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quarta-feira, 29 de maio de 2019

A tumultuada venda de Bife para o XV de Piracicaba e a fuga em porta-malas de carro para jogar contra o União...


Bife disputava o Campeonato Paulista da Divisão Especial de 1978 pelo São Bento, de Sorocaba, cedido, por empréstimo, pelo Mixto Esporte Clube. As boas atuações do atacante, coroadas com muitos gols, despertaram a atenção do XV de Novembro, de Piracicaba, que fica a 80 quilômetros de Sorocaba. Comandado com mão de ferro pelo milionário comendador Romeu Ítalo Rípoli, o clube piracicabano comprou o passe de Bife, pagando, sem pechinchar, Cr$ 50 milhões. Na época essa dinheirama era uma fortuna, que serviu para o alvinegro saldar muitas dívidas, inclusive a folha de pagamentos atrasada há três meses.

Quando o comendador Rípoli foi a Sorocaba comunicar a Bife que o XV havia comprado seu passe e ele tinha que se apresentar imediatamente ao seu novo clube, os dois se estranharam. Em um ríspido bate-boca no campo onde o São Bento realizava um coletivo, Bife disse a Rípoli que tinha nome de carne de animal, mas era gente e sabia conversar, com o seu interlocutor retrucando que o dinheiro que o seu time havia desembolsado para adquirir seu atestado liberatório dava comprar uma boiada inteira e não apenas um bife...

Bife foi para Piracicaba, porém não chegou a um acordo com o XV para assinar contrato e retornou a Sorocaba, sem dar satisfação ao seu novo clube. Como, decididamente, Bife e Rípoli não iam se entender, o clube piracicabano aceitou a proposta do presidente Lino Miranda, de emprestar Bife ao Mixto, até que “baixasse a poeira entre os dois”. Lino Miranda, que foi pessoalmente a Sorocaba, acompanhado do radialista e diretor mixtense Antero Paes de Barros, buscar Bife, garantiu ao jogador que estava tudo certo entre os dois clubes, com a devolução dos Cr$ 50 milhões ao time do interior paulista.

O cheque dado pelo Mixto ao XV de Novembro, em uma negociação fechada na mansão de Rípoli, em Piracicaba, para o retorno do atacante, depois do empréstimo, não tinha fundos. Começou, então, uma peregrinação de dirigentes do time piracicabano na sede do Mixto, na tentativa de receber os Cr$ 50 milhões. Adepto da filosofia do italiano Nicolau Maquiável, Lino Miranda comprava [jogadores] e não pagava e vendia [jogadores] e não liberava, mantendo seus atestados liberatórios. “Enquanto eu tiver mãos para assinar cheques, o Mixto compra qualquer jogador...” – gabava-se Lino Miranda.

O Campeonato Mato-grossense de Futebol daquele ano ia começar e um diretor do XV veio a Cuiabá para evitar que Bife defendesse o Mixto, o que impediria o atacante de ser inscrito na Federação Paulista de Futebol para jogar pelo time piracicabano. Não registrar Bife na FMF era parte do acordo do empréstimo, por tempo indeterminado, entre os dois clubes e cujo cumprimento o XV exigia, enquanto a pendência do “cheque voador” – aquele que vai e volta às mãos de quem o deu – não fosse resolvida...

Sobre o pagamento dos Cr$ 50 milhões, Lino Miranda enrolou mais uma vez o XV de Novembro, mas garantiu ao dirigente que estava em Cuiabá que seu clube não ia registrar Bife. O Mixto ia jogar em Rondonópolis contra o União e na hora do embarque do time lá estava na sede do alvinegro o diretor do clube paulista para comprovar que Bife não estava na delegação.

A delegação do Mixto partiu e o diretor do XV também. Mas o ônibus do alvinegro fez uma parada na Avenida Fernando Correa da Costa, nas imediações do Café Brasileiro, para que Bife saísse do porta-malas do carro de Lino Miranda e se juntasse a delegação. Não só viajou como jogou. Sem o atestado liberatório de Bife, que o Mixto nunca entregou ao XV de Novembro, o clube de Piracicaba não tinha como registrar o seu jogador na FPF...

O radialista Antero Paes de Barros, que à época era diretor do Mixto, acha que a propalada fuga de Bife no porta-malas do carro é simplesmente uma lenda. Como os outros personagens de Mato Grosso nessa história – Lino Miranda e Bife – já subiram para o andar superior...   

Quanto ao cheque de Cr$ 50 milhões, até hoje, decorridos 40 anos, não se tem notícias se foi quitado e resgatado...        

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Locutor esportivo esqueceu os óculos em casa e narrou amistoso no Verdão pelos números das camisas dos jogadores...



Com o Verdão às moscas, Mixto e União, de Rondonópolis, iam disputar, numa noite bem fria, um amistoso como preparação para o Campeonato Mato-grossense  de Futebol, o primeiro depois da divisão do estado em 1979. O frio justificava o desaparecimento do público do Verdão, sem contar que os dois clubes ainda não tinham muitas novidades para apresentar aos seus torcedores...

