Em quase todos os fins de
tarde, ex-jogadores do Clube Esportivo Operário Várzea-grandense (CEOV) se
reuniam perto da “república” do clube na Avenida Couto Magalhães – Bife, Júlio
César, Caruso, Laércio, Nasser, entre outros... – para disputar animados “rachas”
em um campo de futebol numa área pertencente ao velho Ary, fanático torcedor do
tricolor e dono de uma distribuidora de bebidas na região. Os “rachas” não eram
para manter a forma física coisa alguma, mas para deixar a garganta seca para a
cerveja descer melhor depois...
Seu Ary gostava tanto do
Operário que nos velhos tempos, quando a turminha acima citada ainda defendia o
tricolor, dependendo do jogo, ele franqueava o consumo de cerveja para ser
quitado depois do pagamento do “bicho” no domingo. Mas às vezes, o fanático torcedor operariano tinha umas rações que deixavam encabulados os devedores...
Em 1987, por exemplo, o
Operário jogava com o Barra do Garças no Verdão. A turma consumiu cerveja
durante a semana inteira, no fiado, porque o “bicho” era certo. Mas deu uma
zebra e o time visitante saiu na frente no placar. Ary não vacilou: aproximou-se
do parapeito das arquibancadas e passou a xingar o lateral direito Caruso e o
ponteiro direito Nasser. “Esse lado direito do Operário só quer saber de beber,
mas bola que é bom não joga nada!” “Não
vou vender mais fiado pra vocês”, “Caloteiros...” e outros adjetivos
impublicáveis.
A certa altura do jogo,
Nasser, irritado com as ofensas públicas de Ary, berrou para quem quisesse
ouvir. “Agora é que eu não vou pagar mesmo a porra dessa conta...”
Para felicidade geral, o
Operário virou o placar e Ary continuou gritando com os jogadores... mas para
dizer que o caderninho com anotações dos fiados dos devedores estava liberado
de novo...
Em um desses “rachas” de fim
de tarde, na hora de escolher os dois times, o de Bife ficou com um jogador a
menos. Bife convidou, então, um garoto que estava por ali para completar sua
equipe. Era praxe que quem perdia o jogo pagava a cervejada depois...
Nos minutos finais do “pega",
com o time de Bife em desvantagem no placar, a bola caiu nos pés do menino, que imediatamente
lançou o grande artilheiro. Bife correu como um desesperado, mas não conseguiu
alcançá-la.
Fim do “racha”, Bife foi dar
uma dura no menino, dizendo-lhe que ele devia fazer o lançamento pelo alto para
ele matar a bola no peito e fazer o gol do empate. O garoto encarou Bife e
retrucou: “Meu pai me disse que quando o senhor era Bife, era craque e jogava
muita bola. Mas agora é um ovo. Ainda que fosse ovo caipira... mas é ovo de
granja...”
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