Pesquisar este blog

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Guinness era pouco para recordista...

              Melhor goleiro do que foi Cacildo Hugueney, que despontou no futebol do leste de Mato Grosso no fim da década de 30, defen­dendo o Araguaia Esporte Clube, ainda está para nascer por esse mundo afora. Ele foi tão bom que se naquela época existisse o Guinness Book, certamente Hugueney seria um papa recordes.
Jogando ao lado de craques consagrados do AEC como Xomaninho, Bicanca, Dandan e Dante, Cacildo, sempre titular da equipe alto-araguaiense, sofreu apenas 3 gols em 10 anos de boleiro. Isso mesmo: 3 gols em 10 anos, com a incrível média de 1 gol sofrido a cada 3 anos e 4 meses...
Muita gente e gente famosa, olhe lá, tomou conhecimento dessa in­superável façanha de Cacildo. Como foi o caso de ex-jogadores como Barbosa, Jair da Rosa Pinto, Ademir Menezes, Friaça e Zizinho, entre outros, todos da Seleção Brasileira que perdeu a final da Copa de 1950, no Maracanã, naquela histórica decisão contra o Uruguai, por 2x1.
Pedro Lima e Cacildo Hugueney tinham ido ao Rio de Janeiro com suas respectivas esposas dar um passeio e acabaram encontrando o famoso lateral esquerdo Nilton Santos, do Botafogo e da Seleção Brasileira, que havia defendido o “Pantera do Leste” num torneio de futebol realizado em Cuiabá na década de 50.
Verdadeiro “gentleman” que sempre foi, dentro e fora do campo, Nil­ton Santos levou os dois casais para conhecerem os principais pontos turísticos da “Cidade Maravilhosa”. No roteiro, uma passagem pelo Estádio do Maraca­nã.
Foi lá que Lima e Hugueney conheceram os famosos craques do pas­sado. Eles estavam reunidos na sede de uma entidade que o ex-governador Carlos Lacerda havia criado para dar emprego, no próprio Maracanã, a ídolos do futebol carioca que estavam atravessando dificuldades financeiras.
E aí, rolando papo pra lá e pra cá, Cacildo discorreu com muita con­vicção sobre sua façanha no futebol em Mato Grosso. Os presentes olhavam meio desconfiados uns para os outros, fazendo força para não sorrir. E o herói do gol concluiu, de peito estufado: “Só engoli três bolas...”
Nomeado exator de rendas em Alto Araguaia, na década de 30, Ca­cildo Hugueney transformou-se num poderoso cacique político, seguindo os passos do maior “coronel” da política da região, Ondino Lima. Hugueney foi prefeito de Alto Araguaia durante 12 anos – 8, nomeado pelo interventor de Mato Grosso, Filinto Muller, e 4 em eleição direta.
Seu prestígio era tão grande que durante a campanha para presidente da República em 1955, ele conseguiu, com o apoio do seu padrinho políti­co Filinto Muller, levar Juscelino Kubitscheck a Alto Araguaia para fazer um comício. Foi o único município do interior de Mato Grosso a ter a honra de receber JK.
Mais do que fazer um discurso, JK até pernoitou em Alto Araguaia de domingo para segunda-feira. Pernoitou, mas não dormiu, pois pé de valsa como era, JK dançou das 23 até as 4 horas da matina em um baile muito chique realizado em sua homenagem.
O baile foi uma festa que deixou saudades em Alto Araguaia. Era tanta mulher querendo dançar com o futuro presidente da República que Pe­dro Lima, já bem mamado, organizou um “comitê” no salão para inscrição e organização da fila das dançarinas que iam rodopiar nos braços do mais famo­so e indiscutivelmente maior dançarino do baile...
Teve até um critério, estabelecido por Pedro Lima, para a sequência das danças. Primeiro as mais bonitas, na sequência as menos feias e depois as mais feias. JK, com toda a sua simplicidade e popularidade, não estava nem aí para a parceira que estava na fila. Ele queria era dançar...

(Reproduzido do livro Casos de todos os tempos  Folclore do futebol de Mato Grosso).. 

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Boato sobre dopping facilitou a goleada do Mixto contra o Americano no Verdão


Carlos Orione
Arranjar e vestir um jaleco branco, como se trabalhasse na área da saúde, e se apresentar à chefia da delegação do Americano, do Rio de Janeiro -- que já estava em Cuiabá para enfrentar o Mixto -- como enfermeiro da Federação Mato-grossense de Desportos designado para coletar urina de alguns boleiros depois do jogo para o exame anti-dopping.

Esta foi a ordem que o presidente da FMD, Carlos Orione, deu ao funcionário da entidade e seu homem de inteira confiança, Armindo Alves, em uma conversa reservada que ficou entre os dois, já falecidos, e as quatro paredes da sala da presidência, às vésperas do jogo entre os dois times, dia 10 de outubro de 1976, pelo Campeonato Brasileiro.

Armindo Alves cumpriu a missão direitinho. Naquele tempo, os boleiros, salvo raras exceções, afundavam o pé pra valer em psicotrópicos – Glucoenergan, Preludim, Pervintim etc  -- para ficarem mais “elétricos” durante o jogo, como a garotada faz hoje com os energéticos, largamente consumidos para revigorar as forças nas baladas de fim de semana.

Muitas vezes, os jogadores exageravam no consumo de “energéticos”. Na decisão do Campeonato Mato-grossense de Futebol de 1968/69, ganho pelo Operário, com uma vitória dramática sobre o Mixto, por 3x2, alguns operarianos consumiram tanto um chá mate especial no vestiário que depois de uma noitada na boate Tabaris para comemorar o título, o meio campo Tatu, do tricolor, queria de todo jeito retornar ao Dutrinha para continuar jogando...

Como o uso de estimulantes virou uma praga nos esportes em geral e não apenas no futebol, as autoridades começaram a apertar o cerco contra essa prática danosa para a saúde, aumentando a incidência, de surpresa, dos exames anti-dopping. E como as punições são rigorosas, podendo chegar ao banimento do infrator da atividade esportiva, profissional ou amadora, atletas de todos os níveis fugiam dos exames anti-dopping como o diabo foge da cruz...

Consequência ou efeito ou não da conversa que o “enfermeiro” Armindo Alves teve com a chefia da delegação do Americano, o fato é que o time carioca teve uma atuação apagadíssima no Verdão. Nem parecia o valente Americano que, como o Mixto, estava brigando para continuar na disputa da segunda fase do Brasileiro de 76.

Resultado do verdadeiro golpe dado no time carioca, pois a então CBD, que virou CBF em 1979, não havia programado nenhum sorteio de jogadores para ser submetidos ao exame de dopping  naquela partida no Verdão: o MIxto ganhou de 4x1, gols de Bife, Toninho, Lorival e Traíra, com Zé Neto marcando para o Americano  no último minuto de jogo.

Quem conta esta história não sabe nem se o Mixto ficou sabendo da armação da dupla Orione-Armindo contra o Americano. Mas Orione teve um bom motivo para, de forma sorrateira, ter induzido o time carioca a não recorrer a “energéticos” naquele jogo: o futebol mato-grossense estava vivendo sua fase de ouro e a continuidade do Mixto no Brasileiro significava dinheiro, muito dinheiro mesmo, nos cofres da sua federação...   


quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Torcida começa a crer que urucubaca do CEOV só terá fim com um novo macumbeiro


O lendário Carrapato
 (foto: arquivo  Diário
 de Corumbá) 
Depois de um jejum de dez anos sem conquistar um título importante, torcedores do Clube Esportivo Operário Várzea-grandense já começam a admitir que é de um “protetor” com poder no mundo espiritual, como o do falecido pai de santo Edu Diniz, o lendário Carrapato, que o clube está necessitando para acabar com a velha urucubaca. Para a torcida não é de bons jogadores, nem de técnicos consagrados que o “Chicote da Fronteira” anda precisando para dar a volta por cima e recuperar o seu prestígio no futebol mato-grossense.

