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segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Não é folclore: negligência de diretores da FMD-FMF “apagou” grande parte da memória do futebol de Mato Grosso


Súmula de um jogo oficial entre Atlético Mato-grossense e
 Mixto disputado dia 2/2/1958, vencido pelos atleticanos por 6x0,
gols de Ariel (3), Preto, Maurício e Portela  
Por desleixo, negligência, falta de compromisso e até mesmo de responsabilidade das sucessivas administrações que passaram pela Federação Mato-grossense de Desportos e a Federação Mato-grossense de Futebol ao longo dos seus 74 anos – a entidade foi fundada dia 26 de maio de 1942 – com a história e a cultura de Mato Grosso, grande parte da memória do futebol estadual, registrada de 1980 para trás (são 38 anos) simplesmente desapareceu. De forma irreversível!.

Ao que consta, do riquíssimo passado do futebol mato-grossense desse período de quase quatro décadas – súmulas de jogos dos tempos do amadorismo e do profissionalismo, implantado em Mato Grosso em 1967, registro de jogadores, portarias, livros de atas de assembleias etc., restam uns 200 documentos -- muitos já esfarelando pela ação do tempo -- nas mãos de Sérgio da Silva Santos, um pesquisador autônomo, que há muitos anos vem trabalhando nas horas vagas na tentativa de  resgatar a memória desse esporte no estado.

Como essa memória foi parar mãos do pesquisador? Simples: depois de permanecer por muitos anos na sua primeira sede, na Praça Alencastro, a FMD mudou-se para a Rua Barão de Melgaço, esquina com Isaac Póvoas. Algum tempo depois, nova mudança da FMD para dependências que ficam sob as arquibancadas do Estádio Eurico Gaspar Dutra, o Dutrinha, construído em 1952 e que passaram por completa reforma quando o economista Agripino Bonilha 
Filho assumiu a presidência da entidade em 1969.

Nas suas freqüentes idas ao Dutrinha em busca de material para suas pesquisas, Sérgio Santos teve a curiosidade despertada por sacos, aparentemente cheios de papéis, espalhados por salas do estádio e sob suas arquibancadas. Um dia, ele perguntou a uma pessoa que vivia pelo Dutrinha, o que havia naqueles sacos. Informado de que se tratava de documentos da FMD, Santos mostrou interesse em folhear alguns daqueles documentos.

Ao descobrir que estava com um “tesouro” nas mãos, Santos perguntou à pessoa se poderia levar para sua casa um pacote de súmulas. A pessoa concordou em liberar as súmulas, pelas quais Santos pagou, por sua livre e espontânea vontade, R$ 20,00. Pouco tempo depois, o pesquisador pegou com a pessoa mais dois pacotes dos documentos, pagando-lhe mesmo valor da primeira vez.

Após comprar três pacotes de súmulas e outros documentos da entidade, o pesquisador percebeu que a pessoa passou a criar entraves para liberar a papelada, deixando evidente que pretendia receber um valor maior pela cessão dos documentos da FMD. Passados alguns anos, Sérgio Santos retornou ao local para ver se conseguia mais documentos, mas já não havia mais nada no Dutrinha. Desistiu, então, de continuar aumentando seu acervo sobre a velha documentação do futebol de Mato Grosso.       

Após alguns anos funcionando no Dutrinha, a entidade máter do futebol mato-grossense mudou-se para outra sede mais espaçosa, na Rua 24 de Outubro, quase na esquina com a Rua Zulmira Canavarros. E funcionou ali um bom tempo, inclusive já transformada em FMF, até sua transferência para o atual endereço na Rua 13 de Junho, dentro da área do Dutrinha, feita na gestão de João da Silva Torres, que foi eleito em 1979/80 e cumpriu dois mandatos sucessivos até 1986.

Com a nova mudança da sede, muitos documentos foram colocados em caixas e ensacados e por falta de espaço ficaram jogados pelos cantos da entidade. E segundo um velho funcionário da FMF, supostamente a mesma pessoa que vendia as súmulas a Sérgio da Silva Santos, continuou pegando documentos na nova sede “para vender para reciclagem de papel velho para consumir droga...”

Mesmo tendo conhecimento da irregularidade praticada pelo intruso, com a retirada de documentos oficiais da FMF, o funcionário da entidade nada fez para impedir sua ação delituosa. Resultado:  “da documentação de 1980 para trás não sobrou nada, foi tudo perdido...” – admite uma também antiga funcionária da FMF.

Durante a permanência do ex-deputado estadual João da Silva Torres na presidência da FMF(1979-80/86), o radialista e professor William Gomes, da Universidade Federal de Mato Grosso, tentou perpetuar a memória do futebol mato-grossense, através do processo de microfilmagem. Gomes chegou a arrumar patrocinadores para bancar o projeto, que seria executado por estagiários da UFMT, sem nenhum custo para a FMF, mas João Torres foi enrolando todo mundo e a preservação da história do futebol estadual não foi consumada.

Esportistas da velha guarda, muitos dos quais ajudaram a construir a história do futebol de Mato Grosso, isentam de culpa os dirigentes mais antigos da entidade pelo fato de parte da memória desse esporte no estado ter sido apagada definitivamente, pois não contavam com recursos tecnológicos para preservar a documentação.


E acusam de ”negligência, desleixo e falta de responsabilidade”  principalmente João da Silva Torres e Carlos  Orione pelo fim da memória do futebol de Mato Grosso. Entre seu período de interventor na FMD, de 31 de maio de 1976 até a eleição de Torres, que substituiu em 1986, Carlos Orione, recentemente falecido, ocupou a presidência da FMD-FMF por 39 anos...  

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Velha utilizava pedrinhas em um tabuleiro para mostrar como o Mixto devia jogar...


Nelson Vasques e Zico 
(Foto arquivo Nelson Vasques)
Passou pelo Mixto em 1976 um treinador oriundo do futebol carioca chamado Velha. Mas ele não ficou muito tempo no clube, pois na seletiva que apontou o representante de Mato Grosso no Campeonato Nacional daquele ano – o Mixto – o alvinegro foi dirigido por Roberto Jesus César, o Careca, que em seguida perdeu o cargo para o retranqueiro Milton Buzzeto.

Muito esperto, Velha trouxe uma inovação para o futebol mato-grossense: na hora de transmitir aos comandados suas orientações sobre a forma que cada um devia se postar em campo, ao invés de usar um quadro negro ou uma prancheta, como todo treinador faz, ele colocava um tabuleiro no chão e utilizava pedrinhas para simular a movimentação dos 11 jogadores. 

