Paulo Emílio: de corneteiro a chefe da delegação do Dom Bosco |
O presidente Paulo Borges
estava numa sinuca de bico: não podia viajar e não encontrava ninguém para
chefiar a delegação do Dom Bosco que tinha um jogo importante no final de
semana em Barra do Garças pelo Campeonato Mato-grossense de Futebol de
1994.
Paulo Borges lembrou-se
então de Paulo Emílio Magalhães, que nem pertencia à diretoria do Dom Bosco, e
que muita gente do azulão, incluindo alguns jogadores, não topava, porque o
rapaz, hoje um dos vice-presidentes do clube, era um tremendo corneteiro da
agremiação do Morro da Colina Iluminada.
Não perdeu tempo Paulo
Borges, ligou para Magalhães e lhe fez o convite, na verdade quase uma intimação.
O corneteiro pôs o pé na parede: “Como vou chefiar a delegação se eu não tenho
dinheiro e o Dom Bosco está pior do que eu?...” – questionou o convidado.
-- Você não tem talão de
cheques? – perguntou Paulo Borges
-- Ah! Isso eu tenho, da
Caixa Econômica... – respondeu Magalhães
-- Então está resolvido.
Você vai dando cheques. Como os bancos não abrem sábado e domingo, no início da
semana que vem quando os cheques começarem a cair na conta a gente vai
cobrindo...
E lá se foi o Dom Bosco
cumprir o compromisso em Barra do Garças, com Magalhães, a princípio meio
temeroso, mas depois assinando “cheques voadores” a torto e a direito, causando
ótima impressão entre a boleirada.
O jogo em Barra do Garças
transcorreu normalmente, com o Dom Bosco derrotando o time da casa por 1x0, gol
marcado por um atacante cujo nome Magalhães não lembra e que tinha jogado
inclusive na União Soviética antes de vir parar no azulão.
Na volta, quando a delegação
passava por um acampamento de sem-terras às margens da BR-070 em Primavera do
Leste, de repente uma gritaria do atacante Vitor interrompeu o silêncio dos
jogadores que estavam assistindo um vídeo-tape do Programa “Quem quer
dinheiro?”, de Sílvio Santos...
Motivo dos berros de Vitor,
que por sinal era muito gago, e que vinha na frente conversando com o motorista
para não deixá-lo cochilar: um pneu se soltou do eixo traseiro e passou pelo
ônibus a grande velocidade, o que poderia levar o veículo a sofrer um acidente
de conseqüências imprevisíveis.
Diante do perigo, até o
próprio Vitor se esqueceu que era gago de nascença e berrou feito um
desesperado para chamar a atenção do motorista para os riscos que o ônibus, com
um pneu a menos no rodado traseiro, estava correndo de tombar, capotar...
O problema da soltura do
pneu do ônibus, além do susto com a gritaria de Vitor, resultou em um grande prejuízo
ao Dom Bosco: na velocidade que ganhou depois de se soltar do eixo, o pneu saiu da pista de rolamento da BR-070 e causou estragos no barraco de um sem-terras, demolindo
completamente o seu banheiro.
Com o barulho causado pelo
choque foi se juntando sem-terras do acampamento e Magalhães teve assinar mais
um “voador”, cujo valor da época correspondia hoje a cerca de R$ 1.800,00.
-- Ainda bem que o Paulinho foi
muito decente comigo e cobriu todos os cheques – afirma Magalhães.
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