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terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Diante de um tresoitão, árbitro de Cáceres criou uma nova regra no futebol: pênalti com barreira...


“É penalidade, sim, mas com barreira...” – essa foi a genial saída que o árbitro Ivan Marrekus encontrou num repente diante de um “trêsoitão” embalado, ao apitar um amistoso entre Cruzeiro e Ponte Preta, na comunidade rural de Bezerro Branco, habitada por migrantes de Minas Gerais e Espírito Santo, encravada nas furnas das serras das Araras e do Rio Paraguai entre Cáceres e  Barra do Bugres. As terras da área começaram a ser ocupadas em 1950, na administração do governador Fernando Correa da Costa.

Sem opções de lazer e diversão, a população de Bezerro Branco decidiu fundar um time de futebol para animar as tardes de domingo da comunidade. E criaram de cara três categorias – infanto juvenil, amador e veteranos. A criação de três categorias era para garantir que a população não ficasse sem futebol nas domingueiras, feriados e dias santos. Com predominância da mineirada na área, o nome escolhido para o representante da currutela no futebol foi Cruzeiro, talvez por influência do timão mineiro das décadas de 1960/1970, integrado por jogadores do nível de Wilson Piazza, Raul, Dirceu, Zé Carlos, Natal, Tostão, Palhinha...

Depois de algum tempo, na Primavera de 1967 o Cruzeiro decidiu desafiar a poderosa Ponte Preta, de Cáceres, para um amistoso em Bezerro Branco. Apesar do poderio da “Macaca” cacerense, o Cruzeiro depositava muita esperança no futebol requintado dos irmãos Allan Kardec e Dênis, além de Tim e do goleiro Domingos Bozerudo. Contava também com o desgaste físico dos adversários, que teriam que viajar 45 quilômetros na carroceria do caminhão do sr. Elias Aguilera.

Afinal, chegou o esperado dia, com o campo marcado com palha de arroz. Nem bem começou o jogo e a Ponte Preta percebeu que o Cruzeiro seria um adversário muito duro de ser batido em seus domínios. E através de alguns de seus jogadores começou a induzir, disfarçadamente, o juiz Ivan Marrekus,  auxiliado por Lulu Três Nariz e Mané Taturana a marcar uma penalidade contra o time da casa.

E o árbitro marcou mesmo o pênalti contra o Cruzeiro. Aí começou uma grande confusão, com os jogadores do time da casa, pressionando o juiz e impedindo a cobrança da penalidade máxima. Chamaram então o filho caçula de seu Florêncio Paraguaio para ir ao boteco do seu pai, ali perto, para lhe comunicar o que estava acontecendo. Naquela hora estava no boteco tomando umas pingas um líder rural da região, conhecido como seu Ferreira, a quem o menino deu ciência também da confusão no campo.

Segundo o jornalista cacerense João de Arruda, Ferreira terminou de tomar a sua dose  da cachaça Providência, pediu mais uma, deu uma cuspida bem longe, temperou a garganta e saiu para resolver a polêmica sobre o pênalti. Entrou no campo e foi direto falar com Marrekus. Com o revólver 38 embalado na mão, Ferreira perguntou ao juiz: “Foi mesmo penalidade?...”

Tremendo de medo, Marrekus, sem alternativas, confirmou: ”Foi pênalti, sim, com barreira...”

Ferreira olhou imediatamente para o banco de reservas e chamou todo mundo para reforçar a barreira do Cruzeiro...

Em seguida, Ferreira convocou o capitão da Ponte Preta, Balãozinho, para uma conversinha particular. Na volta do papinho, ali mesmo, Balãozinho apontou Germano Maninho para cobrar a penalidade.

Enquanto Maninho preparava-se para cobrar o pênalti, Ferreira fez uma advertência: “Se a bola tocar em um dos nossos jogadores, ninguém da Ponte Preta sai vivo da barreira...”

Cobrada a falta, a bola foi parar no cemitério da comunidade rural, bem longe dali...

Bezerro Branco não existe mais, pois sua população, predominantemente católica, resolveu mudar o nome da localidade para Vila Aparecida, em homenagem a Nossa Senhora Aparecida. Com o novo  nome, Vila  Aparecida virou distrito...  

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Torcedores do União iam usar serrador para derrubar cabines de rádio do Luthero Lopes


 Um serrador de grande porte, conhecido também como traçador -- este foi o instrumento que torcedores do União queriam utilizar para derrubar as cabines de madeira do Luthero Lopes ao final do jogo em que o Clube Esportivo Operário Várzea-grandense derrotou o clube de Rondonópolis, na década de 1980, eliminando a possibilidade de o colorado se classificar para a final do Campeonato Estadual. O foco dos torcedores era, principalmente, as cabines das emissoras de rádio de fora de Rondonópolis.

Para quem não sabe, o serrador, que desapareceu com a chegada da moto-serra ao mercado, é um grande serrote e em cujas extremidades existem dois suportes para facilitar o trabalho das duplas que o operam, com um deles puxando e o outro empurrando a sua lâmina dentada, através de movimentos sincronizados para serrar madeira e derrubar árvores. Mesmo árvores de troncos mais espessos resistem à ação do serrador, chamado também de “serrote japonês”.

Inconformados com a derrota, milhares de torcedores do União puseram o alambrado do Luthero Lopes abaixo e caminharam em direção do local onde ficavam as cabines de rádio do estádio, com a evidente intenção de derrubar as dependências de emissoras de fora da chamada “Rainha do Algodão”. Como se os radialistas fossem culpados dos fracassos do representante de Rondonópolis no futebol. Claro que com um serrador do tamanho que os torcedores conduziam, a serragem das vigas de sustentação das cabines era questão de minutos...

Naquela tarde de triste memória para o futebol de Rondonópolis, o locutor esportivo paranaense Tony César, que transmitia o jogo para a Rádio Vila Real, viu a viola em cacos. Ainda bem que a Polícia Militar agiu com rapidez e impediu que a dupla do serrador derrubasse a cabine de onde o radialista irradiava o jogo, o que poderia representar um sério risco para o profissional, em virtude da altura dessas dependências do Luthero Lopes.

Lembra o ex-radialista Oliveira Júnior, atual editor de Esportes do jornal A Gazeta, que a transmissão de jogos no interior de Mato Grosso até a década de 1990 era uma aventura. A começar pelos riscos que os profissionais do rádio corriam, deslocando-se por estradas esburacadas, muitas vezes à noite, o que tornavam as viagens cansativas e aumentavam os perigos de acidentes.

As duas cidades mais perigosas, por causa do fanatismo de suas torcidas sempre foram Rondonópolis e Sinop. No caso desse jogo histórico em Rondonópolis, a Polícia Militar escoltou o pessoal da imprensa de Cuiabá até o trevo da cidade, fora do alcance dos torcedores mais revoltados. A partir daí, que cada um se virasse...      








