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sábado, 29 de abril de 2017

Três filhos jogando juntos, a razão da louca paixão de Joaquim Papudo pelo Operário


A primeira diretoria operariana. Da esquerda para a direita, Joaquim Papudo, Rubens dos Santos, Luís Vitor da Silva (primeiro presidente do clube), Odemar Pereira, Mestre Dario (presidente da Liga de Futebol de VG) e Manoel Mendes de Oliveira (Foto: arquivo Zé Pulula)
Ao longo da sua existência, que completou 66 anos neste 2017, o Clube Esportivo Operário Várzea-grandense (CEOV) que nasceu com o nome de Operário Futebol Clube, conforme consta na sua primeira bandeira, teve muitos torcedores verdadeiramente apaixonados pelo time. Mas nem um deles, muitos dos quais já falecidos, chegou aos pés do lendário Joaquim Santana Rodrigues, mais conhecido como Joaquim Papudo.

Papudo tinha dois motivos muito fortes para nutrir um amor doentio pelo Operário: ele foi um dos fundadores do clube e se não bastasse esse orgulho, dois dos principais jogadores do velho tricolor – Assis e Zé Simião -- eram seus filhos. Sua paixão pelo Operário explodiu quando o caçula Conrado, ainda menino, passou a jogar com os dois irmãos, formando um trio que era o xodó dos tricolores.

Naquele distante tempo, o campo onde o Operário mandava seus jogos oficiais e disputava amistosos ficava na Avenida Couto Magalhães, perto de um grande supermercado da cidade. Claro que o campo não tinha alambrado e uma simples cerca de arame liso, fixada em grossos mourões, separava a torcida dos jogadores.

Um desses mourões acabou ficando conhecido como “do Joaquim Papudo”. Motivo: cada chute que Assis e Zé Simião e depois Conrado davam na bola dentro do campo, era uma bicuda do pai deles no mourão. Principalmente quando erravam o chute. E o pobre tronco de madeira, que não tinha culpa de nada, vivia cheio de marcas dos chutes de Joaquim Papudo.

Pena que Joaquim Papudo, já falecido, não pôde curtir por muito tempo as virtudes de seus três filhos jogando bola juntos. Na década de 60, o Operário disputava no Dutrinha, inaugurado em 1952, contra o Campinas, do Grande Terceiro, um jogo importante pelo Campeonato Amador de Cuiabá, quando Conrado sofreu uma entrada maldosa de um jogador do time adversário e que atingiu em cheio seu menisco do joelho direito.

Depois do jogo, a revoltada torcida do Operário tentou de todo jeito pegar o jogador do Campinas para vingar a pancada violenta que ele havia dado em Conrado, então com 20 anos, e uma grande promessa do futebol cuiabano. Conrado foi operado pelo renomado ortopedista operariano Murilo Godói, mas a cirurgia não resolveu o problema e ele teve que encerrar mesmo a promissora carreira.

Da sua curta passagem pelo futebol cuiabano, Conrado recorda de um esquema que o Operário utilizava na execução de faltas com barreira e que fatalmente resultavam em gols em 80% das cobranças. 

Quando os jogadores se posicionavam na barreira, sempre de frente para a meta para o goleiro orientar sua formação, os jogadores encarregados da cobrança ficavam agachados atrás dos zagueiros, impedindo o arqueiro de ver quem ia chutar a bola. Aí, quando o juiz apitava, autorizando a cobrança, o jogador escalado previamente levantava-se e chutava a bola exatamente no canto oposto ao que estava a barreira. 

 -- Era gol certo – garante Conrado.



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quarta-feira, 19 de abril de 2017

Massagista do CEOV bebeu todo o álcool que era para socorrer jogadores


Foto meramente ilustrativa. (Arquivo Google)
Campeonato Amador de Futebol Várzea Grande, de 1985: o Clube Esportivo Operário Várzea-grandense enfrentava o Vila Nova, no campo do adversário,  em Bom Sucesso. Um jogo muito pegado e cujo único resultado que interessava aos dois tradicionais rivais era a vitória.

Com o grande empenho da boleirada dentro de campo, de vez em quando surgiam jogadas mais ríspidas de ambos os lados, na luta pela vitória. Valia até “chutar para o mato, porque o jogo é de campeonato...” – como se diz.

De repente, um jogador do Operário sofreu uma entrada mais dura de um defensor do Vila Nova e se machucou. Aparentemente, era uma contusão grave, porque o boleiro não conseguia nem ficar em pé, apesar de sua vontade de continuar em campo.

Os operarianos procuravam ajudar o jogador contundido, enquanto acenavam para o massagista entrar em campo para atender o companheiro. Mas que nada! O massagista, cujo nome ninguém se lembra, passadas mais de três décadas, continuava sentado na beira do campo. E só gritava: “Faz folhão nele”!, “Faz folhão nele!...”

