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sexta-feira, 31 de março de 2017

Bom lugar, no trânsito paulista, para goleiro de Mato Grosso treinar reflexos...

(Foto Arquivo Google)
Nos áureos tempos do futebol de Mato Grosso, quando o Mixto participava de importantes campeonatos brasileiros, se o clube tivesse que disputar mais de uma partida em uma semana fora do Estado, principalmente contra equipes de São Paulo, a delegação ficava alojada no Hotel San Marino, na capital paulista.

O objetivo da permanência em São Paulo era evitar desgaste físico  dos jogadores com sucessivas viagens carregando malas, cansativas escalas em aeroportos e outros inconvenientes das nem sempre confortáveis salas de espera ou terminais de embarques...

Numa dessas viagens, a delegação mixtense estava no San Marino, aguardando o dia de seguir para Campinas para enfrentar a poderosa Ponte Preta, de Dicá e Rui Rei. Claro que a viagem seria feita de ônibus, pois menos de 100 quilômetros separam as duas cidades – o time campineiro venceu o jogo por 3x0, lembra Ruíter.

Enquanto não chegava a hora da viagem, os membros da delegação mixtense aproveitavam a folga para conhecer os principais pontos da capital paulista, nas imediações do hotel. Apesar do tempo de que dispunham os jogadores, pouca gente se arriscava a se afastar muito do hotel com medo de se perder...

Em um final de tarde, um grupo de mixtenses pelas ruas parou nas imediações da Avenida São João.com a Ipiranga, impressionado com a verdadeira loucura do trânsito naquelas duas vias da capital paulista...

Foi aí que o massagista mixtense Carlito, saiu-se com esta pérola: “Os goleiros de Mato Grosso bem que podiam vir treinar seus reflexos aqui nesse trânsito...”

A boleirada caiu na gargalhada...  

Logo que o grupo retornou ao San Marino, o comentário de Carlito sobre o trânsito e reflexo de goleiros de Mato Grosso espalhou-se rapidinho entre a moçada que tinha ficado no hotel 

E Carlito, que era considerado um homem bem letrado, pois era formado em fisioterapia, com especialização em reabilitação, pela Universidade Federal de Mato Grosso, teve que aguentar muita gozação dos mixtenses por muito tempo...               


sexta-feira, 24 de março de 2017

Há meio século a contratação de um goleiro inflacionou o futebol de Mato Grosso...


Édson Miranda (em primeiro plano na foto)
“Tenho certeza absoluta que eu vou passar para a história do futebol de Mato Grosso como o cara que inflacionou o futebol profissional no Estado...” – previu o presidente do São Cristóvão Esporte Clube, Édson de Souza Miranda, em 1966, no dia que a agremiação do bairro Araés fechou negócio com o Palmeiras, do Porto, pagando Cr$ 200 mil pelo passe do goleiro Parada Pedro.

Édson Miranda acertou em cheio, com a inflação do futebol de Mato Grosso começando ali. Só que não foi pelo fato do seu clube ter desembolsado o dinheiro para pagar o Palmeiras, mas por outro motivo inesperado e que surpreendeu todo mundo.

-- Eu só assino contrato se o São Cristóvão me pagar 15% do valor do meu passe – bateu o pé o goleirão do Palmeiras, Parada Pedro, que sabia que nos grandes centros esportivos do país como São Paulo e Rio Janeiro, a exigência de luvas tinha virado moda, com o percentual máximo chegando a 30%, dependendo da fama do jogador e geralmente pago pelo clube que comprava o boleiro.

O presidente do São Cristóvão esperneou, mas Parada Pedro não abriu mão do seu direito. Com muito custo, o goleiro baixou o percentual exigido para 10%. Mas aí, o olho da boleirada do São Cristóvão cresceu e alguns jogadores que acompanharam a transação, entre eles Zé Rondonópolis, Hélio Pinto, Dunga, cujo passe tinha sido comprado do Sport Clube Recife e Edinho, passaram a exigir dinheiro para defender o clube do Araés.

A decisão do São Cristóvão de passar a pagar seus jogadores, chegou rapidinho aos ouvidos dos boleiros de outros clubes. E a inflação do futebol de Mato Grosso, como havia previsto Édson Miranda, estava implantada nesse esporte no estado, na transição do futebol amador para o profissionalismo.

