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quarta-feira, 7 de junho de 2017

Canivetadas na bola enfeitiçada


Semana de muita agitação no Porto, com a aproximação de mais um jogo importantíssimo entre o Palmeiras e o Mixto pelo Cam­peonato Amador de Cuiabá no limiar da década de 60. Quem ganhasse ficava numa posição privilegiada em relação à conquista do título da temporada.

No sábado, véspera do jogo, a população do Porto, cuja adoração pelo verdão chegava às raias da loucura, amanheceu de cabelos em pé, com a circulação, de boca em boca, de uma notícia que varreu o bairro com a força de um furacão: na noite anterior, a diretoria do Mixto tinha ido a um terreiro de macumba da cidade e feito um “trabalho” da pesada para assegurar anteci­padamente a vitória no jogo de domingo.

A feitiçaria incluía até um despacho especial sobre a bola virgem que o Mixto também tinha que levar para o campo, como mandava o regulamento do campeonato, apesar do mando do jogo ser do adversário...

Apavorados, diretores do Palmeiras se reuniram às pressas para achar uma saída para desmanchar a mandinga. Mas chegaram a uma melan­cólica conclusão: de que adiantaria convocar um batalhão de pais de santos dos mais famosos da região se as divindades que eles incorporam, como os te­midos exus, caboclos e tranca-ruas, só baixam nos terreiros nas sextas-feiras?

Decididamente, o Mixto tinha feito o “trabalho” como mandam as regras da macumba, eliminando qualquer possibilidade do Palmeiras desfazer a feitiçaria...

Chegou a hora do jogo, com a torcida do Palmeiras com os cabelos mais arrepiados ainda do que já estavam, a partir do momento que a notícia da feitiçaria chegou ao Porto.

Para piorar ainda mais o estado emocional dos jogadores do Palmei­ras e a aflição dos seus torcedores, na hora de escolher a bola para o jogo, o juiz da partida, depois de examiná-las e quicá-las no gramado para averiguar se estavam adequadamente cheias, optou pela do Mixto, justamente a que havia sido “trabalhada” pelo batalhão de macumbeiros.

O campo do Arsenal, onde o Palmeiras mandava seus jogos, estava apinhado de gente. Começou o jogo e o Palmeiras levava um show de bola. O Mixto fez 1x0, 2x0, 3x0 antes virar o primeiro tempo.

Desesperado, o diretor do Palmeiras José Dias de Oliveira, filho do seu Avelino Barbeiro, famoso barbeiro do Porto, começou a circular em torno do campo, correndo de um lado para outro, para chegar onde a bola saía. Mas sempre chegava tarde.

De repente, a bola foi parar nas mãos de Zé Dias. Mas em vez dele devolvê-la rapidamente ao jogo, pois seu clube estava perdendo feio, para sur­presa de todo mundo, quando o gandula foi pegar a bola de suas mãos, Zé Dias sacou do bolso um canivete deste tamanho e enfiou até o cabo nela. E repetiu o gesto várias vezes...

O restante do jogo foi disputado com a bola do Palmeiras. Só que não adiantou nada: o Mixto ganhou o jogo de goleada...


(Reproduzido do livro Casos de todos os tempos Folclore do futebol de Mato Grosso, do jornalista e professor de Educação Física Nelson Severino).

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