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Ameaçado por se recusar a participar de congá, Ruiter acabou como herói...

Ilustração do Google
-- Você vai cortar a nossa corrente, Ruiter! E se a gente não ganhar, vamos jogar a torcida contra você. Vamos, sim!...

Essa ameaça passou a ser feita pelos jogadores mixtenses, quando ficaram sabendo que Ruiter não iria participar de um “trabalho de descarrego” lá pelas bandas da Salgadeira, recorrendo à ajuda de forças do além para garantir um resultado positivo dentro do campo naquele final de semana.

O jogo era contra o Operário Várzea-grandense pelo Campeonato Estadual de 1971 e apesar de o Mixto contar com um time poderoso, integrado por craques do nível técnico de Ruiter, Wilson, Arnô, Valtinho, Rômulo, Remo, Darci Piquira, Felinto e Felizardo (recentemente falecido), o treinador Roberto França  não queria correr riscos de sofrer uma derrota.

Para França, que estava se aventurando na carreira de treinador de futebol, depois de uma rápida passagem pelo Palmeirinhas, a vitória sobre o Operário seria muito significativa. Por isso, ele não vacilou em levar a rapaziada para um trabalho especial de macumbaria. 

Lito, que jogou muitos anos no Mixto, lembra que nos velhos tempos do futebol da fase amadorista e mesmo com o advento do profissionalismo, havia uma verdadeira guerra entre pais-de-santo dos terreiros e tendas que se espalhavam por Cuiabá e Várzea Grande, principalmente nas noites de sextas-feiras, quando espíritos, inclusive das trevas, baixavam nos centros de macumba para atender pedidos dos congueiros para interferirem em resultados nos jogos de futebol.

Dom Bosco, Mixto, Palmeirinhas, Operário, União, de Rondonópolis, disputavam, muita
s vezes a peso de ouro, os serviços dos principais macumbeiros da região, conforme registros de domínio público. Dependendo dos exus e outras divindades que baixavam nos centros de umbanda, os clubes tinham que investir pesado em cachaças e charutos de alta qualidade para atender as exigências das divindades...

O Operário, por exemplo, gastava muito dinheiro com as sucessivas vindas a Cuiabá do pai-de-santo Carrapato para realizar “trabalhos” em favor do tricolor. O eterno dirigente operariano Rubens dos Santos não economizava dinheiro para trazer Carrapato de Corumbá para "proteger" seu clube nos jogos mais importantes.

Com o passar dos anos, essa tradição de clubes de futebol de todos os níveis recorrerem aos terreiros para pedir ajuda de espíritos para conseguirem resultados positivos foi desaparecendo. Contribuiu para isso a crise econômica que chegou também em cheio aos terreiros de macumba, conforme se pode constatar nos “despachos” que ainda são feitos nas noites de sextas-feiras em algumas encruzilhadas da periferia da Grande Cuiabá...

Segundo alguns jogadores do Mixto que participaram do “despacho” nas imediações da famosa Salgadeira, realizado numa sexta-feira à noite, muitos deles tiveram sérios problemas estomacais depois do “trabalho” e andaram perto de nem poder entrar em campo no grande clássico...

O esperado clássico foi disputado no Dutrinha, como sempre, lotado. O Mixto ganhou o jogo pela contagem mínima, gol de Ruiter, que de ameaçado e até xingado pelos companheiros por se negar a participar do “descarrego”, virou o grande herói do triunfo alvinegro...     
  

            

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Treinador do Luverdense foi demitido por causa de uma “peneirada”...

Orlando Antunes
Em países onde a sobrevivência de treinadores de futebol de todos os níveis depende exclusivamente de resultados positivos – como é o caso do Brasil – esses profissionais também perdem o emprego pelos mais bizarros motivos. E em Mato Grosso, onde o profissionalismo foi implantado em 1967, algumas demissões de técnicos foram tão inusitadas que passaram a fazer parte do folclore do futebol estadual.