Lembra o tenente R/1Gumercindo Alves Correa Filho, que durante muitos anos foi diretor do São Cristóvão EC, que Édson Miranda, além de ter inflacionado o futebol de Mato Grosso, foi também o principal responsável pela implantação do profissionalismo no Estado.

De fato, foi ele que como gestor de Orçamento do Estado conseguiu, em 1966, que o então governador do Mato Grosso indiviso, Pedro Pedrossian, liberasse uma dinheirão para os clubes da 1ª Divisão da época – São Cristóvão, Mixto, Dom Bosco, Americano, Paulistano, Palmeiras e Clube Esportivo Operário Várzea-grandense – investirem em seus patrimônios físicos e em reforços para dar nova dimensão ao futebol, com a transição do amadorismo para o profissionalismo já no ano seguinte.

Além de diretor, sempre que sobrava uma brechinha, Correa jogava bola também. E inclusive tem algumas histórias divertidas para contar.  Uma delas aconteceu em 1962 ou 63 em um amistoso do seu clube contra a seleção de Alto Paraguai.

A certa altura do jogo, o juiz marcou um escanteio a favor do São Cristóvão, mas a torcida agarrou Correa e não o deixava executar a cobrança. Com muito custo e a intervenção do juiz, o escanteio foi cobrado. O São Cristóvão ganhou o jogo de 3x1..

Tempos depois, o São Cristóvão voltou ao Médio Norte para jogar com uma seleção de Arenápolis, que fica praticamente na divisa com a cidade de Alto Paraguai. Atuando na ponta esquerda e marcado por um zagueirão parrudo chamado Pelé, Correa não ganhava uma jogada, principalmente pelo alto. Nas bolas altas, Pelé arcava o pesado corpo em cima de Correa e cabeceava todas elas sem nenhuma dificuldade.

Até que finalmente o atacante do São Cristóvão dominou uma bola rasteira e passou-a entre as pernas de Pelé, pegando-a do outro lado nas costas do zagueiro. Enfurecido, Pelé girou o corpo e voltou com tudo para quebrar o atacante. Mas levou azar: Correa puxou a bola e o zagueiro, desequilibrado, torceu um dos tornozelos. E Correa foi o primeiro a socorrer o jogador adversário contundido. Vitória do São Cristóvão por 3x2.           


  

sábado, 18 de março de 2017

Aírton Vaca Brava precisava de “priquiteira” até para treinar...

A sunga que virou  "priquiteira" em Cuiabá
Fim de tarde de um dia qualquer de 1959, quase 60 anos atrás: um grupo de jovens jogadores de futebol espera defronte a papelaria e livraria de dona Pepe Hugueney de Siqueira, na Rua 7 de Setembro, no Centro Histórico de Cuiabá, a hora de iniciar a caminhada para o campo do antigo Colégio Estadual de Mato Grosso, que virou depois Liceu Cuiabano “Maria de Arruda Müller”, para mais um treino coletivo do Mixto Esporte Clube.

Pouco antes da saída da rapaziada, surgiu um probleminha: o jogador Aírton Moreira, mais conhecido como Vaca Brava, pela maneira destemida como se comportava em campo, procurou a dedicada dirigente do alvinegro para dizer que precisava de uma “priquiteira” para treinar...

Dona Pepe não entendeu nada. E nem ia entender mesmo! No linguajar dos jogadores, “periquiteira”, que Vaca Brava mudou para “priquiteira”, era a sunga, de lançamento recente no mercado, para proteger as partes íntimas dos atletas, especialmente dos jogadores de futebol, e que pela própria natureza desse esporte, ficam mais expostas a boladas...

Vaca Brava fazia desesperados gestos com as mãos para tentar explicar a dona Pepe o que ele estava dizendo, mas não tinha jeito não – recorda o lendário Ruiter, testemunha desse episódio que enriquece o folclore do futebol mato-grossense. Ruíter não se lembra de outros jogadores que testemunharam o fato, mas recorda que o Mixto da época era integrado por verdadeiros “astros” da bola, entre eles Bianchi, Acácio, Irair, Choné, Humberto, Armindo, Nazário, Proença...

