Súmula de um jogo oficial entre Atlético Mato-grossense e Mixto disputado dia 2/2/1958, vencido pelos atleticanos por 6x0, gols de Ariel (3), Preto, Maurício e Portela |
Por desleixo, negligência, falta
de compromisso e até mesmo de responsabilidade das sucessivas administrações
que passaram pela Federação Mato-grossense de Desportos e a Federação
Mato-grossense de Futebol ao longo dos seus 74 anos – a entidade foi fundada
dia 26 de maio de 1942 – com a história e a cultura de Mato Grosso, grande parte
da memória do futebol estadual, registrada de 1980 para trás (são 38 anos)
simplesmente desapareceu. De forma irreversível!.
Ao que consta, do riquíssimo
passado do futebol mato-grossense desse período de quase quatro décadas –
súmulas de jogos dos tempos do amadorismo e do profissionalismo, implantado em
Mato Grosso em 1967, registro de jogadores, portarias, livros de atas de
assembleias etc., restam uns 200 documentos -- muitos já esfarelando pela ação
do tempo -- nas mãos de Sérgio da Silva Santos, um pesquisador autônomo, que há
muitos anos vem trabalhando nas horas vagas na tentativa de resgatar a memória desse esporte no estado.
Como essa memória foi parar
mãos do pesquisador? Simples: depois de permanecer por muitos anos na sua
primeira sede, na Praça Alencastro, a FMD mudou-se para a Rua Barão de Melgaço,
esquina com Isaac Póvoas. Algum tempo depois, nova mudança da FMD para dependências
que ficam sob as arquibancadas do Estádio Eurico Gaspar Dutra, o Dutrinha, construído
em 1952 e que passaram por completa
reforma quando o economista Agripino Bonilha
Filho assumiu a presidência da
entidade em 1969.
Nas suas freqüentes idas ao
Dutrinha em busca de material para suas pesquisas, Sérgio Santos teve a curiosidade despertada por sacos, aparentemente
cheios de papéis, espalhados por salas do estádio e sob suas arquibancadas. Um dia, ele perguntou
a uma pessoa que vivia pelo Dutrinha, o que havia naqueles sacos. Informado de
que se tratava de documentos da FMD, Santos mostrou interesse em folhear alguns
daqueles documentos.
Ao descobrir que estava com
um “tesouro” nas mãos, Santos perguntou à pessoa se poderia levar para sua casa
um pacote de súmulas. A pessoa concordou em liberar as súmulas, pelas quais Santos pagou, por sua livre e espontânea vontade, R$ 20,00. Pouco tempo depois, o pesquisador pegou
com a pessoa mais dois pacotes dos documentos, pagando-lhe mesmo valor da primeira vez.
Após comprar três pacotes de
súmulas e outros documentos da entidade, o pesquisador percebeu que a pessoa
passou a criar entraves para liberar a papelada, deixando evidente que
pretendia receber um valor maior pela cessão dos documentos da FMD. Passados
alguns anos, Sérgio Santos retornou ao local para ver se conseguia mais documentos, mas já não
havia mais nada no Dutrinha. Desistiu, então, de continuar aumentando seu acervo
sobre a velha documentação do futebol de Mato Grosso.
Após alguns anos
funcionando no Dutrinha, a entidade máter do futebol mato-grossense mudou-se
para outra sede mais espaçosa, na Rua 24 de Outubro, quase na esquina com a Rua
Zulmira Canavarros. E funcionou ali um bom tempo, inclusive já transformada em FMF,
até sua transferência para o atual endereço na Rua 13 de Junho, dentro da área
do Dutrinha, feita na gestão de João da Silva Torres, que foi eleito em 1979/80
e cumpriu dois mandatos sucessivos até 1986.
Com a nova mudança da sede,
muitos documentos foram colocados em caixas e ensacados e por falta de espaço
ficaram jogados pelos cantos da entidade. E segundo um velho funcionário da
FMF, supostamente a mesma pessoa que vendia as súmulas a Sérgio da Silva
Santos, continuou pegando documentos na nova sede “para vender para reciclagem
de papel velho para consumir droga...”
Mesmo tendo conhecimento da
irregularidade praticada pelo intruso, com a retirada de documentos oficiais da
FMF, o funcionário da entidade nada fez para impedir sua ação delituosa. Resultado: “da documentação de 1980 para trás não sobrou
nada, foi tudo perdido...” – admite uma também antiga funcionária da FMF.
Durante a permanência do ex-deputado
estadual João da Silva Torres na presidência da FMF(1979-80/86), o radialista e
professor William Gomes, da Universidade Federal de Mato Grosso, tentou perpetuar a memória do futebol mato-grossense, através do processo de
microfilmagem. Gomes chegou a arrumar patrocinadores para bancar o projeto, que
seria executado por estagiários da UFMT, sem nenhum custo para a FMF, mas João Torres foi enrolando todo
mundo e a preservação da história do futebol estadual não foi consumada.
Esportistas da velha guarda,
muitos dos quais ajudaram a construir a história do futebol de Mato Grosso,
isentam de culpa os dirigentes mais antigos da entidade pelo fato de parte da
memória desse esporte no estado ter sido apagada definitivamente, pois não
contavam com recursos tecnológicos para preservar a documentação.
E acusam de ”negligência,
desleixo e falta de responsabilidade” principalmente João da Silva Torres e Carlos Orione pelo fim da memória do futebol de Mato
Grosso. Entre seu período de interventor na FMD, de 31 de maio de 1976 até a
eleição de Torres, que substituiu em 1986, Carlos Orione, recentemente
falecido, ocupou a presidência da FMD-FMF por 39 anos...