Faz muito tempo, mas muito tempo mesmo, que
aportou em Rondonópolis um treinador de nome José Medeiros, pedindo emprego
no União. Na bagagem, uma carta de apresentação de Nélson Medrado Dias, homem
forte da então Confederação Brasileira de Desportos.
De origem nordestina
e bom falante, José Medeiros foi contratado graças à influência de Medrado
Dias. Emprego garantido, o treinador tratou logo de trazer sua família para
Rondonópolis, a fim de trabalhar com mais tranquilidade. O treinador passou a
residir com a família no Hotel Lusitano, onde os jogadores que moravam na
“república” do clube faziam refeições.
O União perdia todos
os jogos que disputava. Mas mesmo com a sucessão de derrotas, treinar que era
bom, para o time ganhar entrosamento e condicionamento físico, nada! Certa
tarde, o presidente Lamartine da Nóbrega foi procurar Medeiros para saber por
que os jogadores estavam naquela moleza do come-bebe-dorme, a velha cbd.
O técnico colorado
estava na maior morgação na cama. E pela forma como recebeu Lamartine parece
que não estava a fim de muita conversa na hora de jiboiar.
– Com esse sol não
dá, né, presidente!... – justificou Medeiros com cara de sono.
Algum tempo depois de
Medeiros assumir a direção técnica, o presi- dente Lamartine
recebeu do hotel a conta relativa às refeições dos jogadores e do treinador e
seus familiares. E quase caiu duro com a quantidade de guaraná que havia sido
servido durante o almoço e o jantar para o pessoal do União e de Medeiros.
Lamartine nem esperou
o primeiro treino da semana: foi procurar Medeiros no hotel para saber por que
os jogadores estavam consumindo tanto refrigerante na hora de comer.
– É para arrotar e
ajudar na digestão... – respondeu Medeiros na maior tranquilidade...
– Pois de hoje em
diante ninguém mais arrota aqui – reagiu Lamartine, com indignação, enquanto
determinava à direção do hotel que não servisse guaraná para mais ninguém às
refeições. Muito menos às custas do União.
Mesmo com toda a
incompetência que Medeiros demonstrava como treinador, o presidente Lamartine
da Nóbrega ia fingindo que estava tudo bem, pois não queria demiti-lo para não
magoar Medrado Dias. Entretanto, chegou um dia que a diretoria do União não
aguentou mais.
O União jogava com o
Mixto no Dutrinha e surpreendentemente dava um show de bola no alvinegro. Na
maior moleza, o colorado virou o primeiro tempo ganhando de 3x0 e com jeito de
quem ia dobrar o placar na segunda etapa.
Só que no intervalo
do jogo, ninguém entendeu por que, Medeiros fez três substituições de uma vez
na equipe, colocando em campo três reservas. Resultado: o União se encolheu,
permitindo uma incrível reação do Mixto, que acabou virando o placar para 4x3.
Encerrada a partida,
Lamartine da Nóbrega deu uma violenta prensa em Medeiros, que não confessou que
tinha vendido o jogo para o Mixto, mas admitiu que estava precisando de
dinheiro para socorrer pessoas de sua família no Nordeste. Diante da evidência
da sacanagem do técnico para favorecer o Mixto, aquele jogo marcou a despedida
de Medeiros do União.
Muito tempo depois, Lamartine da Nóbrega
recebeu uma chorosa carta de Medeiros pedindo para voltar. Na carta ele dizia
que sua família estava passando necessidades, pois ele não conseguia emprego
como técnico de futebol. Nem em outra atividade. A resposta do União foi um
sonoro não!...
(Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do
futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson
Severino).
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