Percebendo que Vaca Brava e dona Pepe não iam se entender, alguns jogadores entraram na conversa e esclareceram que “periquiteira”, também chamada de saqueira, era simplesmente a sunga, algumas das quais vinham com uma proteção especial para o “periquito” e as duas “bolinhas”, também chamadas de “periquitinhas” situadas na região pubiana. É óbvio que não entraram nesses detalhes nas explicações a respeitada dona Pepe..

Claro que o diálogo entre os dois mixtenses espalhou-se no meio da boleirada e até hoje é lembrado entre a velha guarda do futebol mato-grossense. Muito tempo depois, Aírton Vaca Brava, que não tinha muita intimidade com as letras, explicou que não falou em sunga com dona Pepe, porque pensava que esse nome era um palavrão...     

sexta-feira, 10 de março de 2017

Tresoitão fez poderosa emissora de Cuiabá tirar programa esportivo do ar...


Durante os quase seis anos que Agripino Bonilha Filho presidiu a Federação Mato-grossense de Desportos, entre 1969/75, os esportes amadoristas mato-grossenses subordinados a entidade – basquete, voleibol, futebol de salão, natação, atletismo, judô, etc. – viveram uma fase de grande prosperidade e projeção, inclusive participando de todas as competições de âmbito nacional. Se eventualmente faltava dinheiro para uma modalidade participar de algum certame no Brasil, era só Bonilha ligar para o presidente da Confederação Brasileira de Desportos, João Havelange, que o dinheiro caía rapidinho na conta...
          
Material esportivo, então, para todas as modalidades esportivas, até sobrava. Uma vez, de uma só pancada, a CBD mandou para a FMD três carretas carregadas de material esportivo para todas as modalidades. Difícil foi achar lugar para acomodar tantos agasalhos, camisas, calções, meias, caneleiras, chuteiras, tênis, bolas...
         
Mas mesmo com todos os esportes de Mato Grosso em grande evidência, em 1973 a Rádio Difusora Bom Jesus de Cuiabá, que tinha um programa de esportes de grande audiência, começou a desancar o pau na FMD. O motivo só Bonilha sabia: a dupla que apresentava o programa – Roberto França e Eduardo Saraiva – queria porque queria que a FMD comprasse umas quotas de publicidade do programa e a resposta do presidente da entidade era sempre um solene não.

Afinal, Bonilha não precisava de promoção pessoal e os esportes já ocupavam grandes espaços no noticiário das emissoras de rádio e nos jornais.  Além disso, não seria ético nem justo a FMD pagar uma emissora de rádio para veicular suas notícias e não patrocinar as outras que a divulgavam da mesma forma, principalmente o futebol.

No início, a pauleira de França e Saraiva era dirigida somente a FMD e aos outros esportes dos então departamentos que eram subordinados a entidade mater. Com o correr do tempo, as críticas da dupla de radialistas mudaram o foco e passaram a ser concentradas em Bonilha. Pior: saíram do campo esportivo e partiram para o ataque pessoal para provocar mesmo Bonilha...

Uma manhã, Bonilha meteu um revólver 38 cano longo na cintura e foi falar com o dono da emissora, o arcebispo dom Orlando Chaves. Bonilha reclamou da forma como estava sendo tratado na programação esportiva da rádio, fazendo ver a dom Orlando Chaves que não ficava bem para uma rádio católica, como é o caso da Difusora Bom Jesus de Cuiabá, cuja função é pregar a paz, ficar semeando discórdia.
     
Diante da indiferença de dom Orlando Chaves às suas queixas, Bonilha tirou o tresoitão da cintura, pôs em cima da mesa e disparou: “Se os dois não pararem de me ofender, vou fazer um regaço aqui, dom Orlando...”
     
Nisso, dona Aurora Chaves, diretora da rádio, e irmã de dom Orlando Chaves, entrou na conversa para dizer que não poderia fazer nada para resolver o problema. E nem poderia mesmo: França e Saraiva haviam comprado o horário do programa esportivo matinal e tinham autonomia para fazer o que bem entendessem.
        