1971: o Palmeiras, do Porto, jogava em Campo Grande, contra o Comercial, pelo Campeonato Estadual. Terminado o primeiro tempo, o treinador Aírton Moreira, o Aírton Vaca Brava, ficou no campo dando entrevistas. Ao descer para o vestiário, encontrou a porta fechada. E a porta só foi aberta para o presidente Délio Oliveira anunciar que Vaca Brava estava demitido e o novo técnico alviverde a partir daquele momento era o argentino Juan Rollon...

1976: o técnico Roberto de Jesus César, o Careca, estava fazendo a preleção para o jogo que o Mixto ia disputar dali a pouco contra o Operário na decisão da vaga para o Campeonato Nacional daquele, quando o presidente mixtense Lourival Fontes chegou ao Hotel Mato Grosso. O massagista Benedito do Nascimento Lisboa não o deixou entrar na sala onde Careca conversava com a rapaziada. Careca foi demitido na hora por Fonbtes. Mas com a histórica vitória do Mixto por 3x2 a demissão deu em nada...

Agora, ser demitido por causa de uma “peneirada” é um fato inédito no futebol mato-grossense. Mas foi o que aconteceu, com uma figura muito conhecida nos meios esportivos, por causa de causa de sua longa carreira como árbitro de futebol no Paraná e em Mato Grosso e ultimamente como jornalista esportivo: Orlando Antunes.

No linguajar esportivo, “peneirada” é simplesmente treinos ou competições relâmpagos que clubes organizam periodicamente para que seus “olheiros” e até diretores possam avaliar as condições técnicas de garotos e até rapazes de idades mais avançadas que sonham em se tornarem “astros” da bola. Muitas vezes, seus pais sonham mais do que eles e bancam suas despesas quando ficam sabendo que clubes famosos vão realizar “peneiradas”.

O lateral direito Cafu, por exemplo, era participante renitente de “peneiradas”. Era reprovada em uma, mas na próxima de que ficava sabendo lá estava ele brigando para conquistar seu espaço no futebol. Sua insistência acabou dando certo, com Cafu se tornando jogador de bola. Tanto é que disputou várias Copas do Mundo como titular da Seleção Brasileira.

Em 2004, Orlando Antunes foi contratado para trabalhar como supervisor do Luverdense Esporte Clube, de Lucas do Rio Verde. No dia que ele se apresentou para iniciar seu trabalho, o treinador Diniz, que estava tentando montar o time que hoje disputa a Série B do Campeonato Brasileiro e é o xodó dos luverdenses, pediu as contas e voltou para Sorriso. O então e até hoje eterno presidente do Luverdense, Helmute Lawisch, não pensou duas vezes e virando-se para Orlando Antunes, disse-lhe no seu linguajar gauchesco: “Tu é o novo treinador a partir de agora...”

Escudado na sua longa vivência no mundo da bola como árbitro e os conhecimentos que havia acumulado em um curso de treinador de futebol, Orlando Antunes topou o novo desafio. Mas como montar um time de futebol em uma cidade que nem campos possuia? A moçada luverdense preferia o futebol soçayte e o futebol de salão, atividades esportivas muito prestigiadas pelas grandes firmas do município, e que lhes proporcionavam bons empregos...   

A decisão do hoje poderoso LEC era montar um time para disputar a principal divisão do futebol mato-grossense naquele ano. Uma determinação do presidente Helmute a Orlando Antunes: aproveitar o máximo de “pratas da casa” na equipe profissional. As “peneiradas” iniciadas por Diniz para formar a base tiveram sequência sob o comando de Orlando Antunes.

Depois de muitos treinos com a participação de quase 300 candidatos a boleiros nos campinhos de Lucas do Rio Verde, inclusive à noite, porque muitos deles, trabalhava durante o dia, o técnico marcou um coletivo para o local onde seria construído o atual Estádio Passo das Emas e que tinha dimensões oficiais. De tudo o que viu, apenas uns sete garotos de 17 e 18 anos chamaram a atenção de Orlando Antunes. Entre eles, Dudé, jogador versátil e único profissional do grupinho.

