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sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Tatu se alimentava de ovo cozido, repolho e batata doce para se livrar dos seus marcadores, com peidos...

Tatu: estratégia com pum
O ponteiro esquerdo Tatu, que jogou um bom tempo no extinto Riachuelo, de Cuiabá, e no Clube Esportivo Operário Várzea-grandense, na fase áurea do futebol amador de Mato Grosso e profissionalizado em 1968, tinha uma fórmula infalível estar sempre desmarcado: às vésperas de jogos importantes, ele só comia ovo cozido, repolho e batata doce, alimentos de rápida fermentação. Com essa combinação alimentícia, na hora do jogo, quando ele desandava a soltar peidos, um atrás do outro, não havia marcador que aguentasse ficar perto dele...

Aí não tinha técnico capaz de obrigar zagueiros a cumprir suas ordens para fazer marcação cerrada sobre Tatu, pois onde ele estava, a fedentina dos seus puns era insuportável. E, claro, que Tatu aproveitava a liberdade que tinha dentro de campo, com a marcação que recebia à distância, para infernizar a vida das defesas adversárias.  

Quem conta esta história do falecido “estrategista-peidorreiro” Tatu é o seu irmão, o subtenente da PM Humberto de Oliveira, hoje já reformado e morando em Poconé. Quando Tatu jogava no tricolor várzea-grandense, sua família de  morava no bairro Alameda, onde Humberto era conhecido por Nhôgui e seu irmão muito popular entre seus moradores por causa de seu futebol...

Aliás, foi por causa de sua popularidade no Alameda que Tatu livrou-se certa vez de se meter em uma encrenca daquelas, pois ele não era danado só dentro de campo, não! Numa Sexta-feira Santa, Tatu decidiu roubar umas galinhas do seu Nego para fazer uma festa no Sábado de Aleluia, uma antiga tradição que aos poucos foi virando cinzas do passado...

Mas seu Nego estava muito atento na defesa das penosas de seu galinheiro. Sua casa era murada e, quando já noite, Tatu pôs as mãos sobre o obstáculo para pulá-lo em busca das galinhas, seu Nego prendeu um dos seus braços com uma corda e puxou-a para seu lado. Sem saída, Tatu disse com voz suave: “Sou eu, Tatuzinho, seu Nego! Foi só uma brincadeirinha...” E foi solto em seguida.

Nhôgui lamenta que Tatu tenha encerrado a carreira no futebol muito cedo, por causa de uma contusão. Foi em um jogo entre os dois Operários do Mato Grosso ainda indiviso, em Cuiabá, que o zagueiro Sílvio Berto, do Operário, de Campo Grande, deu uma entrada violenta em Tatu e quebrou uma de suas pernas, o que o obrigou a parar com o futebol prematuramente. Logo depois do episódio, o zagueiro do clube campo-grandense também abandonou o futebol, virando radialista, na capital sul-mato-grossense.

A mãe de Tatu, dona Carminha de Oliveira, mais conhecida como Sinhá, tinha verdadeiro ódio do apelido do filho, que se chamava Hildebrando. Nos dias de jogos, quando o caminhão parava defronte sua casa no Alameda, com a carroceria cheia de jogadores – naquele tempo não existiam nem os modernos ônibus de hoje e nem as velhas jardineiras do passado – e o pessoal começava a chamar por Tatu, dona Sinhá saia na porta e gritava: “O Hildebrando está aqui... mas o Tatu está no cu das suas mães...”    
        

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Bandeirinhas do clássico dos milhões boicotaram a FMF e Boschilla, mas o árbitro deu a volta por cima...


Dia 9 de maio de 1986: Mixto e Operário Várzea-grandense iam disputar no Verdão um jogo importante pelo 1º turno do quadrangular decisivo do Campeonato Estadual da 1ª Divisão. Sob o pretexto de atrair público para o grande clássico, a Federação Mato-grossense de Futebol, pressionada pelos dois clubes, decidiu trazer um árbitro de fora, de renome no cenário nacional, para apitar o jogo. O escolhido para a difícil missão foi Dulcídio Vanderlei Boschilla, já falecido.

A contratação de um juiz consagrado no futebol brasileiro, como suposta atração de público – descobriu-se mais tarde – na realidade encobria a desconfiança de Operário e Mixto que não queriam que um jogo de tamanha importância fosse apitado por um árbitro de Mato Grosso. Que, aliás, os dois clubes conheciam muito bem. Daí...

Os dois bandeirinhas escalados pela FMF para trabalharem como auxiliares de Vanderlei Boschilla foi José Mauri Woicechiwisky e Ari Euclides Pereira. Os dois ficaram empolgados com a escolha: além da oportunidade de atuar em um grande clássico, ainda iam entrar numa boa grana, pois cada um receberia a metade da bolada que o juiz, contratado a peso de ouro, ia ganhar para apitar o jogo...

A crônica esportiva de Cuiabá já havia divulgado inclusive o valor da taxa de Boschilla. Mas aí José Mauri e Ari Euclides descobriram uma grande sacanagem da FMF: a entidade elevou às alturas a diária de Boschilla e reduziu o valor da sua taxa de arbitragem para pagar menos aos dois bandeirinhas. Os dois reagiram contra a patifaria da entidade, mas não teve jeito: teriam que se conformar com uma taxa de arbitragem bem mixuruca, quase simbólica.

José Mauri e Ari Euclides decidiram então boicotar a FMF: não iam trabalhar no clássico. Na noite do jogo, Ari Euclides foi para a casa de José Mauri, no Coophamil, onde ficaram curtindo uma piscina e aguardando o que ia acontecer. Quando seus celulares tocavam, conferiam: se era de gente da FMF, não atendiam.

Lá pelas tantas, as rádios que cobriam o clássico começaram a noticiar que o juiz Boschilla já tinha chegado ao Verdão e nada dos bandeirinhas aparecerem. Os dirigentes da FMF estavam desesperados e Boschilla nem aí. Ciente do problema, quando Operário e Mixto entraram em campo, o juiz procurou um dirigente da FMF e fez um pedido: “Chame dois funcionários de confiança da federação para meus auxiliares, vou apitar sem bandeirinhas...”

