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quinta-feira, 21 de setembro de 2017

‘Não arrota mais’

Faz muito tempo, mas muito tempo mesmo, que aportou em Ron­donópolis um treinador de nome José Medeiros, pedindo em­prego no União. Na bagagem, uma carta de apresentação de Nélson Medrado Dias, homem forte da então Confederação Brasileira de Desportos.
De origem nordestina e bom falante, José Medeiros foi contratado graças à influência de Medrado Dias. Emprego garantido, o treinador tratou logo de trazer sua família para Rondonópolis, a fim de trabalhar com mais tranquilidade. O treinador passou a residir com a família no Hotel Lusitano, onde os jogadores que moravam na “república” do clube faziam refeições.
O União perdia todos os jogos que disputava. Mas mesmo com a sucessão de derrotas, treinar que era bom, para o time ganhar entrosamento e condicionamento físico, nada! Certa tarde, o presidente Lamartine da Nóbrega foi procurar Medeiros para saber por que os jogadores estavam naquela mole­za do come-bebe-dorme, a velha cbd.
O técnico colorado estava na maior morgação na cama. E pela forma como recebeu Lamartine parece que não estava a fim de muita conversa na hora de jiboiar.
– Com esse sol não dá, né, presidente!... – justificou Medeiros com cara de sono.
Algum tempo depois de Medeiros assumir a direção técnica, o presi­- dente Lamartine recebeu do hotel a conta relativa às refeições dos jogadores e do treinador e seus familiares. E quase caiu duro com a quantidade de guaraná que havia sido servido durante o almoço e o jantar para o pessoal do União e de Medeiros.
Lamartine nem esperou o primeiro treino da semana: foi procurar Medeiros no hotel para saber por que os jogadores estavam consumindo tanto refrigerante na hora de comer.
– É para arrotar e ajudar na digestão... – respondeu Medeiros na maior tranquilidade...
– Pois de hoje em diante ninguém mais arrota aqui – reagiu Lamarti­ne, com indignação, enquanto determinava à direção do hotel que não servisse guaraná para mais ninguém às refeições. Muito menos às custas do União.
Mesmo com toda a incompetência que Medeiros demonstrava como treinador, o presidente Lamartine da Nóbrega ia fingindo que estava tudo bem, pois não queria demiti-lo para não magoar Medrado Dias. Entretanto, chegou um dia que a diretoria do União não aguentou mais.
O União jogava com o Mixto no Dutrinha e surpreendentemente dava um show de bola no alvinegro. Na maior moleza, o colorado virou o primeiro tempo ganhando de 3x0 e com jeito de quem ia dobrar o placar na segunda etapa.
Só que no intervalo do jogo, ninguém entendeu por que, Medeiros fez três substituições de uma vez na equipe, colocando em campo três reservas. Resultado: o União se encolheu, permitindo uma incrível reação do Mixto, que acabou virando o placar para 4x3.
Encerrada a partida, Lamartine da Nóbrega deu uma violenta prensa em Medeiros, que não confessou que tinha vendido o jogo para o Mixto, mas admitiu que estava precisando de dinheiro para socorrer pessoas de sua famí­lia no Nordeste. Diante da evidência da sacanagem do técnico para favorecer o Mixto, aquele jogo marcou a despedida de Medeiros do União.
Muito tempo depois, Lamartine da Nóbrega recebeu uma chorosa carta de Medeiros pedindo para voltar. Na carta ele dizia que sua família es­tava passando necessidades, pois ele não conseguia emprego como técnico de futebol. Nem em outra atividade. A resposta do União foi um sonoro não!...

(Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino).


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