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sábado, 28 de setembro de 2019

O dia em que a terra tremeu no Coxipó com uma bolada do zagueiro Sebastião no gol do Esperança


Decorrido mais de meio século, o ex-zagueiro Sebastião, que defendia o Internacional, do bairro Areão, não se lembra se foi em 1966 ou 1967, que ele acertou um chute com tanta violência no travessão do Esperança, na cobrança de uma falta, que a torcida do seu time que estava postada atrás da meta do adversário, fazendo uma guerrinha de nervos contra o goleiro, saiu do local em disparada, achando que a terra estava tremendo...

Se a terra tremeu mesmo -- como testemunharam muitos torcedores presentes ao clássico, no campo em que o jogo era disputado naquela manhã chuvosa, o do Coxipó Esporte Clube, no Pico do Amor, ou não -- o fato é que a partir daquele dia, o zagueiro do Internacional virou Sebastião Treme-Terra, apelido que ele incorporou ao nome e que inclusive impulsionou sua carreira no futebol profissional e na política como vereador e prefeito de Chapada dos Guimarães...

Naqueles bons tempos do futebol amador, a Liga Municipal de Cuiabá organizava monumentais campeonatos de bairros, um dos quais servia para definir o campeão e o vice que subiam para a 1ª Divisão, com direito de participar no ano seguinte do certame da categoria promovido pela então Federação Mato-grossense de Desportos e cujas principais atrações eram sempre Dom Bosco, Mixto, Palmeirinhas e Operário Várzea-grandense. Os dois últimos classificados do certame eram rebaixados.

O zagueiro Sebastião, que jogou também no Mixto, como profissional, tinha um chute tão forte na perna direita que todas as faltas de longa distância quem batia era ele. E geralmente as faltas transformavam-se em tiros livres diretos, pois com medo da potência do seu chute, ninguém queria saber de ficar na barreira. O goleiro do time adversário que se virasse sozinho...

A família do zagueirão sempre teve forte ligação com o esporte, especialmente ao futebol. Seu irmão Silvino Moreira da Silva foi presidente do Mixto Esporte Clube durante muitos anos. Foi sob a sua presidência que o Mixto conquistou o quadrangular para comemorar os 250 anos de Cuiabá. As grandes atrações do torneio, disputado no Dutrinha, foram o Santos, sem Pelé, e o América, do Rio de Janeiro. O Dom Bosco completou o quarteto.

Seguindo os passos de seu irmão Silvino Moreira, que foi prefeito de Chapada dos Guimarães durante dez anos, Sebastião Treme-Terra também se enveredou pela política, aproveitando a popularidade que o futebol lhe trouxe. Ele foi vereador e se elegeu também prefeito do município. Mas não foi bem sucedido. Denunciado ao Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso pelo seu adversário, Pedro Fonseca, por abuso de poder econômico, Treme-Terra foi cassado pelo TRE e quase acabou na cadeia...

    

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Carlos Pedra agrediu companheiro que quebrou seringa de vidro com estimulante no vestiário...


Já estava passando da hora do Operário Várzea-grandense entrar em campo no Dutrinha para enfrentar o Mixto, pelo Campeonato Mato-grossense de 1973 e o goleiro Carlos Pedra, do tricolor, enrolado e puto da vida porque não conseguia encontrar alguém no vestiário para lhe aplicar uma vitamina na veia de um dos braços  uma dose do estimulante glucoenergan, cujo uso entre os boleiros era muito comum naqueles velhos tempos do futebol romântico de Mato Grosso.

De repente, surge perto de Carlos Pedra o atacante Zé Pulula, que imediatamente foi intimado pelo goleiro para lhe aplicar injeção.

  Mas eu não entendo disso, companheiro! – justificou Zé Pulula para se recusar a aplicar a injeção em Carlos Pedra.

  É simples Pulula. Eu aperto meu braço, até surgir uma veia e aí você enfia a agulha nela e injeta o líquido – afirmou Carlos Pedra, enquanto colocava um pé sobre um vaso do banheiro para apoiar o braço que seria espetado.

