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terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Diante de um tresoitão, árbitro de Cáceres criou uma nova regra no futebol: pênalti com barreira...


“É penalidade, sim, mas com barreira...” – essa foi a genial saída que o árbitro Ivan Marrekus encontrou num repente diante de um “trêsoitão” embalado, ao apitar um amistoso entre Cruzeiro e Ponte Preta, na comunidade rural de Bezerro Branco, habitada por migrantes de Minas Gerais e Espírito Santo, encravada nas furnas das serras das Araras e do Rio Paraguai entre Cáceres e  Barra do Bugres. As terras da área começaram a ser ocupadas em 1950, na administração do governador Fernando Correa da Costa.

Sem opções de lazer e diversão, a população de Bezerro Branco decidiu fundar um time de futebol para animar as tardes de domingo da comunidade. E criaram de cara três categorias – infanto juvenil, amador e veteranos. A criação de três categorias era para garantir que a população não ficasse sem futebol nas domingueiras, feriados e dias santos. Com predominância da mineirada na área, o nome escolhido para o representante da currutela no futebol foi Cruzeiro, talvez por influência do timão mineiro das décadas de 1960/1970, integrado por jogadores do nível de Wilson Piazza, Raul, Dirceu, Zé Carlos, Natal, Tostão, Palhinha...

Depois de algum tempo, na Primavera de 1967 o Cruzeiro decidiu desafiar a poderosa Ponte Preta, de Cáceres, para um amistoso em Bezerro Branco. Apesar do poderio da “Macaca” cacerense, o Cruzeiro depositava muita esperança no futebol requintado dos irmãos Allan Kardec e Dênis, além de Tim e do goleiro Domingos Bozerudo. Contava também com o desgaste físico dos adversários, que teriam que viajar 45 quilômetros na carroceria do caminhão do sr. Elias Aguilera.

Afinal, chegou o esperado dia, com o campo marcado com palha de arroz. Nem bem começou o jogo e a Ponte Preta percebeu que o Cruzeiro seria um adversário muito duro de ser batido em seus domínios. E através de alguns de seus jogadores começou a induzir, disfarçadamente, o juiz Ivan Marrekus,  auxiliado por Lulu Três Nariz e Mané Taturana a marcar uma penalidade contra o time da casa.

E o árbitro marcou mesmo o pênalti contra o Cruzeiro. Aí começou uma grande confusão, com os jogadores do time da casa, pressionando o juiz e impedindo a cobrança da penalidade máxima. Chamaram então o filho caçula de seu Florêncio Paraguaio para ir ao boteco do seu pai, ali perto, para lhe comunicar o que estava acontecendo. Naquela hora estava no boteco tomando umas pingas um líder rural da região, conhecido como seu Ferreira, a quem o menino deu ciência também da confusão no campo.

Segundo o jornalista cacerense João de Arruda, Ferreira terminou de tomar a sua dose  da cachaça Providência, pediu mais uma, deu uma cuspida bem longe, temperou a garganta e saiu para resolver a polêmica sobre o pênalti. Entrou no campo e foi direto falar com Marrekus. Com o revólver 38 embalado na mão, Ferreira perguntou ao juiz: “Foi mesmo penalidade?...”

Tremendo de medo, Marrekus, sem alternativas, confirmou: ”Foi pênalti, sim, com barreira...”

Ferreira olhou imediatamente para o banco de reservas e chamou todo mundo para reforçar a barreira do Cruzeiro...

Em seguida, Ferreira convocou o capitão da Ponte Preta, Balãozinho, para uma conversinha particular. Na volta do papinho, ali mesmo, Balãozinho apontou Germano Maninho para cobrar a penalidade.

Enquanto Maninho preparava-se para cobrar o pênalti, Ferreira fez uma advertência: “Se a bola tocar em um dos nossos jogadores, ninguém da Ponte Preta sai vivo da barreira...”

Cobrada a falta, a bola foi parar no cemitério da comunidade rural, bem longe dali...

Bezerro Branco não existe mais, pois sua população, predominantemente católica, resolveu mudar o nome da localidade para Vila Aparecida, em homenagem a Nossa Senhora Aparecida. Com o novo  nome, Vila  Aparecida virou distrito...  

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Torcedores do União iam usar serrador para derrubar cabines de rádio do Luthero Lopes


 Um serrador de grande porte, conhecido também como traçador -- este foi o instrumento que torcedores do União queriam utilizar para derrubar as cabines de madeira do Luthero Lopes ao final do jogo em que o Clube Esportivo Operário Várzea-grandense derrotou o clube de Rondonópolis, na década de 1980, eliminando a possibilidade de o colorado se classificar para a final do Campeonato Estadual. O foco dos torcedores era, principalmente, as cabines das emissoras de rádio de fora de Rondonópolis.

