Quem quiser ouvir boas histórias, inclusive folclóricas,
sobre futebol, arbitragem, rádio etc. é só procurar Orlando Antunes de Oliveira.
São mais de quatro décadas de profunda ligação com o esporte, iniciada em
1974, quando se tornou árbitro profissional de futebol no Paraná, com passagens
depois por Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Só de arbitragem são mais de duas
décadas, inclusive mantendo-se como registrado na CBF por mais de 10 anos.
Depois de se afastar dos gramados como juiz, Orlando
Antunes de Oliveira trabalhou também como supervisor de clubes de futebol e
eventualmente como treinador, e de uns anos para cá tem se dedicado ao rádio e
a sites, como cronista esportivo. Claro que com uma bagagem tão extensa na sua
vida profissional, ele tem muitas histórias ligadas ao esporte para contar. (A
seguir, publicamos três folclores de OAO, que embora não sejam especificamente
do futebol mato-grossense, são interessantes realmente...)
CARANGUEJOS INTERROMPEM JOGO
Orlando Antunes apitava em Paranaguá um jogo do Rio
Branco, pelo Campeonato Paranaense da 2ª Divisão, em 1974 ou 1975, no Estádio
“Nelson Medrado Dias”, conhecido também como “Estradinha” e cuja construção, numa
área de manguezal, a beira mar, exigiu uma grande quantidade de aterro. Aliás, parte
da população de Paranaguá não gostou da construção do estádio ali, porque
reduziu a área de captura de caranguejos, que era o ganha-pão de muita gente...
De repente, naquela tarde ensolarada, a bola, quando
chutada rasteira pelos jogadores, começou a ser, estranhamente, desviada do
curso normal. A causa das “trepidações” da bola foi descoberta logo: uma grande
quantidade de caranguejos havia invadido o campo, provocando, inclusive, a
suspensão do jogo pelo árbitro. Primeiro uns poucos, depois muitos crustáceos
que surgiam de todos os lados e tomaram conta do gramado...
Começou, então, uma verdadeira caçada aos caranguejos,
participando dela muitos torcedores que decidiram ganhar um dinheirinho extra –
uma cambada desse crustáceo, muito utilizado pela culinária brasileira – custa
hoje em torno de R$ 80,00, sem precisar meter a mão na lama dos manguezais!...
SEMENTES DA
MELANCIA VIRARAM DINHEIRO...
“Na década de 1970 a arbitragem brasileira vivia seus
piores anos. Em cada Federação havia uma quadrilha que manipulava os resultados
das partidas em troca de dinheiro, claro. Era comum no interior de São Paulo,
do Paraná e de outros estados os dirigentes de clubes irem às estações
rodoviárias ou ferroviárias recepcionarem o juiz que ia apitar a partida. E não
raro ofereciam brindes ao árbitro mesmo antes do jogo, como queijo caseiro,
doce cristalizado, rapadura, melancia e outros produtos...” – recorda Antunes
de Oliveira.
Ele se lembra de um tal Bodão, cujo primeiro nome era
Waldemar, que foi apitar um jogo no interior paulista e ganhou uma bela
melancia. Na volta para casa, viajando de trem da Sorocabana ou da Noroeste,
seus companheiros de arbitragem insistiram para que ele abrisse a melancia e a
repartisse entre eles. Bodão não quis conversa. A certa altura da viagem,
porém, em um violento solavanco do trem, a melancia escapou dos braços de Bodão
e espatifou-se no assoalho. Aí descobriram o apego de Bodão pela melancia: suas
sementes haviam se “transformado” em valiosas notas de dinheiro...
ÁGUA DE MANGABA SALVAVA O CASCAVEL
Mangaba era massagista negro, alto e magro, do tipo zulu,
que surgiu no Jandaia EC, de Jandaia do Sul, no norte do Paraná, e depois foi
para o Cascavel, no Oeste do Paraná, onde faz muito frio no inverno, mas o
calor do verão é de rachar, para trabalhar no time profissional da cidade, lá
por 1973/1974.
Com a contratação de Mangaba, o Cascavel tornou-se
praticamente imbatível em seus domínios, chamado de “Ninho da Cobra”, nos
tempos de verão brabo. Graças a uma artimanha de Mangaba. No segundo tempo dos jogos do Cascavel, se o clube da casa estivesse em desvantagem no placar,
ele, disfarçadamente, aplicava uma infalível estratégia contra os adversários...
Mangaba entrava em campo para atender seus jogadores com duas bolsas de água
geladinha, uma das quais deixava cair estrategicamente perto dos adversários. E a turma caía matando na água para saciar a sede. E aí em questão
de minutos, era um tal de jogador passar mal, sofrer tontura e até correr
desesperado para o vestiário com disenteria da braba, graças a água “batizada” de
Mangaba...