Apresentado aos dois improvisados auxiliares, Pedro Santana e Luís Fernando Kolmat, Boschilla foi curto e grosso: “Vocês só marcam saída de bola nas laterais; impedimentos e saídas de bola pela linha de fundo eu marco...”

Até que as emissoras de rádios esclareceram o que as duas pessoas estavam fazendo com aquelas bandeirinhas nas mãos, vestidos como cidadãos comuns, a torcida não entendia nada do que estava acontecendo naquela noite no Verdão.     

Apesar da improvisação dos dois assistentes, e da importância e da rivalidade do chamado “clássico dos milhões”, Boschilla teve uma atuação impecável, apesar da acusação de operarianos de que ele teria deixado de assinalar um pênalti a favor do tricolor. O Mixto ganhou o jogo por 1x0, gol marcado de cabeça por Amparo, no primeiro tempo, na cobrança de uma falta por Pastoril.

Quanto a Ari Euclides e José Mauri, foram punidos com um “gancho” de 30 dias cada um, pelo boicote à FMF e a Boschilla. Antes e depois do jogo, o presidente João Torres afirmou que ia denunciá-los à Comissão Nacional de Arbitragem da CBF, mas ficou mesmo só na ameaça...                     

sábado, 15 de dezembro de 2018

Uma viagem folclórica de Joaquim de Assis e Schardosin em busca de reforços para o Dom Bosco


O Dom Bosco estava precisando com urgência reforçar sua zaga central para disputar o Campeonato Brasileiro de  1978. No mercado da bola em Mato Grosso zagueiros centrais de alto nível eram mangas de colete e o presidente dombosquino Joaquim de Assis decidiu buscar dois jogadores da posição em outros estados.

E lá se foram Joaquim de Assis e o supervisor de futebol Newton Schardosin para São Paulo em busca dos jogadores pretendidos. A primeira parada dos dois seria Piracicaba, onde pretendiam conseguir junto ao XV de Novembro os reforços que buscavam. Se não desse certo. tentariam outros mercados...

Definida a viagem, na Belina de Joaquim de Assis, dirigida por Schardosin, pegaram a BR-364 e foram até Jataí, em Goiás, pois haviam decidido chegar a Piracicaba entrando pelo Triângulo Mineiro. Depois de 15 horas de viagem, abasteceram o carro no Posto Triângulo, antes de Uberlândia e após um rápido descanso, para um lanche, caíram no mundo...

Como tinham pressa, decidiram viajar a noite inteira para o destino final, Piracicaba. Quando o dia já estava amanhecendo, a toda hora Assis dizia a Schardosin: “Tenho certeza que já passamos por aqui...” 

O supervisor Schardosin desconversava e continuava afundando o pé no acelerador, com a convicção de quem supostamente conhecia muito bem o terreno onde estava pisando...

– Schardosin, eu tenho certeza... “ – Já sei, presidente, o senhor acha que... mas está enganado... – cortava Schardosin..

Quando o dia amanheceu, os dois constataram, para desespero de Schardosin, que estavam chegando a Alto Araguaia, voltando para Cuiabá...

Cansado e chateado, Joaquim de Assis deu a ordem a Schardosin: “Siga em frente, vamos pra casa...”

Dominado pelo cansaço, agravado pela noite insone ao volante do carro, Schardosin procurou ganhar tempo, buscando atalhos para retornar a Cuiabá...

Nunca mais Joaquim de Assis viajou por via terrestre com Schardosin...

(Republicado por falhas no sistema de registro de acessos).

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Pancadaria, bombas no vestiário, prisão e queima de roupa de árbitros em um jogo que ficou na história de Jaciara...


Campeonato Mato-grossense de Futebol no limiar da década de 1980. O Grêmio Jaciara jogava no extinto Verdão contra o Operário Várzea-grandense e, surpreendentemente, vencia por 1x0. Mas antes de terminar o primeiro tempo, o atacante tricolor Miltinho Goiano caiu na área do time visitante e o juiz marcou pênalti, que convertido em gol, levou o clube várzea-grandense a uma reação que culminou em uma goleada de 5x1contra o “tricolor dos canaviais”, como é chamada a equipe jaciarense...

Revoltados contra a arbitragem, dirigentes, jogadores e torcedores do clube visitante saíram do Verdão jurando que daquele dia em diante os árbitros que fossem apitar em Jaciara podiam preparar o lombo, porque o clube nunca mais ia ser vítima de esbulho por parte de juízes e bandeirinhas, como o que tinha ocorrido em Cuiabá. “Vamos quebrar todo mundo lá no pau...” – gritavam os enfurecidos jaciarenses...

O próximo jogo do Grêmio Jaciara seria em um domingo pela manhã contra o Dom Bosco, no Estádio “Márcio Cassiano da Silva”. No início da semana, quando a FMF divulgou a escala de árbitro para o jogo, recebeu um não coletivo: ninguém ia apitar em Jaciara. O Departamento de Árbitros recorreu então ao pessoal que morava em Rondonópolis, que fica bem perto de Jaciara, mas a resposta foi à mesma: ninguém iria...

Sem alternativas, a FMF apelou para o veterano Wilson Eraldo da Silva, que nunca tinha tido problemas com o pessoal de Jaciara e que topou a parada. Mas impôs uma condição: queria como seus auxiliares Moisés Serafim Medeiros, já falecido, e Divino Rodrigues, que eram policiais civis e que só viajavam para o interior com dois revólveres cada um em suas bolsas...

O pessoal da FMF – delegado, financeiro, juiz, bandeirinhas – chegou bem cedo ao estádio. E já deu de cara com um torcedor mal encarado, exibindo ostensivamente uma peixeira na cintura e gritando de forma ameaçadora que o juiz e os bandeirinhas do jogo iam entrar na porrada sem dó nem piedade se o time jaciarense não saísse de campo com a vitória...