Andando pelas cabines das rádios do estádio enquanto o jogo não era iniciado, um jornalista que fazia a cobertura do amistoso, foi abordado por um locutor esportivo de Rondonópolis: “Você já tem a escalação do Mixto?”...

– Tenho sim! Você quer anotar?

– Faça-me então um favor: anote a escalação neste papel, em letras de forma, bem grandes, para facilitar meu trabalho...

O jornalista estranhou o pedido, mas atendeu o colega de imprensa...

– Sabe o que aconteceu? – perguntou o radialista.

– Na pressa para nossa viagem para transmitir essa merda de jogo, esqueci meus óculos em casa...

– E a escalação do União, você não quer? – perguntou-lhe o jornalista.

– Do União, não preciso. Conheço todos jogadores e como o número das camisas nas costas é bem grande, não vou ter dificuldades para identificá-los. Nem os do Mixto...

– E se o técnico Milton Buzetto – era sua segunda passagem pelo alvinegro, depois do sucesso no Campeonato Nacional de 1976 – decidir fazer alterações no Mixto no decorrer do jogo como é que você vai fazer? – questionou o jornalista.

– Simples: eu não falo nas substituições... os ouvintes  de Rondonópolis não vão ver o jogo e os poucos torcedores de lá que vieram pra cá estão sem radinhos. Meu medo é faltar luz no Verdão...

Parece que o radialista estava adivinhando: naquela noite, a Cemat (... “de raiva...”, como diziam os consumidores inconformados e revoltados com os frequentes apagões...) “caprichou” nos sucessivos cortes de energia elétrica na região do Verdão e boa parte do amistoso foi disputado quase à meia luz...

Como o radialista se virou, sem os óculos e com os seguidos cortes de energia elétrica no Verdão, o jornalista não ficou sabendo...                   

terça-feira, 14 de maio de 2019

Olho gordo de empresário acabou com a carreira de Bogé no Corinthians Paulista



Indicado por “olheiros” do clube e que o viam brilhar defendendo o Flamenguinho, de Guarulhos-SP, o zagueiro Bogé, que fez sucesso no futebol de Mato Grosso, jogando nos dois Operários de Várzea Grande, Mixto, Luverdense e Cuiabá, foi parar no Corinthians Paulista em 2001. Estava indo muito bem. Mas aí um empresário carioca de nome Moreno, de “olho gordo” no futuro do jogador, convenceu Bogé ou Natanael  Pedro Arcanjo, hoje com 36 anos, a falsificar sua certidão de nascimento, diminuindo sua idade em dois anos, para passar pelas divisões de base do alvinegro, como é praxe nos clubes grandes.

Foi a grande besteira que cometeu na vida. Já bem conhecido no Parque São Jorge, Bogé caiu em desgraça perante a alvinegra. Enquanto o Corinthians providenciava seu desligamento, o motivo que levou o clube a dispensá-lo espalhou-se rapidamente entre a torcida. E por onde Bogé passava, tinha que ouvir a voz característica do gato “miau”, “miau”, “miau”... uma alusão dos torcedores ao animal que é considerado um grande ladrão, principalmente de alimentos...

Na carreira de jogador profissional, Bogé viveu dias difíceis quando foi defender o Colorado Atlético Clube, da cidade do mesmo nome, no norte do Paraná. Fundado em 1998, o CAC, cujo primeiro nome foi Associação Atlética Cintos Mima disputou a 3ª Divisão do Campeonato Paranaense e subiu para a 2ª Divisão em 2000, mas não passou daí.

Recorda Bogé que foram duros seis meses de alimentação da mais baixa qualidade no alojamento onde moravam os jogadores solteiros. O cardápio não mudava nunca: era arroz com salsicha ou ovo frito, também chamado de “zoião”. Bogé se lembra que certo dia, os jogadores viram que o sitiante que abastecia a cozinha do clube estava chegando no seu velho tratorzinho. Correram ao seu encontro para lhe dizer que devia fazer a entrega mais adiante e não ali, mas ele não quis conversa com a rapaziada e foi descarregando tudo, principalmente salsicha e ovo...

Certa feita o CAC foi jogar um amistoso contra o Grêmio Esportivo Maringá, em Maringá. Por questão de economia, os jogadores não jantaram em Maringá e retornaram a Colorado, com o estômago da boleirada roncando de fome. Quando chegaram a “república”, foram diretos para cozinha e encontraram uma panelada de salsicha. Mas com um probleminha: quem preparou “salsichada” foi embora, sem tampar a panela...

Era evidente que moscas, inclusive varejeiras, tinham assentado sobre as salsichas. Mas com a fome que estava Bogé tirou a parte atacada pelos insetos e mandou ver. Outros jogadores foram se aproximando da panela e sem outra opção para matar a fome, atacaram firme a “salsichada”. Em questão de minutos, devoraram tudo, não sobrando nem um pedacinho de salsicha para contar a história das outras...