Antes do coletivo final, Helmute teve que fazer uma viagem de emergência, mas deu uma ordem expressa a Orlando Antunes: “Não dispense ninguém antes de eu voltar da viagem!...”

Terminado o coletivo, Orlando Antunes colocou os jogadores numa roda no centro do campo, pegou uma prancheta para nominar quem deveria se apresentar na segunda-feira. Entre os jogadores adultos que vinham participando das “peneiradas” não sobrou ninguém. “Minto. Sobrou Dudé...” – recorda Orlando Antunes.


Na segunda-feira bem cedo, já em Lucas do Rio Verde, Helmute Lawisch convocou Orlando Antunes para uma conversa e foi curto e grosso: “Tu não é mais treinador do time. Trocastes os pés pelas mãos e não me obedecestes. Estás fora e vai continuar somente como supervisor...”

Para Orlando Antunes deve ter sido a primeira vez que um treinador perdeu o cargo por causa de uma “peneirada”...    

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Contra o racismo, Batista Jaudy acabou, na bala, com carnaval do Dom Bosco...

Pinah com Jaudy na inauguração da sede
 Vestido como um autêntico sheik (líder muçulmano que se torna chefe de um país, uma região, uma cidade...), inclusive com direito a um serviçal negro para abaná-lo com um grande leque durante a festa, como era costume no Oriente Médio e na Ásia – uma tarefa que cabia a eunucos (escravos que eram castrados para trabalhar nos haréns) para seus donos não correrem riscos de ser traídos...

Foi com a originalíssima fantasia que o carnavalesco João Batista Jaudy chegou à principal portaria do Clube Esportivo Dom Bosco, no carnaval de 1973, bem no clima da festa momesca... já curtindo o sucesso que certamente ia fazer naquela noite!

Mas aí surgiu um probleminha que terminou virando um problemão e acabou na Polícia: a pessoa que Batista Jaudy havia contratado para abaná-lo durante a festa, como parte de sua fantasia, não fazia parte do quadro de sócios do Dom Bosco e não podia entrar. De jeito nenhum!

Batista Jaudy interpretou a decisão dos porteiros e de diretores do clube como uma inaceitável demonstração de racismo e armou a maior confusão. Depois de muito bate-boca, xingamentos, palavrões, empurrões, quedas, Jaudy deixou a sede do Morro da Colina, acompanhado do seu humilhado “escravo”, mas antes advertiu: “Me aguardem! Eu já volto...!”

Diretor do azulão, naquela noite Jorge Fava estava na portaria lateral do Dom Bosco em companhia da esposa Catharina da Costa e Silva Fava, grávida do primeiro filho do casal, Mário Giórgio Fava, hoje com 44 anos, quando de repente surge Batista Jaudy com um revólver em cada uma das mãos.

– Eu só tive tempo de dizer para mulher vamos nos esconder numa dessas salas que vai ter tiroteio aqui. E teve mesmo. Foi um esparrama geral no clube, que não teve nem carnaval naquela noite – lembra Fava.

E nem podia ter carnaval mesmo, pois muita gente foi levada à Polícia para prestar depoimentos sobre a confusão e os tiros na sede dombosquina. Mas a confusão causada por Jaudy acabou sem maiores consequências, com algumas pessoas envolvidas no tumulto fazendo as pazes e inclusive pedindo desculpas umas as outras. Entre elas, Batista Jaudy, naturalmente, o principal pivô do bafafá.

Para Fava, Jaudy devia estar muito alterado para acusar o Dom Bosco de racismo no episódio que teve grande repercussão na imprensa. “Afinal – lembra ele – o próprio presidente do Dom Bosco, José de Carvalho, era preto...”    
     