Para quem não sabe, o serrador, que desapareceu com a chegada da moto-serra ao mercado, é um grande serrote e em cujas extremidades existem dois suportes para facilitar o trabalho das duplas que o operam, com um deles puxando e o outro empurrando a sua lâmina dentada, através de movimentos sincronizados para serrar madeira e derrubar árvores. Mesmo árvores de troncos mais espessos resistem à ação do serrador, chamado também de “serrote japonês”.

Inconformados com a derrota, milhares de torcedores do União puseram o alambrado do Luthero Lopes abaixo e caminharam em direção do local onde ficavam as cabines de rádio do estádio, com a evidente intenção de derrubar as dependências de emissoras de fora da chamada “Rainha do Algodão”. Como se os radialistas fossem culpados dos fracassos do representante de Rondonópolis no futebol. Claro que com um serrador do tamanho que os torcedores conduziam, a serragem das vigas de sustentação das cabines era questão de minutos...

Naquela tarde de triste memória para o futebol de Rondonópolis, o locutor esportivo paranaense Tony César, que transmitia o jogo para a Rádio Vila Real, viu a viola em cacos. Ainda bem que a Polícia Militar agiu com rapidez e impediu que a dupla do serrador derrubasse a cabine de onde o radialista irradiava o jogo, o que poderia representar um sério risco para o profissional, em virtude da altura dessas dependências do Luthero Lopes.

Lembra o ex-radialista Oliveira Júnior, atual editor de Esportes do jornal A Gazeta, que a transmissão de jogos no interior de Mato Grosso até a década de 1990 era uma aventura. A começar pelos riscos que os profissionais do rádio corriam, deslocando-se por estradas esburacadas, muitas vezes à noite, o que tornavam as viagens cansativas e aumentavam os perigos de acidentes.

As duas cidades mais perigosas, por causa do fanatismo de suas torcidas sempre foram Rondonópolis e Sinop. No caso desse jogo histórico em Rondonópolis, a Polícia Militar escoltou o pessoal da imprensa de Cuiabá até o trevo da cidade, fora do alcance dos torcedores mais revoltados. A partir daí, que cada um se virasse...      








     

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Dirigente do Cacerense aproveitou show (que não houve...) de os Menudos para dar um golpe na PM


Com a intenção de arrumar um bom dinheiro para o Cacerense enfrentar o ano de 1980, o dirigente Luiz Mário Cardoso, o popular Pacu, acertou um amistoso com o Vila Aurora, de Rondonópolis, em um domingo, em Cáceres. Na realidade, o amistoso no Geraldão era apenas um pretexto para Pacu colocar em prática um plano arrojado e ambicioso: encher o estádio com uma atração artística para ninguém botar defeito.

À época, realizava uma excursão pelo Brasil o grupo musical de Porto Rico, Menudo. Melhor atração para o público de todas as idades, impossível, sonhou alto Pacu. Definidos alguns detalhes para a programação – só na cabeça de dele passava que o grupo porto-riquenho viria dar um show em Cáceres sem uma segura garantia do recebimento do altíssimo valor pela apresentação -- Pacu começou a trabalhar na divulgação do evento esportivo-musical, com grande euforia com as animadoras perspectivas de sucesso de público da promoção.

Final de semana chegando e quase tudo definido, inclusive para a abertura mais cedo dos portões do Geraldão para o amistoso confirmado – a apresentação de os Menudos fecharia o monumental evento – quando a Polícia Militar se deu conta que Pacu havia prometido, mas não havia pagado a taxa relativa ao policiamento para a segurança do público. E mais: ele teria que pagar uma taxa extra relativamente ao aumento do número de policiais no estádio por causa do show.

Depois de rápido entendimento entre Pacu e a PM, ficou ajustado que o Cacerense depositaria nos caixas eletrônicos de uma agência bancária da cidade o valor correspondente à taxa para o Fundo de Segurança, pois sem o policiamento não haveria jogo nem show. Mas era só o promotor do espetáculo apresentar o comprovante antecipado do depósito que estava resolvido...

Ainda na sexta-feira, a PM recebeu o recibo eletrônico do depósito na conta da instituição, feito por um office-boy. No domingo, o policiamento estava a postos no Geraldão para o jogo entre Cacerense e Vila Aurora e que terminou empatado pela contagem mínima. Mas o show que era bom mesmo, neca de pitibiribas. No mesmo dia, entre protestos sem fim, Pacu prometeu que ia devolver parte do dinheiro que o público havia investido na compra antecipada de ingressos e não havia comparecido ao jogo. Ao que consta, porém, o prometido dinheiro do show virou Conceição...