Enfiando uma mão na sua bolsa para ver se não havia esquecido seu desodorante spray, Wilson Eraldo da Silva, teve uma reação que assustou o torcedor: “Ouça bem, moço: eu vim aqui para morrer. Mas vou levar muita gente comigo. Não me obrigue a tirar minha mão de dentro da minha bolsa, se não você vai ser o primeiro a ir comigo...”

Ao ouvir a reação de Wilson Eraldo, o torcedor saiu do caminho deles ligeirinho. Mas nem bem entraram no vestiário dos juízes para se tocar, torcedores começaram a jogar bombas no local. Uma delas, de alto poder explosivo, deixou os ouvidos do pessoal zumbindo – recorda Wilson Eraldo, que chegou a ficar momentaneamente meio surdo com o forte estampido...

Diante de tanta pressão de todos os lados, Wilson Eraldo foi curto e grosso na sua conversa com os jogadores no centro do gramado antes do início da partida: “Eu não vim aqui para apitar; vim para acabar com a carreira de vocês se não jogarem bola...” – afirmou com todas as letras, depois de avisar, reservadamente, os dombosquinos para não entrarem nas confusões dos jaciarenses. “O problema deles é com a arbitragem...’’ –  aconselhou.

O jogo começou bem, mas aos 4 minutos surgiu a primeira confusão, com o juiz marcando uma falta contra o Grêmio Jaciara. Os jogadores foram para cima do árbitro, que, pressionado e ameaçado, foi recuando e conversando com os jaciarenses. Serenados os ânimos, Wilson Eraldo foi de posição em posição e meteu cartão amarelo em cinco jogadores do time da casa...

Aos 18 minutos, na cobrança de um pênalti, o clube jaciarense abriu o placar, para explosão de alegria da torcida. Em seguida ao gol, surgiu nova confusão: um zagueiro do clube jaciarense desentendeu-se com o atacante dombosquino  Jaílson e o juiz mandou os dois para os chuveiros. Jaílson reclamou da expulsão, mas Eraldo Wilson ponderou: “Você devia era me agradecer. Daqui a pouco vai ter porrada aqui e você vai estar fora dessa!...”

Aos trancos e barrancos o jogo foi até o fim no primeiro tempo, com o Grêmio Jaciara em vantagem no placar. No segundo período, aos 18 minutos, após boa troca de passes do Dom Bosco no meio de campo, Vitor lançou Wender, um garoto bom de bola, que deu um chutão para frente, pegou o goleiro desprevenido, e acabou fazendo um bonito gol...     

Houve invasão do campo. Um torcedor que partiu pra cima de Wilson Eraldo levou do árbitro um soco bem no pau do nariz e começou a sangrar abundantemente. Foi a maior confusão no “Márcio Cassiano da Silva”. Dois policiais fizeram, com os abraços, uma espécie de uma “cela” sobre o juiz, para protegê-lo enquanto ele tentava se defender dos agressores.

Nisso, um torcedor que também havia invadido o campo, deu uma pedrada em um sargento da PM que estava no meio do rolo confusão. Um soldado correu atrás do torcedor e desferiu uma violenta pancada com um cassetete na cara do agressor e o prendeu. Dos socos e pontapés, principalmente chutes na bunda, não escaparam nem o delegado da FMF, Ismar Gomes, e o radialista Lino Pinheiro, de A Gazeta, que estava iniciando suas transmissões esportivas.

A pancadaria estendeu-se também pelas arquibancadas. O ex-presidente do clube, por um curto período, Flávio Silva Pires, estava no campo com um filho, então com dez anos, e um amigo conhecido pelo apelido de Vascaíno. Quando um torcedor partiu pra cima dos três, Vascaíno deu-lhe um soco, derrubando ele e mais três pessoas. A ameaça de agressão acabou ali...     

Serenado os ânimos, muita gente  foi parar na Polícia Militar. Para complicar a situação, muitos torcedores foram parar nas dependências da PM para exigir a libertação do torcedor preso no estádio por ferir o sargento com a pedra. Depois de prestar depoimentos na PM, o pessoal da FMF foi levado de volta para o estádio para pegar suas coisas e retornar a Cuiabá. A PM teve inclusive que jogar os carros onde estava o pessoal da FMF contra os torcedores para abrir passagem.

Quando o juiz, os bandeirinhas e os outros membros da FMF chegaram ao vestiário do estádio, uma decepção: os torcedores haviam invadido o local e queimado as roupas do árbitro e dos seus auxiliares, além de ter saqueado seus pertences, inclusive o dinheiro de suas carteiras. Teve gente que retornou a Cuiabá com roupas emprestadas por amigos. Como foi o caso de Wilson Eraldo da Silva... 

domingo, 2 de dezembro de 2018

Auxiliar sentiu dores nas pernas, ergueu a bandeirinha e provocou grande confusão em Barra do Garças...

Barra do Garças e União, de Rondonópolis, disputavam na década de 1980, mais um jogo do Campeonato Mato-grossense de Futebol da 1ª Divisão, no Estádio Zeca Costa. Como sempre acontece quando os dois tradicionais rivais do interior se defrontam o jogo era muito disputado.

No apito, Ismar Gomes conduzia a partida com tranqüilidade. Um dos bandeirinhas era Wilson Eraldo da Silva; o outro, Antonio Ângelo, que já desencarnou faz muito tempo. Ismar Gomes e Wilson Eraldo continuam em atividades até hoje, o primeiro como funcionário da FMF e outro ligado a Sedel e trabalhando numa empresa da sua família.

O jogo já caminhava para a final e o placar continuava “ocho”, como dizem muitos cronistas esportivos quando o resultado do jogo está em 0x0. Mas aí aconteceu um fato inusitado que viria provocar uma completa metamorfose na partida.

Em um ataque do União, o auxiliar Antonio Ângelo ergueu a bandeirinha para chamar a atenção do juiz Ismar Gomes para um grave problema que o afligia: estava sentindo fortes nas duas pernas e talvez até que tivesse de ser substituído pelo árbitro reserva...

O ataque do União resultou em gol e os jogadores do Barra do Garças partiram para cima de Ismar Gomes, exigindo que ele anulasse o tento, marcando o impedimento que Antonio Ângelo havia apontado, erguendo a bandeirinha. Mas o juiz não havia notado nada de anormal no lance do União e confirmou o gol...

Confusão da pesada dentro do campo, com ameaças de agressões, explicações, pedidos de desculpas etc. Depois de muito vai-não-vai, a partida foi reiniciada e terminou com a vitória do time de Rondonópolis, com o gol ilegal.

Encerrado o jogo, o pessoal da Federação Mato-grossense de Futebol tratou de sair correndo do Zeca Costa para a Estação Rodoviária, que ficava perto do hotel onde a turma tinha ficado hospedada, para retornar à Cuiabá.

Quando Wilson Eraldo se aproximava do hotel viu gente saindo detrás de postes de energia elétrica, detrás de carros e até descendo de árvores, pendurada em galhos, e perguntando se era ele que havia apitado o jogo...

– Não fui eu. Quem apitou o jogo está vindo aí atrás – afirmava Eraldo Wilson, tentando tirar o seu da reta...

Quem vinha atrás dele, apressado para chegar à Rodoviária, era mesmo Ismar Gomes, que apanhou pra valer – como ele próprio admite – da enfurecida torcida barragarcense.

Alertada sobre os riscos que o pessoal da FMF estava correndo, a Polícia Militar chegou rapidinho a Rodoviária e impediu um massacre geral contra o grupo federacionista que tinha trabalhado no jogo no Zeca Costa.

A raiva da torcida barragarcense era tanta por causa da falha de Antonio Ãngelo que a Polícia Militar decidiu escoltar o ônibus que conduzia a turma da FMF de volta para Cuiabá até General Carneiro, que fica a 67 quilômetros de Barra do Garças...    
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domingo, 25 de novembro de 2018

Orlando Antunes: 20 anos de arbitragem e muitas histórias de uma longa carreira esportiva


Quem quiser ouvir boas histórias, inclusive folclóricas, sobre futebol, arbitragem, rádio etc. é só procurar Orlando Antunes de Oliveira. São mais de quatro décadas de profunda ligação com o esporte, iniciada em 1974, quando se tornou árbitro profissional de futebol no Paraná, com passagens depois por Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Só de arbitragem são mais de duas décadas, inclusive mantendo-se como registrado na CBF por mais de 10 anos.

Depois de se afastar dos gramados como juiz, Orlando Antunes de Oliveira trabalhou também como supervisor de clubes de futebol e eventualmente como treinador, e de uns anos para cá tem se dedicado ao rádio e a sites, como cronista esportivo. Claro que com uma bagagem tão extensa na sua vida profissional, ele tem muitas histórias ligadas ao esporte para contar. (A seguir, publicamos três folclores de OAO, que embora não sejam especificamente do futebol mato-grossense, são interessantes realmente...) 

CARANGUEJOS INTERROMPEM JOGO
Orlando Antunes apitava em Paranaguá um jogo do Rio Branco, pelo Campeonato Paranaense da 2ª Divisão, em 1974 ou 1975, no Estádio “Nelson Medrado Dias”, conhecido também como “Estradinha” e cuja construção, numa área de manguezal, a beira mar, exigiu uma grande quantidade de aterro. Aliás, parte da população de Paranaguá não gostou da construção do estádio ali, porque reduziu a área de captura de caranguejos, que era o ganha-pão de muita gente...

De repente, naquela tarde ensolarada, a bola, quando chutada rasteira pelos jogadores, começou a ser, estranhamente, desviada do curso normal. A causa das “trepidações” da bola foi descoberta logo: uma grande quantidade de caranguejos havia invadido o campo, provocando, inclusive, a suspensão do jogo pelo árbitro. Primeiro uns poucos, depois muitos crustáceos que surgiam de todos os lados e tomaram conta do gramado...

Começou, então, uma verdadeira caçada aos caranguejos, participando dela muitos torcedores que decidiram ganhar um dinheirinho extra – uma cambada desse crustáceo, muito utilizado pela culinária brasileira – custa hoje em torno de R$ 80,00, sem precisar meter a mão na lama dos manguezais!...

SEMENTES DA MELANCIA VIRARAM DINHEIRO...
“Na década de 1970 a arbitragem brasileira vivia seus piores anos. Em cada Federação havia uma quadrilha que manipulava os resultados das partidas em troca de dinheiro, claro. Era comum no interior de São Paulo, do Paraná e de outros estados os dirigentes de clubes irem às estações rodoviárias ou ferroviárias recepcionarem o juiz que ia apitar a partida. E não raro ofereciam brindes ao árbitro mesmo antes do jogo, como queijo caseiro, doce cristalizado, rapadura, melancia e outros produtos...” – recorda Antunes de Oliveira.

Ele se lembra de um tal Bodão, cujo primeiro nome era Waldemar, que foi apitar um jogo no interior paulista e ganhou uma bela melancia. Na volta para casa, viajando de trem da Sorocabana ou da Noroeste, seus companheiros de arbitragem insistiram para que ele abrisse a melancia e a repartisse entre eles. Bodão não quis conversa. A certa altura da viagem, porém, em um violento solavanco do trem, a melancia escapou dos braços de Bodão e espatifou-se no assoalho. Aí descobriram o apego de Bodão pela melancia: suas sementes haviam se “transformado” em valiosas notas de dinheiro...       

ÁGUA DE MANGABA SALVAVA O CASCAVEL
Mangaba era massagista negro, alto e magro, do tipo zulu, que surgiu no Jandaia EC, de Jandaia do Sul, no norte do Paraná, e depois foi para o Cascavel, no Oeste do Paraná, onde faz muito frio no inverno, mas o calor do verão é de rachar, para trabalhar no time profissional da cidade, lá por 1973/1974.

Com a contratação de Mangaba, o Cascavel tornou-se praticamente imbatível em seus domínios, chamado de “Ninho da Cobra”, nos tempos de verão brabo. Graças a uma artimanha de Mangaba. No segundo tempo dos jogos do Cascavel, se o clube da casa estivesse em desvantagem no placar, ele, disfarçadamente, aplicava uma infalível estratégia contra os adversários...

Mangaba entrava em campo para atender seus jogadores com duas bolsas de água geladinha, uma das quais deixava cair estrategicamente perto dos adversários. E a turma caía matando na água para saciar a sede. E aí em questão de minutos, era um tal de jogador passar mal, sofrer tontura e até correr desesperado para o vestiário com disenteria da braba, graças a água “batizada” de Mangaba...       

        


sábado, 17 de novembro de 2018

Berga, um sonho arrojado do futebol de Mato Grosso que durou pouco tempo...


A torcida de Mato Grosso ficou intrigada, com uma notícia que passou a circular na imprensa, com destaque no noticiário esportivo, em 2000: o Berga seria a grande surpresa do Campeonato Mato-grossense de Futebol da 1ª Divisão daquele ano. Afinal quem era esse Berga, um nome esquisito para um time de futebol, que chegava com uma novidade: era o primeiro clube-empresa do futebol de Mato Grosso.

Berga é uma redução do nome de Bergamaschi, cujo pré-nome era Ettore (já falecido), um ricaço italiano que investia pesado no mercado de Mato Grosso, especialmente no ramo imobiliário. Fanático por futebol, Ettore alimentava um sonho na vida: ver seus dois filhos – Simon e David – que defendiam o Uirapuru, a famosa “escolinha” da Universidade Federal de Mato Grosso, jogando no futebol italiano.

Para levar seu projeto adiante, Ettore formou uma sociedade com o técnico Éder Taques, que montaria um time com jovens e que ficaria treinando durante um ano ou até que estivesse em condições de realizar uma temporada por gramados italianos para mostrar os jogadores do Berga, principalmente Simon e David. Tudo por conta do seu endinheirado patrocinador.

Formada a Comissão Técnica, encabeçada pelo técnico Éder Taques, integrada também pelo professor Expedito Sabino, a garotada, com muitos jogadores do Uirapuru, começou a treinar. A CT tinha médico, massagista, fisioterapeuta, professores de Educação Física, treinadores de goleiros, assessor de imprensa, nutricionista etc. O pessoal que ficava na chique “república” do clube tinha quatro refeições por dia – café da manhã, almoço, jantar e lanche da noite.

A programação de treinamento era seguida rigorosamente.  Mas com folga de todo mundo, a partir de sábado depois do almoço, quando era feito o pagamento da semana a todo plantel, até domingo à noite, quando os jogadores se apresentavam para reinício das atividades na segunda-feira. Mas aí a CT descobriu que a rotina de treinamentos, sem jogos, estava deixando os jogadores com tédio...

Bergamaschi e Éder Taques foram conversar com o presidente da FMF, Carlos Orione, para saber como o Berga conseguiria disputar o Campeonato da 2ª Divisão daquele ano e cujas suas grandes atrações eram os profissionais já consagrados Dito Siqueira e Éverton Perereca. Quando Orione tomou conhecimento do projeto da dupla teve uma reação surpreendente: “Que Segunda Divisão coisa nenhuma! O Berga vai disputar é a Primeira Divisão...”

E disputou mesmo, com grande sucesso. E só não foi campeão por razões que não vem ao caso. Mas além ter aplicado goleadas históricas em alguns adversários  (9x1 no Jaciara, 4x1 no Juventude, 4x0 no Sinop, 7x1 no Operário Várzea-grandense e 9x1 no Cacerense),  o Berga teve dois artilheiros no certame: Moreira (23 gols) e Jair (19 gols) – o outro goleador foi Índio, do União, com 22 gols.

Da mesma forma fulminante como apareceu no cenário esportivo mato-grossense, com a pretensão de revolucionar o futebol estadual, como modelo de clube-empresa, o Berga também desapareceu, deixando muita saudade entre os torcedores. Quanto ao projeto da excursão por gramados da Itália, não passou de um sonho que durou apenas um ano e foi sepultado com a morte de Ettore Bergamaschi...
     
  

sábado, 10 de novembro de 2018

Dinheiro do BID foi rateado entre jogadores e o Mixto acabou rebaixado para a 2ª Divisão em 2009


O Mixto ia estrear no Campeonato Mato-grossense de Futebol de 2009 contra o Sinop no Estádio “Gigante de Madeira”. Apesar de ostentar o título de campeão estadual do ano anterior, quebrando um jejum de 12 anos, o alvinegro atravessava uma fase financeira muito difícil...

Com a saída de Arildo Verdun da direção técnica do clube, o presidente Júlio Pinheiro, já falecido, contratou o ex-zagueiro que virou treinador Wilson Carrasco. E para auxiliá-lo, como supervisor, manteve o ex-árbitro Orlando Antunes de Oliveira, hoje militando na crônica esportiva de Cuiabá.

Apesar das dificuldades, o Mixto conseguiu contratar dez jogadores, aproveitando o dinheiro da venda de Fernando, para o Flamengo e de Igor, para o Paraná Clube.  A grana que entrou, porém, não foi suficiente para acertar com os recém-contratados e muito menos pagar os salários dos outros jogadores. Já se falava até em uma greve do plantel antes da viagem para Sinop no final de semana...

Mas surgiu outro problema: o Mixto tinha que pagar à Confederação Brasileira de Futebol R$ 6.000,00 correspondente à transferência dos dez jogadores das federações de origens para a CBF, com a consequente publicação de seus nomes no Boletim Informativo Diário (BID) da entidade. Sem a publicação no BID, ninguém dos novatos podia jogar.

Era uma situação muito complicada. O presidente Júlio Pinheiro arrumou o dinheiro e jogou a bomba nas mãos do seu supervisor. Antunes queimou muitos neurônios na busca de uma solução para delicada questão, que ia de uma eventual greve a um calote na CBF. Era problema demais e dinheiro de menos...