Na inauguração oficial do Estádio Governador José Fragelli, o Verdão, com quase 50 mil torcedores, o Mixto decidiu com o Flamengo, o Rio de Janeiro, o quadrangular que reuniu também Dom Bosco e Operário Várzea-grandense. Jogo duro contra um Flamengo que tinha Zico, Cantarelli, Júnior, Toninho e Geraldo, os dois já falecidos, Liminha...

Tabuleiro no chão e os jogadores em pé em sua volta, na hora de colocar as pedrinhas nas 11 posições, faltou uma, justamente a que “representava” Zico, o grande astro rubro-negro. Velha coçou a cabeça e disse com ar de preocupação: “Se esse cara já começou a dar trabalho aqui, imagina lá dentro de campo...” , provocando sorrisos da boleirada.

Depois de muita procura da pedrinha que faltava e que supostamente alguém havia escondido para sacanear Velha, ela apareceu. No final da preleção, o "xerife" Nelson Vasques tranqüilizou o treinador: “Deixa essa pedrinha comigo...”

Deixaram. E Nelson Vasques exerceu uma cerrada e eficiente marcação cerrada em cima de Zico, tornando-se uma verdadeira sombra do astro rubro-negro dentro do campo. Mas mesmo com a brilhante atuação de Nelson Vasques, eleito o melhor jogador em campo, o Flamengo ganhou o jogo por 1x0 e o torneio, com um gol de pênalti que o próprio Zico “cavou” em cima do zagueiro mixtense. A bola chutada por Zico bateu no poste, no pé do goleiro Saldanha e entrou para desespero de Velha, que logo depois perdeu o emprego...





terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Justino era bamba em um nó...

O lateral esquerdo Justino, conhecido também como Guará, que havia rodado muito pelo interior paulista e chegou ao Operário no final da década de 70, tinha um grande orgulho na vida: ser técnico em eletrônica. O jogador jurava que tinha feito um desses cursos por correspon­dência e inclusive exibia na porta da oficina que ele havia montado nos fundos da “república” do tricolor na Avenida Couto Magalhães num belo quadro um diploma que comprovava sua profissão e de cuja autenticidade muita gente duvidava.
Justino até podia não ser um grande técnico em eletrônica, como ele apregoava, mas para dar um nó nos outros, era daqui pra ali. Torcedores ope­rarianos que levaram seus aparelhos eletrônicos para Justino consertar, para dar uma força ao jogador, gastaram muita sola de chinelo, tênis e sapato para tê-los de volta. Quando conseguiam...
Uma vez, um fazendeirão de Poconé deixou na oficina de Justino uma daquelas gigantescas e antigas televisões com caixa de madeira para ele consertar. O fazendeiro voltou muitas vezes à oficina para pegar o televisor que nunca ficava pronto...
Um dia o fazendeiro entrou na concentração, aproximou-se de um grupo de jogadores e perguntou, com cara de poucos amigos: “Cadê o Guará?”
– Está lá nos fundos – responderam os jogadores em pânico com o tamanho do cano do 38 que o fazendeiro exibia acintosamente na cintura.
– Temos que fazer uma coisa pelo paizão – sugeriu Zé Mário, que Justino tinha criado desde pequeno e que fez muito sucesso pelo Brasil afora. como jogador de bola. Todos aprovaram a sugestão, mas ninguém teve cora­gem de ir até a oficina encarar o fazendeiro para dar um apoio moral a Justino naquela aparentemente delicada situação...
Passado um tempão, quando o clima entre os jogadores era dos mais tensos, com o grupo esperando pelo pior, os dois aparecem abraçados, cami­nhando em direção da porta onde estava a caminhonete do fazendeiro – de novo sem a televisão – e com Justino falando alto: “Vou chegar bem cedo, quero tomar leite no curral, tirado na hora da vaca, ainda bem morninho...”
Não demorou muito e Justino estava de volta. Ao passar pelo grupo de jogadores, a maioria dos quais o chamava também de paizão, comentou, sem ninguém lhe perguntar nada: “... e ainda comprei o revólver dele, fiado, para pagar daqui a quinze dias...”
Em 1979, recém-chegado ao Operário, Zé Pulula estava na “repú­blica” em uma manhã de sábado quando apareceu Justino, desesperado com a mão na cabeça, andando de um lado para outro. Zé Pulula quis saber de Justino qual era o problema.
           Depois de uma caprichada encenação, Justino explicou que precisa­va levar naquela hora sua noiva para o Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá, porque seu caso era muito grave e ele estava desprevenido de dinheiro. Zé Pu­lula ofereceu então seu Chevette para Justino resolver o problema emergencial de saúde de sua noiva. Justino garantiu que devolveria o carro no máximo até ao meio-dia.
Passavam-se as horas e nada de Justino aparecer com o carro. No­tando a aflição de Zé Pulula, o treinador operariano Totinha perguntou ao jogador qual era o problema. Quando o jogador explicou o que era, Totinha disse apenas: “Esqueça, Pulula!...” e saiu dando risadas.
No domingo, lá pelas 9 horas, o Chevette de Pulula estava na porta da concentração do Operário lavadinho e impecavelmente polido, sem ne­nhum vestígio da farra que Justino tinha feito no sábado nos locais de banho de Chapada dos Guimarães...
Apesar de ter aprontado rolos a dar com pau em sua longa passagem pelo Operário, Justino sempre foi um bom caráter e era muito admirado por muitos jogadores que o consideravam como um pai. Justino morreu a alguns anos numa trombada de bicicletas. Isso mesmo: a bicicleta que o ex-jogador pedalava se chocou com outra, na Avenida 31 de Março, em Várzea Grande, e na queda ele bateu violentamente a cabeça no asfalto e morreu na hora...

(Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso).

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

São Cristovão e Vila Nova perderam a conta dos jogos entre si

Dito Coró
Ao longo de suas existências – o São Cristóvão Esporte Clube, do  bairro Araés, foi fundado em 1961, e o Vila Nova Futebol Clube, de Bom Sucesso, em 1951 – disputaram tantos amistosos que dirigentes e jogadores dos dois clubes não têm a menor ideia de quantos jogos foram. O São Cristóvão desapareceu na década de 70, enquanto o Vila Nova continua em atividade, firme como uma rocha.

— Mas não é nem sombra do Vila Nova dos velhos tempos...” – recorda com saudades Joaquim Leite da Rosa, o Vovô Painha, hoje com 86 anos e que foi de tudo no clube – de presidente por dois mandatos consecutivos, num total de cinco anos, a carregador de uniformes da equipe, nas longas caminhadas de Bom Sucesso até os locais onde o time ia jogar...

