Julho de 1946: para comemorar
a retomada de Corumbá, que durante a Guerra do Paraguai tinha caído nas mãos
das tropas do ditador paraguaio Solano Lopes, foi formada naquela cidade do sul
do então Mato Grosso indiviso uma seleção para realizar alguns jogos em
homenagem aos heróis corumbaenses. Um dos times convidados para participar das
comemorações foi o Mixto.
Um dia antes do jogo,
disputado no dia 7 daquele mês, com vitória do Mixto por 4x1, e com direito a
uma briga que envolveu todo mundo que estava no estádio, a delegação do Mixto
embarcou para Corumbá. A viagem foi feita de avião pela extinta Cruzeiro do
Sul, que cobria o trajeto Cuiabá-Corumbá. Para muita gente, uma novidade andar
de avião!
Para chefiar a delegação num
evento tão significativo não só para Corumbá, mas para todo Mato Grosso, a
diretoria do Mixto convidou o presidente da Federação Mato-grossenses de
Futebol, Álvaro Miguéis. Português radicado há pouco tempo em Cuiabá, às vezes
Miguéis dava a impressão de que era bruto como uma porta.
Mas não era nada disso.
Acontece que por falta de maior familiarização com a nossa língua, de vez em
quando ele despejava, inconscientemente, impropérios que revelavam um caráter
que estava muito longe de ser o que Miguéis era de fato.
A delegação mixtense estava
empolgada com a viagem de avião. Uma gozação aqui, uma piadinha ali, uma risada
mais alta, a descontração foi tomando conta de todo mundo. Não demorou muito e
começou a surgir entre os jogadores alguns destemperos verbais, palavras
chulas...
No avião, três feiras que
não estavam gostando nada do comportamento da delegação – ou parte dela –
mixtense. Lá pelas tantas, uma das freiras quis saber quem estava na chefia dos
jogadores. Identificado, lá se foi a freira queixar-se a Miguéis contra os
palavrões que estavam ferindo os sensíveis ouvidos delas.
Miguéis, com muita
tranquilidade, olhou para a religiosa e sentenciou. “Deixe estar, dona freira,
que vou ordenar para os jogadores não falarem mais besteiras. E ai dos gajos
que não me obedecerem: vão se fuderem comigo!...”
(Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore
do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson
Severino).
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