A torcida da velha guarda e que testemunhou tantas conquistas brilhantes do tricolor é a que mais sofre com a má fase que parece não ter mais fim do quase septuagenário CEOV, fundado no dia 1 de maio de 1949, por Rubens dos Santos, sob inspiração do bispo Campelo de Aragão, que foi mandado de Goiânia-GO para criar Círculos Operários em Mato Grosso – uma versão urbana das Ligas Camponesas do temido comunista Francisco Julião.

Caminhando já para meio século de vínculo com o “Chicote da Fronteira”, o atacante Zé Pulula, afilhado de casamento de Rubens dos Santos, conheceu bem Carrapato. Mas apesar da fé de seu padrinho nas mandingas do pai de santo que Rubens dos Santos mandava vir de Corumbá-MS para os jogos mais importantes do seu clube, Zé Pulula não acreditava muito nas bruxarias de Carrapato. Ele admite, porém, que “trabalhos” extra-campo podem ter grande influência psicológica no futebol...

Outro operariano da velha guarda e que prefere não se identificar, não tem dúvida que Carrapato influenciava mesmo na vida do Operário e  nas suas grandes conquistas no futebol. “Só de saber que o Carrapato estava na cidade ou nas arquibancadas do estádio os nossos adversários tremiam de medo. Não era medo de perder o jogo, mas dos espíritos das trevas do Carrapato quebrar a perna de alguém, provocar uma doença durante o jogo...” – afirma.     

Entre os operarianos, inclusive da nova geração, já vai se consolidando a crença de que o “Chicote da Fronteira” está “amarrado” por alguma praga como a que uma lavadeira rogou contra o União, de Rondonópolis, que passou anos e anos sem conquistar um Campeonato Mato-grossense da 1ª Divisão, apesar de ter disputado oito finais do certame da FMF. Finalmente, o União ganhou o título estadual em 2010, depois que o cacique político rondonopolitano Afro Stefanini foi sepultado com os bolsos da calça cheios de dinheiro, colocado pela sua filha Amélia, para pagar a lavadeira no além...

A crença dos operarianos na existência de uma maldição contra o clube é fundamentada numa suspeita: faz muitos anos, o CEOV encomendou um “trabalho” do pesado e caríssimo ao pai de santo Alírio Ferreira, que transferiu seu Centro Espírita São Sebastião, da comunidade de Capela do Piçarrão para o distrito de Souza Lima, e nunca pagou o valor combinado. Por isso, muitos torcedores têm certeza que o pai de santo rogou uma praga da “braba” contra o clube por conta do calote. Mas Alírio nega de pés juntos...

Carrapato era conhecidíssimo nos meios esportivos de Corumbá, onde na década de 60 fundou e dirigiu por muitos anos o Cruzeiro Esporte Clube e muito respeitado e admirado na cidade pantaneira como pai de santo. Ele faleceu em 1986. Às vésperas do seu falecimento, Amin Amiden, diretor financeiro do hospital onde ele   estava internado, flagrou um grupo de seguidores de Carrapato fazendo um ”despacho” em seu apartamento, como se estivessem dando adeus ao mestre...

1979, véspera da decisão da Copa Cuiabá, entre Operário e Mixto: Nelsinho, o cabeleireiro dos mixtenses, estava no Baretta atendendo seus clientes, quando Rubens dos Santos adentrou o salão, seguido de um velho de cabeça branca, com aparência meio  sinistra, e foi logo lhe dizendo que a pessoa que o acompanhava queria conhecê-lo.

Quando Nelsinho estendeu-lhe a mão, o amigo de Rubens dos Santos foi logo dizendo: “Ah! Então você é o famoso mixtense... “ e apertou-lhe a mão com muita força.

-- Eu sou o Carrapato e vim de Corumbá só para derrotar o Mixto. O seu nome também está na minha lista...    

Gargalhadas ecoaram pelo salão. Nelsinho lembrou a Carrapato  que o Mixto tinha Bife, que estava no auge de sua forma e marcando gols adoidado, com Carrapato retrucando que o atacante mixtense estava mais que amarrado pelas suas mandingas...

Moral da história: o Mixto foi derrotado e Bife perdeu até pênalti.


-- O trabalho do Carrapato deve ter sido mesmo dos brabos. Vôte!... – esconjura Nelsinho.              . 

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Sem conversa ao pé-de-ouvido com o juiz, o placar do jogo no Verdão ficou em 0x0


Para o Mixto seria de fundamental importância derrotar o Operário, de Campo Grande, no jogo que disputariam no Verdão pelo Campeonato Nacional de 1976. Era o que se chama no jargão esportivo de jogo de vida ou morte...

Um dia antes do jogo, um dirigente do Atlético Goianense, com quem o Mixto manteve um excelente relacionamento – até o alvinegro dar um golpe no clube goiano e ficar com o passe de Traíra de graça... -- ligou para um diretor mixtense para informar que o juiz carioca que ia apitar a partida e era bem conhecido nos meios esportivos por ser chegadinho a uma conversa ao pé-de-ouvido, ia fazer escala em Goiânia com destino a Cuiabá.

O que o informante mixtense não sabia é que no mesmo avião estava também a delegação do Operário, que havia embarcado em Campo Grande. O avião estava para aterrissar no Aeroporto Santa Genoveva, a última etapa.do voo do operariano campo-gandense para a capital mato-grossense.

-- Então você vai agora para o aeroporto, deixa o carro no estacionamento pega o avião e o resto você sabe como ninguém como fazer... -- disse o mixtense, como se estivesse dando uma ordem ao goiano, em nome da amizade que imperava entre os dois clubes.

O diretor do Atlético Goianense cumpriu direitinho às determinações, mas o plano da conversa ao pé-de-ouvido com o juiz, com o objetivo de facilitar a vida do Mixto, acabou dando em nada.

Já no interior do avião, quando o dirigente goiano identificou o árbitro e tratou de se acomodar na poltrona do corredor da fileira em que o juiz estava, quem ele reconheceu no outro assento ao lado do apitador na janelinha da aeronave? Simplesmente o presidente do Operário, o espertíssimo Irineu Farina...

Claro que não houve a pretendida conversa ao pé-de-ouvido com o juiz para ele dar uma forcinha para o Mixto, que precisava tanto da vitória..

 Sem a conversinha camarada, o jogo no Verdão terminou em 0x0...

Não vai ter festa de confraternização do futebol do passado este ano


A confraternização entre ex-dirigentes, atletas e comunicadores do futebol cuiabano, realizada tradicionalmente dia 15 de novembro há mais de uma década, por um grupo que vem lutando para preservar a memória desse esporte na capital mato-grossense, vai passar em branco este ano. Motivo: falta de recursos financeiros para bancar os custos com a grande festa:que reúne centenas de pessoas que ajudaram a construir o passado da bola em Cuiabá.

Empolgado com o sucesso da confraternização.do futebol cuiabano, em 2011 o vice-governador do Estado, Chico Daltro, encampou o evento esportivo, transformando-o numa festa política, inclusive passando a homenagear pessoas que nada tinham a ver com o passado da bola em Cuiabá. Com a elitização da festa, muitos ex-atletas, dirigentes e comunicadores deixaram de participar da confraternização por considerar os ambientes onde passou a ser realizada – Hotel Fazenda Mato Grosso e Cenarium Rural – muito chiques..

A dupla Totó Arruda-Glauco Marcelo, que vinha há muito tempo promovendo o evento até que tentou manter a tradicional festa, retomada o ano passado, depois que o governo estadual deixou de organizar a  confraternização sem dar satisfação a ninguém. Mas não foi possível, por falta de patrocinadores por causa do alto custo da festa, que geralmente começa pela manhã e se estende por todo o dia, com grande consumo de comida e bebida, principalmente cerveja, pois, nesse quesito, os craques do passado continuam numa forma invejável...  .