Além dos clubes de Mato Grosso e do Colorado – não confundir com o Colorado, de Curitiba – Bogé jogou também no Operário, de Campo Grande-MS e no Clube de Regatas Brasil (CRB) de Maceió. Em um domingo de 2014, o CRB ia jogar pelo Campeonato Alagoano. Como não estavam concentrados, Bogé decidiu aproveitar a folga da manhã para dar uma voltinha numa das praias de Maceió, com um amigo. Conversa vai, conversa vem, e o tempo passando...

Quando Bogé se deu conta, já estava quase na hora do jogo começar. Ele comprou um par de óculos de lentes claras e se mandou para o estádio. Quando entrou no vestiário, bem mamado, foi a maior zoeira dos jogadores e até alguns diretores  pra cima dele. No início da semana, o diretor do CRB Marcos Barbosa comprou um par de óculos escuros e deu de presente a Bogé para pelo menos ele disfarçar quando chegasse ao vestiário de farol baixo para jogar...      

   



domingo, 5 de maio de 2019

Pelé retribuía com o pagamento do bicho integral para Almiro mentir que Coutinho era ele...


Um detalhe que pouca gente conhece sobre a passagem do cuiabano Almiro pelo Santos, no qual chegou em 1967: nas excursões que o então todo poderoso Santos FC realizava pelo mundo afora – inclusive recebendo quotas mais altas do que a própria Seleção Brasileira –, Pelé pagava para a grande revelação do Mixto EC mentir que Coutinho era ele e, dessa forma, livrar-se do assédio dos fãs, principalmente em países como Bélgica, Suécia e Suiça, onde jogadores da pele negra faziam grande sucesso, notadamente entre as mulheres.

Para compensar suas mentiras, Pelé dava um jeito de Almiro, seu eventual substituto,   entrar em campo, muitas vezes no seu próprio lugar, para garantir-lhe o pagamento o “bicho” integral. E quando Pelé decidia que um jogador devia ser substituído – às vezes, ele próprio – não existia treinador suficientemente peitudo ou burro para contrariá-lo...

Poliglota, Almiro não tinha qualquer problema para se comunicar com os torcedores para dizer que Coutinho era Pelé. E muitos torcedores, inclusive de países africanos, acreditavam, assediando Coutinho, enquanto Pelé saía de fininho das confusões em que o centroavante santista, recentemente falecido, envolvia-se com a torcida. Um verdadeiro intelectual, fato raro naqueles tempos no futebol, além do português, Almiro falava inglês, francês, castelhano...

 Apesar de ser o substituto de Pelé, Almiro teve uma passagem rápida pelo Santos. Em 1969, o Santos veio a Cuiabá participar de torneio alusivo aos 250 anos da capital mato-grossense, no Velho Dutrinha, com a participação também do América-RJ, Dom Bosco e Mixto. Pelé e Almiro, ambos contundidos, não vieram. Mas, apesar de sua ausência, a família de Almiro, decidiu homenagear o Santos, oferecendo aos jogadores alvinegros uma churrascada caseira.

Apenas alguns jogadores, entre eles, Clodoaldo, Geraldino, Mané Maria, Negreiros e Lima, compareceram a churrascada. Na animada conversa, regada a muita cerveja, Pelezinho, já falecido também, irmão e Almiro, comentou que seu mano havia lhe dito, numa das vindas a Cuiabá, no Santos só dava ele e Pelé... o resto era japonês, isto é,  não manjava nada de bola! Tempos depois, Almiro, hoje vivendo na Bahia e completamente cego, estava fora do Santos...

Comentou-se à época que a saída de Almiro do Santos tinha tudo a ver com o comentário feito pelo seu irmãozinho Pelezinho sobre o clube praiano. Mas não foi nada disso. Na realidade, foi o próprio Pelé que aconselhou Almiro a sair do alvinegro para alçar voos mais altos. Justificativa de Pelé, com a bola que ele jogava, como grande estrela do Santos e do futebol mundial, Almiro não tinha a menor chance de se projetar no futebol.     

Seguindo o conselho do amigo, Almiro transferiu-se para ao Vitória, da Bahia. Logo depois, o Vitória enfrentou o Santos pelo Campeonato Brasileiro. O time baiano ganhou o jogo por 1x0, gol de Almiro. Além de ter marcado o gol da vitória, Almiro deu um show de bola, acabando com o alvinegro da Vila Belmiro. Terminado o jogo, Pelé foi reclamar com Mug, apelido pelo qual passou a ser conhecido quando ganhou do cantor Wilson Simonal um daqueles bonecos negros, que se tornaram muito populares entre os brasileiros na década de 1960.

– Pô, Mug, no Santos você não fazia isso!... – queixou-se Pelé, referindo-se à extraordinária exibição jogador do Vitória e que depois foi para o futebol europeu, fazendo grande sucesso, principalmente no Vitória de Guimarães, de Portugal.

– Fazer como, se você não me deixava jogar!... – foi a resposta de Mug a Pelé.