     

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Dirigente do Cacerense aproveitou show (que não houve...) de os Menudos para dar um golpe na PM


Com a intenção de arrumar um bom dinheiro para o Cacerense enfrentar o ano de 1980, o dirigente Luiz Mário Cardoso, o popular Pacu, acertou um amistoso com o Vila Aurora, de Rondonópolis, em um domingo, em Cáceres. Na realidade, o amistoso no Geraldão era apenas um pretexto para Pacu colocar em prática um plano arrojado e ambicioso: encher o estádio com uma atração artística para ninguém botar defeito.

À época, realizava uma excursão pelo Brasil o grupo musical de Porto Rico, Menudo. Melhor atração para o público de todas as idades, impossível, sonhou alto Pacu. Definidos alguns detalhes para a programação – só na cabeça de dele passava que o grupo porto-riquenho viria dar um show em Cáceres sem uma segura garantia do recebimento do altíssimo valor pela apresentação -- Pacu começou a trabalhar na divulgação do evento esportivo-musical, com grande euforia com as animadoras perspectivas de sucesso de público da promoção.

Final de semana chegando e quase tudo definido, inclusive para a abertura mais cedo dos portões do Geraldão para o amistoso confirmado – a apresentação de os Menudos fecharia o monumental evento – quando a Polícia Militar se deu conta que Pacu havia prometido, mas não havia pagado a taxa relativa ao policiamento para a segurança do público. E mais: ele teria que pagar uma taxa extra relativamente ao aumento do número de policiais no estádio por causa do show.

Depois de rápido entendimento entre Pacu e a PM, ficou ajustado que o Cacerense depositaria nos caixas eletrônicos de uma agência bancária da cidade o valor correspondente à taxa para o Fundo de Segurança, pois sem o policiamento não haveria jogo nem show. Mas era só o promotor do espetáculo apresentar o comprovante antecipado do depósito que estava resolvido...

Ainda na sexta-feira, a PM recebeu o recibo eletrônico do depósito na conta da instituição, feito por um office-boy. No domingo, o policiamento estava a postos no Geraldão para o jogo entre Cacerense e Vila Aurora e que terminou empatado pela contagem mínima. Mas o show que era bom mesmo, neca de pitibiribas. No mesmo dia, entre protestos sem fim, Pacu prometeu que ia devolver parte do dinheiro que o público havia investido na compra antecipada de ingressos e não havia comparecido ao jogo. Ao que consta, porém, o prometido dinheiro do show virou Conceição...

Na segunda-feira, o dinheiro não caiu na conta da PM. Motivo: dentro do envelope usado para o depósito da importância combinada e a consequente emissão do recibo que comprovava a operação bancária, não existia dinheiro coisa nenhuma.

Que fim levou o golpe aplicado por Pacu na PM ninguém ficou sabendo. Mas de uma coisa a população cacerense tomou conhecimento e comenta até hoje: Pacu, que tinha uma chácara Cáceres, passou um tempão sem aparecer na cidade!...

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Árbitro queria segurança da PM e da Polícia Civil para apitar jogo amador no 16º BC...


Conhecido nos meios esportivos pelo apelido de “Trote de Vaca”, por causa de seu jeito desengonçado de correr quando estava trabalhando como bandeirinha ou assistente, como são chamados agora, José Silva foi apitar um jogo de Campeonato Amador de Cuiabá no campo do antigo 16º Batalhão de Caçadores, o 16° BC, que virou depois 44° Batalhão de Infantaria Motorizado.

Logo que chegou ao palco da disputa, “Trote de Vaca” ficou sabendo que os dois times cujo jogo ia apitar gostavam de pressionar o árbitro. E não raro, com o apoio de seus torcedores, partiam até para a agressão contra os árbitros e, como era natural, sempre acabava sobrando até mesmo para os seus bandeirinhas.

Em uma conversa com o Joelmes Jesus da Costa, que seria um dos bandeirinhas naquele jogo, José da Silva garantiu que sem policiamento no campo não apitar coisa nenhuma. Joelmes tentou contornar o problema para evitar que a arbitragem fosse envolvida numa situação desagradável com os oficiais do 16°.

-- Zé, nós estamos dentro de um quartel militar do Exército Brasileiro Se o pessoal daqui não nos der segurança, a Polícia é quem vai dar? A Polícia Militar e a Polícia Civil pode nem entrarem aqui. Faça o seguinte: procure o oficial do dia e solicite a ele para escalar alguns soldados para ficarem de plantão aqui no campo até o jogo acabar.

José Silva aceitou o conselho de Joelmes. Antes de começar o jogo, “Trote de Vaca” recorreu ao Exército e com soldados andando pra lá e pra cá no campo, a partida transcorreu sob absoluta calmaria. Até porque para entrar nas dependências do 16° BC os torcedores tinham que passar por rigorosa triagem burocrática e também por uma rigorosa revista, o que impediu que os torcedores bagunceiros tivessem acesso ao campo de futebol...

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Os cinco minutos mais sofridos de repórter de pista improvisado em locutor esportivo...

O Estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi, completamente lotado de torcedores, inclusive do Brasil inteiro, para assistir a decisão do título paulista entre São Paulo e Corinthians lá pelos idos de 1980. A Rádio Cultura de Cuiabá estava presente para transmitir ao vivo o grande clássico do futebol brasileiro, através da equipe formada por Roberto França Auad (comentarista), Márcio Arruda (narrador) e Orlando Antunes de Oliveira (repórter de pista).

Com tantas emissoras de rádio do Brasil inteiro para cobrir a decisão do título paulista, a Rádio Cultura teve que se conformar em instalar seus equipamentos na parte baixa das arquibancadas do gigantesco Morumbi. Não restava alternativas para a equipe cuiabana: ou aceitava a difícil e incômoda localização que lhe fora reservada no estádio ou recolhia os equipamentos e não transmitia o jogo, um vexame que não passava nem de longe pela cabeça do trio da RC.

A abertura da jornada esportiva foi feita, como era de praxe, pelo comentarista Roberto França, que naturalmente destacou as dificuldades que sua equipe estava encontrando para fazer a transmissão do jogo. Depois de suas considerações, França passou o comando da transmissão do jogo para Márcio de Arruda, pois estava tudo pronto para a bola rolar no Morumbi...

E rolou mesmo. E no exato momento que a bola rolou, a torcida se levantou, em um movimento sincronizado, para comemorar o início da decisão, tapando completamente a visão do narrador. Márcio Arruda, que era bem fanhoso, não se apertou e berrou a todo pulmão ao microfone: “VAI DAÍ, ORLANDO ANTUNES, EU ESTOU COM A VISÃO COMPLETAMENTE ENCOBERTA PELA TORCIDA...”

-- Estes foram os cinco minutos mais longos e sofridos da minha carreira como locutor esportivo – recorda até hoje Orlando Antunes.

Ainda bem que o público sentou e Márcio de Arruda pôde assumir o comando da transmissão, sob a fervorosa torcida de Orlando Antunes para que os torcedores presentes ao Morumbi não se levantassem mais naquele jogo... 
    

sábado, 30 de novembro de 2019

Jogador do Cacerense saiu da cadeia para se tornar herói da vitória contra o Mixto


O Cacerense ia disputar, no Geraldão, contra o Mixto, um jogo de vida ou morte pelo Campeonato Estadual de 1980. Se ganhasse, passaria para a semifinal do certame, mas se perdesse ou mesmo empatasse, ficaria de fora da fase decisiva do campeonato da FMF, o que seria uma frustração para os torcedores cacerenses, que sempre prestigiaram os representantes da cidade no futebol, desde os tempos do velho e saudoso Humaitá.

Além de ter que enfrentar um time aguerrido como sempre foi o Mixto, o Cacerense tinha um problema muito sério para aquele jogo: seu principal jogador, o centroavante Curió, estava preso. E não era em uma cadeia qualquer, mas na 4ª. Companhia Independente da Polícia Militar de Cáceres (CIPM).

Soldado da PM, lotado no batalhão de Cáceres, Curió tinha o pavio muito curto e criava muitos casos principalmente nas ruas, brigando inclusive em bares por onde passava. Essa última confusão em que se envolveu, valeu a Curió uma punição de 15 dias de detenção, conforme decisão do comandante do 4º BPM, major Adailton de Moraes. E só terminaria 15 dias depois. Logo...

No domingo do jogo com o Mixto, já se aproximando da hora do seu começo, uma comissão do Cacerense foi até o batalhão para pedir ao seu comandante que liberasse Curió por umas poucas horas a fim de que ele pudesse jogar uma partida tão decisiva. A comissão inclusive responsabilizou-se por garantir a volta de Curió ao quartel no prazo exigido por Moraes.

O major Moraes relutou, mas atendeu ao apelo dos dirigentes do Cacerense, contanto que depois do jogo Curió retornasse imediatamente ao 4º BPM para continuar preso. A torcida, que acompanhou durante a semana o noticiário sobre a prisão de Curió e seu afastamento forçado do time, respirou aliviada quando o centroavante entrou em campo.

Jogo disputado palmo a palmo, com as duas equipes lutando com todas as forças pela vitória. Aos 44 minutos do 2º tempo, o Cacerense abriu o placar, através de quem? De Curió, gol que garantiu a classificação do clube de Cáceres para a semifinal do certame.

Empolgado com a permanência do clube no campeonato, o major Moraes, presente ao Geraldão, atendeu aos apelos dos torcedores e suspendeu ali mesmo a punição de Curió, que saiu da cadeia para se tornar herói da importante vitória do Cacerense...

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Bandeirinha pegou chuteiras novas do juiz para amaciá-las e nunca as devolveu ao dono...


Com a sua longa experiência de 21anos (de 1978 a 1999) como integrante do Departamento de Árbitros da FMF e dos quais 16 anos como árbitro da CBF (1984 a 1999) e promovido a aspirante da Fifa em 1993 até encerrar a carreira, lá se foi Joelmes Jesus da Costa para Campo Grande-MS para apitar  Operário x Grêmio, de Porto Alegre, pelo Campeonato Brasileiro. Como assistentes, a CBF havia escalado Wilson Eraldo da Silva e Mário (Xuxa) Martins ou Ari Euclides – Joelmes não se lembra mais...

Naquele ano – que o árbitro não se recorda também – a CBF tinha assinado um contrato milionário com uma poderosa fabricante de material esportivo para divulgação de seus produtos. O uso do material doado à entidade máter do futebol brasileiro para todos os juízes do seu quadro – camisas, bermudas, chuteiras e meias – era obrigatório, conforme o contrato assinado com a CBF.

Com um calo no calcanhar direito já até sangrando, Joelmes encerrou o primeiro tempo do jogo no Morenão mancando e com muita dor. Para azar seu, ele não tinha levado seu velho par de chuteiras, certo de que seus pés iam se adaptar muito bem com as novas pisantes, apesar do esporão que já tinha lhe causado alguns sérios problemas...

Mas aí, Wilson Eraldo, que tinha levado na sua bolsa as suas velhas chuteiras e que já estavam até rasgando de tanto serem usadas, emprestou-as a Joelmes. Ele fez um curativo no calcanhar, calçou a velha chuteira de Wilson e não teve dificuldades (nem dores...) para levar o jogo até o fim...

Encerrada a partida, ficou combinado entre os dois que Wilson ia ficar com as chuteiras novas de Joelmes até amaciá-las, enquanto seu companheiro usaria as surradas suas. Mas já faz seguramente uns 20 anos que Wilson decidiu fazer o favor ao companheiro de arbitragem e até hoje quando os dois se falam e Joelmes pergunta que fim levou o seu par de chuteiras novas, a resposta de Wilson é sempre a mesma: “Ainda estou amaciando elas!...”           

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Sem dinheiro para jantar, jovens do Ação tiveram que saciar a fome com skinny e tubaína quente...


Em 2013 ou 2014, o Sociedade Ação Futebol foi a Primavera do Leste para enfrentar o Juventude pelo Campeonato Mato-grossense de Futebol nas categorias sub 15 e sub 17, no Estádio Municipal. A rapaziada do Ação fez bonito, com o time do sub 15 conseguindo um honroso empate pela contagem mínima, enquanto o sub 17 saiu de campo com uma difícil vitória pelo placar de 2x1.

O chefe da delegação do Ação, Dino Fortes, avisou antes a moçada que encerrado o jogo do sub 17, o pessoal embarcaria imediatamente de retorno a Várzea Grande, por um motivo muito simples: o clube não tinha dinheiro para bancar o jantar para mais de 30 pessoas. A solução era chegar mais cedo a Várzea Grande e cada um comer em sua casa...

Tudo combinado direitinho, a delegação iniciou a viagem de volta, com todo mundo animado pelos dois resultados conseguidos no campo do adversário. .A viagem transcorria normalmente até o ônibus apresentar um defeito mecânico. Aí apareceram muitos curiosos, inclusive dando palpites, mas de mecânica de veículos automotores ninguém entendia patavina...

Depois de algum tempo descobriu-se que entre os membros da delegação havia um jogador cujo pai morava em Chapada dos Guimarães e que entendia de mecânica. Estava encontrada a solução: era só pegar uma carona e chegar à cidade. Mas ninguém parava, muito pelo contrário, acelerava o veículo quando chegava perto do ônibus. Também pudera: naquela escuridão da noite e aquele montão de homens às margens da MT-020...

