Jogando ao lado de craques consagrados do AEC como Xomaninho,
Bicanca, Dandan e Dante, Cacildo, sempre titular da equipe alto-araguaiense,
sofreu apenas 3 gols em 10 anos de boleiro. Isso mesmo: 3 gols em 10 anos, com
a incrível média de 1 gol sofrido a cada 3 anos e 4 meses...
Muita gente e gente famosa, olhe lá, tomou conhecimento dessa
insuperável façanha de Cacildo. Como foi o caso de ex-jogadores como Barbosa,
Jair da Rosa Pinto, Ademir Menezes, Friaça e Zizinho, entre outros, todos da
Seleção Brasileira que perdeu a final da Copa de 1950, no Maracanã, naquela
histórica decisão contra o Uruguai, por 2x1.
Pedro Lima e Cacildo Hugueney tinham ido ao Rio de Janeiro
com suas respectivas esposas dar um passeio e acabaram encontrando o famoso
lateral esquerdo Nilton Santos, do Botafogo e da Seleção Brasileira, que havia
defendido o “Pantera do Leste” num torneio de futebol realizado em Cuiabá na
década de 50.
Verdadeiro “gentleman” que sempre foi, dentro e fora do
campo, Nilton Santos levou os dois casais para conhecerem os principais pontos
turísticos da “Cidade Maravilhosa”. No roteiro, uma passagem pelo Estádio do
Maracanã.
Foi lá que Lima e Hugueney conheceram os famosos craques do
passado. Eles estavam reunidos na sede de uma entidade que o ex-governador
Carlos Lacerda havia criado para dar emprego, no próprio Maracanã, a ídolos do
futebol carioca que estavam atravessando dificuldades financeiras.
E aí, rolando papo pra lá e pra cá, Cacildo discorreu com
muita convicção sobre sua façanha no futebol em Mato Grosso. Os presentes
olhavam meio desconfiados uns para os outros, fazendo força para não sorrir. E
o herói do gol concluiu, de peito estufado: “Só engoli três bolas...”
Nomeado exator de rendas em Alto Araguaia, na década de 30,
Cacildo Hugueney transformou-se num poderoso cacique político, seguindo os
passos do maior “coronel” da política da região, Ondino Lima. Hugueney foi
prefeito de Alto Araguaia durante 12 anos – 8, nomeado pelo interventor de Mato
Grosso, Filinto Muller, e 4 em eleição direta.
Seu prestígio era tão grande que durante a campanha para
presidente da República em 1955, ele conseguiu, com o apoio do seu padrinho
político Filinto Muller, levar Juscelino Kubitscheck a Alto Araguaia para
fazer um comício. Foi o único município do interior de Mato Grosso a ter a
honra de receber JK.
Mais do que fazer um discurso, JK até pernoitou em Alto
Araguaia de domingo para segunda-feira. Pernoitou, mas não dormiu, pois pé de
valsa como era, JK dançou das 23 até as 4 horas da matina em um baile muito
chique realizado em sua homenagem.
O baile foi uma festa que deixou saudades em Alto Araguaia.
Era tanta mulher querendo dançar com o futuro presidente da República que Pedro
Lima, já bem mamado, organizou um “comitê” no salão para inscrição e
organização da fila das dançarinas que iam rodopiar nos braços do mais famoso
e indiscutivelmente maior dançarino do baile...
Teve até um critério, estabelecido por Pedro Lima, para a
sequência das danças. Primeiro as mais bonitas, na sequência as menos feias e
depois as mais feias. JK, com toda a sua simplicidade e popularidade, não
estava nem aí para a parceira que estava na fila. Ele queria era dançar...
(Reproduzido do livro Casos
de todos os tempos Folclore do futebol
de Mato Grosso)..