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Priss: vencido pela preguiça... |
Encerrado o coletivo-apronto do Atlético Mato-grossense para o jogo do final de semana contra o Operário Várzea-grandense, o treinador Makários Zenagape dos Santos chamou Priss, que jogava de volante no time de aspirantes, e determinou que ele desse dez voltas completas, correndo normalmente, em torno do campo. O jogador não entendeu nada, mas cumpriu a ordem sem fazer perguntas.
Assim que Priss ou Luiz Neves de Almeida Filho -- que não sabe a origem do seu apelido -- terminou a corrida, Makários se aproximou dele e disse na presença de outros jogadores: “Você está bem fisicamente como os outros jogadores. E como o Darci Avelino – que quando foi para o Operário virou Darci Piquira – está machucado e não pode jogar domingo, você vai entrar no lugar dele na lateral esquerda...”
O garotão Priss tentou
justificar que não estava preparado para um jogo daquela importância, ainda
mais numa posição em que nunca havia atuado antes, mas recebeu imediatamente o
apoio de Washington, Luiz Toucinho, Ditinho Olho de Bolita, Fulepa, Jeca, Portela,
Lico, Mitu e outros craques consagrados do poderoso time atleticano do final da
década de 1960.
Dutrinha lotado, o Atlético
Mato-grossense venceu o jogo por 3x2, vitória que merecia uma comemoração
especial. Empolgado, Priss decidiu comemorar o triunfo do time e o seu próprio,
como titular pela primeira vez, num bailão no domingo à noite na sede social do
Operário, em Várzea Grande. Queria festejar mesmo!...
Mas quando chegou na
portaria do clube, acompanhado de Ditinho Olho de Bolita, foi advertido pelo
companheiro: “Nem pense em se identificar como jogador do Atlético
Mato-grossense porque senão vamos entrar na taca aqui mesmo na entrada, não
vamos nem chegar lá dentro para apanhar...”
Priss foi titular do timaço
do Atlético Mato-gossense durante mais de três anos e só guarda boas
recordações dos companheiros e também de Zenagape. Uma vez, ao final de um
treino do time, o quarto zagueiro Washington perdeu a aliança de casamento. O
solidário Zenagape tentou ajudar o jogador, oferecendo na época o que
corresponderia hoje a R$ 200,00, para quem a achasse, mas ninguém encontrou o
anel...
Durante seu longo tempo de
titular no Atlético Mato-grossense, Priss foi aconselhado por muita gente que o
considerava um verdadeiro craque da bola a procurar outros clubes de grande
prestígio da época, entre eles Mixto, Dom Bosco e o Operário Várzea-grandense,
com vistas a uma eventual carreira no futebol profissional. ”Eu nunca fui
procurado por eles e não iria me oferecer...” – afirma, sem nenhum
arrependimento.
No entanto, por trás de sua
relutância em relação ao seu futuro como jogador de futebol, com uma carreira
promissora pela frente, Priss admite que se esconde uma grande verdade: ele
sempre foi um preguiçoso da maior marca. E só de pensar que teria que fazer longas
caminhadas para treinar nos velhos tempos de um transporte coletivo urbano precário
na Grande Cuiabá era um obstáculo intransponível para quem só queria saber de
sombra e água fresca...
Dominado pela preguiça, Priss
praticamente parou com o futebol quando os apaixonados atleticanos irmãos
Matozzo (Décio, Áureo e Acir, este já falecido) passaram o comando do Atlético
Mato-grossense para os irmãos Oliveira, do extinto Banco do Estado de Mato
Grosso -- Bemat e que sob a nova direção entrou logo em processo de acelerado
declínio até se extinguir. E só de vez em quando participava de uma ou outra
“peladinha” no velho bairro do Porto, onde nasceu e sempre viveu, faz 69 anos,
contanto que não precisasse correr...
Porém, não se afastou do
futebol e continua frequentando o famoso campo do Bode, palco de memoráveis
campeonatos e “peladas”, regadas a muitas mordomias, principalmente às
segundas-feiras, dia folga quase obrigatória de milhares de pessoas que
gravitam em torno do Terminal Atacadista do Porto. E virou também corneteiro de
carteirinha da boleirada da tradicional feira e do populoso bairro.
Aos mais íntimos, Priss não
se cansa de fazer ácidas críticas pelas suas falhas e engrossadas em jogos
oficiais ou “peladas” no campo do Bode: “A sorte de vocês é que as bolas não
falam. Se falassem, vocês iam ouvir muito lamento e até xingamentos pelos maus
tratos que elas recebem de vocês. Bola é para ser acariciada com carinho, com
amor e não ser pisada, chutada de bico e maltratada como vocês fazem com elas”
– repete sempre para a rapaziada do Porto...
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