Era convencional naqueles tempos, o clube que se deslocava para jogar um amistoso receber um “sinal” -- um pequeno valor em dinheiro -- como garantia de que o adversário iria retribuir a visita numa ocasião oportuna. Mas o São Cristóvão nunca quis receber a visita do Vila Nova. Por um simples motivo: não tinha como retribuir a mordomia que o clube de Bom Sucesso proporcionava a seus jogadores.

No período de estiagem, o São Cristóvão saía de manhã bem cedinho no domingo para chegar com tempo de descansar para jogar à tarde. Na época das chuvas, porém, a viagem tinha que ser antecipada para sábado, porque as estradas que ligavam o Araés a Bom Sucesso viravam um lamaçal só. Por isso, muitas vezes os jogadores passavam mais tempo no chão empurrando o caminhão do que em cima da carroceria...

Lembra Benedito Ferreira dos Santos, o Dito Coró, que foi dirigente, treinador, jogador, roupeiro, sapateiro, profissão que exerce até hoje, apesar dos seus 80 anos  – que os diretores do Vila Nova, não faziam economia para a boleirada do São Cristóvão ficar inteiramente à vontade nas exibições em Bom Sucesso.

Para começar, na casa onde os jogadores iam almoçar, geralmente a do presidente (por 15 anos seguidos) do Vila Nova, Gijon da Silva, na entrada sobre uma mesa com copos um garrafão  com cachaça de alambique para o pessoal abrir o apetite. Claro, que depois da primeira rodada, a rapaziada fazia uma vaquinha para comprar outra e mais outras e ia bebendo até a hora do almoço.ser servido.

Com a fartura de peixes do Rio Cuiabá, na hora do rango era mojica de pintado/cachara, piraputanga assada, pacu frito, bagre ensopado. A boleirada se empanturrava de tanto comer. Depois do almoço, se tinha jogo de times suplentes, os chamados “cascudos”, os jogadores iam para o campo enquanto os titulares ficavam no rio “jiboiando” e curtindo as então belas praias de Bom Sucesso até a hora de entrar em campo.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Guinness era pouco para recordista...

              Melhor goleiro do que foi Cacildo Hugueney, que despontou no futebol do leste de Mato Grosso no fim da década de 30, defen­dendo o Araguaia Esporte Clube, ainda está para nascer por esse mundo afora. Ele foi tão bom que se naquela época existisse o Guinness Book, certamente Hugueney seria um papa recordes.
Jogando ao lado de craques consagrados do AEC como Xomaninho, Bicanca, Dandan e Dante, Cacildo, sempre titular da equipe alto-araguaiense, sofreu apenas 3 gols em 10 anos de boleiro. Isso mesmo: 3 gols em 10 anos, com a incrível média de 1 gol sofrido a cada 3 anos e 4 meses...
Muita gente e gente famosa, olhe lá, tomou conhecimento dessa in­superável façanha de Cacildo. Como foi o caso de ex-jogadores como Barbosa, Jair da Rosa Pinto, Ademir Menezes, Friaça e Zizinho, entre outros, todos da Seleção Brasileira que perdeu a final da Copa de 1950, no Maracanã, naquela histórica decisão contra o Uruguai, por 2x1.
Pedro Lima e Cacildo Hugueney tinham ido ao Rio de Janeiro com suas respectivas esposas dar um passeio e acabaram encontrando o famoso lateral esquerdo Nilton Santos, do Botafogo e da Seleção Brasileira, que havia defendido o “Pantera do Leste” num torneio de futebol realizado em Cuiabá na década de 50.
Verdadeiro “gentleman” que sempre foi, dentro e fora do campo, Nil­ton Santos levou os dois casais para conhecerem os principais pontos turísticos da “Cidade Maravilhosa”. No roteiro, uma passagem pelo Estádio do Maraca­nã.
Foi lá que Lima e Hugueney conheceram os famosos craques do pas­sado. Eles estavam reunidos na sede de uma entidade que o ex-governador Carlos Lacerda havia criado para dar emprego, no próprio Maracanã, a ídolos do futebol carioca que estavam atravessando dificuldades financeiras.
E aí, rolando papo pra lá e pra cá, Cacildo discorreu com muita con­vicção sobre sua façanha no futebol em Mato Grosso. Os presentes olhavam meio desconfiados uns para os outros, fazendo força para não sorrir. E o herói do gol concluiu, de peito estufado: “Só engoli três bolas...”
Nomeado exator de rendas em Alto Araguaia, na década de 30, Ca­cildo Hugueney transformou-se num poderoso cacique político, seguindo os passos do maior “coronel” da política da região, Ondino Lima. Hugueney foi prefeito de Alto Araguaia durante 12 anos – 8, nomeado pelo interventor de Mato Grosso, Filinto Muller, e 4 em eleição direta.
Seu prestígio era tão grande que durante a campanha para presidente da República em 1955, ele conseguiu, com o apoio do seu padrinho políti­co Filinto Muller, levar Juscelino Kubitscheck a Alto Araguaia para fazer um comício. Foi o único município do interior de Mato Grosso a ter a honra de receber JK.
Mais do que fazer um discurso, JK até pernoitou em Alto Araguaia de domingo para segunda-feira. Pernoitou, mas não dormiu, pois pé de valsa como era, JK dançou das 23 até as 4 horas da matina em um baile muito chique realizado em sua homenagem.
O baile foi uma festa que deixou saudades em Alto Araguaia. Era tanta mulher querendo dançar com o futuro presidente da República que Pe­dro Lima, já bem mamado, organizou um “comitê” no salão para inscrição e organização da fila das dançarinas que iam rodopiar nos braços do mais famo­so e indiscutivelmente maior dançarino do baile...
Teve até um critério, estabelecido por Pedro Lima, para a sequência das danças. Primeiro as mais bonitas, na sequência as menos feias e depois as mais feias. JK, com toda a sua simplicidade e popularidade, não estava nem aí para a parceira que estava na fila. Ele queria era dançar...

(Reproduzido do livro Casos de todos os tempos  Folclore do futebol de Mato Grosso).. 

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Boato sobre dopping facilitou a goleada do Mixto contra o Americano no Verdão


Carlos Orione
Arranjar e vestir um jaleco branco, como se trabalhasse na área da saúde, e se apresentar à chefia da delegação do Americano, do Rio de Janeiro -- que já estava em Cuiabá para enfrentar o Mixto -- como enfermeiro da Federação Mato-grossense de Desportos designado para coletar urina de alguns boleiros depois do jogo para o exame anti-dopping.

Esta foi a ordem que o presidente da FMD, Carlos Orione, deu ao funcionário da entidade e seu homem de inteira confiança, Armindo Alves, em uma conversa reservada que ficou entre os dois, já falecidos, e as quatro paredes da sala da presidência, às vésperas do jogo entre os dois times, dia 10 de outubro de 1976, pelo Campeonato Brasileiro.

