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sexta-feira, 14 de julho de 2017

Freiras de ouvidos sensíveis


Julho de 1946: para comemorar a retomada de Corumbá, que duran­te a Guerra do Paraguai tinha caído nas mãos das tropas do ditador paraguaio Solano Lopes, foi formada naquela cidade do sul do então Mato Gros­so indiviso uma seleção para realizar alguns jogos em homenagem aos heróis corumbaenses. Um dos times convidados para participar das comemorações foi o Mixto.
Um dia antes do jogo, disputado no dia 7 daquele mês, com vitória do Mixto por 4x1, e com direito a uma briga que envolveu todo mundo que estava no estádio, a delegação do Mixto embarcou para Corumbá. A viagem foi feita de avião pela extinta Cruzeiro do Sul, que cobria o trajeto Cuiabá-Corumbá. Para muita gente, uma novidade andar de avião!
Para chefiar a delegação num evento tão significativo não só para Co­rumbá, mas para todo Mato Grosso, a diretoria do Mixto convidou o presidente da Federação Mato-grossenses de Futebol, Álvaro Miguéis. Português radicado há pouco tempo em Cuiabá, às vezes Miguéis dava a impressão de que era bruto como uma porta.
Mas não era nada disso. Acontece que por falta de maior familiariza­ção com a nossa língua, de vez em quando ele despejava, inconscientemente, impropérios que revelavam um caráter que estava muito longe de ser o que Mi­guéis era de fato.
A delegação mixtense estava empolgada com a viagem de avião. Uma gozação aqui, uma piadinha ali, uma risada mais alta, a descontração foi toman­do conta de todo mundo. Não demorou muito e começou a surgir entre os joga­dores alguns destemperos verbais, palavras chulas...
No avião, três feiras que não estavam gostando nada do comporta­mento da delegação – ou parte dela – mixtense. Lá pelas tantas, uma das freiras quis saber quem estava na chefia dos jogadores. Identificado, lá se foi a freira queixar-se a Miguéis contra os palavrões que estavam ferindo os sensíveis ouvi­dos delas.
Miguéis, com muita tranquilidade, olhou para a religiosa e sentenciou. “Deixe estar, dona freira, que vou ordenar para os jogadores não falarem mais besteiras. E ai dos gajos que não me obedecerem: vão se fuderem comigo!...”

(Reproduzido do livro Casos de todos os tempos   Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino).

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