Alguém que conhecia a região, lembrou que no sentido de Chapada dos Guimarães, não muito longe do lugar onde o ônibus enguiçou, existia uma vendinha que poderia saciar a fome do pessoal. Foram até lá e compraram todo o estoque de skinny e tubaína quente, que pelo menos serviram para aplacar a fome dos jogadores até chegar o socorro de Chapada dos Guimarães para o Ação completar a viagem de volta...

sábado, 16 de novembro de 2019

Sopa de avião estava mais quente do que pinga ruim e queimou a boca de dois árbitros


Lá se foram Joelmes Jesus da Costa, Ayrton de Souza Franco e Benedito Pio dos Santos para Campo Grande para apitar um jogo do Campeonato Estadual do Mato Grosso uno e cuja divisão foi consumada em 1977. O trio já estava escalado pelo Departamento de Árbitros da FMF: Joelmes apitava o jogo e seus companheiros atuariam com bandeirinhas, hoje chamados pelo pomposo nome de assistentes...

Logo que se acomodaram em suas poltronas, na mesma fileira, uma ao lado da outra, em avião da extinta Viação Aérea São Paulo (Vasp) e a aeronave decolou, o serviço de bordo entrou em ação. Naquele voo, a falida Vasp estava oferecendo para os seus passageiros uma sopa, ao contrário de outros tempos quando os viajantes podiam escolher a alimentação,  tomar cervejas adoidadas e até generosas doses de vinho, campari, uísque, martini...

Como não gosta de sopa, Joelmes não quis, mas Franco e Pio dos Santos aceitaram o alimento. Franco foi o primeiro a experimentar a sopa. Mas ela estava tão quente, apesar do ar gelado do avião, que Franco levou a colher de  sopa à boca e a devolveu imediatamente ao vasilhame, já com os olhos lacrimejando. Pio dos Santos que não tinha notado a reação de Franco, perguntou-lhe: “A sopa está boa?”

  Está ótima... pena que está meio fria! – respondeu Franco...

Pio dos Santos não teve dúvidas: encheu a colher de sopa e levou à boca.

  Eu só vi os olhos do Pio dos Santos se enchendo de água e ele se retorcendo na poltrona e suando, depois de ter engolido de uma vez a colher de sopa   recorda Joelmes.

  O que foi Pio? – perguntou-lhe Joelmes...

  Foi uma grande sacanagem do Franco.  A sopa não está quente, está fervendo! Como você fez isso comigo, colega? Já tomei tanta pinga ruim, mas queimando como essa sopa desceu para o meu estômago nunca tinha me acontecido... – respondeu Pio dos Santos, entre gargalhadas.     

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Repórter de campo censurou ao vivo palavrões de jogador do Atlético, mas o seu, não!...


No distante início da década de 1960, quando o futebol profissional não havia sido implantado ainda em Mato Grosso, o que aconteceu em 1967 – na realidade muitos jogadores já recebiam dinheiro “por baixo do pano”, dos clubes de maior poder econômico para defendê-los – Mixto e Atlético Mato-grossense disputavam mais um clássico pelo Campeonato Amador de Cuiabá. Como acontecia nos velhos tempos, o Dutrinha, inaugurado em 1952, estava apinhado de gente.

No primeiro tempo, o juiz expulsou de campo o ponteiro esquerdo Mitu, do Atlético Mato-grossense. O jogo estava sendo transmitido pela Rádio A Voz D’Oeste, pelo lendário e polêmico Ivo de Almeida, que naquele jogo tinha como repórter de campo Romeu (Memeu) Roberto. Claro que como apaixonado pelo Mixto, Ivo de Almeida vibrou com a expulsão do ponteiro esquerdo atleticano...

Encerrado o primeiro tempo, Memeu aproveitou o intervalo do jogo para entrevistar Mitu.

Por que você foi expulso? – perguntou Memeu 

– Porque eu chamei o juiz de filho da p...) – Memeu, rapidinho, cortou a última palavra da resposta de Mitu...

– E por que você xingou o juiz? – quis saber Memeu...

– Porque ele me mandou tomar no c... (novo clic de Memeu, no seu microfone, para evitar que o palavrão de Mitu fosse para o ar)...

Ivo de Almeida passou, então, a elogiar a sagacidade do repórter de campo ao cortar os palavrões nas respostas de Mitu. Quando Ivo de Almeida ia completar sua participação no episódio sobre a expulsão de Mitu, Memeu arrematou:

– Ainda bem, companheiro, que eu sou esperto pra caralho...

Detalhe: os microfones de Ivo de Almeida e de Memeu estavam no ar...

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Juiz retardou início da partida no Verdão porque o Dom Bosco não tinha jogadores para entrar em campo


O sol já estava arrebentando mamona naquela manhã de domingo de 1998 ou 1999 no Verdão e nada Dom Bosco dar sinal de vida no gramado para enfrentar o Barra do Garças, em jogo muito importante, pois ia definir a última vaga do quadrangular decisivo do Campeonato Mato-grossense de Futebol. O próprio árbitro Joelmes Jesus da Costa já estava muito preocupado, porque não sabia mais que desculpas dar à torcida e também à crônica esportiva para justificar o atraso para início da partida.

A meia hora de tolerância que o juiz poderia esperar para dar a saída de bola para considerar o Barra do Garças vencedor por WO já havia estourado, quando Joelmes foi procurado por dirigentes do Dom Bosco e do Barra do Garças que foram lhe fazer muito mais que um pedido um dramático apelo: ele esperar mais um pouco para dar início a peleja, pois naquele momento o Leão da Colina Iluminada não dispunha.de jogadores suficientes nem para entrar em campo, ou seja, oito atletas...

Veio então à tona a triste realidade que envolvia o Dom Bosco naquela temporada: quatro ou cinco de seus jogadores estavam, naquela hora, defendendo um clube amador em um campeonato no Jardim Paulista, no Coxipó. O Dom Bosco sabia disso, mas não podia cobrar nada dos seus profissionais. Afinal, o dinheiro que os atletas recebiam antecipadamente por jogo no futebol amador era superior aos seus salários mensais no clube...

Finalmente, com um grande atraso, o jogo começou. Com o causticante sol que fazia no Verdão, os dombosquinos, principalmente os que disputavam a segunda partida com o intervalo de uma viagem do Jardim Paulista, ao Verdão, começaram a por a língua para fora da boca de tão cansados. O Barra do Garças aproveitou-se da situação que lhe era favorável e venceu o jogo, que garantiu sua presença no quadrangular, por 3x0, sem fazer a menor força...      

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Disputa por bandeirinha vermelha entre árbitro e vaca em torneio de futebol provocou muitas gargalhadas


Todo mundo aprendeu desde criança que boi e vaca não gostam do vermelho. Menos o juiz de futebol Civis das Neves Rodrigues, já falecido, que durante muitos anos militou no Departamento de Árbitros da Federação Mato-grossense de Futebol, por onde passaram, em tempos bem remotos, consagrados juízes como Eraldo Palmeirini, Armando Camarinha, Cícero Salata, Orlando Antunes de Oliveira, Mário (Xuxa) Martins,  Wilson Eraldo  da Silva, Joelmes Jesus da Costa, Pio dos Santos e tantos outros...

Por desconhecer que bovinos não gostam do vermelho Civis das Neves acabou sendo protagonista de uma cena hilariante em Juscimeira e que inclusive provocou a paralisação de uma partida de futebol no principal campo da cidade, porque os jogadores dos dois clubes desandaram a rir que não paravam mais. E a numerosa a torcida também. E não era para menos, com a inusitada cena que presenciavam...

Quando presidiu a FMF em dois mandatos sucessivos – de 1980 a 1986 – o então deputado estadual João da Silva Torres, com evidente intenção eleitoreira, implantou na entidade a saudável política de apoiar e sempre que possível prestigiar pessoalmente eventos esportivos que eram realizados pelo interior de Mato Grosso. Como um torneio em Juscimeira, com a participação de muitas equipes.

A competição foi iniciada às 7h30. Os ponteiros dos relógios já caminhavam para as 17 horas e nada do torneio, que não foi interrompido nem na hora do almoço, acabar. Os três juízes da FMF escalados para apitar os jogos – Cícero Salata (que também já subiu para o andar de cima), Joelmes Jesus da Costa e Civis das Neves – já estavam completamente esgotados, de tanto se revezarem como juiz e bandeirinhas dos jogos, um atrás do outro.

Em um dos jogos já no fim de tarde e que estava sendo apitado por Joelmes, o auxiliar Civis das Neves, vencido pelo cansaço, encostou-se em um dos mourões que sustentavam os fios de arame liso que cercavam o campo. E para ficar mais à vontade, colocou as mãos para trás, segurando a sua bandeirinha vermelha. Qualquer anormalidade no jogo era só levantá-la e pronto!...

Aí aconteceu o fato inusitado: uma vaca aproximou-se do mourão onde estava encostado Civis das Neves e abocanhou a bandeirinha. Começou, então, uma luta desigual entre o auxiliar e a vaca, com o animal tentando puxar a bandeirinha para fora do campo e Civis das Neves lutando para recuperar seu instrumento de trabalho...

Depois de algum tempo de luta entre animal e homem a vaca desistiu de ficar com a bandeirinha e o jogo foi reiniciado, com o estádio inteiro, incluindo os jogadores, divertindo-se como nunca pelo show extra-futebol. O jogo ficou parado por um bom tempo, independente da vontade do arbitro, enquanto todo mundo caía na gargalhada. “Este fato pitoresco ficou marcado para sempre na minha carreira de juiz de futebol...” – afirma Joelmes Jesus da Costa.     

domingo, 20 de outubro de 2019

Motor de arranque quase levou o Ação a perder jogo por WO e pagar multa de R$ 20 mil


Viajar bem cedinho para chegar ao destino final com tempo suficiente para os jogadores dar uma boa descansada – foi com esse objetivo que o Sociedade Ação Futebol deixou Várzea Grande às 5 horas da matina de um domingo para jogar no Estádio Egídio José Preima contra a Associação Grêmio Sorriso pelo Campeonato Mato-grossense de 2008, o maior já realizado pela Federação Mato-grossense de Futebol, com a participação de 20 clubes. Um jogo de suma importância para os dois adversários, pois valia uma vaga para a fase seguinte do certame.

Mas os planos do SAF foram por água abaixo: quando a delegação chegou ao Posto Gil, em Diamantino (208 km de Cuiabá), o motor de arranque do ônibus que conduzia a delegação, pifou. Como era domingo, com o comércio da cidade fechado, não havia como comprar a peça. O chefe da delegação, Renivom Rodrigues, o Liu, começou uma busca entre os caminhoneiros que paravam no posto de um motor de arranque. Mas só depois de umas duas horas, o Ação conseguiu um com um motorista que ficou condoído com a situação do clube que ia ter que pagar uma multa de R$ 20 mil à FMF se não chegasse ao estádio para o jogo...

Faltavam ainda mais de 200 km para o Ação chegar a Sorriso. As horas avançavam celeremente e bem antes do timer chegar ao destino, os jogadores foram vestindo os uniformes. Assim que o ônibus parou na porta do estádio, os jogadores saíram correndo para entrar no campo, quando o árbitro Wagner Reway já se dirigia ao vestiário do clube da cidade para chamar o time para entrar em campo pela segunda vez – os primeiros 15 minutos de tolerância já haviam se esgotado – para ele declarar o Sorriso vencedor da partida por WO.

Além dos problemas na tumultuada viagem para Sorriso, o que influenciou negativamente no estado emocional dos jogadores, dentro de campo eles enfrentaram uma verdadeira guerra, com a torcida exercendo forte pressão sobre o time do Ação e a arbitragem. Tanto é que o primeiro tempo foi até aos 49 minutos e o segundo aos 57 minutos. E o jogo só terminou quando o Sorriso, que havia perdido o primeiro em Cuiabá por 2x0, chegou ao placar de 5x3 na agregação dos dois resultados. O Ação teve e seu goleiro Silva expulso de campo no segundo tempo.

Fundador da Sociedade Ação Futebol, cujo objetivo era revelar jogadores e fornecer franquias para tornar o futebol autossustentável, Renivom Rodrigues está trabalhando atualmente em General Salgado, na região de Araçatuba, no interior paulista, com jovens das categorias sub-15 e sub-17. O time já tem vários jovens realizando testes nas divisões de base de grandes clubes, inclusive do Palmeiras, do Grêmio (Porto Alegre), da Chapecoense...


quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Juiz queria terminar de apitar jogo de cima de um pé de mangas para não ser agredido...

Faz muito tempo, mas muito tempo mesmo, que o árbitro Luciano Natal Maiolino foi escalado para apitar um jogo do Campeonato Amador do Coxipó da Ponte, promovido pela Liga Independente do velho distrito, criado por lei estadual em fevereiro de 1932. Para facilitar a locomoção dos times, geralmente feita em carrocerias de velhos caminhões, todos os jogos do concorrido certame anual eram disputados no campo de futebol da Universidade Federal de Mato Grosso, fundada em dezembro de 1970.

Por causa da rivalidade que existia entre os clubes que disputavam o campeonato distrital, o árbitro Maiolino, apesar do eficiente desempenho dos  seus dois auxiliares – Joelmes Jesus da Costa e Miguel Lopes – vinha sofrendo grande pressão dos dois times e cujos nomes não vem ao caso. Tudo que ele marcava era motivo de contestação, reclamação, xingamentos, empurrões. As torcidas dos dois clubes não deixavam por menos e não paravam de ameaçar  o árbitro...  

Maiolino foi ficando de saco cheio e pensando numa saída para salvar sua pele e levar o jogo até o fim. No segundo tempo, o juiz não teve alternativa se não marcar uma falta contra um dos times e ao perceber que os jogadores do clube punido corriam em sua direção, com a evidente intenção de agredi-lo, não teve dúvida: disparou a toda velocidade em direção a um pé de mangas que existia na beira do campo e subiu nele com incrível rapidez...

AÍ foi um custo convencer Maiolino a descer da mangueira para continuar apitando o jogo. Às ponderações de diretores e jogadores dos dois times, o juiz insistia que ia terminar de apitar o jogo de cima do pé de mangas, de onde tinha razoável visão do campo e estava a salvo dos enfurecidos contendores. E só desceu da frondosa frutífera para dar sequência à partida depois que os jogadores só faltaram jurar que não iam mais tumultuar a sua arbitragem.

O bandeirinha Joelmes Jesus da Costa acredita que faz umas quatro décadas que esse inusitado fato – pelo menos no futebol de Mato Grosso – aconteceu na presença de muitas testemunhas, pois os jogos do Campeonato Amador do Coxipó da Ponte reuniam grandes públicos. Decorrido esse longo tempo, até agora Joelmes não consegue entender como Maiolino subiu na mangueira com a habilidade de um gato... e de chuteiras!.     

sábado, 12 de outubro de 2019

Uma mijada histórica do jogador Édson Saci na cabeça do médico do União


Na década de 1990, a delegação do União Esporte Clube retornava à noite para Rondonópolis depois de cumprir um compromisso oficial pelo Campeonato Mato-gossense de Futebol contra o Sinop. Uma viagem tranquila, com alguns membros da comitiva unionina até já puxando uma palhinha...

Lá pelas tantas, atendendo pedidos dos jogadores, o motorista parou o ônibus no acostamento da BR-163 para que o pessoal esvaziasse a bexiga. Para os que estavam mais apurados com vontade de fazer xixi, a parada foi um alívio.

Nem bem o ônibus parou, jogadores e a comissão técnica começaram a descer, alguns apressadamente, para mijar. Nem todos desceram do ônibus, porém: o atacante Édson Saci, que vivia aprontando poucas e boas, como a figura lendária e peralta do folclore brasileiro, preferiu urinar da escada da porta de entrada e saída do veículo...

Mas levou azar: na escuridão da noite, ele acertou em cheio a cabeça do médico do União, Cléo Renato, que estava voltando para o interior do ônibus.  Resultado: o médico teve que tomar um banho improvisado com a pouca água que havia do ônibus. E também trocar de roupa, pois a mijada de Saci foi caprichada mesmo!

O hilariante episódio protagonizado por Édson Saci rendeu disfarçadas gargalhadas entre os jogadores e uma bronca daquelas do médico Cléo Renato contra o profissional do União. E nem os pedidos de desculpas de Saci e as risadas dos membros da delegação foram suficientes para amenizar a fúria do médico contra a palhaçada do jogador...         

sábado, 5 de outubro de 2019

Com o atraso dos salários, jogadores do CEOV usaram burro para esculhambar Rubens dos Santos


Com três meses de salários atrasados, os jogadores do Clube Esportivo Operário Várzea-grandense pressionavam de todas as formas o presidente Rubens dos Santos para receber a grana. Até quem morava na “república” do clube, na Avenida Couto Magalhães e que não tinha de se preocupar com pagamento de  mercado, farmácia, energia elétrica e água, chiava feio com o mandatário tricolor, mas Rubens dos Santos não estava nem aí com a bronca da boleirada...

A grande revolta dos operarianos era porque Rubens dos Santos, ao invés de estar cuidando dos interesses do seu clube, tinha se jogado de corpo e alma na campanha política para as eleições municipais de Várzea Grande em 1972. O presidente do tricolor queria porque queria voltar à cena política, repetindo suas façanhas nas décadas de 1950 e 1960, quando ocupou a presidência da Câmara Municipal de 1953/57 e 1961/64 e foi reeleito para o mandato 1964/67, como vereador.

O motivo da bronca dos jogadores: o principal adversário de Rubens dos Santos era um jovem, mas já a velha raposa na política  Júlio Campos. Entendia a boleirada que o presidente operariano estava perdendo seu tempo, que poderia estar dedicando, com maior proveito, para resolver os problemas financeiros do clube. Mas Rubens dos Santos não queria nem saber e continuava se dedicando ao seu projeto político.

Uma tarde, um grupo de jogadores, entre eles Dirceu Batista, Puruca e Dirceu, estava retornando à “república” do clube, quando viram um burro pastando nas imediações do lugar onde moravam. Os jogadores decidiram amarrar o animal para ele não fugir, enquanto decidiriam o que fazer mais tarde com o burro. “Certamente não era boa coisa que ia passar por aquelas cabeças...” – lembra um operariano da velha guarda.

Quando escureceu, o grupo de jogadores voltou ao lugar onde o burro estava amarrado, com muitas placas de papelão e de madeiras, nas quais haviam escrito ácidas críticas contra Rubens dos Santos, por causa do atraso no pagamento dos salários dos jogadores. Depois que o material foi cuidadosamente pregado no pelo do animal e também pendurado em seu pescoço, soltaram o muar, todo enfeitado com esculhambações contra Rubens dos Santos, para ele circular por onde quisesse em busca de pastagem...

Se o burro vagou por muitos lugares a partir daquela noite e chegou a influenciar positiva ou negativamente na campanha de Rubens dos Santos ninguém ficou sabendo. Mas as urnas mostraram uma diferença pequena  (cerca de 300 votos) na vitória de Júlio Campos e sobre Rubens dos Santos, apesar do poderio político e econômico da família Campos em Várzea Grande...    
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sábado, 28 de setembro de 2019

O dia em que a terra tremeu no Coxipó com uma bolada do zagueiro Sebastião no gol do Esperança


Decorrido mais de meio século, o ex-zagueiro Sebastião, que defendia o Internacional, do bairro Areão, não se lembra se foi em 1966 ou 1967, que ele acertou um chute com tanta violência no travessão do Esperança, na cobrança de uma falta, que a torcida do seu time que estava postada atrás da meta do adversário, fazendo uma guerrinha de nervos contra o goleiro, saiu do local em disparada, achando que a terra estava tremendo...

Se a terra tremeu mesmo -- como testemunharam muitos torcedores presentes ao clássico, no campo em que o jogo era disputado naquela manhã chuvosa, o do Coxipó Esporte Clube, no Pico do Amor, ou não -- o fato é que a partir daquele dia, o zagueiro do Internacional virou Sebastião Treme-Terra, apelido que ele incorporou ao nome e que inclusive impulsionou sua carreira no futebol profissional e na política como vereador e prefeito de Chapada dos Guimarães...

Naqueles bons tempos do futebol amador, a Liga Municipal de Cuiabá organizava monumentais campeonatos de bairros, um dos quais servia para definir o campeão e o vice que subiam para a 1ª Divisão, com direito de participar no ano seguinte do certame da categoria promovido pela então Federação Mato-grossense de Desportos e cujas principais atrações eram sempre Dom Bosco, Mixto, Palmeirinhas e Operário Várzea-grandense. Os dois últimos classificados do certame eram rebaixados.

O zagueiro Sebastião, que jogou também no Mixto, como profissional, tinha um chute tão forte na perna direita que todas as faltas de longa distância quem batia era ele. E geralmente as faltas transformavam-se em tiros livres diretos, pois com medo da potência do seu chute, ninguém queria saber de ficar na barreira. O goleiro do time adversário que se virasse sozinho...

A família do zagueirão sempre teve forte ligação com o esporte, especialmente ao futebol. Seu irmão Silvino Moreira da Silva foi presidente do Mixto Esporte Clube durante muitos anos. Foi sob a sua presidência que o Mixto conquistou o quadrangular para comemorar os 250 anos de Cuiabá. As grandes atrações do torneio, disputado no Dutrinha, foram o Santos, sem Pelé, e o América, do Rio de Janeiro. O Dom Bosco completou o quarteto.

Seguindo os passos de seu irmão Silvino Moreira, que foi prefeito de Chapada dos Guimarães durante dez anos, Sebastião Treme-Terra também se enveredou pela política, aproveitando a popularidade que o futebol lhe trouxe. Ele foi vereador e se elegeu também prefeito do município. Mas não foi bem sucedido. Denunciado ao Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso pelo seu adversário, Pedro Fonseca, por abuso de poder econômico, Treme-Terra foi cassado pelo TRE e quase acabou na cadeia...

    

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Carlos Pedra agrediu companheiro que quebrou seringa de vidro com estimulante no vestiário...


Já estava passando da hora do Operário Várzea-grandense entrar em campo no Dutrinha para enfrentar o Mixto, pelo Campeonato Mato-grossense de 1973 e o goleiro Carlos Pedra, do tricolor, enrolado e puto da vida porque não conseguia encontrar alguém no vestiário para lhe aplicar uma vitamina na veia de um dos braços  uma dose do estimulante glucoenergan, cujo uso entre os boleiros era muito comum naqueles velhos tempos do futebol romântico de Mato Grosso.

De repente, surge perto de Carlos Pedra o atacante Zé Pulula, que imediatamente foi intimado pelo goleiro para lhe aplicar injeção.

  Mas eu não entendo disso, companheiro! – justificou Zé Pulula para se recusar a aplicar a injeção em Carlos Pedra.

  É simples Pulula. Eu aperto meu braço, até surgir uma veia e aí você enfia a agulha nela e injeta o líquido – afirmou Carlos Pedra, enquanto colocava um pé sobre um vaso do banheiro para apoiar o braço que seria espetado.

Porém, aconteceu uma tragédia. Nervoso, Pulula foi cumprindo direitinho às instruções de Carlos Pedra, mas na hora de injetar o líquido no braço do goleiro, ele deixou a seringa cair no piso do vestiário e aí foi caco de vidro e glucoenergan para todos os lados...

Irritado, Carlos Pedra partiu para cima de Zé Pulula, muito puto da vida com a sua trapalhada. Depois de algum tempo, Carlos Pedra foi para o campo e sem o efeito do estimulante, parecia mais uma barata tonta no gol operariano. Inclusive levou dois gols nos 15 minutos iniciais da partida.

Notando que alguma coisa anormal estava se passando com Carlos Pedra, os operarianos começaram a pedir para o goleiro se jogar no chão, simular uma contusão. Numa das quedas do goleiro, os jogadores fizeram uma rodinha e alguém lhe aplicou uma injeção da milagrosa vitamina, sem que a torcida e a arbitragem percebessem o que estava acontecendo...

Daí em adiante, Carlos Pedra não deixou mais passar nem pensamento no seu gol, com o Mixto conformando-se com a magra vitória por 2x1, quando tudo levava a crer que o alvinegro ia ganhar o clássico de goleada... – recorda Zé Pulula.
          

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Operarianos disputavam “rachas” nos fins de tarde para a cerveja descer melhor...


Em quase todos os fins de tarde, ex-jogadores do Clube Esportivo Operário Várzea-grandense (CEOV) se reuniam perto da “república” do clube na Avenida Couto Magalhães  Bife, Júlio César, Caruso, Laércio, Nasser, entre outros... – para disputar animados “rachas” em um campo de futebol numa área pertencente ao velho Ary, fanático torcedor do tricolor e dono de uma distribuidora de bebidas na região. Os “rachas” não eram para manter a forma física coisa alguma, mas para deixar a garganta seca para a cerveja descer melhor depois...

Seu Ary gostava tanto do Operário que nos velhos tempos, quando a turminha acima citada ainda defendia o tricolor, dependendo do jogo, ele franqueava o consumo de cerveja para ser quitado depois do pagamento do “bicho” no domingo. Mas às vezes, o fanático torcedor operariano tinha umas rações que deixavam encabulados os devedores...

Em 1987, por exemplo, o Operário jogava com o Barra do Garças no Verdão. A turma consumiu cerveja durante a semana inteira, no fiado, porque o “bicho” era certo. Mas deu uma zebra e o time visitante saiu na frente no placar. Ary não vacilou: aproximou-se do parapeito das arquibancadas e passou a xingar o lateral direito Caruso e o ponteiro direito Nasser. “Esse lado direito do Operário só quer saber de beber, mas bola que é bom não joga nada!”  “Não vou vender mais fiado pra vocês”, “Caloteiros...” e outros adjetivos impublicáveis.

A certa altura do jogo, Nasser, irritado com as ofensas públicas de Ary, berrou para quem quisesse ouvir. “Agora é que eu não vou pagar mesmo a porra dessa conta...”

Para felicidade geral, o Operário virou o placar e Ary continuou gritando com os jogadores... mas para dizer que o caderninho com anotações dos fiados dos devedores estava liberado de novo...

Em um desses “rachas” de fim de tarde, na hora de escolher os dois times, o de Bife ficou com um jogador a menos. Bife convidou, então, um garoto que estava por ali para completar sua equipe. Era praxe que quem perdia o jogo pagava a cervejada depois...

Nos minutos finais do “pega", com o time de Bife em desvantagem no placar, a bola caiu nos pés do menino, que imediatamente lançou o grande artilheiro. Bife correu como um desesperado, mas não conseguiu alcançá-la.

Fim do “racha”, Bife foi dar uma dura no menino, dizendo-lhe que ele devia fazer o lançamento pelo alto para ele matar a bola no peito e fazer o gol do empate. O garoto encarou Bife e retrucou: “Meu pai me disse que quando o senhor era Bife, era craque e jogava muita bola. Mas agora é um ovo. Ainda que fosse ovo caipira... mas é ovo de granja...”            

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Juan Rolon pagou show de Os Menudos em Cuiabá com uma montanha de cédulas de Cr$ 1,00 de pouco valor...


Promover de vez em quando um grande show com artistas de renome no cenário nacional e internacional – esta foi a brilhante ideia que o presidente do Palmeirinhas, do Porto, Juan Rolon, teve para bancar a folha de pagamento do clube no Campeonato Mato-grossense de 1984 e cuja figura de maior expressão do time era Mosca. E a mais cara também. Dizem – e o próprio jogador admite – que o salário de Mosca correspondia a mais da metade do que o alviverde gastava mensalmente com o restante do plantel.

De nacionalidade argentina, Juan Rolon chegou ao Brasil disposto a virar treinador de futebol. E sua primeira experiência na profissão, uma das mais bem remuneradas do futebol mundial, foi justamente no Palmeirinhas, de forma muito estranha, sacana mesmo! Muito amigo do eterno presidente do alviverde, Délio de Oliveira, Rolon passou muito tempo ligado ao tradicional clube do Porto, como dirigente e treinador. Aliás, os dois já subiram para o andar superior, Délio de Oliveira recentemente ...

Campeonato Estadual de 1971 do Mato Grosso ainda não dividido. O Palmeirinhas jogava com o Comercial, em Campo Grande. Jogo muito difícil para o alviverde, que ainda no primeiro tempo ficou com dez jogadores em campo, em virtude da expulsão de Totó. Intervalo da primeira para a segunda etapa: os times foram para os vestiários e o treinador alviverde, Aírton Vaca Braba, ficou no gramado dando entrevistas à imprensa.        

Quando Vaca Braba chegou ao vestiário encontrou a porta fechada. Ele forçou a porta, mas ela estava trancada por dentro. O treinador não entendeu patavina do que estava acontecendo, pois precisava passar orientações aos seus pupilos para o 2º tempo.  Vaca Braba só entendeu o que estava acontecendo, quando a porta se abriu e Délio de Oliveira, comunicou-lhe que ele estava demitido e que o time passaria a ser dirigido, a partir daquele instante, por Juan Rolon...

O primeiro show foi com o grupo de Porto Rico, Menudo, que fez grande sucesso no Brasil na década de 1980. Realizado no Dutrinha, o show levou ao estádio do centro da cidade milhares de adolescentes. Mas o sucesso de público não foi suficiente para apagar a má impressão que ficou entre Os Menudos de sua única passagem pela capital mato-grossense...

Acontece que na hora de pagar a rapaziada porto-riquenha, Juan Rolon, que era vendedor de figurinhas para álbuns, entregou ao conjunto muitos envelopes contendo milhares de cédulas de Cr$ 1,00 (cruzeiro) – a moeda da época e que vigorou de 1970 a 1986. Aquela montanha de cédulas de pouco valor exigiu do Menudo a perda de um tempão para contar a dinheirama e verificar se o monte de notas correspondia ao preço combinado pelo show...

Juan Rolon não se apertava na hora de mexer com dinheiro para defender o Palmeirinhas. Quando ele contratou Mosca em 1984, o clube não tinha dinheiro para pagar as luvas do jogador e Rolon deu-lhe um fuscão que estava em nome de Délio de Oliveira. O jogador pegou o carro, mas ficou apenas alguns minutos com o fuscão, que já estava penhorado pela Justiça para ser leiloado para pagar uma dívida do alviverde.

Mosca ficou apenas quatro meses no Palmeirinhas, por causa de uma contusão que o afastou dos campos por um longo tempo. Na hora de acertar a rescisão do contrato, como sempre, o clube não tinha dinheiro. Mas Rolon, que explorava um garimpo de ouro em Diamantino, entregou ao jogador, para quitar a dívida, alguns valiosos anéis. Naquele dia, Mosca chegou em sua casa falando grosso: “Não quero ouvir ninguém  falar em falta de anéis de ouro, por pelo menos uns quarenta anos, aqui em casa...”                 

domingo, 25 de agosto de 2019

Humaitá reformava e repintava bolas usadas para enganar a FMF e adversários...


Nos velhos tempos do futebol de Mato Grosso, na fase do amadorismo e até mesmo no profissionalismo, introduzido no estado indiviso em 1967, não existia essa moleza da Federação Mato-grossense de Desportos e depois de Futebol, mandar para os estádios onde vão ser realizados jogos, um monte de bolas, como acontece hoje, para felicidade de gandulas que não precisam mais estar correndo o tempo todo durante os 90 minutos, dentro dos alambrados, para substituir as que saem de campo.

Não tinha colher de chá com a federação: clube que não levasse sua bola nos campos corria o risco de ser multado e até perder os pontos da partida, se fosse jogo oficial. Antes de começar o jogo, o juiz examinava as duas bolas para avaliar a que estava em melhor condição para ser usada, enquanto a outra ficava na reserva para qualquer eventualidade...

Essa exigência da FDF-FMF provocou um caso muito engraçado no limiar da década de 1960: Palmeirinhas e Mixto iam disputar jogo muito importante no domingo, no campo do Arsenal, pelo Campeonato Amador. No sábado, o Palmeirinhas ficou sabendo que o adversário tinha levado na sexta-feira à noite sua bola a um terreiro de macumba e o pai de santo que tinha feito um “trabalho da pesada” para facilitar a sua vitória.

Antes do início do jogo, o árbitro examinou as duas bolas e para desespero dos palmeirenses escolheu a do Mixto. Superstição ou não, o Mixto virou o primeiro tempo vencendo pelo placar de 3x0. No segundo tempo, o fanático torcedor palmeirense José Dias de Oliveira passou a correr atrás da bola, onde quer ela saísse, para pegá-la. Depois de muito tempo conseguiu pegar a bola e a estraçalhou a canivetadas. O restante do jogo foi disputado com a bola do Palmeirinhas, mas não adiantou nada: o Mixto ganhou de goleada...

Em 1980, o Humaitá, de Cáceres, não andava bem das pernas financeiramente. Sem dinheiro para comprar bolas novas em todos os jogos, o time cacerense pegava as bolas que usava nos treinamentos durante a semana, dava uma arrumada caprichada nelas, incluindo uma pintura e as levava para os estádios onde ia jogar,como se fossem novinhas em folha...

Nesse trabalho de recuperação das bolas para enganar juízes e a federação, o clube contava com a colaboração do atacante Capeta, que estudou muitos a nos no Colégio Salesiano São Gonçalo na década de 1970 e aprendeu em uma das muitas oficinas mantidas pela escola, a confeccionar bolas de futebol, que eram usadas pelos padres que atuavam nas missões salesianas no Parque Indígena do Xingu em Mato Grosso para catequizar índios...