Armindo Alves cumpriu a missão direitinho. Naquele tempo, os boleiros, salvo raras exceções, afundavam o pé pra valer em psicotrópicos – Glucoenergan, Preludim, Pervintim etc  -- para ficarem mais “elétricos” durante o jogo, como a garotada faz hoje com os energéticos, largamente consumidos para revigorar as forças nas baladas de fim de semana.

Muitas vezes, os jogadores exageravam no consumo de “energéticos”. Na decisão do Campeonato Mato-grossense de Futebol de 1968/69, ganho pelo Operário, com uma vitória dramática sobre o Mixto, por 3x2, alguns operarianos consumiram tanto um chá mate especial no vestiário que depois de uma noitada na boate Tabaris para comemorar o título, o meio campo Tatu, do tricolor, queria de todo jeito retornar ao Dutrinha para continuar jogando...

Como o uso de estimulantes virou uma praga nos esportes em geral e não apenas no futebol, as autoridades começaram a apertar o cerco contra essa prática danosa para a saúde, aumentando a incidência, de surpresa, dos exames anti-dopping. E como as punições são rigorosas, podendo chegar ao banimento do infrator da atividade esportiva, profissional ou amadora, atletas de todos os níveis fugiam dos exames anti-dopping como o diabo foge da cruz...

Consequência ou efeito ou não da conversa que o “enfermeiro” Armindo Alves teve com a chefia da delegação do Americano, o fato é que o time carioca teve uma atuação apagadíssima no Verdão. Nem parecia o valente Americano que, como o Mixto, estava brigando para continuar na disputa da segunda fase do Brasileiro de 76.

Resultado do verdadeiro golpe dado no time carioca, pois a então CBD, que virou CBF em 1979, não havia programado nenhum sorteio de jogadores para ser submetidos ao exame de dopping  naquela partida no Verdão: o MIxto ganhou de 4x1, gols de Bife, Toninho, Lorival e Traíra, com Zé Neto marcando para o Americano  no último minuto de jogo.

Quem conta esta história não sabe nem se o Mixto ficou sabendo da armação da dupla Orione-Armindo contra o Americano. Mas Orione teve um bom motivo para, de forma sorrateira, ter induzido o time carioca a não recorrer a “energéticos” naquele jogo: o futebol mato-grossense estava vivendo sua fase de ouro e a continuidade do Mixto no Brasileiro significava dinheiro, muito dinheiro mesmo, nos cofres da sua federação...   


quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Torcida começa a crer que urucubaca do CEOV só terá fim com um novo macumbeiro


O lendário Carrapato
 (foto: arquivo  Diário
 de Corumbá) 
Depois de um jejum de dez anos sem conquistar um título importante, torcedores do Clube Esportivo Operário Várzea-grandense já começam a admitir que é de um “protetor” com poder no mundo espiritual, como o do falecido pai de santo Edu Diniz, o lendário Carrapato, que o clube está necessitando para acabar com a velha urucubaca. Para a torcida não é de bons jogadores, nem de técnicos consagrados que o “Chicote da Fronteira” anda precisando para dar a volta por cima e recuperar o seu prestígio no futebol mato-grossense.

A torcida da velha guarda e que testemunhou tantas conquistas brilhantes do tricolor é a que mais sofre com a má fase que parece não ter mais fim do quase septuagenário CEOV, fundado no dia 1 de maio de 1949, por Rubens dos Santos, sob inspiração do bispo Campelo de Aragão, que foi mandado de Goiânia-GO para criar Círculos Operários em Mato Grosso – uma versão urbana das Ligas Camponesas do temido comunista Francisco Julião.

Caminhando já para meio século de vínculo com o “Chicote da Fronteira”, o atacante Zé Pulula, afilhado de casamento de Rubens dos Santos, conheceu bem Carrapato. Mas apesar da fé de seu padrinho nas mandingas do pai de santo que Rubens dos Santos mandava vir de Corumbá-MS para os jogos mais importantes do seu clube, Zé Pulula não acreditava muito nas bruxarias de Carrapato. Ele admite, porém, que “trabalhos” extra-campo podem ter grande influência psicológica no futebol...

Outro operariano da velha guarda e que prefere não se identificar, não tem dúvida que Carrapato influenciava mesmo na vida do Operário e  nas suas grandes conquistas no futebol. “Só de saber que o Carrapato estava na cidade ou nas arquibancadas do estádio os nossos adversários tremiam de medo. Não era medo de perder o jogo, mas dos espíritos das trevas do Carrapato quebrar a perna de alguém, provocar uma doença durante o jogo...” – afirma.     

Entre os operarianos, inclusive da nova geração, já vai se consolidando a crença de que o “Chicote da Fronteira” está “amarrado” por alguma praga como a que uma lavadeira rogou contra o União, de Rondonópolis, que passou anos e anos sem conquistar um Campeonato Mato-grossense da 1ª Divisão, apesar de ter disputado oito finais do certame da FMF. Finalmente, o União ganhou o título estadual em 2010, depois que o cacique político rondonopolitano Afro Stefanini foi sepultado com os bolsos da calça cheios de dinheiro, colocado pela sua filha Amélia, para pagar a lavadeira no além...

A crença dos operarianos na existência de uma maldição contra o clube é fundamentada numa suspeita: faz muitos anos, o CEOV encomendou um “trabalho” do pesado e caríssimo ao pai de santo Alírio Ferreira, que transferiu seu Centro Espírita São Sebastião, da comunidade de Capela do Piçarrão para o distrito de Souza Lima, e nunca pagou o valor combinado. Por isso, muitos torcedores têm certeza que o pai de santo rogou uma praga da “braba” contra o clube por conta do calote. Mas Alírio nega de pés juntos...

Carrapato era conhecidíssimo nos meios esportivos de Corumbá, onde na década de 60 fundou e dirigiu por muitos anos o Cruzeiro Esporte Clube e muito respeitado e admirado na cidade pantaneira como pai de santo. Ele faleceu em 1986. Às vésperas do seu falecimento, Amin Amiden, diretor financeiro do hospital onde ele   estava internado, flagrou um grupo de seguidores de Carrapato fazendo um ”despacho” em seu apartamento, como se estivessem dando adeus ao mestre...

1979, véspera da decisão da Copa Cuiabá, entre Operário e Mixto: Nelsinho, o cabeleireiro dos mixtenses, estava no Baretta atendendo seus clientes, quando Rubens dos Santos adentrou o salão, seguido de um velho de cabeça branca, com aparência meio  sinistra, e foi logo lhe dizendo que a pessoa que o acompanhava queria conhecê-lo.

Quando Nelsinho estendeu-lhe a mão, o amigo de Rubens dos Santos foi logo dizendo: “Ah! Então você é o famoso mixtense... “ e apertou-lhe a mão com muita força.

-- Eu sou o Carrapato e vim de Corumbá só para derrotar o Mixto. O seu nome também está na minha lista...    

Gargalhadas ecoaram pelo salão. Nelsinho lembrou a Carrapato  que o Mixto tinha Bife, que estava no auge de sua forma e marcando gols adoidado, com Carrapato retrucando que o atacante mixtense estava mais que amarrado pelas suas mandingas...

Moral da história: o Mixto foi derrotado e Bife perdeu até pênalti.


-- O trabalho do Carrapato deve ter sido mesmo dos brabos. Vôte!... – esconjura Nelsinho.              . 

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Sem conversa ao pé-de-ouvido com o juiz, o placar do jogo no Verdão ficou em 0x0


Para o Mixto seria de fundamental importância derrotar o Operário, de Campo Grande, no jogo que disputariam no Verdão pelo Campeonato Nacional de 1976. Era o que se chama no jargão esportivo de jogo de vida ou morte...

Um dia antes do jogo, um dirigente do Atlético Goianense, com quem o Mixto manteve um excelente relacionamento – até o alvinegro dar um golpe no clube goiano e ficar com o passe de Traíra de graça... -- ligou para um diretor mixtense para informar que o juiz carioca que ia apitar a partida e era bem conhecido nos meios esportivos por ser chegadinho a uma conversa ao pé-de-ouvido, ia fazer escala em Goiânia com destino a Cuiabá.

O que o informante mixtense não sabia é que no mesmo avião estava também a delegação do Operário, que havia embarcado em Campo Grande. O avião estava para aterrissar no Aeroporto Santa Genoveva, a última etapa.do voo do operariano campo-gandense para a capital mato-grossense.

-- Então você vai agora para o aeroporto, deixa o carro no estacionamento pega o avião e o resto você sabe como ninguém como fazer... -- disse o mixtense, como se estivesse dando uma ordem ao goiano, em nome da amizade que imperava entre os dois clubes.

O diretor do Atlético Goianense cumpriu direitinho às determinações, mas o plano da conversa ao pé-de-ouvido com o juiz, com o objetivo de facilitar a vida do Mixto, acabou dando em nada.

Já no interior do avião, quando o dirigente goiano identificou o árbitro e tratou de se acomodar na poltrona do corredor da fileira em que o juiz estava, quem ele reconheceu no outro assento ao lado do apitador na janelinha da aeronave? Simplesmente o presidente do Operário, o espertíssimo Irineu Farina...

Claro que não houve a pretendida conversa ao pé-de-ouvido com o juiz para ele dar uma forcinha para o Mixto, que precisava tanto da vitória..

 Sem a conversinha camarada, o jogo no Verdão terminou em 0x0...

Não vai ter festa de confraternização do futebol do passado este ano


A confraternização entre ex-dirigentes, atletas e comunicadores do futebol cuiabano, realizada tradicionalmente dia 15 de novembro há mais de uma década, por um grupo que vem lutando para preservar a memória desse esporte na capital mato-grossense, vai passar em branco este ano. Motivo: falta de recursos financeiros para bancar os custos com a grande festa:que reúne centenas de pessoas que ajudaram a construir o passado da bola em Cuiabá.

Empolgado com o sucesso da confraternização.do futebol cuiabano, em 2011 o vice-governador do Estado, Chico Daltro, encampou o evento esportivo, transformando-o numa festa política, inclusive passando a homenagear pessoas que nada tinham a ver com o passado da bola em Cuiabá. Com a elitização da festa, muitos ex-atletas, dirigentes e comunicadores deixaram de participar da confraternização por considerar os ambientes onde passou a ser realizada – Hotel Fazenda Mato Grosso e Cenarium Rural – muito chiques..

A dupla Totó Arruda-Glauco Marcelo, que vinha há muito tempo promovendo o evento até que tentou manter a tradicional festa, retomada o ano passado, depois que o governo estadual deixou de organizar a  confraternização sem dar satisfação a ninguém. Mas não foi possível, por falta de patrocinadores por causa do alto custo da festa, que geralmente começa pela manhã e se estende por todo o dia, com grande consumo de comida e bebida, principalmente cerveja, pois, nesse quesito, os craques do passado continuam numa forma invejável...  .     

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Mixto deu o golpe no Atlético Goianense e ficou com o passe de Traíra de graça


O ponteiro direito Traira (já falecido) saiu de Goiânia
escondido no porta-malas do carro de José Luiz.
 (Foto: arquivo pessoal de Nelson Vasques)
Foi de caso muito bem pensado que o diretor do Departamento de Futebol do Mixto, José Luiz Paes de Barros, e o assistente técnico do treinador Milton Buzzeto, Roberto de Jesus César, o Careca, viajaram para Goiás, para cumprir uma missão que lhes foi confiada pelo presidente do alvinegro, Lourival Fontes: resolver a situação dos jogadores Traíra, Zé Luiz e Lourival, que haviam defendido o clube no Campeonato Nacional de 1976 e cujo prazo de empréstimo do Atlético Goianense encerrava-se dia 31 de dezembro daquele ano.

Por uma questão de estratégia, José Luiz e Careca só chegaram a Goiânia nos últimos dias de dezembro. Apesar da opção para contratar os três, na realidade o Mixto só estava interessado mesmo em Zé Luiz, que não queria nem ouvir falar de Cuiabá, pois estava muito bem no São José FC, de São José dos Campos, de São Paulo. Lourival, que havia jogado inclusive pelo São Paulo FC, já estava com 34 anos nas costas... Restava Traíra, das três opções.

De cara, o Atlético Goianense criou um problemão para liberar Traíra, cujo passe estava fixado em Cr$ 70 mil (cruzeiros): queria que Pastoril.fizesse parte da transação. Mas o Mixto já tinha acertado praticamente a venda de seu meia armador com o Goiás, um dos grandes rivais do Atlético Goianense.

-- Se vocês cobrirem a oferta do Goiás pelo Pastoril, o Mixto desfaz o negócio com eles – propôs José Luiz. No entanto, a sugestão do mixtense não vingou de imediato, para satisfação do dirigente alvinegro, que queria mesmo ganhar tempo para o dia 31 de dezembro chegar logo...

Apesar da insistência do Goiás para contratar Pastoril, o Mixto não tinha nenhuma pressa para vender seu jogador. Acontece que Pastoril tinha feito uma grande temporada em 1976 defendendo o Mixto e seu passe estava muito valorizado, apesar dos maus momentos que ele passou em Cuiabá caindo em desgraça diante da torcida alvinegra, inclusive sofrendo ameaças de agressões nas ruas. 
   
