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Silvana: paixão doentia pelo Operário |
O doentio
fanatismo de Silvana pelo CEOV custou-lhe algumas doloridas surras, o que
acontecia sempre que sua mãe ficava sabendo que ela tinha ido para o Dutrinha
ou o Verdão, geralmente às escondidas, em caçambas ou carrocerias de caminhões,
sem nenhuma segurança. Muitas vezes, Silvana foi e voltou a pé para os dois
estádios, inclusive à noite, junto com grupos de torcedores, que, como ela, não
tinha dinheiro para pagar ônibus da velha Nova Era, que de nova só tinha mesmo
o nome...
Menina
pobre, Silvana recorda dos tempos em que só ficava olhando nos estádios e
campos onde o Operário jogava os torcedores comendo sanduiches, salgados, pipocas,
chupando picolés, tomando refrigerantes e ela só na vontade!...
Mas Silvana cresceu, progrediu na vida e passou a desfrutar de uma condição financeira bem melhor do que a de antes, o que lhe permite nos jogos do CEOV em Cuiabá consumir tudo que os vendedores saiam e ainda saem pelas dependências do Dutrinha, do demolido Verdão e agora Arena Pantanal oferecendo aos torcedores.
“Consumo
de tudo... lembro-me daqueles velhos tempos, sinto saudades e hoje mato a minha
vontade, comendo e bebendo nos estádios tudo o que não tive quando era menina...”
– afirma Silvana.
Os
tempos mudaram, mas sua paixão pelo tricolor, não! Se o CEOV joga, Silvana está
no estádio. Com ou sem a família, formada por ela, o marido, quatro filhos, uma
nora e um netinho recém-nascido, que por força do ambiente onde vive,
certamente vai se tornar operariano roxo...
Seu fanatismo pelo o velho Operário levou Silvana a se meter numa situação extremamente vexatória, no Verdão. Fim de jogo do Operário com o estádio lotado – ela não se lembra contra quem, nem quando – e Silvana, ainda menina, decidiu se juntar ao numeroso grupo de torcedores que havia invadido o campo, com permissão das autoridades, para comemorar a vitória com os jogadores.
No
entanto, para entrar no campo, ela tinha que passar por uma das duas altíssimas
grades que separavam a geral da arquibancada coberta, onde ficavam autoridades,
os endinheirados, as cabines de rádio, etc. Sem nenhuma chance de pular o
obstáculo para chegar ao portão que dava acesso ao gramado, Silvana decidiu
passar para o setor das sociais através de uma das grades...
Mas
depois de passar primeiro o corpo pela estreita grade, Silvana se deu conta que
estava entalada. Por mais que ela tentasse, sua cabeça não passava pela grade,
nem seu corpinho de menina de 11 anos voltava para trás. Foi um tempão de
angústia e aflição.
Pedir
socorro, nem pensar: primeiro pela vergonha do duplo vexame e segundo porque,
com a algazarra dos operarianos no estádio, ninguém iria ouvir mesmo seus
gritos. Com muita dor e sacrifício, ela conseguiu se desentalar...
Acostumada
a varar o Dutrinha e o Verdão, por não ter dinheiro para comprar ingresso,
Silvana pulou muitas vezes o muro da sede social do Operário, na Couto
Magalhães, para participar de comemorações de torcedores do clube. E não era só
Silvana que fazia isso, pois muitas de suas amigas, pobres como ela, mas
apaixonadas pelo tricolor, também pulavam o muro!...
Dos
tempos de vizinhança com a “república” do Operário, Silvana guarda boas
recordações de jogadores que passaram pelo tricolor e que sempre trataram com
carinho as meninas e os meninos que moravam nas imediações. Entre eles, Silvana
destaca Caruso, Dito Siqueira, Ivanildo, Adalberto, Upa Neguinho, Mão-de-Onça e
Panzarielo, que chamavam carinhosamente de Panzá...
Naqueles
velhos tempos do bom futebol profissional de Mato Grosso, Silvana participou de
inúmeras comemorações de vitórias e conquistas operarianas, muitas das quais nas ruas,
principalmente perto da sede social e que acabavam interditadas ao tráfego de
veículos. Numa delas, que virou um grande carnaval, e varou a madrugada, ela levou tanto pisão nos
pés descalços que algumas semanas depois ficou sem as unhas dos dez dedos...
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