  – Dona Aurora, já que a senhora não pode fazer nada, não se meta nesse rolo, se não vai sobrar para a senhora também... – disse Bonilha, enquanto ajeitava a arma sob a camisa.
   
 Antes de sair da sala de dom Orlando Chaves, Bonilha fez outra advertência: “Eu vou esperar lá embaixo o programa... se falarem mal de mim, subo aqui de novo e meto bala em tudo...”
        
A Rádio Difusora Bom Jesus de Cuiabá funcionava, como ainda hoje, na Igreja do Seminário. Bonilha desceu a escada, entrou no carro, ligou o rádio e ficou esperando o programa esportivo começar.  Mas naquele dia, o programa não foi ao ar. Nem nos 29 dias seguintes... 
         


sábado, 4 de março de 2017

Time de magistrados

“Vim lhes avisar que de agora em diante eu vou anular todos os gols que vocês marcarem e se alguém reclamar, mando para fora do campo. Respeitem o homem, pelo menos isso! Fui bem claro?...”

A advertência, em tom ameaçador, foi feita pelo árbitro Hen­rique Peixoto no intervalo do amistoso que o Araguaia Esporte Clube disputa­va com o time de Parnaíba – hoje Mato Grosso do Sul – e cujo placar ao final do 1º tempo apontava a vitória dos alto-araguaienses por 10x0.

O “homem” a quem o juiz Henrique Peixoto se referia era o gover­nador Pedro Pedrossian que estava visitando Alto Araguaia e foi ao campo assistir ao jogo. Pedrossian inclusive deu o pontapé inicial do amistoso.

Para os defensores do “Pantera do Leste” o jogo com o time de Par­naíba era um amistoso qualquer. Mas os jogadores ficaram com muita rai­va quando os integrantes da equipe visitante, que haviam chegado à cidade sábado bem cedo, passaram a circular pela pequena Alto Araguaia exibindo um belo uniforme e cheios de gingas e poses, certos de que o jogo seria uma moleza...

A raiva dos alto-araguaienses foi levada para o campo e transfor­mada num massacre. Do time visitante, só dois jogadores pegavam na bola: o goleiro para devolvê-la ao centro do campo e o centroavante para dar nova saída...

Os dirigentes e os jogadores do AEC sabiam que Henrique Peixoto cumpriria mesmo as promessas. E aí o técnico alviverde trocou uns cinco ou seis jogadores, colocando juvenis no lugar dos titulares. Mesmo com a ame­aça do juiz, os garotos, loucos para terem uma chance na equipe principal, marcaram mais dois gols que Henrique Peixoto não teve como anular. O jogo terminou com vitória do time da casa por 12x1.

Raiva à parte, o massacre do AEC foi mesmo uma descortesia con­tra a equipe de Parnaíba. Um bom tempo antes do jogo em Alto Araguaia, o “Pantera do Leste” tinha ido jogar em Parnaíba e o clube da casa fez o que pôde para agradar aos visitantes. Inclusive promoveu um baile em homenagem aos alto-araguaienses, que no dia seguinte não levaram em conta a hospitalidade e ganharam o jogo por 2x0, embora tenham ficado no bailão até as três horas da madrugada.

O “Pantera do Leste” chegou a Parnaíba no sábado à tarde. O baile provocou uma grande agitação na cidade, porque logo que a delegação chegou a Parnaíba correu a notícia que o time tinha um jogador que era juiz de Direi­to em Alto Araguaia. Para os parnaibanos era uma grande honra conviver com uma autoridade tão respeitada.

Era verdade: o juiz de Direito era Ica. No entanto, para deixar o magistrado-boleiro mais à vontade ficou combinado entre todo mundo que ninguém revelaria quem era Ica. Além disso, ele precisava ficar no anonimato até por questão de segurança naqueles tempos do tresoitão muito em voga em Mato Grosso...

E ficou mesmo. Até porque muita gente aproveitou o baile em Par­naíba para desfrutar de uns momentos de glória, de bajulação, de tratamento especial. Tanto é que a certa altura do baile uma bela jovem estrilou: “Pombas, já dancei com uns dez jogadores de Alto Araguaia e cada um diz que o doutor juiz é ele,,,”

(Reproduzido do livro Caso de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso).