Almiro (Arq. pessoal de Lito)
|
Bem antes do episódio protagonizado por Batista Jaudy, lá por meados da década de 1970, o meia armador Almiro, cuiabano de tchapa e cruz, venerado por todos os mato-grossenses pelo fato de jogar no todo poderoso Santos FC, ao lado de Pelé, Dorval, Mengálvio, Lima, Clodoaldo, Pagão, Pepe e outros astros consagrados, estava se recuperando de uma contusão na casa de seus familiares em Cuiabá e resolveu participar de um jantar dançante do Dom Bosco.
Mas o pessoal da portaria não deixou Almiro entrar sob o pretexto de que ele não era associado, condição da qual o Dom Bosco não abria mão para quem quisesse frequentar o clube. Muito culto, Almiro entendeu que estava sendo vítima de discriminação racial, um sentimento que começava a aflorar com força no Brasil, porém ao contrário do que fez Batista Jaudy, não reagiu à ofensa pessoal.
Antes de deixar as dependências do Dom Bosco, Almiro foi reconhecido e alguns diretores reconsideraram a decisão, franqueando as portas do clube ao famoso futebolista cuiabano. Mas Almiro, com a cultura digna de um intelectual que falava fluentemente inglês, francês, alemão e outros idiomas e era quem servia de intérprete de Pelé nas andanças do Santos pelo mundo entre 1965/69, agradeceu a gentileza dos diretores do azulão, virou as costas e foi embora...
Claro que a atitude discriminatória do Dom Bosco chegou com a velocidade de um raio aos ouvidos do maior língua ferina do rádio de Mato Grosso: Ivo de Almeida. Na época, Ivo de Almeida tinha um programa de rádio chamado “O futebol passado a limpo”, na Difusora Bom Jesus de Cuiabá. E caiu de pau em cima do Dom Bosco, fazendo a agressiva ofensa do Clube da Colina Iluminada a Almiro chegar, com a força de seu poder e influência de comunicador, às tinas populares...
Foi nessa ocasião que o polêmico Ivo de Almeida cunhou a expressão “Clube da elite”, para se referir ao Dom Bosco. Só que o radialista usava a expressão não no sentido da verdadeira acepção do termo, mas, sim, com o objetivo de denegrir a imagem do azulão, buscando sempre, de forma irônica e sarcástica, jogar o clube contra a torcida mato-grossense.
Completamente cego, Almiro vive a muitos anos em Salvador-BA. Velho amigo de Almiro, Lito, considerado por torcedores saudosistas como o melhor centroavante que já passou pelo Mixto, em todos os tempos, garante que algumas pessoas de cor frequentavam o Dom Bosco embora não fossem associados. Entre elas, o universitário Fábio Firmino Leite.
– A diferença entre os dois é que Almiro era jogador de futebol e Fábio, que inclusive virou nome de bairro na capital (o “Doutor Fábio”) foi o primeiro cardiologista negro cuiabano... – afirma Lito. Ou, se preferirem, médico veterinário Manoel de Aquino Filho. (Republicado por falhas no sistema de acesso).