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domingo, 25 de novembro de 2018

Orlando Antunes: 20 anos de arbitragem e muitas histórias de uma longa carreira esportiva


Quem quiser ouvir boas histórias, inclusive folclóricas, sobre futebol, arbitragem, rádio etc. é só procurar Orlando Antunes de Oliveira. São mais de quatro décadas de profunda ligação com o esporte, iniciada em 1974, quando se tornou árbitro profissional de futebol no Paraná, com passagens depois por Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Só de arbitragem são mais de duas décadas, inclusive mantendo-se como registrado na CBF por mais de 10 anos.

Depois de se afastar dos gramados como juiz, Orlando Antunes de Oliveira trabalhou também como supervisor de clubes de futebol e eventualmente como treinador, e de uns anos para cá tem se dedicado ao rádio e a sites, como cronista esportivo. Claro que com uma bagagem tão extensa na sua vida profissional, ele tem muitas histórias ligadas ao esporte para contar. (A seguir, publicamos três folclores de OAO, que embora não sejam especificamente do futebol mato-grossense, são interessantes realmente...) 

CARANGUEJOS INTERROMPEM JOGO
Orlando Antunes apitava em Paranaguá um jogo do Rio Branco, pelo Campeonato Paranaense da 2ª Divisão, em 1974 ou 1975, no Estádio “Nelson Medrado Dias”, conhecido também como “Estradinha” e cuja construção, numa área de manguezal, a beira mar, exigiu uma grande quantidade de aterro. Aliás, parte da população de Paranaguá não gostou da construção do estádio ali, porque reduziu a área de captura de caranguejos, que era o ganha-pão de muita gente...

De repente, naquela tarde ensolarada, a bola, quando chutada rasteira pelos jogadores, começou a ser, estranhamente, desviada do curso normal. A causa das “trepidações” da bola foi descoberta logo: uma grande quantidade de caranguejos havia invadido o campo, provocando, inclusive, a suspensão do jogo pelo árbitro. Primeiro uns poucos, depois muitos crustáceos que surgiam de todos os lados e tomaram conta do gramado...

Começou, então, uma verdadeira caçada aos caranguejos, participando dela muitos torcedores que decidiram ganhar um dinheirinho extra – uma cambada desse crustáceo, muito utilizado pela culinária brasileira – custa hoje em torno de R$ 80,00, sem precisar meter a mão na lama dos manguezais!...

SEMENTES DA MELANCIA VIRARAM DINHEIRO...
“Na década de 1970 a arbitragem brasileira vivia seus piores anos. Em cada Federação havia uma quadrilha que manipulava os resultados das partidas em troca de dinheiro, claro. Era comum no interior de São Paulo, do Paraná e de outros estados os dirigentes de clubes irem às estações rodoviárias ou ferroviárias recepcionarem o juiz que ia apitar a partida. E não raro ofereciam brindes ao árbitro mesmo antes do jogo, como queijo caseiro, doce cristalizado, rapadura, melancia e outros produtos...” – recorda Antunes de Oliveira.

Ele se lembra de um tal Bodão, cujo primeiro nome era Waldemar, que foi apitar um jogo no interior paulista e ganhou uma bela melancia. Na volta para casa, viajando de trem da Sorocabana ou da Noroeste, seus companheiros de arbitragem insistiram para que ele abrisse a melancia e a repartisse entre eles. Bodão não quis conversa. A certa altura da viagem, porém, em um violento solavanco do trem, a melancia escapou dos braços de Bodão e espatifou-se no assoalho. Aí descobriram o apego de Bodão pela melancia: suas sementes haviam se “transformado” em valiosas notas de dinheiro...       

ÁGUA DE MANGABA SALVAVA O CASCAVEL
Mangaba era massagista negro, alto e magro, do tipo zulu, que surgiu no Jandaia EC, de Jandaia do Sul, no norte do Paraná, e depois foi para o Cascavel, no Oeste do Paraná, onde faz muito frio no inverno, mas o calor do verão é de rachar, para trabalhar no time profissional da cidade, lá por 1973/1974.

Com a contratação de Mangaba, o Cascavel tornou-se praticamente imbatível em seus domínios, chamado de “Ninho da Cobra”, nos tempos de verão brabo. Graças a uma artimanha de Mangaba. No segundo tempo dos jogos do Cascavel, se o clube da casa estivesse em desvantagem no placar, ele, disfarçadamente, aplicava uma infalível estratégia contra os adversários...

Mangaba entrava em campo para atender seus jogadores com duas bolsas de água geladinha, uma das quais deixava cair estrategicamente perto dos adversários. E a turma caía matando na água para saciar a sede. E aí em questão de minutos, era um tal de jogador passar mal, sofrer tontura e até correr desesperado para o vestiário com disenteria da braba, graças a água “batizada” de Mangaba...       

        


sábado, 17 de novembro de 2018

Berga, um sonho arrojado do futebol de Mato Grosso que durou pouco tempo...


A torcida de Mato Grosso ficou intrigada, com uma notícia que passou a circular na imprensa, com destaque no noticiário esportivo, em 2000: o Berga seria a grande surpresa do Campeonato Mato-grossense de Futebol da 1ª Divisão daquele ano. Afinal quem era esse Berga, um nome esquisito para um time de futebol, que chegava com uma novidade: era o primeiro clube-empresa do futebol de Mato Grosso.

Berga é uma redução do nome de Bergamaschi, cujo pré-nome era Ettore (já falecido), um ricaço italiano que investia pesado no mercado de Mato Grosso, especialmente no ramo imobiliário. Fanático por futebol, Ettore alimentava um sonho na vida: ver seus dois filhos – Simon e David – que defendiam o Uirapuru, a famosa “escolinha” da Universidade Federal de Mato Grosso, jogando no futebol italiano.

Para levar seu projeto adiante, Ettore formou uma sociedade com o técnico Éder Taques, que montaria um time com jovens e que ficaria treinando durante um ano ou até que estivesse em condições de realizar uma temporada por gramados italianos para mostrar os jogadores do Berga, principalmente Simon e David. Tudo por conta do seu endinheirado patrocinador.

Formada a Comissão Técnica, encabeçada pelo técnico Éder Taques, integrada também pelo professor Expedito Sabino, a garotada, com muitos jogadores do Uirapuru, começou a treinar. A CT tinha médico, massagista, fisioterapeuta, professores de Educação Física, treinadores de goleiros, assessor de imprensa, nutricionista etc. O pessoal que ficava na chique “república” do clube tinha quatro refeições por dia – café da manhã, almoço, jantar e lanche da noite.

A programação de treinamento era seguida rigorosamente.  Mas com folga de todo mundo, a partir de sábado depois do almoço, quando era feito o pagamento da semana a todo plantel, até domingo à noite, quando os jogadores se apresentavam para reinício das atividades na segunda-feira. Mas aí a CT descobriu que a rotina de treinamentos, sem jogos, estava deixando os jogadores com tédio...

Bergamaschi e Éder Taques foram conversar com o presidente da FMF, Carlos Orione, para saber como o Berga conseguiria disputar o Campeonato da 2ª Divisão daquele ano e cujas suas grandes atrações eram os profissionais já consagrados Dito Siqueira e Éverton Perereca. Quando Orione tomou conhecimento do projeto da dupla teve uma reação surpreendente: “Que Segunda Divisão coisa nenhuma! O Berga vai disputar é a Primeira Divisão...”

E disputou mesmo, com grande sucesso. E só não foi campeão por razões que não vem ao caso. Mas além ter aplicado goleadas históricas em alguns adversários  (9x1 no Jaciara, 4x1 no Juventude, 4x0 no Sinop, 7x1 no Operário Várzea-grandense e 9x1 no Cacerense),  o Berga teve dois artilheiros no certame: Moreira (23 gols) e Jair (19 gols) – o outro goleador foi Índio, do União, com 22 gols.

Da mesma forma fulminante como apareceu no cenário esportivo mato-grossense, com a pretensão de revolucionar o futebol estadual, como modelo de clube-empresa, o Berga também desapareceu, deixando muita saudade entre os torcedores. Quanto ao projeto da excursão por gramados da Itália, não passou de um sonho que durou apenas um ano e foi sepultado com a morte de Ettore Bergamaschi...
     
  

sábado, 10 de novembro de 2018

Dinheiro do BID foi rateado entre jogadores e o Mixto acabou rebaixado para a 2ª Divisão em 2009


O Mixto ia estrear no Campeonato Mato-grossense de Futebol de 2009 contra o Sinop no Estádio “Gigante de Madeira”. Apesar de ostentar o título de campeão estadual do ano anterior, quebrando um jejum de 12 anos, o alvinegro atravessava uma fase financeira muito difícil...

Com a saída de Arildo Verdun da direção técnica do clube, o presidente Júlio Pinheiro, já falecido, contratou o ex-zagueiro que virou treinador Wilson Carrasco. E para auxiliá-lo, como supervisor, manteve o ex-árbitro Orlando Antunes de Oliveira, hoje militando na crônica esportiva de Cuiabá.

Apesar das dificuldades, o Mixto conseguiu contratar dez jogadores, aproveitando o dinheiro da venda de Fernando, para o Flamengo e de Igor, para o Paraná Clube.  A grana que entrou, porém, não foi suficiente para acertar com os recém-contratados e muito menos pagar os salários dos outros jogadores. Já se falava até em uma greve do plantel antes da viagem para Sinop no final de semana...

Mas surgiu outro problema: o Mixto tinha que pagar à Confederação Brasileira de Futebol R$ 6.000,00 correspondente à transferência dos dez jogadores das federações de origens para a CBF, com a consequente publicação de seus nomes no Boletim Informativo Diário (BID) da entidade. Sem a publicação no BID, ninguém dos novatos podia jogar.

Era uma situação muito complicada. O presidente Júlio Pinheiro arrumou o dinheiro e jogou a bomba nas mãos do seu supervisor. Antunes queimou muitos neurônios na busca de uma solução para delicada questão, que ia de uma eventual greve a um calote na CBF. Era problema demais e dinheiro de menos...

Depois de muito matutar Antunes chegou a uma conclusão: o Sinop tinha um time muito superior tecnicamente ao Mixto e, pela lógica, ia vencer o alvinegro. E diante dessa realidade e das circunstâncias adversas, não vacilou: pegou os R$ 6.000,00 e rateou entre todos os jogadores, eliminando a ameaça de greve que rondava o alvinegro.

Lembra Antunes que a viagem para Sinop foi tranqüila, com os jogadores animados com um dinheirinho no bolso. Em Sinop, boa comida e ótima estada. Mas o melhor estava por vir ainda. O Mixto fez uma excelente exibição e, contrariando todos os prognósticos, derrotou o forte Sinop pela contagem mínima.

O Mixto ganhou, mas não levou, pois a diretoria do clube sinopense descobriu que os novos jogadores mixtenses não estavam registrados na CBF e reclamou os pontos que havia perdido no campo. E não perdeu tempo: denunciou a irregularidade à entidade máter do futebol brasileiro.

O caso foi parar inicialmente no Tribunal de Justiça Desportiva da FMF, que confirmou a vitória do Mixto. No entanto, o Sinop recorreu ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), que lhe deu a vitória no “tapetão”. Resultado: o Mixto foi rebaixado para a 2ª Divisão naquele distante 2009...

Aliás, os torcedores do Mixto não guardam boas lembranças das comemorações do último título, em 1996. A decisão do campeonato foi no Estádio Luthero Lopes, em Rondonópolis, onde mais de 15 mil torcedores do União haviam preparado uma grande festa para comemorar o título ­– no 1º jogo, no Verdão, o colorado havia arrancado um heróico empate por 0x0.

Mas no início do 2º tempo, Evandro marcou o único gol da partida e que acabou dando a vitória e o título ao Mixto. Fim de jogo e a torcida mixtense invadiu o campo para festejar a vitória. A torcida do União fez o mesmo, mas para bater nos mixtenses...

A Polícia Militar também entrou em cena, disparando balas de borracha e borrifando “spray” de pimenta nos torcedores. Foi um fuzuê daqueles. E só depois de muita correria, pancadaria e golpes de cassetete a PM conseguiu dominar a situação.

Na presença de uns poucos torcedores alvinegros no estádio, a FMF entregou a taça de campeão do Mixto ao presidente Júlio Pinheiro e ao capitão Bogé. Fugindo rapidamente para o vestiário, protegidos pela PM, os jogadores acharam melhor não comemorar a importante conquista: o clima não estava mesmo para festa, muito pelo contrário...           
Nova postagem....

sábado, 3 de novembro de 2018

Presidente queria que jogadores do Palmeirinhas vendessem figurinhas de álbuns para pagar os próprios salários...

Éder Taques estava nas divisões de base do Dom Bosco em 1984 (a sub-19) quando recebeu um recado do Palmeirinhas, do Porto, para comparecer a Federação Mato-grossense de Futebol – o clube não tinha sede própria, nem alugada... e durante muitos anos utilizou as dependências da entidade – para assinar um contrato com o alviverde. Ele foi correndo, claro, pois no Dom Bosco só de vez em quando recebia uns trocados.

Com o afastamento de Délio de Oliveira, respondia pela presidência do clube o argentino Juan Rolon, que havia chegado ao alviverde como treinador de futebol. O contato entre Juan Rolon e Éder foi rápido. Na ocasião, o presidente do Palmeiras entregou a Éder um envelope com uma bolada de dinheiro, como parte das luvas, mas nem chegaram a discutir as bases do contrato...

Empolgado com tanto dinheiro, Éder saiu apressado da FMF, que funcionava na Rua 24 de Outubro, para dizer aos companheiros do azulão: “Agora é só Palmeiras, Dom Bosco nunca mais...”

Chegou o dia de Éder assinar o contrato com o Palmeiras. Na sede da FMF, claro. Mas antes da assinatura do contrato, Rolon fez uma proposta ao jogador: queria que ele o ajudasse a vender figurinhas de álbuns de uma empresa que representava em Mato Grosso. E justificou que os jogadores ajudando-o a vender as figurinhas, facilitaria ao clube pagar seus salários no final do mês...

– Presidente, eu vim para o Palmeiras para jogar futebol, não para vender figurinhas... – respondeu Éder com firmeza, descartando qualquer possibilidade de aceitar a proposta. Mas acabaram se entendendo e o contrato foi assinado.

Vencido o primeiro mês, Juan Rolon marcou o dia para pagamento da rapaziada. O primeiro a sair da sala onde o presidente do alviverde estava foi Canivete, que também havia deixado Dom Bosco para defender o Palmeiras. Canivete saiu da sala com dois envelopes enormes, cheios de dinheiro...

Depois de Canivete, foi à vez de Mosca. Por ser o jogador mais caro do Palmeiras, Mosca, que ficou pouco tempo no alviverde, por causa de uma grave contusão em um dos joelhos, saiu da sala de Rolon carregando três envelopes de dinheiro, deixando muito animado Éder, o próximo da lista a entrar na bufunfa.

Éder pegou seu envelope e se dirigiu a um tradicional supermercado de Cuiabá que funcionava na Rua 13 de Junho em um prédio defronte ao Departamento Nacional de Estrada de Rodagem (DNER) para trocar a dinheirama. E ficou decepcionado com o que recebeu pela troca, pois Juan Rolon estava pagando os jogadores com notas da venda das figurinhas de álbuns e cujo valor unitário era de Cr$ 1,00 (a moeda da época), e que por causa da inflação, valia uma mixaria...