Mas por que essa reação da torcida contra o ex-ídolo? Simples. No Campeonato Nacional de 1976, o Mixto venceu o Vasco da Gama por 1x0 no Verdão, com Pelezinho marcando um gol olímpico no experiente goleiro Mazzaropi. No jogo de volta, em São Januário, no Rio de Janeiro, o Vasco da Gama venceu pelo mesmo placar registrado no Verdão  e eliminou o Mixto do certame.

A razão de Pastoril ter caído em desgraça diante da torcida alvinegra:  no final do segundo tempo do jogo em São Januário, o juiz marcou um pênalti a favor do  Mixto e que se convertido em gol classificaria o representante de Mato Grosso para a fase seguinte do certame. Encarregado da cobrança da penalidade máxima, Pastoril, permitiu a defesa de Mazzaropi, causando consequentemente a eliminação do seu time...

Exímio cobrador de pênaltis, Pastoril passou a ser acusado pela torcida de ter facilitado a defesa de Mazzaropi para classificar o Vasco da Gama, de cuja “escolinha” os dois eram crias. A torcida descobriu até que Pastoril e Mazzaropi passavam horas treinando penalidades máximas um contra o outro para imputar ao então jogador mixtense a pecha de “vendido”, além de adjetivos impublicáveis, que o acompanharam por muito tempo...

Chegou o tão esperado, por José Luiz e Careca, dia 30 de dezembro – dia 31 os bancos não abrem, pois fecham para balanço. Depois das 16 horas, José Luiz e Careca comunicaram diretores do Atlético Goianense que o Mixto havia depositado na tesouraria da ainda Federação Mato-grossense de Desportos (FMD), que virou FMF em 1979, um cheque de Cr$ (a moeda que havia entrado em vigor em 1970) 70 mil correspondente ao valor do passe de Traíra.. Passaram inclusive os telefones de Carlos Orione e Lourival Fontes, caso quisessem  confirmar  depósito do cheque...
  
Para dar uma demonstração que o Mixto estava agindo com lisura na transação de Traíra, na impossibilidade de sacar tanto dinheiro para pagar o Atlético Goianense, José Luiz foi até o Fórum depositar um cheque seu no valor do passe de Traíra, mas o Judiciário já estava em recesso de fim de ano... o dirigente mixtense sabia muito bem disso. Tudo estava caminhando como havia sido planejado.

Depois de muita confusão e tumultos, José Luiz conseguiu que uma Delegacia de Polícia Civil de Goiânia aceitasse ficar como depositária fiel do seu cheque pessoal para pagar o Atlético Goianense assim que os bancos reabrissem depois das festas de fim de ano. Ele conseguiu, inclusive, um documento para anexar a um futuro processo na eventualidade do clube goiano decidir contestar na Justiça Desportiva e Comum a forma como o Mixto estava pagando o passe de Traíra...

Depois de tanto “rolo” e com medo de uma reação da torcida, que não aceitava que Traíra deixasse o Atlético Goianense, o jogador saiu da capital goiana escondido no porta-malas do carro de José Luiz. E só depois de um longo trecho da viagem, Traíra saiu da incômoda posição e sentou-se no banco do veículo.

Na segunda-feira, Traíra assinou novo contrato com o Mixto. Enquanto o alvinegro providenciava rapidinho o registro de seu novo jogador, Traíra, ainda assustado com o tinha acontecido envolvendo sua transferência, foi levado para uma chácara às margens do Rio Cuiabá, onde passou dez dias pescando, comendo peixe e descansando...

Com o novo contrato de Traíra, o Mixto tratou imediatamente de sustar o pagamento do cheque que José Luiz havia deixado na Delegacia de Polícia de Goiânia. Quando os dirigentes do clube goiano procuraram a tesouraria da FMF para receber o dinheiro da transferência de Traíra, descobriram que não havia cheque algum  depositado em nome do Atlético Goianense. E só aí entenderam que haviam sido vítimas de um verdadeiro golpe. E nunca viram a cor de um centavo da transferência de Traíra para o Mixto...  


terça-feira, 11 de outubro de 2016

Carrapichos em duas camas e muita confusão no hotel

Ninguém se recorda se foi em 1957 ou 1958 que o todo poderoso Clube Atlético Mato-grossense pegou a estrada mais uma vez -- naqueles tempos aviões de carreira eram coisas raras na região -- para ir a Campo Grande enfrentar o Operário ou o Comercial, ninguém se lembra também.

Era um simples amistoso, mas a rivalidade que existia no futebol entre os times das duas principais cidades do Mato Grosso indiviso, transformava qualquer jogo numa verdadeira guerra.

A delegação atleticana, sempre comandada por Décio Matozo, chegou a Campo Grande, no sábado bem cedo, com tempo suficiente para descansar  para o jogo no dia seguinte. A viagem, apesar de cansativa  -- são 700 quilômetros entre Cuiabá e Campo Grande – pela então esburacada e poeirenta  BR-163, que sai de Tenente Portela-RS e termina em Santarém-PA, transcorreu tranqüila e, como sempre, muito animada.

Hospedada em um hotel da Rua Rio Branco, a delegação saiu para jantar mais cedo, no centro da cidade, para ficar em regime de concentração até a hora do jogo. Considerado o time da elite cuiabana, o Atlético Mato-grossense sempre manteve um time fortíssimo. Tanto é que quando o time jogava, a preocupação da torcida era saber de quanto a equipe havia ganhado o jogo porque a vitória era certa. Foi assim durante muitos anos. Também um time que tinha Fulepa, Portela, Iauro, Sebastião, Nato,  Ariel, Mário Tatuzinho...

Na volta para o hotel, por sugestão de Portela, alguns jogadores, que estrategicamente foram ficando para trás, começaram a pegar com muito cuidado para não se ferirem carrapichos na rua Rio Branco. Antes dos jogadores subirem para os quartos que já haviam ocupados, o grupo, disfarçadamente, colocou os carrapichos dentro do travesseiro de Fulepa e sob o lençol da cama de Paulinho, goleiro reserva de Fulepa.

Quando os dois deitaram e sentiram as doloridas ferroadas dos carrapichos, pularam furiosos das camas. O grupo que autor da brincadeira, tomou as dores de Fulepa e Paulinho, incentivando-os a descer ate a portaria para exigir providências da gerência do hotel. Houve até quem levantasse suspeita que os carrapichos tinham sido uma armação dos adversários do dia seguinte...

Já acostumado com esses tipos de brincadeiras, principalmente quando Portela estava presente, Fulepa se acalmou logo. Mas Paulinho que queria porque queria procurar a gerência do hotel para tirar satisfação e só a muito custo foi contido pelos companheiros. E, como sempre, a palhaçada terminou em gostosas gargalhadas...     


         

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segunda-feira, 10 de outubro de 2016

A morte está “apagando” a memória do futebol mato-grossense


Uma pesquisa memorial que vem sendo realizada pelo médico veterinário Manoel de Aquino Filho, o Lito, que durante mais de uma década brilhou intensamente como atacante do Mixto Esporte Clube, está constatando que muitos jogadores e outros personagens que ajudaram a construir a história de futebol e do seu rico folclore em Mato Grosso morreram nas últimas pouco mais de três décadas, deixando a memória desse esporte no Estado mais pobre.

Alguns morreram de forma trágica: Pelezinho e Tuta foram vítimas de acidentes de carros; Justino, faleceu em conseqüência da queda de uma bicicleta na Avenida 31 de Março; Severino Bispo, o sargento da PM Severino, foi assassinado a tiros ao tentar apartar uma briga comum em um bar no bairro Dom Aquino em Cuiabá...

Só da família Gonçalves, cujos irmãos Leônidas, Ariel, Pelé, Acácio e Marcelo, que jogando juntos em um mesmo time ou em equipes diferentes, encantaram multidões nos estádios do Liceu Cuiabano,e Dutrinha ou em simples campos de peladas espalhados pela Grande Cuiabá, perdeu três craques. O primeiro a morrer foi Leônidas, no distante 1989, depois Ariel e o último Pelé. Do quinteto dos irmãos Gonçalves, cuja estrela de maior brilho foi Leônidas, que além do futebol era craque também no vôlei e no basquete, restaram Acácio e Marcelo.

O levantamento de Lito revelou que o clube que perdeu o maior número de jogadores para a morte nos últimos anos foi o Mixto Esporte Clube. Só goleiros foram quatro: Dito Gasolina, Júlio César, Tira e Zeno. Outros goleiros já falecidos, são: Clóvis (Dom Bosco) e Mauro e Saldanha (Operário Várzea-grandense).

Faleceram também do Mixto, além dos zagueiros Severino Bispo e Armindo (Pelé) Gonçalves; os meio campistas Aírton Moreira, o Aírton Vaca Brava, Edy, Rômulo e Romeu Roberto; e os atacantes Catarino, Sargento (Caruncho) Magalhães, Jaburu, Bianchi, Albino Paraguaio e Adavilson (Pelezinho) Cruz.

A morte de Pelezinho ocorreu em 1981, quando ele bateu seu carro, um Passat 0 km, em um poste da Avenida Fernando Correa da Costa após sair da Lanchonete Chuá em direção a Boate Sayonara para uma noitada de carnaval. Com ele, morreram três amigos, ficando gravemente ferido o jovem craque Remo, irmão do recentemente falecido Rômulo, e que como o mano brilhou no Mixto.

Do velho Clube Atlético Mato-grossense, dos irmãos Matozo, morreram Sarobá, Batista Jaudy, Platibanda, Emílio e Ariel; do Dom Bosco, Ronaldo, Tom, Xaxá, Carmindo, os irmãos Traçaia (José e Totó Traçaia); do Palmeiras, Leovaldo, Nide, Lício Malheiro; Tenente Bosco, Paulinho Pascoal e Gete; do Postal Esporte Clube, Quincas e Alinor; do Operário Várzea-grandense, Alair, Martinho, Bife, Ide, JK, Piquete, Gebara e Justino; e os irmãos Uir e Uírton e Dunga, que jogaram em vários times da Baixada Cuiabana.

Outros importantes personagens que ajudaram a escrever a história do futebol mato-grossense e o seu riquíssimo folclore e que já partiram para outra: Ranulfo Paes de Barros, Wilson Diniz, Dr: Zelito Monteiro, Benedito Ribeiro (Lilito) Costa, Lino Miranda e Benedito Lisboa do Nascimento (Mixto), Rubens dos Santos (Operário); Acyr (Piquira) Matozo e José Oliveira (Atlético Mato-grossense) e Joaquim de Assis (Dom Bosco).

Da crônica esportiva morreram Ivo de Almeida, Eduardo Saraiva, Márcio de Arruda e Edipson Morbeck e Romeu Roberto, que depois de deixar de jogar bola militou no rádio esportivo como Memeu Roberto. Outros personagens que passaram a fazer parte da história do futebol mato-grossense: os torcedores Nhá Barbina (mixtense) e Armindo Pipoqueiro (dombosquino)...

Lito está muito preocupado com a falta de um registro obituário, que devia se feito pelas autoridades ligadas aos esportes, “para preservar a memória daqueles que não fazem mais parte do nosso convívio”. Para Lito, as pessoas citadas no levantamento que ele vem realizando e neste trabalho “deixaram significativa.parcela de contribuição para continuidade da história do futebol mato-grossense e que jamais poderá morrer...”

Campinho do Cai-Cai revelou talentos da bola e pernas de pau medrosos...


Pindu (foto cedida pela A Tribuna)
Quem diria que uma pequena área que englobava trechos das avenidas Dom Bosco, Ipiranga e São Sebastião no bairro Goiabeiras e que se tornou muito conhecida por ter abrigado durante muitos anos o cemitério do Cai-Cai onde foram enterradas no século passado cerca de três mil pessoas vítimas da varíola, a popular e temida bexiguinha, acabasse revelando jogadores que marcaram época no futebol cuiabano.

Mas foi isso que aconteceu mesmo. Dentre tantos craques que deram seus primeiros passos no campinho do Cai-Cai ainda hoje são lembrados Pedro Parada, que jogou no Palmeiras e no São Cristóvão; Aírton, também do São Cristóvão; Danilo, que andou pelo Mixto e o Anápolis; Carmindo, do Dom Bosco; Duduca, do Operário Várzea-grandense e Catraca, que atuou também em vários times.

Depois daquela “safra” de jogadores talentosos, a garotada do Cai-Cai até que tentou recuperar a fama daquela região no futebol. Todas as tardes, a meninada se reunia no campinho e partia para  os tradicionais “rachas”, que, no caso deles, ao contrário do que acontecia com os boleiros da velha guarda que lhes servia de exemplos – não em tudo, claro! -- podiam terminar bem cedo...

Acontece que o campinho ficava em frente a Igreja Nossa Senhora do Carmo, ocupando meia rua do lado do cemitério do Cai-Cai . Como dentro do cemitério existiam alguns pés de mangas de grandes copadas, tornando área a bem escura, quando a bola caía lá, principalmente no fim da tarde, ficava no local até o dia seguinte, porque o medo que a meninada tinha do cemitério, não deixava ninguém  entrar no “campo santo”  para pegá-la...

Entre a turma da nova geração do Cai-Cai, só um jogador se destacou no profissionalismo: Pindu, que teve brilhante passagem pelo União, de Rondonópolis. Depois de encerrar a bem sucedida a carreira de jogador, Pindu virou preparador físico do clube rondonopolitano.
   
Criado pelo presidente da Província de Mato Grosso, José Vieira Couto de Magalhães, exclusivamente para sepultar ou simplesmente queimar  as vítimas da bexiguinha,  o cemitério do Cai-Cai foi desativado há muitos anos, com a sua área sendo revitalizada e transformada na atual Praça Manoel Murtinho. A última catacumba de grande porte do cemitério foi demolida pelo Exército, com a presença de muitos oficiais graduados, recorda dona Cristina Nascimento Silva, que mora defronte ao antigo “campo santo” há mais de meio século.     


quarta-feira, 13 de julho de 2016

Praga da lavadeira


A historia da praga!!!

Você acredita em praga de lavadeira? O União de Rondonópolis foi perseguido por esta história há muito tempo. O time nunca tinha sido campeão em 37 anos de história. Tem 10 vice-campeonatos. E muita gente acreditava que a principal responsável era uma lavadeira.
Lenda?

Há 37 anos, uma lavadeira contratada pelo União era a responsável por lavar o uniforme dos jogadores. Mas o clube nunca teria recompensado a profissional. Até que um dia ela teria cansado de esperar pelo dinheiro e se revoltou. Ela teria dito que se não recebesse o pagamento, iria rogar uma praga.

De acordo com o jornalista Nelson Severino, o União tinha combinado uma determinada quantia. “Quando ela ia procurar os diretores, davam um dinheirinho para ela e iam enrolando. Uma história comum no futebol, né? Mas ela teria dito que o União nunca ia ser campeão do Estado. Podia ser até de outra coisa, mas do Estado, não”, disse.

Era o início de uma longa maldição. No Mato-grossense de 2008, na última tentativa, o time chegou a final com a melhor campanha, tinha o artilheiro do campeonato e a vantagem de dois empates para ficar com o título. Mas foi derrotado pelo Mixto, dentro de casa. Diante de quase 17 mil torcedores.

O roupeiro e massagista Américo conta como a lavadeira sofria. “Vinham encardidas aquelas meias. Tinha que lavar aquilo na mão, é sofrido. Ainda não paga ela, rogou praga mesmo”, afirmou.
Tentativas de acabar com a maldição

O União já tinha feito de tudo para acabar com a maldição. Convocou uma ajuda religiosa para abençoar o clube e contratou até uma nova lavadeira. “Você pode dever bar, açougue, mercado, farmácia, mas lavadeira pelo amor de Deus não”, ironizou Américo.

Ninguém descobriu o feitiço capaz de quebrar a maldição. E nem se quisesse daria para acertar as contas com a lavadeira, que já morreu. “A história da lavadeira é verdade e todos temem porque agora não tem como pagar. Ninguém nem sabe onde ela está enterrada. Como vai acabar com essa maldição?”, questiona o jornalista Nelson Severino. 


















quinta-feira, 7 de julho de 2016

Resgate da memória da bola

Estamos lançando este blog – folcloredofutebolmt.blogspot.com.br – com um único objetivo: recuperar o folclore do futebol de Mato Grosso, principalmente de um passado que já vai muito longe, como a fase do amadorismo, e que a ferrugem do tempo está apagando sem deixar vestígios. É claro que muita coisa da era romântica do futebol já se perdeu, como constatamos durante os quase 10 anos que levamos para escrever o livro “Folclore do futebol de Mato Grosso”. Foi um trabalho que exigiu muita paciência e cansativas e demoradas checagens de narrativas, pois muitos personagens que fizeram parte dos primórdios de uma história que começou efetivamente há quase um século, com os primeiros jogos de futebol em Cuiabá sendo disputados em 1913, já partiram para outra vida e quem continua resistindo ao tempo, guarda vagas lembranças em suas memórias, em virtude do envelhecimento dos seus neurônios.

Esperamos, sinceramente, que este blog sirva de canal de comunicação entre este blogueiro e os personagens – jogadores, diretores, árbitros, torcedores, etc. – que ajudaram a construir o passado divertido da bola. Um passado brilhante, marcado por sacanagens, armações, safadezas, que enriquecem o folclore do esporte e que se manteve vivo como nos velhos tempos, mesmo com o advento do futebol profissional em Mato Grosso em 1967. Temos convicção de que com a publicação do livro “Folclore do futebol de Mato Grosso” muita gente que não acreditou no nosso projeto de resgatar esta parte da memória do futebol amador e profissional do Estado vai se dispor a contar “causos” que conhecem, contribuindo para enriquecer e perpetuar o folclore do futebol. Enquanto cuidamos do lançamento do nosso livro, nos próximos dias, se Deus quiser, vamos alimentando este espaço diariamente com narrativas que estão na nossa obra...

Um ano do lançamento do livro "Folclore do Futebol de Mato Grosso"




Foi um sucesso o lançamento do livro "Folclore do Futebol de Mato Grosso"









Lançamento do livro Folclore do futebol de Mato Grosso

Foi um sucesso o lançamento do livro Folclore do futebol de Mato Grosso, escrito pelo jornalista Nelson Severino, que em 248 páginas da obra, reproduz 120 histórias, da forma como lhe foram contadas pelos seus personagens (jogadores, dirigentes, juízes, bandeirinhas, torcedores, etc.) –que ao longo de mais de sete décadas – as primeiras bolas chegaram em Cuiabá em 1905, mas as primeiras partidas só foram disputadas em 1913 – que viveram a fase romântica do futebol amador e do profissional, implantado no Estado em 1967. O evento teve lugar na Agecopa, que bancou a impressão da primeira edição do livro e que foi representada pelo diretor de Infra-estrutura Carlos Brito de Lima e o assessor de Imprensa Eduardo Ricci, que destacaram a importância da obra, cujo principal objetivo é resgatar uma parte da cultura de Mato Grosso que está sendo consumida pela ferrugem do tempo. Além de muitos amigos e familiares do jornalista prestigiaram o lançamento do livro os ex-jogadores Fulepa, Glauco Marcelo e Nelson Vasques, os jornalistas Sérgio Neves (Folha do Estado), Mário Hashimoto (Revista Sina) e Oliveira Júnior (A Gazeta), que edita junto com Davi Cézar a revista Espoint e outros. (Veja o vídeo produzido pela Agecopa) sobre o lançamento do livro.