Pesquisar este blog

sábado, 19 de agosto de 2017

Volante do Dom Bosco ia longe atrás de uma macumbinha para o futebol...

Giorge Fava,
velho dombosquino
Muito antes do futebol sair da transição do amadorismo para o profissionalismo em Mato Grosso, o que se consumou em 1967, passou pelo Dom Bosco o center half César – posição que corresponde hoje ao médio volante – e que era chegadinho numa macumbinha. Na sua crença, ele não media sacrifícios – ia longe, se preciso fosse... – atrás de terreiros de macumba em busca de ajuda do além no futebol.

Uma vez, César foi procurar o dono da concessionária da Volkswagen em Cuiabá, Geórgio Fava, que na condição de associado do clube e de vez em quando até como jogador do time aspirante do Dom Bosco, na medida do possível, colaborava com o azulão. Inclusive passou muitos anos pulando da cama às 4 horas da madrugada para com sua Kombi ir buscar jogadores para ts treinos matinais.

Demonstrando grande preocupação, César disse a Fava que era preciso tomar uma providência urgente...

– Mas que providência, homem? – questionou Fava...

César foi direto ao assunto: o jogo de domingo do Dom Bosco pelo Campeonato Cuiabano de Futebol era contra o Internacional, um time suburbano sem nenhuma expressão, mas que tinha como presidente um “congueiro” da pesada. E lembrou a Fava que na rodada anterior, o Internacional havia derrotado o poderoso Mixto, o grande rival do Dom Bosco, por 1x0...

Para tranquilizar César, Fava garantiu-lhe já tinha ido procurar um famoso macumbeiro de um terreiro que ficava às margens da estrada que ligava Cuiabá a Barão de Melgaço, partindo da BR 163, na serra de São Vicente – uma opção que existe até agora – para encomendar um “trabalho” daqueles para proteger o Dom Bosco contra o Internacional e seu presidente “congueiro”.

Dois dias depois, um dirigente do azulão procurou Fava para lhe dizer que César o havia convencido a levá-lo ao terreiro onde o dombosquino não tinha ido coisa nenhuma para comprovar se o “trabalho” havia sido feito mesmo. Para sorte de Fava, o pai de santo havia viajado e ninguém sabia quando ele ia voltar...

Às vésperas do jogo, Fava comunicou a César que havia reforçado mesmo o “trabalho” do terreiro do interior com um outro em uma tenda do lendário bairro Cruz Preta, de Cuiabá. A tenda ficava nas imediações da Rua Benedito Leite, quase esquina com a Barão de Melgaço.

César queria porque queria conhecer o lugar, mas Fava foi irredutível: “O pai de santo vai nos ajudar, mas não quer falar com ninguém. Só falou comigo! Não adianta insistir!...”

Na realidade, Fava havia inventado as duas histórias, era tudo uma grande cascata...

No dia da partida, Fava reuniu os dombosquinos já uniformizados no lugar onde trocaram de roupa e foi curto e grosso: por ordem do pai de santo da tenda do bairro Cruz Preta todos tinha que participar de uma prece, rezando um Pai Nosso e uma Ave Maria, que ele próprio puxou, acompanhado pelos jogadores e alguns diretores, na mais profunda contrição...

– Até hoje eu fico arrepiado quando me lembro da demonstração de fé dos jogadores na hora da oração. Uma coisa inacreditável... – revela Fava – que não se lembra do placar, mas garante que o Dom Bosco, efeito ou não da fé ou da crença dos jogadores na macumba, ganhou o jogo...

Velhos moradores das imediações da calçada onde está fincada a cruz preta, que ainda hoje de vez em quando amanhece com oferendas, dizem que nas proximidades do local funcionou durante muitos anos uma tenda de um preto velho que só fazia o bem para a população do bairro, receitando panaceias e benzendo crianças e adultos, curando suas doenças e amenizando seus sofrimentos...   

Perto dali existia também um tronco onde eram açoitados os escravos de uma grande fazenda do século 18 em Cuiabá e cuja sede administrativa funcionava onde fica hoje o Sesc Arsenal.

Certo dia, o feitor da fazenda açoitou no local uma escrava e prostituta até a morte.  Revoltada, a população da região queimou a cruz que era de madeira e tempos depois mandou fazer a cruz preta, de ferro, que deu nome ao bairro e está fincada, meio escondida, na calçada da Rua Benedito Leite.
               


      

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Se você leu, comente o que achou