Depois de muito matutar Antunes chegou a uma conclusão: o Sinop tinha um time muito superior tecnicamente ao Mixto e, pela lógica, ia vencer o alvinegro. E diante dessa realidade e das circunstâncias adversas, não vacilou: pegou os R$ 6.000,00 e rateou entre todos os jogadores, eliminando a ameaça de greve que rondava o alvinegro.

Lembra Antunes que a viagem para Sinop foi tranqüila, com os jogadores animados com um dinheirinho no bolso. Em Sinop, boa comida e ótima estada. Mas o melhor estava por vir ainda. O Mixto fez uma excelente exibição e, contrariando todos os prognósticos, derrotou o forte Sinop pela contagem mínima.

O Mixto ganhou, mas não levou, pois a diretoria do clube sinopense descobriu que os novos jogadores mixtenses não estavam registrados na CBF e reclamou os pontos que havia perdido no campo. E não perdeu tempo: denunciou a irregularidade à entidade máter do futebol brasileiro.

O caso foi parar inicialmente no Tribunal de Justiça Desportiva da FMF, que confirmou a vitória do Mixto. No entanto, o Sinop recorreu ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), que lhe deu a vitória no “tapetão”. Resultado: o Mixto foi rebaixado para a 2ª Divisão naquele distante 2009...

Aliás, os torcedores do Mixto não guardam boas lembranças das comemorações do último título, em 1996. A decisão do campeonato foi no Estádio Luthero Lopes, em Rondonópolis, onde mais de 15 mil torcedores do União haviam preparado uma grande festa para comemorar o título ­– no 1º jogo, no Verdão, o colorado havia arrancado um heróico empate por 0x0.

Mas no início do 2º tempo, Evandro marcou o único gol da partida e que acabou dando a vitória e o título ao Mixto. Fim de jogo e a torcida mixtense invadiu o campo para festejar a vitória. A torcida do União fez o mesmo, mas para bater nos mixtenses...

A Polícia Militar também entrou em cena, disparando balas de borracha e borrifando “spray” de pimenta nos torcedores. Foi um fuzuê daqueles. E só depois de muita correria, pancadaria e golpes de cassetete a PM conseguiu dominar a situação.

Na presença de uns poucos torcedores alvinegros no estádio, a FMF entregou a taça de campeão do Mixto ao presidente Júlio Pinheiro e ao capitão Bogé. Fugindo rapidamente para o vestiário, protegidos pela PM, os jogadores acharam melhor não comemorar a importante conquista: o clima não estava mesmo para festa, muito pelo contrário...           
Nova postagem....

sábado, 3 de novembro de 2018

Presidente queria que jogadores do Palmeirinhas vendessem figurinhas de álbuns para pagar os próprios salários...

Éder Taques estava nas divisões de base do Dom Bosco em 1984 (a sub-19) quando recebeu um recado do Palmeirinhas, do Porto, para comparecer a Federação Mato-grossense de Futebol – o clube não tinha sede própria, nem alugada... e durante muitos anos utilizou as dependências da entidade – para assinar um contrato com o alviverde. Ele foi correndo, claro, pois no Dom Bosco só de vez em quando recebia uns trocados.

Com o afastamento de Délio de Oliveira, respondia pela presidência do clube o argentino Juan Rolon, que havia chegado ao alviverde como treinador de futebol. O contato entre Juan Rolon e Éder foi rápido. Na ocasião, o presidente do Palmeiras entregou a Éder um envelope com uma bolada de dinheiro, como parte das luvas, mas nem chegaram a discutir as bases do contrato...

Empolgado com tanto dinheiro, Éder saiu apressado da FMF, que funcionava na Rua 24 de Outubro, para dizer aos companheiros do azulão: “Agora é só Palmeiras, Dom Bosco nunca mais...”

Chegou o dia de Éder assinar o contrato com o Palmeiras. Na sede da FMF, claro. Mas antes da assinatura do contrato, Rolon fez uma proposta ao jogador: queria que ele o ajudasse a vender figurinhas de álbuns de uma empresa que representava em Mato Grosso. E justificou que os jogadores ajudando-o a vender as figurinhas, facilitaria ao clube pagar seus salários no final do mês...

– Presidente, eu vim para o Palmeiras para jogar futebol, não para vender figurinhas... – respondeu Éder com firmeza, descartando qualquer possibilidade de aceitar a proposta. Mas acabaram se entendendo e o contrato foi assinado.

Vencido o primeiro mês, Juan Rolon marcou o dia para pagamento da rapaziada. O primeiro a sair da sala onde o presidente do alviverde estava foi Canivete, que também havia deixado Dom Bosco para defender o Palmeiras. Canivete saiu da sala com dois envelopes enormes, cheios de dinheiro...

Depois de Canivete, foi à vez de Mosca. Por ser o jogador mais caro do Palmeiras, Mosca, que ficou pouco tempo no alviverde, por causa de uma grave contusão em um dos joelhos, saiu da sala de Rolon carregando três envelopes de dinheiro, deixando muito animado Éder, o próximo da lista a entrar na bufunfa.

Éder pegou seu envelope e se dirigiu a um tradicional supermercado de Cuiabá que funcionava na Rua 13 de Junho em um prédio defronte ao Departamento Nacional de Estrada de Rodagem (DNER) para trocar a dinheirama. E ficou decepcionado com o que recebeu pela troca, pois Juan Rolon estava pagando os jogadores com notas da venda das figurinhas de álbuns e cujo valor unitário era de Cr$ 1,00 (a moeda da época), e que por causa da inflação, valia uma mixaria...    

sábado, 27 de outubro de 2018

Uma provocação fez surgir o Luverdense, um papa-títulos do futebol mato-grossense

 Agrishow Cerrado de 2003 em Rondonópolis: empresários e fazendeiros traçavam um caprichado churrasco no estande do Grupo Girassol, a convite do seu dono, Gilberto Goellner. Entre os participantes da roda e que nunca fazia uma desfeita ao anfitrião – o grande evento anual do campo em Rondonópolis foi de 2002 a 2006 – o prefeito e empresário de Lucas do Rio Verde, Otaviano Pivetta, e seus dois amigos e produtores rurais no município: Helmute Lawisch e Egídio Vuaden.