O personagem que levou Jaudy a se envolver naquele rolo, ao aceitar trabalhar como “escravo” do carnavalesco na festa dombosquina, era um simples lavador de carros e que exercia sua atividade nas praças Alencastro e da República. Seu nome: Clemente, que com o tempo virou Quelemente e finalmente Quelé, que muita gente passou a confundir com Pelé, por causa de sua cor e da semelhança do apelido com o famoso craque do Santos FC...

Trabalhando como engraxate há 57 anos no centro de Cuiabá, Aquilino Alves da Silva afirma que Quelemente era “gente muito boa”. E era louco por circo. Como nem sempre tinha dinheiro para pagar o ingresso nos circos que apareciam na cidade, ele ficava em pontos estratégicos nos lugares onde as pessoas tinham que passar até que alguém do circo mandasse-o entrar para deixar o acesso livre.

Quelé bebia muito. E faleceu faz muito tempo – segundo Aquilino. Dizem que certa noite, Quelé dormia em um banco da Praça Alencastro, quando rolou e caiu ao chão, batendo violentamente a cabeça no cimento. Na queda, sofreu fratura do crânio e morreu...

Bom de bola, Batista Jaudy foi revelado para o futebol quando estudava no Colégio Salesiano São Gonçalo. No futebol cuiabano jogou pelo Atlético Mato-grossense, Dom Bosco e Americano. Atuou também no Operário, de Campo Grande, quando serviu o Exército, em 1957, e ainda na Associação Recreativa do Catete e na seleção universitária fluminense, quando morou no Rio de Janeiro, entre 1957 e 1960.

No tempo em que morou no Rio, fez testes no América, treinado por Martim Francisco, e no Fluminense, cujo técnico era Zezé Moreira. Fez testes por fazer e por insistência de amigos, pois seu foco era mesmo os estudos. E mesmo morando no Rio, continuou jogando no Dom Bosco. Quando tinha jogo oficial, nos finais de semana Jaudy pegava um avião, vinha para Cuiabá, jogava e retornava no primeiro voo para o Rio.
     
Durante o tempo em que morou no Rio de Janeiro, o já falecido Batista Jaudy, virou um grande carnavalesco. Tanto é que ao retornar a Cuiabá após concluir o curso de Farmacologia e se formar também em Educação Física, em Lins-SP, ele tratou de criar a Banda U, embrião que se transformou anos mais tarde no Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Independente Universitária, que ele presidiu durante cinco anos, passando depois o comando para o professor Abílio Camilo Fernandes e Jaime Okamura.

A inauguração da sede da escola, em 1984, contou com a presença da carnavalesca carioca Pinah, que voltou a Cuiabá depois para desfilar como o principal destaque da escola na Avenida Mato Grosso com o enredo “O minhocão do Pari” e que levou a multidão ao delírio. A música que embalou o desfile do GRESIU e que a multidão em êxtase cantou na avenida foi de autoria de Neguinho da Beija-Flor, que mandou um seu irmão a Cuiabá para pesquisar a lenda do minhocão do Pari, na própria Barra do Pari, para compor a letra do samba-enredo.

À época do episódio na sede do Dom Bosco, o conceituado professor João Batista Jaudy, que na sua passagem pela UFMT ajudou a criar o curso de Educação Física, que em setembro deste ano completou 41 anos, foi muito censurado pela sociedade, mas recebeu todo apoio de familiares e de muitos amigos também.

– A gente não podia esperar outra atitude dele diante daquela posição racista assumida pelo Dom Bosco – afirma Olga Jaudy, irmã de Batista Jaudy.    

 

                              

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Pai-de-santo previu goleada do Mixto... que perdeu de 4x0 para o Dom Bosco

Arquivo Google 
 Meio sem rumos, pois não conheciam muito bem a cidade, lá foram Antero Paes de Barros, diretor do Departamento de Futebol Profissional do Mixto; Roberto França, treinador; Benedito Lisboa do Nascimento, mordomo, para Várzea Grande, na tentativa de localizar um centro espírita, em busca de uma ajudazinha do além para o alvinegro, que no final de semana teria um difícil compromisso contra o Dom Bosco e precisava vencer de qualquer jeito...