Na segunda-feira, o dinheiro não caiu na conta da PM. Motivo: dentro do envelope usado para o depósito da importância combinada e a consequente emissão do recibo que comprovava a operação bancária, não existia dinheiro coisa nenhuma.

Que fim levou o golpe aplicado por Pacu na PM ninguém ficou sabendo. Mas de uma coisa a população cacerense tomou conhecimento e comenta até hoje: Pacu, que tinha uma chácara Cáceres, passou um tempão sem aparecer na cidade!...

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Árbitro queria segurança da PM e da Polícia Civil para apitar jogo amador no 16º BC...


Conhecido nos meios esportivos pelo apelido de “Trote de Vaca”, por causa de seu jeito desengonçado de correr quando estava trabalhando como bandeirinha ou assistente, como são chamados agora, José Silva foi apitar um jogo de Campeonato Amador de Cuiabá no campo do antigo 16º Batalhão de Caçadores, o 16° BC, que virou depois 44° Batalhão de Infantaria Motorizado.

Logo que chegou ao palco da disputa, “Trote de Vaca” ficou sabendo que os dois times cujo jogo ia apitar gostavam de pressionar o árbitro. E não raro, com o apoio de seus torcedores, partiam até para a agressão contra os árbitros e, como era natural, sempre acabava sobrando até mesmo para os seus bandeirinhas.

Em uma conversa com o Joelmes Jesus da Costa, que seria um dos bandeirinhas naquele jogo, José da Silva garantiu que sem policiamento no campo não apitar coisa nenhuma. Joelmes tentou contornar o problema para evitar que a arbitragem fosse envolvida numa situação desagradável com os oficiais do 16°.

-- Zé, nós estamos dentro de um quartel militar do Exército Brasileiro Se o pessoal daqui não nos der segurança, a Polícia é quem vai dar? A Polícia Militar e a Polícia Civil pode nem entrarem aqui. Faça o seguinte: procure o oficial do dia e solicite a ele para escalar alguns soldados para ficarem de plantão aqui no campo até o jogo acabar.

José Silva aceitou o conselho de Joelmes. Antes de começar o jogo, “Trote de Vaca” recorreu ao Exército e com soldados andando pra lá e pra cá no campo, a partida transcorreu sob absoluta calmaria. Até porque para entrar nas dependências do 16° BC os torcedores tinham que passar por rigorosa triagem burocrática e também por uma rigorosa revista, o que impediu que os torcedores bagunceiros tivessem acesso ao campo de futebol...

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Os cinco minutos mais sofridos de repórter de pista improvisado em locutor esportivo...

O Estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi, completamente lotado de torcedores, inclusive do Brasil inteiro, para assistir a decisão do título paulista entre São Paulo e Corinthians lá pelos idos de 1980. A Rádio Cultura de Cuiabá estava presente para transmitir ao vivo o grande clássico do futebol brasileiro, através da equipe formada por Roberto França Auad (comentarista), Márcio Arruda (narrador) e Orlando Antunes de Oliveira (repórter de pista).

Com tantas emissoras de rádio do Brasil inteiro para cobrir a decisão do título paulista, a Rádio Cultura teve que se conformar em instalar seus equipamentos na parte baixa das arquibancadas do gigantesco Morumbi. Não restava alternativas para a equipe cuiabana: ou aceitava a difícil e incômoda localização que lhe fora reservada no estádio ou recolhia os equipamentos e não transmitia o jogo, um vexame que não passava nem de longe pela cabeça do trio da RC.

A abertura da jornada esportiva foi feita, como era de praxe, pelo comentarista Roberto França, que naturalmente destacou as dificuldades que sua equipe estava encontrando para fazer a transmissão do jogo. Depois de suas considerações, França passou o comando da transmissão do jogo para Márcio de Arruda, pois estava tudo pronto para a bola rolar no Morumbi...

E rolou mesmo. E no exato momento que a bola rolou, a torcida se levantou, em um movimento sincronizado, para comemorar o início da decisão, tapando completamente a visão do narrador. Márcio Arruda, que era bem fanhoso, não se apertou e berrou a todo pulmão ao microfone: “VAI DAÍ, ORLANDO ANTUNES, EU ESTOU COM A VISÃO COMPLETAMENTE ENCOBERTA PELA TORCIDA...”

-- Estes foram os cinco minutos mais longos e sofridos da minha carreira como locutor esportivo – recorda até hoje Orlando Antunes.

Ainda bem que o público sentou e Márcio de Arruda pôde assumir o comando da transmissão, sob a fervorosa torcida de Orlando Antunes para que os torcedores presentes ao Morumbi não se levantassem mais naquele jogo...