Folhão era um termo que os boleiros usavam para identificar um tipo de exercício que aplicavam em um companheiro machucado, movimentando seus braços em vários sentidos até ele se recuperar...

Alguns jogadores estranharam o comportamento do massagista, correram até a beira do campo para pegar a caixa de remédios para socorrer o companheiro e só então descobriram o motivo da sua indiferença: ele havia bebido todo o  álcool puro – mais de um litro -- muito usado para massagear os boleiros quando se machucavam dentro de campo...

Nos velhos tempos de poucos recursos da indústria farmacêutica para socorrer quem sofria uma lesão jogando bola, o álcool era um santo remédio. E naquele dia a rapaziada do CEOV não pôde contar nem com o álcool, que logo cedo foi parar no bucho do massagista...

     

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Fluído de freio e água: milagrosa massagem que salvou o velho Chicotinho FC...

Uma da formações do Chicotinho: de pé, da esquerda para a direita, Fião, Riam, Maquininha, Pedro, Yam, Titi e Alex: sentados, na mesma ordem, Ango, Joaquim, Hiago, Meio Quilo, Guilherme e Vicente. As crianças da foto são Camila, Vitor Hugo e Vicentinho. (Foto: arquivo de família) 
Era um domingo de chuva que Deus mandava do céu. Em um campo que ficava atrás da hoje Cerâmica Eliane, na bifurcação das entradas para Bom Sucesso e Souza Lima, o Chicotinho Futebol Clube disputava contra o Grêmio, do Jardim Glória, uma partida de vida ou morte, pelo Campeonato Amador de Várzea Grande de 1980. E precisava vencer de qualquer jeito para continuar no certame.

Mas, decididamente, naquele dia o Chicotinho -- nome escolhido por seu fundador, Ciro Vieira da Costa, em homenagem ao Clube Esportivo Operário Várzea-grandense, para alegrar as domingueiras de sua numerosa família do isolado Capão Grande, e torcedora fanática do tricolor, estava mais para um relhinho de uma tênue tirinha do que para um temido chicote de couro trançado...  

O jogo estava 3x0 para o Grêmio. O Chicotinho tentava reagir, mas não tinha jeito. Para complicar a situação do time, o jogador Aírton Pintinho sofreu uma lesão aparentemente muito grave e não poderia continuar em campo. No banco de reservas, nem um jogador para entrar no lugar de Pintinho...

O presidente do Chicotinho, Guilherme da Silva, que havia assumido o cargo com a desistência de Ciro Vieira da Costa, olhou na caixa de massagem do time e não viu nenhum lenitivo – nem álcool, pelo menos... – que pudesse aliviar o sofrimento do desesperado Pintinho...

Guilherme da Silva, conhecido também como Meio Quilo, por causa da sua compleição física,  correu até sua velha picape, pegou um resto de fluído de freio, misturou com água às escondidas dos jogadores e aplicou na machucadura de Pintinho, como se aquela porção fosse um milagroso medicamento para qualquer contusão!

Claro que Aírton Pintinho sentiu que a parte onde a mistura foi esfregada estava queimando por causa das substâncias químicas no fluído de freio e tratou de se movimentar para aliviar a dor. E não demorou estava novamente em campo. A massagem  com a dupla mistura deu tanto resultado que Pintinho foi um dos principais jogadores do Chicotinho na virada de 7x3 sobre o Grêmio.

Um feito que até hoje, decorridos quase 40 anos, é lembrado pelos heróis que participaram da histórica vitória. Entre eles, o próprio Aírton Pintinho,  Celso, Búdio, Guilherme Filho, Fernando, Pedro...

Muito amigo e admirador de Rubens dos Santos, o primeiro presidente do CEOV, lançado no dia 1º de maio de 1949, Ciro Vieira da Costa, ao decidir, em 1978, fundar um clube de futebol no bairro Capão Grande escolheu o nome de Chicotinho para homenagear o Operário, que passou a ser conhecido como “Chicote da Fronteira”, denominação cunhada pelo advogado, jornalista, escritor, poeta e boêmio Benedito Santana da Silva Freire...

Depois de muitos anos sustentando o Chicotinho, Ciro Vieira da Costa, que já andava a beira da falência por causa do dinheiro que gastava com o futebol, estava desanimado e falava sempre em parar de mexer com bola. Mas ia protelando a decisão definitiva na esperança de que aparecesse alguém para continuar tocando o Chicotinho.

Em um certo domingo, o Chicotinho tinha que jogar com o Bariri, no bairro Pirinéu. Sem conseguir um caminhão para transportar a boleirada, Ciro Costa acertou um carreto duplo (buscar e levar de volta os jogadores) com Guilherme da Silva, que era justamente o mandachuva do Bariri, o adversário do Chicotinho naquele dia...

Começava naquele dia uma conversação entre Guilherme da Silva e Ciro Vieira da Costa e que tempos depois desaguou na consumação de um sonho que passou a ser acalentado pelos dois: o eterno presidente do Chicotinho saindo de campo e o do Bariri assumindo um dos mais tradicionais clubes do futebol amador várzea-grandense...

Hoje, com 72 anos de idade, Ciro Vieira da Costa continua apaixonado pelo CEOV, mas não se envolve mais diretamente com o futebol. Seu sucessor no lendário Chicotinho morreu no ano passado, mas entrou em cena seu filho Guilherme da Silva, para dar continuidade à tradição do futebol amador de Várzea Grande, que já caminha para 40 anos, mantendo o Chicotinho vivo. O Chicotinho é hoje um time quase que exclusivamente familiar...     

              

sábado, 8 de abril de 2017

Quadrangular nos 250 anos de Cuiabá

          Em 1969, Santos e América, do Rio de Janeiro, campeão carioca, vieram a Cuiabá disputar, ainda no Dutrinha, um quadrangular com o Mixto e o Dom Bosco para comemorar os 250 anos da capital mato­-grossense. A família do cuiabano Almiro, que estava jogando no Santos, deci­diu prestar uma homenagem aos santistas, oferecendo-lhes um churrasco bem cuiabano, regado a cerveja, evidentemente.
Alguns jogadores do Santos – Lima, Clodoaldo, Negreiros, Abel, Mané Maria e Geraldino – compareceram à casa da família de Almiro, na Rua Joaquim Murtinho, para jantar com outros convidados. Pelé e Almiro não fo­ram: os dois estavam contundidos e nem tinham vindo a Cuiabá.
Depois do jantar, papo rolando animado, Pelezinho, irmão de Al­miro e uma das “feras” do Mixto, comentou numa roda de boleiros que o seu mano famoso havia lhe dito que no Santos só havia o “rei“... os outros eram tudo japonês. Quer dizer, com aqueles olhos pequeninos dos orientais, eram ruins de bola!...
Na rodada de abertura do torneio, dia 6 de abril, o Santos deu de 4x1no Dom Bosco e o Mixto derrotou o América pela contagem mínima. Na estreia do Santos, o endiabrado ponteiro direito Mané Maria, em grande for­ma, fez gato e sapato do lateral esquerdo Elói, que saiu de campo com a língua quase arrastando no chão de tanto correr atrás do atacante.
Veio a rodada final, dia 8, com o Dom Bosco pegando o América e o MIxto enfrentando o Santos. No dia do jogo com o Santos, o lateral esquerdo Darci Avelino, que tinha presenciado o show de bola que Mané Maria tinha dado em Elói, amanheceu adoentado...
Pelezinho, o substituto de Darci Avelino, sacou o lance: seu compa­nheiro não estava doente porra nenhuma. Simplesmente ele não queria en­frentar Mané Maria. Pelezinho bateu o pé: não jogaria também e fim de papo.
Pior para Severino, que foi escalado para jogar na lateral esquerda. Ele fez uma marcação tão dura no ponteiro direito santista para não repetir o vexame de Elói, que quando retornou a Santos, o ponteiro direito comentou com Almiro: “Nunca mais vou jogar em sua terra, porque lá tem um jogador que corre atrás da gente até no mato...” – referindo-se a Severino, que não des­colava de Mané Maria nem quando ele saía de campo para pegar a bola para cobrar um lateral ou escanteio. O Dom Bosco perdeu de 3x1 para o América e o Mixto levou de 5x1 do Santos.
Pouco tempo depois do Santos ter participado do quadrangular em Cuiabá, Almiro estava no Paulista, de Jundiaí. Especula-se até hoje que sua saída do alvinegro teve tudo a ver com o comentário feito em Cuiabá por Pele­zinho sobre a japonesada do Santos...
Velho amigo de Almiro, Lito garante que não foi nada disso. O que aconteceu foi que Almiro entendeu que enquanto Pelé estivesse no Santos, ele não teria nenhuma chance de se firmar como titular do alvinegro. Só por isso – e estava carregado de razão – Almiro pegou o boné e caiu fora do Santos.
Embora tenha ficado um bom tempo no Santos, exceto em casos de contusões de Pelé, Almiro só entrava no time no decorrer de jogos quando o “rei” impunha sua escalação. E como impunha!
Nas excursões do Santos pelo exterior, Almiro sempre era incorpo­rado à delegação por interferência de Pelé. Acontece que Almiro fala inglês, francês, espanhol, além do português, claro, e muitas vezes livrou o “rei” do as­sédio de fãs nas ruas por onde o alvinegro passava pelo mundo afora, fazendo seus admiradores acreditarem que Pelé era outros jogadores negros do Santos, principalmente Coutinho e Dorval...
(Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso).