Ruiter: nem macumba, nem concentração. (foto de Tony Ribeiro) |
Duas coisas que um dos maiores
craques do futebol de Mato Grosso – o lendário Ruiter – nunca fez ao longo de
sua carreira, defendendo as cores do Mixto, do Operário e do União, de Rondonópolis:
participar de “trabalhos” de macumba e ficar concentrado às vésperas de jogos,
por mais importantes que fossem. A não ser quando o time em que jogava viajava
e aí ele tinha que dormir no hotel onde a delegação ficava hospedada.
No caso da macumba, Ruiter
nunca acreditou que forças do além pudessem interferir no resultado de um jogo
de futebol. Mas que muita gente acredita, não resta dúvida, e não dispensa até
hoje uma macumbinha.
O já falecido cronista esportivo
João Saldanha, que foi quem montou a seleção brasileira que ganhou o Mundial de
Futebol no México em 1970, dizia que se macumba ganhasse jogo, os campeonatos
baianos terminariam empatados...
Sobre a concentração de
jogadores às vésperas de jogos, Ruiter afirma que com ele não funcionava. E era
até contraproducente, porque ele não conseguia dormir e por isso nem sempre
jogava bem no dia seguinte.
“Não era frescura minha, não!
É que nas concentrações os jogadores se recolhem aos quartos na hora
determinada, mas geralmente ficam conversando alto até mais tarde, o que
atrapalhava o meu sono...” – afirma Ruiter.
A propósito de sua resistência
a concentrações, Ruiter lembra um episódio envolvendo ele e o treinador Sílvio
Berto, às vésperas de um jogo entre Mixto e Operário Várzea-grandense pelo Campeonato Estadual
de 1969, no Dutrinha. Recém chegado ao alvinegro, Berto não havia sido
cientificado ainda que Ruiter era dispensado de ficar concentrado.
Na hora do pessoal se
recolher, numa chácara no Coxipó da Ponte, Ruiter foi dizer ao treinador que
estava indo para sua casa para dormir. Berto deu uma dura em Ruiter:
“Comigo todo mundo é igual...”,
deixando claro que não ia dispensá-lo da concentração. O jogador tentou
ponderar, justificar-se, mas Berto não estava a fim de conversar.
Nisso chegou ao local da
concentração o presidente do Mixto, Avelino Hugueney Siqueira, o Xomaninho, que
tinha ido averiguar se estava tudo bem com a moçada para o jogo.
Ao tomar
conhecimento do clima tenso entre Ruiter e Berto, Xomaninho ainda tentou
contornar a situação, mas o técnico foi incisivo: “O senhor vai ter que decidir
entre ele e eu...”
– Está decidido: o Mixto
precisa do Ruiter e fica com ele. O seu contrato está rescindido... – disse
Xomaninho a Berto.
Ruiter se lembra que o Mixto venceu
o Operário por 1x0, com o Dutrinha, como sempre, lotado. E o gol foi de autoria
de Ruiter.
Passada a raiva do entrevero
entre os dois, Ruiter e Silvio Berto tornaram-se grandes amigos...
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