Garante Nelson Tomaz, o Nelsinho’s cabeleireiro dos mixtenses, que o jogo foi pelo Campeonato Estadual de 1971, quando Roberto França, que tinha iniciado a carreira de treinador no Palmeirinhas, do Porto, teve uma curta passagem pelo Mixto. A permanência de França à frente do Mixto dependeria de uma vitória contra o Dom Bosco.

Nos meios esportivos, naqueles tempos em que se acreditava muito na influência da macumba no futebol, dizia-se que o espírito que o pai-de-santo várzea-grandense incorporava era muito poderoso no plano espiritual: ‘trabalho” feito sob sua proteção, não tinha quem desmanchava ou atrapalhava...

Definidos os detalhes que levaram o trio mixtense a buscar ajuda no centro espírita, o pai-de-santo começou a fazer suas mandingas. A certa altura, ele colocou um caldeirão com água em um fogareiro e dentro da vasilha um copo de vidro...

Quando a água iniciou a fervura, o copo começou a dar estalos, chamando a atenção dos mixtenses. Foram um, dois, três estalos, a curtos intervalos. Quando o copo deu um estalo mais forte, o pai-de-santo anunciou o fim do “trabalho”. E vaticinou: “Foram quatro estalos, o Mixto vai ganhar o jogo por quatro a zero...”

Antero, França e Lisboa voltaram para Cuiabá felizes da vida! Afinal, ganhar de  4x0 do Dom  Bosco era um grande feito.

Chegou o dia do esperado clássico, com o Dutrinha lotado. O pai-de-santo acertou em cheio no placar: 4x0... só que para o Dom Bosco!   

        

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Ruiter não acreditava em macumba e nem ficava em concentração

Ruiter: nem macumba, nem concentração.
(foto de Tony Ribeiro)
Duas coisas que um dos maiores craques do futebol de Mato Grosso – o lendário Ruiter – nunca fez ao longo de sua carreira, defendendo as cores do Mixto, do Operário e do União, de Rondonópolis: participar de “trabalhos” de macumba e ficar concentrado às vésperas de jogos, por mais importantes que fossem. A não ser quando o time em que jogava viajava e aí ele tinha que dormir no hotel onde a delegação ficava hospedada.

No caso da macumba, Ruiter nunca acreditou que forças do além pudessem interferir no resultado de um jogo de futebol. Mas que muita gente acredita, não resta dúvida, e não dispensa até hoje uma macumbinha.

O já falecido cronista esportivo João Saldanha, que foi quem montou a seleção brasileira que ganhou o Mundial de Futebol no México em 1970, dizia que se macumba ganhasse jogo, os campeonatos baianos terminariam empatados...

Sobre a concentração de jogadores às vésperas de jogos, Ruiter afirma que com ele não funcionava. E era até contraproducente, porque ele não conseguia dormir e por isso nem sempre jogava bem no dia seguinte.

“Não era frescura minha, não! É que nas concentrações os jogadores se recolhem aos quartos na hora determinada, mas geralmente ficam conversando alto até mais tarde, o que atrapalhava o meu sono...” – afirma Ruiter.

A propósito de sua resistência a concentrações, Ruiter lembra um episódio envolvendo ele e o treinador Sílvio Berto, às vésperas de um jogo entre Mixto e Operário Várzea-grandense pelo Campeonato Estadual de 1969, no Dutrinha. Recém chegado ao alvinegro, Berto não havia sido cientificado ainda que Ruiter era dispensado de ficar concentrado.

Na hora do pessoal se recolher, numa chácara no Coxipó da Ponte, Ruiter foi dizer ao treinador que estava indo para sua casa para dormir. Berto deu uma dura em Ruiter:

“Comigo todo mundo é igual...”, deixando claro que não ia dispensá-lo da concentração. O jogador tentou ponderar, justificar-se, mas Berto não estava a fim de conversar.

Nisso chegou ao local da concentração o presidente do Mixto, Avelino Hugueney Siqueira, o Xomaninho, que tinha ido averiguar se estava tudo bem com a moçada para o jogo.

 Ao tomar conhecimento do clima tenso entre Ruiter e Berto, Xomaninho ainda tentou contornar a situação, mas o técnico foi incisivo: “O senhor vai ter que decidir entre ele e eu...”

– Está decidido: o Mixto precisa do Ruiter e fica com ele. O seu contrato está rescindido... – disse Xomaninho a Berto.

Ruiter se lembra que o Mixto venceu o Operário por 1x0, com o Dutrinha, como sempre, lotado. E o gol foi de autoria de Ruiter.


Passada a raiva do entrevero entre os dois, Ruiter e Silvio Berto tornaram-se grandes amigos...   

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

‘Não arrota mais’

Faz muito tempo, mas muito tempo mesmo, que aportou em Ron­donópolis um treinador de nome José Medeiros, pedindo em­prego no União. Na bagagem, uma carta de apresentação de Nélson Medrado Dias, homem forte da então Confederação Brasileira de Desportos.
De origem nordestina e bom falante, José Medeiros foi contratado graças à influência de Medrado Dias. Emprego garantido, o treinador tratou logo de trazer sua família para Rondonópolis, a fim de trabalhar com mais tranquilidade. O treinador passou a residir com a família no Hotel Lusitano, onde os jogadores que moravam na “república” do clube faziam refeições.
O União perdia todos os jogos que disputava. Mas mesmo com a sucessão de derrotas, treinar que era bom, para o time ganhar entrosamento e condicionamento físico, nada! Certa tarde, o presidente Lamartine da Nóbrega foi procurar Medeiros para saber por que os jogadores estavam naquela mole­za do come-bebe-dorme, a velha cbd.
O técnico colorado estava na maior morgação na cama. E pela forma como recebeu Lamartine parece que não estava a fim de muita conversa na hora de jiboiar.
– Com esse sol não dá, né, presidente!... – justificou Medeiros com cara de sono.
Algum tempo depois de Medeiros assumir a direção técnica, o presi­- dente Lamartine recebeu do hotel a conta relativa às refeições dos jogadores e do treinador e seus familiares. E quase caiu duro com a quantidade de guaraná que havia sido servido durante o almoço e o jantar para o pessoal do União e de Medeiros.
Lamartine nem esperou o primeiro treino da semana: foi procurar Medeiros no hotel para saber por que os jogadores estavam consumindo tanto refrigerante na hora de comer.
– É para arrotar e ajudar na digestão... – respondeu Medeiros na maior tranquilidade...
– Pois de hoje em diante ninguém mais arrota aqui – reagiu Lamarti­ne, com indignação, enquanto determinava à direção do hotel que não servisse guaraná para mais ninguém às refeições. Muito menos às custas do União.
Mesmo com toda a incompetência que Medeiros demonstrava como treinador, o presidente Lamartine da Nóbrega ia fingindo que estava tudo bem, pois não queria demiti-lo para não magoar Medrado Dias. Entretanto, chegou um dia que a diretoria do União não aguentou mais.
O União jogava com o Mixto no Dutrinha e surpreendentemente dava um show de bola no alvinegro. Na maior moleza, o colorado virou o primeiro tempo ganhando de 3x0 e com jeito de quem ia dobrar o placar na segunda etapa.
Só que no intervalo do jogo, ninguém entendeu por que, Medeiros fez três substituições de uma vez na equipe, colocando em campo três reservas. Resultado: o União se encolheu, permitindo uma incrível reação do Mixto, que acabou virando o placar para 4x3.
Encerrada a partida, Lamartine da Nóbrega deu uma violenta prensa em Medeiros, que não confessou que tinha vendido o jogo para o Mixto, mas admitiu que estava precisando de dinheiro para socorrer pessoas de sua famí­lia no Nordeste. Diante da evidência da sacanagem do técnico para favorecer o Mixto, aquele jogo marcou a despedida de Medeiros do União.
Muito tempo depois, Lamartine da Nóbrega recebeu uma chorosa carta de Medeiros pedindo para voltar. Na carta ele dizia que sua família es­tava passando necessidades, pois ele não conseguia emprego como técnico de futebol. Nem em outra atividade. A resposta do União foi um sonoro não!...

(Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino).


terça-feira, 12 de setembro de 2017

Único torcedor que invadiu o Verdão pelo fosso, Zezão Operariano não bateu no juiz e ainda apanhou...

Zezao com seu filho Éder: operarianos de coração
Com o Verdão cheio até as tampas, com mais de 40 mil torcedores, Mixto e Operário Várzea-grandense disputavam uma partida muito importante em 1982: além da briga pela liderança do Campeonato Mato-grossense, estava em jogo também a cobiçada vaga para o Campeonato Brasileiro de 1983. Vencedor da primeira partida da série “melhor de três pontos”, o alvinegro precisava apenas de um empate para ficar com a vaga.

O “Chicote da Fronteira” virou o primeiro tempo com a vantagem de 2x1 no placar. Com o time jogando bem, muitos torcedores operarianos já estavam até festejando a conquista da sonhada vaga, tomando todas as espumosas a que tinham direito... 

Veio o segundo tempo e não demorou o árbitro, que não era de Mato Grosso, mas cujo nome ninguém se lembra, marcou um pênalti contra o tricolor. Diante das reações dos operarianos contra a marcação da penalidade, o campo de jogo Verdão virou uma grande confusão, com ameaças de agressões, entrada em campo de dirigentes, jogadores reservas, autoridades, policiais, etc.

Foi aí que o fanático torcedor e integrante da charanga tricolor José Maria de Campos, o Zezão Operariano, com a “caveira” cheia de goró, julgou que poderia, com umas boas porradas no juiz, convencê-lo a reconsiderar a decisão. E não pensou duas vezes: foi até da área do lado leste do demolido Verdão, onde existia uma rampa que permitia o acesso ao campo, de veículos como ambulâncias, viaturas da Polícia e Bombeiros, e pulou de uma altura de quatro metros, da arquibancada descoberta, para o fosso.

Levou azar: ao atingir ao piso do fosso, que tornava o campo de jogo do Verdão imune a invasões, sofreu uma torção no tornozelo direito. Mas, mesmo andando com dificuldades e sofrendo muito com a dor, Zezão chegou ao campo, e quando se aproximou do juiz, que o vira caminhando em sua direção, o árbitro se virou rapidamente e lhe deu um soco bem no meio da cara...

Tanto esforço e sacrifício de Zezão Operariano não surtiram nenhum efeito: apesar de toda a confusão, o juiz confirmou o pênalti, que o Mixto converteu em gol e acabou marcando mais um, transformando a derrota parcial de 2x1 numa dura vitória por 3x2.

Para Zezão Operariano restou um consolo: ele virou notícia na imprensa nacional por ter sido o único torcedor a conseguir a façanha de invadir o Verdão, até então considerado absolutamente inviolável, por causa da segurança do fosso que separava os torcedores de quem estava no campo de jogo.

Operariano desde que seu pai, José Henrique de Campos, o Zelão, começou a levá-lo, ainda criança, para ver jogos do tricolor, Zezão Operariano, é mais um torcedor decepcionado com o atual nível do futebol mato-grossense. Tanto é que raramente aparece na Arena Pantanal para ver o seu tricolor jogar.

Aos 57 anos, ele recorda com saudades de alguns craques consagrados que viveram na “República” do Operário Várzea-grandense, na Avenida Couto Magalhães, entre 1972/76: Bife, Gaguinho, Alair, Joel Diamantino, César Diabo Louro e Zé Pulula. Lembra também que nesse período de cinco anos, sua família nunca viu um níquel do aluguel do imóvel ao tricolor...