Conversa vai, conversa vem, lá pelas tantas, quando alguém fez uma comparação sobre os dois importantes municípios, um empresário rural de Rondonópolis – Pivetta acha que foi Roberto Poleto e não Blairo Maggi, como se comenta até hoje – fez uma observação que não agradou os luverdenses: “Lá em Lucas do Rio Verde não tem nem time de futebol!...”

Pivetta entendeu a brincadeira como uma provocação. E foi curto e grosso: “Aproveitem que acabou!...” – deixando claro que o União, tradicional clube de Rondonópolis, passaria a ter mais um duro adversário pela frente no futebol de Mato  Grosso...”

A decisão de se fundar um clube de futebol profissional em Lucas do Rio Verde foi tomada na viagem de volta. E coube a Helmute Lawisch, por indicação de Pivetta, saem direito à recusa, levar o projeto adiante. Helmute convocou uma reunião com o empresariado do município e com os principais produtores rurais para explicar que Lucas do Rio Verde precisava levar seu nome além das divisas do Estado e o futebol era o caminho mais curto para se alcançar esse objetivo.

Com o nome de Luverdense Esporte Clube, a agremiação foi fundada no dia 24 de janeiro de 2004. Com o dinheiro que jorrava da classe empresarial e da soja, do milho (duas safras) e do algodão, o Luverdense montou um time poderoso e já em 2004 ganhou a Copa Governador de Mato Grosso, repetindo a façanha em 2007 e 2011.

Percebendo que o Luverdense não estava para brincadeira, o presidente da Federação Mato-grossense de Futebol, Carlos Orione, foi a Lucas do Rio Verde, almoçou com Pivetta e Lawisch e decidiu que o clube já disputaria em 2004 o Campeonato  Mato-grossense de Futebol da 1ª Divisão.

Mas para disputar o certame estadual, o estádio municipal de Lucas do Rio Verde, que era simplesmente um campo de futebol, precisava de alguma infra-estrutura. Pivetta fez a sua parte: investiu cerca de R$ 250 mil de recursos do município, transformando completamente o hoje Estádio Passo das Emas, cuja capacidade de público foi elevada para 10 mil pessoas.

Por exigência da Confederação Brasileira de Futebol, o Passo das Emas passou outras reformas em 2017, quando o Luverdense disputou pela primeira vez a Série B do Campeonato Brasileiro, repetindo o feito em 2018, mas caindo para a Série C. Com a ampliação, o estádio municipal aumentou sua capacidade de público para 19 mil espectadores.

Nessa curta existência, o Luverdense ostenta um tri-campeonato da Copa Mato Grosso (2004, 2007 e 2011), um tri estadual (2009, 2012 e 2016), foi campeão invicto da Copa Verde (2017). Foi também campeão da Copa Pantanal, em 2011, torneio que contou com a participação do Cuiabá, Internacional-RS e Cruzeiro-MG.

Eleito o primeiro presidente do Luverdense, Helmute Lawisch vem sendo reconduzido ao cargo em todas as eleições nesses 14 anos de vida do clube. Em 2014, depois da morte de Carlos Orione, ele assumiu a presidência da FMF por um período de cerca de oito meses, passando o cargo no Luverdense ao seu vice, Jaime Binfeld.

Quanto ao União, que de forma indireta deu origem à criação do Luverdense, tem apenas um título estadual, conquistado em 2010, apesar de sua idade (45 anos) – foi fundado em 6/6/1973. A promessa feita por Pivetta de que o União passaria a ter mais um adversário difícil no futebol mato-grossense, por causa de uma provocação, está sendo cumprida à risca...        

sábado, 20 de outubro de 2018

Árbitro-policial dava tiros de dentro do carro só para assustar os dorminhocos...



Cipó: 20 anos trabalhando com meninos e
 adolescentes 
O juiz Serafim Medeiros, que integrou o Departamento de Árbitros da FMF, na década de 1990 – atividade que conciliava com a de policial civil -- cultivava um hábito que quem viajava com ele para trabalhar no interior detestava: apontar o cano de seu revólver para fora do carro e fazer seguidos disparos só para assustar os dorminhocos. Enquanto os mais assustados só faltavam pular dos carros em que viajavam, pensando que estavam no meio de um tiroteio, Medeiros quase morria de rir...   

Também dessa época, José Roberto Feitosa Soares, o Cipó, afirma que seus companheiros de viagem ficavam putos da vida com Medeiros, mas não com raiva dele por causa da mania dos tiros e dos sustos. “Naquele tempo tudo era farra, diversão e brincadeira. Para complicar a vida dos companheiros, nas viagens o pessoal da FMF chegava a passar, às escondidas, batom nas cuecas dos casados para vê-los metidos em encrencas da grossa em casa. Era só para sacanear mesmo!...” – afirma Cipó.

Outra brincadeira comum naqueles bons tempos do futebol romântico entre o pessoal da FMF – juízes, bandeirinhas, delegados da entidade, tesoureiros – era colocar gatos das cidades onde trabalhavam dentro das bolsas dos companheiros. Quando as viagens eram feitas em ônibus de linha, de vez em quando um gato escapava das bolsas e provocava tumultos entre os passageiros...

Na sua militância no Departamento de Árbitros – entre 1988/1999 – Cipó passou por muitas situações engraçadas. Uma delas: em 1998 ele atuava como bandeirinha de Gílson Rodrigues no jogo entre Barra do Garças e Operário Várzea-grandense no Estádio Zeca Costa. A certa altura do jogo, Rodrigues expulsou de campo Jackson, do clube barragarcense. Mas antes de sair de campo, Jackson se aproximou do juiz e rasgou sua camisa.

Já sentado na arquibancada, Jackson decidiu se vingar de Cipó que nada teve a ver com a sua expulsão. Ele saltou o alambrado, aproximou-se sorrateiramente de Cipó e de repente pulou com os dois pés nas costas do bandeirinha. Mesmo surpreendido, Cipó reagiu e deu uma certeira bordoada nas costas do seu agressor com a sua bandeirinha.

Claro que Jackson sentiu a pancada. E como sentiu! Até porque o objeto em que a sua bandeirinha especial estava pregada, não era de madeira ou plástico, mas de ferro puro. Sim, de ferro puro e que Cipó sempre preparou em sua casa para impor respeito à boleirada, quando estava bandeirando. E como impunha!...

Por causa dos dois episódios em um só jogo – a expulsão e a agressão a Cipó e que lhe custou uma dolorida pancada no lombo – Jackson foi punido com uma suspensão de 120 dias. Mas nunca mais quis saber de conversa com Cipó, quando ele estava com um apito na boca ou uma bandeirinha nas mãos...

Desde 2005, o orientador social Cipó vem executando, através de sua escolinha de futebol Associação Cristo Rei, criada há mais de duas décadas,  um programa de cunho social, trabalhando com 70 meninos e adolescentes,  na Cohab Jaime Campos, em Várzea Grande. O trabalho de Cipó é  desenvolvido no principal campo de futebol do bairro, o “Sílvio Manoel Gomes”, de onde ladrões já levaram tudo dos vestiários, até as mangueiras que eram utilizadas para molhar a grama.

As atividades no período matinal, com a participação de cerca de 35 garotos (dos seis aos 13 anos), começam às 7h30 e se estendem até as 11h30, com um rápido intervalo para um lanche. No período da tarde, o trabalho, com igual número de participantes (dos seis aos 16 anos), vai das 13h30 até as 17h30, também com direito a um lanche. Para ajudar no lanche da garotada, Cipó recebe mensalmente da prefeitura de VG R$ 1.000,00.

O objetivo de Cipó não é revelar jogadores, mas, sim, ocupar o tempo dos garotos com atividades sadias e atraentes, como práticas esportivas, como o futebol. Além da preparação física, recreação, “rachas”, a garotada recebe instruções sobre regras de futebol e de comportamento dentro e fora de campo. “A nossa preocupação é formar pessoas íntegras para que sejam bem-sucedidos na vida” – afirma Cipó.

Mas se alguém se destacar na escolinha, Cipó pode indicar e até levar as revelações para o Paraná Clube, de Curitiba, de quem é uma espécie de “olheiro” em Mato Grosso. Ou para a empresa Futtalents (Futebol e Talento) também de Curitiba. A Futtalents acaba de nomear Cipó seu representante para Mato Grosso e a região.

 – Mas mandar “aranhas” (jogadores pernas de pau) para eles é tempo perdido – diz Cipó, que além de trabalhar com a garotada de sua escolinha, tem uma academia desportiva de futebol na Cohab Cristo Rei, criada desde que ele se afastou de sua empresa de construção civil por causa de sua idade. Cipó está com 64 anos e nem pensa em parar de mexer com o futebol de sua escolinha.  "Essa escolinha é a minha vida..."  – garante Cipó.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Duplo calote de Juan Rolon nos jogadores do Palmeirinhas após vitória sobre o União...


O Palmeiras jogava com o União, no ainda acanhado Estádio Engº. Luthero Lopes, em Rondonópolis, pelo Campeonato Mato-grossense de Futebol da 1ª Divisão de 1984 ou 1985. Com o incentivo de sua torcida, o União saiu na frente no placar. Mas aos poucos o alviverde do Porto foi se impondo em campo e acabou virando o resultado para 3x1, a seu favor, para decepção dos torcedores colorados.

Eufórico com o triunfo na casa do adversário, o então presidente do Palmeiras, Juan Rolon, entrou no vestiário para dar duas boas notícias aos jogadores: o “bicho” pela vitória seria pago no dia seguinte, às 18 horas, no Dutrinha. E mais: o clube ia comemorar a vitória com uma churrascada na casa do treinador de goleiros Washington, no bairro Coophamil. Os jogadores podiam levar esposas, namoradas, filhos, convidados...

Alguns jogadores ponderaram que o local escolhido para o churrasco não era o ideal, porque os jogadores não possuíam carro. Mas Rolon resolveu o problema de transporte na hora: naquele horário, um ônibus especial estaria no Dutrinha para conduzir a boleirada para o Coophamil e depois levá-los de volta para suas casas...

Antes das 18 horas alguns jogadores começaram a chegar ao Dutrinha para receber o prêmio pela vitória e esperar à hora de cair na gandaia. Entre os palmeirenses, inclusive jogadores do Mixto, seus convidados. Alguns chegavam com violões, cavaquinhos, pandeiros, etc. A churrascada comemorativa dos 3x1 ia ser mesmo uma festa de arromba...

Recorda um palmeirense, que alguns jogadores do alviverde e seus convidados mais animados disfarçadamente sacavam dos bolsos umas pitadinhas de sal e colocavam na língua para  a cerveja descer melhor, ficar mais saborosa...

Deram 18 horas, 18h30 e nada do tal do tal ônibus chegar ao Dutrinha. Também não aparecia, e muito menos dava notícias, Juan Rolon. A boleirada começou a ficar meio cabreira. Quem estava comendo sal, tratou de saciar a sede com água, porque cerveja que era bom...

Já passava bem das 19 horas quando Juan Rolon finalmente apareceu no Dutrinha. Mas ao invés de estar ao volante do seu imponente carrão Diplomata no qual desfilava pelas ruas de Cuiabá e Várzea Grande, o presidente estava em um fusquinha sujo e derrubado. Aliás, teve muita gente nem viu Rolon chegar, pois já havia picado a mula, convencida de que havia entrado numa fria...

O presidente palmeirense desceu do carro, chamou o técnico Admir Moreira para uma rápida conversa em particular, em seguida saiu de fininho, entrou no fusquinha e caiu fora, deixando para o seu treinador a ingrata tarefa de dizer aos jogadores e seus convidados que o churrasco estava emergencialmente cancelado. A festa de arromba ficou para o dia de “São Nunca” e quanto ao pagamento do “bicho” pela vitória contra o União, os jogadores continuam esperando até hoje...