Porém, aconteceu uma tragédia. Nervoso, Pulula foi cumprindo direitinho às instruções de Carlos Pedra, mas na hora de injetar o líquido no braço do goleiro, ele deixou a seringa cair no piso do vestiário e aí foi caco de vidro e glucoenergan para todos os lados...

Irritado, Carlos Pedra partiu para cima de Zé Pulula, muito puto da vida com a sua trapalhada. Depois de algum tempo, Carlos Pedra foi para o campo e sem o efeito do estimulante, parecia mais uma barata tonta no gol operariano. Inclusive levou dois gols nos 15 minutos iniciais da partida.

Notando que alguma coisa anormal estava se passando com Carlos Pedra, os operarianos começaram a pedir para o goleiro se jogar no chão, simular uma contusão. Numa das quedas do goleiro, os jogadores fizeram uma rodinha e alguém lhe aplicou uma injeção da milagrosa vitamina, sem que a torcida e a arbitragem percebessem o que estava acontecendo...

Daí em adiante, Carlos Pedra não deixou mais passar nem pensamento no seu gol, com o Mixto conformando-se com a magra vitória por 2x1, quando tudo levava a crer que o alvinegro ia ganhar o clássico de goleada... – recorda Zé Pulula.
          

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Operarianos disputavam “rachas” nos fins de tarde para a cerveja descer melhor...


Em quase todos os fins de tarde, ex-jogadores do Clube Esportivo Operário Várzea-grandense (CEOV) se reuniam perto da “república” do clube na Avenida Couto Magalhães  Bife, Júlio César, Caruso, Laércio, Nasser, entre outros... – para disputar animados “rachas” em um campo de futebol numa área pertencente ao velho Ary, fanático torcedor do tricolor e dono de uma distribuidora de bebidas na região. Os “rachas” não eram para manter a forma física coisa alguma, mas para deixar a garganta seca para a cerveja descer melhor depois...

Seu Ary gostava tanto do Operário que nos velhos tempos, quando a turminha acima citada ainda defendia o tricolor, dependendo do jogo, ele franqueava o consumo de cerveja para ser quitado depois do pagamento do “bicho” no domingo. Mas às vezes, o fanático torcedor operariano tinha umas rações que deixavam encabulados os devedores...

Em 1987, por exemplo, o Operário jogava com o Barra do Garças no Verdão. A turma consumiu cerveja durante a semana inteira, no fiado, porque o “bicho” era certo. Mas deu uma zebra e o time visitante saiu na frente no placar. Ary não vacilou: aproximou-se do parapeito das arquibancadas e passou a xingar o lateral direito Caruso e o ponteiro direito Nasser. “Esse lado direito do Operário só quer saber de beber, mas bola que é bom não joga nada!”  “Não vou vender mais fiado pra vocês”, “Caloteiros...” e outros adjetivos impublicáveis.

A certa altura do jogo, Nasser, irritado com as ofensas públicas de Ary, berrou para quem quisesse ouvir. “Agora é que eu não vou pagar mesmo a porra dessa conta...”

Para felicidade geral, o Operário virou o placar e Ary continuou gritando com os jogadores... mas para dizer que o caderninho com anotações dos fiados dos devedores estava liberado de novo...

Em um desses “rachas” de fim de tarde, na hora de escolher os dois times, o de Bife ficou com um jogador a menos. Bife convidou, então, um garoto que estava por ali para completar sua equipe. Era praxe que quem perdia o jogo pagava a cervejada depois...

Nos minutos finais do “pega", com o time de Bife em desvantagem no placar, a bola caiu nos pés do menino, que imediatamente lançou o grande artilheiro. Bife correu como um desesperado, mas não conseguiu alcançá-la.

Fim do “racha”, Bife foi dar uma dura no menino, dizendo-lhe que ele devia fazer o lançamento pelo alto para ele matar a bola no peito e fazer o gol do empate. O garoto encarou Bife e retrucou: “Meu pai me disse que quando o senhor era Bife, era craque e jogava muita bola. Mas agora é um ovo. Ainda que fosse ovo caipira... mas é ovo de granja...”            

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Juan Rolon pagou show de Os Menudos em Cuiabá com uma montanha de cédulas de Cr$ 1,00 de pouco valor...


Promover de vez em quando um grande show com artistas de renome no cenário nacional e internacional – esta foi a brilhante ideia que o presidente do Palmeirinhas, do Porto, Juan Rolon, teve para bancar a folha de pagamento do clube no Campeonato Mato-grossense de 1984 e cuja figura de maior expressão do time era Mosca. E a mais cara também. Dizem – e o próprio jogador admite – que o salário de Mosca correspondia a mais da metade do que o alviverde gastava mensalmente com o restante do plantel.

De nacionalidade argentina, Juan Rolon chegou ao Brasil disposto a virar treinador de futebol. E sua primeira experiência na profissão, uma das mais bem remuneradas do futebol mundial, foi justamente no Palmeirinhas, de forma muito estranha, sacana mesmo! Muito amigo do eterno presidente do alviverde, Délio de Oliveira, Rolon passou muito tempo ligado ao tradicional clube do Porto, como dirigente e treinador. Aliás, os dois já subiram para o andar superior, Délio de Oliveira recentemente ...

Campeonato Estadual de 1971 do Mato Grosso ainda não dividido. O Palmeirinhas jogava com o Comercial, em Campo Grande. Jogo muito difícil para o alviverde, que ainda no primeiro tempo ficou com dez jogadores em campo, em virtude da expulsão de Totó. Intervalo da primeira para a segunda etapa: os times foram para os vestiários e o treinador alviverde, Aírton Vaca Braba, ficou no gramado dando entrevistas à imprensa.        

Quando Vaca Braba chegou ao vestiário encontrou a porta fechada. Ele forçou a porta, mas ela estava trancada por dentro. O treinador não entendeu patavina do que estava acontecendo, pois precisava passar orientações aos seus pupilos para o 2º tempo.  Vaca Braba só entendeu o que estava acontecendo, quando a porta se abriu e Délio de Oliveira, comunicou-lhe que ele estava demitido e que o time passaria a ser dirigido, a partir daquele instante, por Juan Rolon...

O primeiro show foi com o grupo de Porto Rico, Menudo, que fez grande sucesso no Brasil na década de 1980. Realizado no Dutrinha, o show levou ao estádio do centro da cidade milhares de adolescentes. Mas o sucesso de público não foi suficiente para apagar a má impressão que ficou entre Os Menudos de sua única passagem pela capital mato-grossense...

Acontece que na hora de pagar a rapaziada porto-riquenha, Juan Rolon, que era vendedor de figurinhas para álbuns, entregou ao conjunto muitos envelopes contendo milhares de cédulas de Cr$ 1,00 (cruzeiro) – a moeda da época e que vigorou de 1970 a 1986. Aquela montanha de cédulas de pouco valor exigiu do Menudo a perda de um tempão para contar a dinheirama e verificar se o monte de notas correspondia ao preço combinado pelo show...

Juan Rolon não se apertava na hora de mexer com dinheiro para defender o Palmeirinhas. Quando ele contratou Mosca em 1984, o clube não tinha dinheiro para pagar as luvas do jogador e Rolon deu-lhe um fuscão que estava em nome de Délio de Oliveira. O jogador pegou o carro, mas ficou apenas alguns minutos com o fuscão, que já estava penhorado pela Justiça para ser leiloado para pagar uma dívida do alviverde.

Mosca ficou apenas quatro meses no Palmeirinhas, por causa de uma contusão que o afastou dos campos por um longo tempo. Na hora de acertar a rescisão do contrato, como sempre, o clube não tinha dinheiro. Mas Rolon, que explorava um garimpo de ouro em Diamantino, entregou ao jogador, para quitar a dívida, alguns valiosos anéis. Naquele dia, Mosca chegou em sua casa falando grosso: “Não quero ouvir ninguém  falar em falta de anéis de ouro, por pelo menos uns quarenta anos, aqui em casa...”